O Miguel Marques chamou-me a atenção para dois artigos de divulgação científica em torno da conjugação simbiótica entre a instalação de parques solares, a implementação de sementeiras/ plantações biodiversas com espécies vegetais nativas, e o efeito benéfico sobre os insectos polinizadores. Os resultados são de duas investigações, uma levada a cabo nos EUA e outra no RU. Fiz a tradução de alguns excertos com a divulgação dos dados recolhidos pelos investigadores norte-americanos.
“Pesquisadores nos Estados Unidos constataram que o sombreamento parcial fornecido pelos parques solares cria um microclima que favorece o crescimento mais diverso e abundante de flores e polinizadores. Eles também descobriram que o sombreamento parcial aumenta a abundância da floração ao atrasar o seu desenvolvimento, aumentando a forragem para polinizadores durante o final da estação quente e seca.
Os insetos polinizadores visitam as flores, mesmo que estas cresçam sob os painéis de um parque solar, e a sombra dos módulos também é benéfica ao atrasar o período de floração, o que, por sua vez, tem um efeito positivo na abundância e diversidade dos polinizadores.
Esta é a principal conclusão do estudo “O sombreamento parcial por painéis solares retarda o florescimento, aumenta a abundância floral durante o final da estação para polinizadores num ecossistema agrivoltaico de sequeiro”, publicado recentemente em relatórios científicos, nos quais cientistas da Universidade Estadual de Oregon nos EUA investigaram se o acoplamento de PV ao habitat para polinizadores selvagens pode ajudar a aumentar a biodiversidade.
“Alguns estados, como Minnesota, Carolina do Norte, Maryland, Vermont e Virgínia, desenvolveram diretrizes e incentivos estaduais para promover instalações solares com foco em polinizadores”, afirmam os cientistas. “Nesta prática, a forragem para polinizadores é estabelecida como o sub-bosque do painel solar, em vez da grama tradicional ou cascalho.”
Tenho utilizado pontualmente a técnica Demaree. Este ano, e até à data, utilizei-a em três colónias. Por mero acaso, neste conjunto de três casos acompanho neste blog o caso onde se revelou mais complicado e difícil fazer o controlo do impulso reprodutivo. Enquanto nos outros dois casos não observei a produção de mestreiros no ninho após a aplicação da técnica, este caso não seguiu exactamente esse curso como aqui descrevi.
Ontem foi dia de voltar ao apiário realizar diversas tarefas, como a verificação de postura em núcleos onde introduzi virgens a 12 de abril. Em mais de 50% dos casos só ontem vi os primeiros ovos (tema para uma futura publicação).
Passados quase já 30 dias sobre o início da aplicação da técnica voltei a inspeccionar a colónia do caso em análise. Primeiro ponto a realçar: não vi mestreiros de enxameação, de substituição ou de emergência nesta colónia — aparentemente a colónia entrou em modo de produção e deixou para trás o modo de enxameação.
Quadro do sobreninho, onde se observa os primeiros apontamentos do aromático néctar da Erica arborea — não da Erica lusitanica, como erradamente assumi numa publicação anterior (obrigado Filipa!). Neste território, e pela frente, ainda tenho fluxo de várias origens durante cerca de mais 6 a 8 semanas.
Segundo ponto a realçar: se no sobreninho as coisas estão a começar a acontecer, no ninho o conjunto das três fotos em baixo falam por si e dispensam-me o texto…
Quadro na posição 6.
Quadro na posição 7.
Quadro na posição 8.
Terceiro ponto a realçar: se bem me lembro no passado dia 12 de abril, transferi para o sobreninho uns 7 ou 8 quadros com criação. De lá para cá já retirei do ninho desta colónia 3 quadros com criação. No total esta colónia doou cerca de 50 mil abelhas a outras colónias — as contas são, 10 quadros cada com cerca de 5 mil abelhas para emergir. Este número de abelhas doadas enchem duas caixas Langstroth de uma ponta à outra mais uma meia-alça. Estando eu expectante que esta colónia produza até ao final da época cerca de 30-40 kgs de mel, tomara eu que todas as minhas colónias tivessem este nível de desempenho e me dessem este rendimento. Que tenho para dizer a concluir? Menos colmeias não significa necessariamente menos produção e menos rendimento. E agora é aqui que me encontro, depois de quase ter abandonado a apicultura, como um adolescente, apaixonado de novo — “Não adianta represar um rio, mais tarde ou mais cedo ele volta ao seu percurso original“.
Talvez por estar no ramo, encontro na apicultura uma dimensão artística que me passa despercebida noutros ramos da agro-pecuária. Que me perdoem alguns se estiver a ser injusto e precipitado, mas fazer a apicultura é diferente de semear batatas. Uma alma poética poderá vir a ser apicultor, dificilmente será um produtor de batatas. Ninguém é melhor que ninguém, apenas são diferentes as suas naturezas.
A apicultura enquanto expressão de beleza.
Enquanto homem que vive a sua vida em várias dimensões, os leitores mais atentos já terão dado conta da minha especial preferência por uma forma de arte: a música. Sempre me acompanhou, desde que me lembro.
Era ainda um jovem e fundei uma empresa promotora de concertos. Juntamente com a minha mulher e o meu amigo Gonçalo Barros fundámos a NAO — Novas Audições Objectivas — que trouxe a Portugal (Coimbra, Lisboa, Porto, Almada e Montemor-o-Velho) bandas estrangeiras acompanhadas frequentemente de bandas nacionais na primeira parte. Talvez entre os leitores deste blog se encontre alguém que tenha visto algum concerto promovido pela NAO — o mundo é pequeno, não é?
Nesta publicação descrevi a enxertia de mestreiros em duas colónias-núcleo no passado dia 17 de abril. Anteontem verifiquei que andava uma rainha em postura em cada uma delas.
A sequência de acontecimentos: no dia 02-04 eliminei a rainha deste núcleo; a 5 introduzi uma rainha virgem; como não deu resultado a 15 re-introduzo outra virgem; a 17 introduzo mestreiro enxertado porque verifiquei que a rainha estava morta dentro da gaiola. Basicamente procurei dar resposta aos déficites existentes com os recursos disponíveis no momento.
Ontem, um desses núcleos foi passado para uma caixa-colmeia.
O núcleo…
A rainha…
A postura e a criação aberta…
Da caixa-núcleo para a caixa-colmeia.
Em conclusão e remetendo para o conteúdo da publicação da hiper-ligação em cima, as abelhas guardaram e defenderam mestreiros com rainhas viáveis das intenções destrutivas das diversas rainhas virgens nascidas horas ou até dias antes.
Estas rainhas enxertadas provêm de mestreiros de enxameação! Óptimo, são as rainhas melhor alimentadas e melhor criadas de todas as que podemos deitar a mão — muito provavelmente têm um número de ovaríalos acima da média. Óptimo, porque este ano vão fazer crescer a sua família a um ritmo tal que provavelmente me vão dar uma ou duas meias-alça no castanheiro. Óptimo, porque no próximo ano antevejo que estas rainhas arranquem precocemente e me ajudem a equalizar outras colónias que se foram mais abaixo durante o inverno e/ou apresentem um arranque mais lento e tardio. Óptimo, serão colónias ideais para trabalhar com ninho e sobreninho logo em março, e colónias que dedicarei aos desdobramentos pela técnica Doolittle relativamente cedo, em meados de março — estes desdobramentos não multiplicarão a sua herança genética, apenas aproveitará a sua produção, abelhas e quadros com criação. Aproveito sem rebuço, e com este sentido estratégico, algumas rainhas provenientes de mestreiros de enxameação. Há quem lhe chame linhas enxameadoras, eu prefiro chamar-lhe linhas precoces.
Nota: nesta publicação não estou a falar de colónias que apresentam mestreiros de enxameação com meia-dúzia de quadros mal preenchidos de abelhas e /ou que enxameiam duas vezes no mesmo ano. Aos anos que não vejo colónias dessas nos meus apiários. Nesta publicação falo de colónias que sobreviveram saudavelmente ao inverno, saem dele mais desenvolvidas que a média, e são uma fonte temporã do recurso mais precisoso da apicultura à saída do inverno no meu território: abelhas.
Em 2015, no Beesource, o inventor de um equipamento de tratamento da varroose por meio do ozono, Luigi Conelli, publicou esta afirmação: “
O “ozonador ” do Sr. Luigi Conelli. Um ozonador amarelo-ferrari com um preço de Ferrari!
Concluímos nossos testes usando ozono em abelhas. Os resultados são muito interessantes. Aplicando 20 minutos de ozono nas colmeias, quando todas as abelhas estão dentro, observámos como resultado a morte de todas as varroa dentro das colónias por um longo período, mais de 21 dias. Todos os estádios de varroas caíram mortas depois de algumas horas. Observámos colónias sem varroa, loque europeia, loque americana, Nosema sp. ect. (Luigi Conelli, Beesource, 13-07-2015)
Fez também afirmações peremptórias que o dito tratamento ao mesmo tempo que era eficaz na eliminação das bactérias nocivas, preservava vivas as bactérias benéficas presentes na colmeia!!! Achei, como outros companheiros do Beesource, que este tipo de afirmações extraordinárias requeriam provas igualmente extraordinárias. Tanto quanto é do meu conhecimento o Sr. Conelli nunca as apresentou, e acabei por me desinteressar, esquecer e continuar a tratar a varroose como sempre o fiz, “dentro da caixa”!
Contudo, recentemente num grupo de apicultura português, surgiu de novo a indagação sobre esta técnica. Lembrei-me das afirmações do inventor em 2015, estranhando que de lá para cá quer a técnica quer o equipamento tenham caído no quase completo anonimato — que em Itália e noutras partes do mundo os apicultores não tenham testemunhado massivamente a sua satisfação — e procurei informação em língua inglesa sobre esta técnica para o tratamento da varroose, não fosse dar-se o caso de que entre 2015 e a actualidade tenha merecido a atenção de alguma equipa de investigação independente. Não encontrei nada no Google Scholar, o sítio onde estão acessíveis uma grande quantidade de estudos científicos — e para um equipamento tão “super-hiper” achei no mínimo isto muito bizarro! Ontem lembrei-me de pesquisar em língua italiana, uma vez que o inventor é italiano. Terá sido feito algum teste, com o devido controle, no país do inventor? E sim, esse teste foi feito em 2015, por uma equipa de investigadores do Istituto Zooprofilattico Sperimentaledel Lazio e della Toscana “M. Aleandri” e do Istituto Superiore di Sanità. Sobre a eficácia na eliminação das bactérias de loque europeia os resultados são decepcionantes. Sobre a eficácia na eliminação dos esporos da loque americana idem aspas. Contudo o que mais me interessou foi saber sobre o efeito acaricida da aplicação do ozono durante 20 minutos em colónias de abelhas. Em baixo deixo a tradução de um excerto publicado na revista Apitalia em fevereiro de 2016, com os resultados obtidos.
“Cinco colmeias sem criação foram tratadas com ozono, aplicando-o diretamente na colmeia durante 20 minutos e seguindo as instruções do fabricante do instrumento utilizado. Algumas colmeias usadas como controle não foram tratadas. Para avaliar a eficácia acaricida do ozono, foi realizado um tratamento 14 dias após a administração do ozono, com Apibioxal e Apivar. A eficácia acaricida obtida com o tratamento com ozono foi igual a 4,9% ± 0,8%, enquanto a queda natural encontrada no grupo controle não tratado foi igual a 4,8% ± 0,7%. A diferença de eficácia entre o grupo tratado com ozono e o grupo de controle não foi estatisticamente significativa.
A força das colmeias observadas, as populações de abelhas adultas dos dois grupos experimentais e de controlo, foi avaliada no dia do tratamento e no final do período estimado para testar a eficácia do ozono (igual a 14 dias) segundo o método descrito por Delaplane et al., 2013.
No grupo tratado com ozono houve uma redução maior na quantidade de abelhas adultas do que no grupo controle, embora não significativa. A mortalidade aguda de abelhas foi avaliada pelo cálculo do número de abelhas mortas que caíram nos dias seguintes ao tratamento, colocando recipientes especiais, chamados cestos em gaiola, colocados à frente das colmeias. Não foi encontrado nenhum fenómeno agudo de mortalidade devido ao tratamento. A mortalidade das abelhas rainha também foi avaliada no final do período de tratamento. Não se verificou a mortalidade de rainhas, tanto no grupo tratado quanto no grupo controle.” (fonte Apitalia, 2/2016, https://www.izslt.it/apicoltura/wp-content/uploads/sites/4/2018/06/5.-Applicazione-dellozono-in-apicoltura-risultati-preliminari.pdf)
Em conclusão, ao contrário do que eu temia este tratamento, nas doses e na duração preconizada pelo inventor, não matas as abelhas, o que já é bom… tirando o facto que também não mata as varroas.
“Eu não dou a mínima para o que faz alguém que perde mais de 30% de suas colónias.” Paul Hosticka
“Nesta era de sensacionalismo, concordo plenamente! Especialmente ignoro aqueles que parecem nunca aprender a melhorar. Aqui na Califórnia, existem apicultores que cumprem os seus contratos de polinização de amendoeiras de forma confiável ano após ano. Se cometerem um erro e perderem colónias, eles entendem o porquê, e deitam as culpas apenas a si mesmos. Copie o sucesso — há muitos apicultores bem-sucedidos por aí, silenciosamente mantendo colmeias saudáveis e ganhando dinheiro.” Randy Oliver, Grass Valley, CA 530 277 4450 ScientificBeekeeping.com
in Bee-L (01-05-2021)
Nota: uma força muito grande ao Randy, neste momento difícil da sua vida. Que supere rápida e totalmente o grande desafio de saúde que tem pela frente.
Esta colónia, que habita uma colmeia do modelo Langstroth, recebeu o sobreninho a 21-03. A rainha foi confinada ao ninho em 27-03 por uma grelha excluidora, portanto há pouco mais de um mês.
Quando se menciona grelhas excluidoras de rainhas surge inexoravelmente a questão se limita ou não a postura das rainhas. Vamos por partes!
Esta é uma lâmina de cera que costumo utilizar nos ninhos das Langstroth. Tem 19,5 cm por 42 cm.
Ontem, depois do jantar comedido que fiz, decidi contar os alvéolos desta lâmina de cera.
Tinha 41 alvéolos na altura e 78 na largura. Multiplicando estes dois números fiquei a saber com rigor que estão presentes 3198 alvéolos em cada face desta lâmina de cera. Nas duas faces são 6396. Como incrusto a cera mais próximo do travessão do fundo dos quadros, estimei a altura com mais três filas de alvéolos, neste caso 44 em altura. Fazendo novamente as contas para esta alternativa obtenho um total de 3432 alvéolos em cada face, perto dos 7000 nas duas faces.
Outra questão que importa esclarecer: uma rainha põe exactamente quantos ovos por dia? Eu não sei! Julgo que varia de acordo com vários factores. Contudo na literatura são referidos valores médios a variarem entre 1000-2000 ovos/dia. Muito bem, se assim é 8 quadros do ninho bem desbloqueados dão espaço de sobra a uma rainha com uma postura média de 2000 ovos/dia durante 20 dias. Sim, porque ao fim do vigésimo dia começam a emergir as abelhas geradas a partir dos ovos postos 20-21 dias antes. E de novo esses alvéolos ficam disponíveis para um novo ciclo de postura — de facto o reverendo Langstroth não andava sob o efeito de psicotrópicos quando idealizou as dimensões dos quadros da sua colmeia.
Em conclusão, a grelha excluidora limita o espaço de postura de uma rainha ao ninho, mas não tem forçosamente de limitar a postura em si mesma. Bem desbloqueados os 10 quadros do ninho no modelo Langstroth — e também os da Lusitana, que têm um número de alvéolos muito próximo — não limitam a postura das minhas rainhas. No período de 20 dias permitem a oviposição de 40 mil ovos. Sabendo que a população máxima de uma colónia iberisiensis ronda as 45 mil abelhas, parece-me que não é “contra-natura” a utilização da grelha excluidora nas condições que descrevo. Não noto, nestas colónias, atraso nenhum no seu desenvolvimento.
Tirei umas fotos para me convencer que também não ando sob o efeito de psicotrópicos quando trabalho nos meus apiários — desde que anteontem uma raposa se aproximou de mim, a menos de 10 metros, enquanto eu trabalhava silenciosamente no meu apiário como é meu hábito, e ambos ficámos admirados de nos vermos ali tão inesperadamente próximos, que já não sei aos certo se o que vejo existe ou se vejo o que quero ver. Se calhar é um pouco das duas coisas!
Quadros do ninho da colónia 1, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 2, com rainha confinada ao ninho.
Quadros do ninho da colónia 3, com rainha confinada ao ninho.
Mas como a apicultura é feita de imprevistos e de singularidades, se alguém desejar ensaiar não deixe de ir fazendo as suas observações e os ajustamentos que achar adequados. Nem sempre tudo sai como o planeado!
Como não saiu como planeado o meu primeiro ensaio na utilização da técnica de translarve.
A minha amiga Filipa Almeida e os meus amigos David Marques, João Gomes e Francisco Rogão já me deram umas dicas preciosas para evitar este colossal fracasso na próxima vez que tentar de novo.
Quando desafio um ou outro apicultor a testemunhar a sua experiência apícola em torno desta ou daquela ideia por aqui veiculadas, é muito gratificante receber os seus testemunhos a confirmarem os ganhos que obtiveram — um pequeno aparte: uma das teorias da motivação mais interessantes que conheço, afirma que o sentido de utilidade que retiramos do que fazemos é um dos factores mais estimulantes para persistir e manter o empenho no que fazemos; como sou feito da mesma matéria que todos, importa-me saber que não estou a escrever sobre o “céu azul”, sim que estou a retratar com boa fidelidade a realidade dos meus apiários e os impactos das intervenções que realizo, que mais proximamente ou mais longinquamente há alguém que ficou a reflectir, que decidiu experimentar e, cereja no topo do bolo, obtém resultados satisfatórios. Por exemplo, recentemente o Rui Martins testemunhou como a sua estratégia de luta contra a varroose melhorou significativamente quando passou a ter em consideração o timing da aplicação dos tratamentos.
Hoje, publico o testemunho do meu amigo Miguel Pais acerca do impacto que algumas das sugestões por aqui divulgadas estão a ter nos seus apiários, em particular na prevenção da enxameação e no controlo da mesma. O texto e as fotos são suas. Obrigado Miguel por teres aceite o desafio e lhe teres dado resposta tão rapidamente. Um abraço!
Iniciei-me na Apicultura há quase 4 anos. Comecei com um enxame, e neste momento tenho cerca de 60 enxames. Tendo a varroa controlada, com poucas perdas anuais e conseguido não só manter o efectivo mas até aumentá-lo gradualmente de ano para ano, sinto cada vez mais a necessidade de prevenir e controlar a enxameação de uma forma mais prática e aumentar assim a produtividade das colmeias.
Visto que muitas vezes não quero aumentar mais o efectivo por já ter feito os desdobramentos que pretendia, começo agora a experimentar vários métodos de prevenção e controlo da enxameação. É aqui que o Eduardo tem dado uma grande ajuda com alguns métodos e experiências que tem descrito no seu blog, que têm sido importantes e têm feito a diferença no meu maneio. Muitas vezes são também os relatos dele que me fazem experimentar certo método que já conhecia mas que não estava ainda convencido da sua eficácia.
Desses métodos que li no blog do Eduardo, há dois que me deixaram muito contente, apesar de só ter começado a usar um deles este ano, mas resultaram os dois muito bem, fiquei impressionado e arrependido por não ter começado a usá-los mais cedo!
Em primeiro lugar passei a usar, o ano passado, aquilo a que o Eduardo chama de regra “não mais de 6”. Passei a usar essa regra, principalmente com rainhas mais velhas, não deixando assim que os enxames atinjam o pico da população antes da altura desejada, algo que considero muito importante, e esta regra parece uma forma bastante prática e simples de “segurar” os enxames.
O segundo método comecei a experimentá-lo este ano, não é um método de prevenção mas sim de controlo de enxameação, o método Demaree, sobre o qual o Eduardo tem escrito ultimamente e que eu já conhecia, mas foi por ler o relato no blog que finalmente decidi experimentar. Em alguns enxames que começaram a aparecer com sinais de febre, comecei a meter a rainha no ninho com 2 quadros e os restantes quadros no sobreninho e uma grade excluidora entre o ninho e sobreninho, não me vou alongar muito no processo, porque podem-no ler mais detalhadamente no blog do Eduardo.
Em conclusão, usei o método Demaree a primeira vez há cerca de 20 dias em alguns enxames e perderam a febre, bastante rápido. Sem dúvida alguma vou passar a usar este método no meu maneio a partir de agora, vejo aqui uma solução simples e prática e que é feita sem consumir muito tempo.
Um grande obrigado Eduardo pelas coisas que escreves, desde que me iniciei que tem sido uma boa ajuda, além do mais dás também a conhecer apicultores lá de fora, como por exemplo o Randy Oliver ou o Bob Binnie, que também fazem coisas bastante interessantes.
Thomas Rinderer (esquerda), observando um quadro com abelhas (scientific beekeeping).
Thomas Rinderer, o primeiro autor do artigo que traduzo em baixo dois excertos, é um nome de referência na investigação apícola norte-americana e mundial.
“Introdução: Favo vazio nos ninhos de colónias de abelhas (Apis mellifera L.) influencia vários aspectos do comportamento de coleta, nomeadamente a coleta de néctar das abelhas (Rinderer & Baxter, 1978; Rinderer & Baxter, 1979; Rinderer, 1982a; 1982b; 1983). Geralmente, o aumento da quantidade de favos vazios resulta em maior intensidade e eficiência da coleta de néctar nas abelhas avaliadas individualmente. Além disso, certas evidências (Rinderer, 1982a) sugerem que as colónias estimuladas por favos vazios adicionais têm uma proporção maior de abelhas forrageadoras de néctar. Este estudo foi desenhado para testar essa hipótese mais fortemente.
Sumário dos resultados: A influência da adição de favos vazios às colónias nas proporções de abelhas forrageiras retornando às colmeias com néctar, pólen, pólen e néctar, ou água, e de forrageadoras mal sucedidas foi examinada. Quantidades maiores de favo vazio resultaram num aumento na proporção de forrageadoras de néctar, uma diminuição na proporção de forrageadoras de pólen e uma diminuição na proporção de forrageadoras para néctar e pólen. As proporções de abelhas coletando água e de forrageadoras mal sucedidas talvez tenham diminuído ligeiramente.“
Nota: favo vazio, a opção que utilizei para traduzir “empty comb”, não é sinónimo de quadros com cera laminada, sim de quadros com cera puxada. Sobre a minha preferência por colocar as primeiras meias-alças com cera puxada escrevi aqui.
Descrevi e publiquei que no passado dia 12, decidi utilizar uma técnica de controlo da enxameação proposta pelo advogado e apicultor norte-americano George Demaree, publicada no American Bee Journal em 1892.
Hoje passados 12 dias, voltei ao apiário para realizar diversas tarefas. A primeira constatação é que a Erica australis está a secar e a ser substituída gradualmente pela Erica lusitanica (urgueira ou moita branca).
O território continua estimulante!
No caso da colónia alvo da técnica Demaree em 12-04, há alguns indícios que continua a procurar enxamear. Uma inspecção a 19-04 revelou que, como esperado, tinha vários mestreiros abertos no sobreninho colocado por cima da grelha excluidora. Como não precisava destes mestreiros acabei por destruí-los. Menos esperado, por ser mais raro, foi encontrar dois mestreiros no ninho, ainda muito no início e que destruí, obviamente.
Hoje o indício de enxameação, menos evidente que os encontrados a 19-04, é a forma daquele alvéolo entre as duas abelhas.
Vista geral do ninho.
A abelha-mãe… a que geralmente e injustamente leva com as culpas de uma colónia querer enxamear.
Hoje, apesar do céu ameaçar, não foi dia de trabalhar à chuva… não seria o primeiro!
Observação 1: a propósito de um ou outro comentário que pude ler no Facebook acerca da publicação do dia 12-o4, quero deixar descansados os apicultores que parecem temer que com estas técnicas de controlo da enxameação se visa eliminar o instinto da enxameação nas abelhas melíferas. Não é esse o objectivo, como é claro, nem seria seguramente esta a técnica a utilizar para esse fim. As minhas abelhas vão continuar a querer enxamear neste e nos próximos anos. Eu é que não gosto de ficar sentado, sem nada fazer, a assistir a esse incrível fenómeno natural, mas que em nada contribui para a minha felicidade enquanto apicultor. Já os enxames saídos/fugidos em pouco ou nada contribuirão para a sustentabilidade da espécie, porque 99,9% deles estarão mortos em menos de um ano!