a importância da água durante o inverno

Há coincidências interessantes. Dois ou três dias depois de tirar as fotos que vão ver para preparar esta publicação vejo um apicultor da lista do Bee-L escrever por lá o seguinte: “Na palestra de novembro para os apicultores da Associação Empire State, Tom Seeley focou-se nas abelhas coletoras de água. Ele mencionou que a dança mais “entusiástica” que ele já observou (em termos da intensidade e persistência da dança) foi numa forrageadora num inverno numa colmeia de observação. Ela dançava para anunciar a disponibilidade de água doce no primeiro dia quente da temporada. Qualquer pessoa informada da pesquisa de Tom
tem uma noção de quantas danças ele observou de perto no último meio século ou mais, fazendo desta observação uma informação ainda mais relevante para as nossas considerações sobre a necessidade de água de uma colónia.
” Vi rapidamente a pertinência em começar esta publicação com esta citação pela relação que tem com o tema que hoje me motiva a escrever.

Apiário a 900 m de altitude, no passado dia 12, um dia ensolarado.

E por que carga de água precisam as abelhas da água nesta altura do ano? Para liquefazerem o mel, para melhor o consumirem e assimilarem.

Mel, transferido para este quadro mais central depois de lhe ter sido adicionada alguma água pelas abelhas. Os três ou quatro alvéolos destruídos no centro resultam da prova que uma vez mais fiz deste mel diluído: da prova não me ficou dúvida de se tratar de um “monofloral” de castanheiro da colheita de verão de 2021.

Qualquer um de nós pode fazer esta observação. Reparem nos quadros com mel operculado nos quadros mais afastados do centro ou do aglomerado de abelhas. Reparem nos alvéolos vazios com os opérculos perfurados. Daí saiu o mel, depois de previamente aquecido e diluído em água por um enxame com abelhas suficientes para procederem a estas tarefas.

Alvéolos vazios com os opérculos perfurados. Só um enxame com um número suficiente de abelhas consegue aquecer os opérculos, para depois os perfurar, aquecer a água para depois a misturar ao mel e, assim, tornar o mel até aí frio numa mistura tépida para ser ingerido e assimilado, sem o perigo de induzir as pequenas abelhas num coma por ingerirem alimentos frios. Como nós não consumimos alimentos vindos do congelador, sem previamente os aquecermos nos dias frios de inverno, as abelhas também não o fazem.

Quando as abelhas não são suficientes morrem de fome com o mel operculado a milímetros de distância. A pergunta a fazer é por que razão as abelhas não são suficientes. Muito provavelmente por efeito diferido no tempo de varroose e viroses associadas.

Foto que me foi enviada pelo meu amigo Pedro Miguel. Abelhas com mel operculado a milímetros de distância e que morreram de fome e frio há dias atrás, numa colónia com abelhas insuficientes, por efeito diferido de varroose e viroses associadas.

a utilização da focinheira para diminuir a pressão da velutina: o testemunho de um amigo apicultor

O voo estacionário da V. velutina nigrithorax em frente às colmeias provoca uma resposta comportamental nas nossas abelhas pouco adaptativa, que é conhecida como “paralisia de forrageamento/voo”. Para atenuar esta resposta, pouco funcional do ponto de vista da colónia, os apicultores utilizam um conjunto de dispositivos variados, entre outros, as “focinheiras” (do francês muselière). Estes dispositivos visam atenuar a pressão das velutinas à saída/entrada da colmeia, proteger as abelhas naqueles centímetros iniciais/finais de voo mais lento, ocultar em parte a sua saída/entrada, e encorajar um comportamento mais elevado de forrageamento, uma resposta mais adaptativa da colónia à pressão da velutina. Estes dispositivos aumentam a probabilidade de sobrevivâncias das colónias em mais 50%*.

A experiência do meu amigo Jorge Pino com este equipamento levou-me a solicitar-lhe que escrevesse umas linhas para aqui publicarmos. Ele aceitou de imediato o meu pedido, com a gentileza e solidariedade que o caracterizam, e enviou o texto em baixo.

A necessidade de defesa das colmeias de uma das pragas mais conhecidas na apicultura Ibérica, vai aguçando alguns engenhos e vamos percebendo ao longo do percurso, que para continuar a agir é necessário adaptarmo-nos e desenvolver novas abordagens ou melhorar as existentes, para ter como objectivo alcançar resultados satisfatórios e adequados no combate à vespa velutina, que depende do colectivo de apicultores, é um percurso que revela caminhos possíveis, amadurecimento, entender e interpretar os imensos desafios que se colocam. 

Com base nesse pressuposto evolutivo e o facto de estar inserido enquanto apicultor “Hobbista” no Parque Natural de Sintra / Cascais, zona de forte presença da vespa velutina, levou a que interiorizasse a premissa de implementar um plano, uma estratégia, talvez com etapas evolutivas e a devida resiliência, para a defesa das colmeias, e, a focinheira, (como lhes chama o André Gonçalo), de concepção simples e ao alcançe de todos com o devido engenho e algumas ferramentas, protegerá as colónias da invasão das vespas Velutinas e de outros possíveis predadores tais como ratos ou borboletas caveira, por exemplo, estas últimas inofensivas. A dupla rede de diâmetros de 16mm e 6mm, exterior e interior respectivamente, permite uma passagem rápida das abelhas do exterior para o interior e dificulta a transposição da velutina devido à sua envergadura em voo ser superior ao diâmetro da rede exterior de 16mm, enquanto que a rede interior de #6mm impede completamente a passagem da vespa velutina e desta penetrar nas colónias.

É claro e consensual que existem equipamentos similares, contudo o aspecto evolutivo deste, sobressai nos buracos concebidos de diâmetro de 7mm, para que, tanto zângãos como rainhas os possam transpor permitindo a permanência das focinheiras ao longo do ano sem a necessidade de as remover em períodos de fecundação. 

Vista frontal.
Vista lateral.
Vista do lado interior.
Alargamento da malha para permitir o transito de zângãos e rainhas.

Atente-se que não resolve o problema na totalidade nem refreia o ímpeto de predação, apenas defende as colónias, até porque, a vespa velutina acaba por adaptar a sua hostilidade predativa fazendo pressão no exterior, e, se as colónias estiverem menos fortes, acaba este, por ser um meio fisico de disuasão de invasão das mesmas, retardando ou evitando talvez, o ponto de não retorno das colónias. 

Estou certo que o estudo deste problema começa a dar alguns resultados noutras formas de combate, mas como diz o autor deste “blog” e inspirador de práticas coerentes, simples e equilibradas, até lá “O apicultor deverá ser o cuidador das abelhas” cuja missão é demasiado nobre para se furtar a essa condição.” 

* Nota: Nesta publicação retiro este excerto “Medimos a FR (falha no retorno das abelhas devido à predação de vespas) e PF (paralisia de forrageamento: paragem da atividade de voo em colmeias devido às vespas pairando em frente da entrada) e estimámos a probabilidade de mortalidade das colónias usando uma abordagem de modelagem mecanicista. A “protecção da entrada da colmeia” não reduziu a FR associada à vespa, mas reduziu drasticamente a PF. Além disso, a “protecção da entrada da colmeia” aumentou a probabilidade de sobrevivência de colónias stressadas por vespas até 51% em contexto de alta abundância de vespas asiáticas com base em simulações teóricas. Esses resultados sugerem que a instalação de “protecção da entrada da colmeia” pode atenuar o efeito prejudicial do vespão asiático nas abelhas europeias.”

eureka, tenho uma colónia de abelhas resistente à varroa! revisitação

Há um mês atrás fiz esta publicação. Ontem, voltei a abrir esta colónia.

É uma colónia bem povoada para a altura do ano.
Tendo identificado este padrão de criação salpicado, duvidoso, a 9 de setembro, nem por um momento suspeitei de loque americana; desde essa altura não vi, em momento algum, sintomas específicos de loque americana.
Também não vejo sintomas de loque europeia, criação de giz ou criação ensacada. Reparo agora que nunca fiz uma publicação sobre a loque europeia. Tenho ideia que é uma doença que não tem sido identificada laboratorialmente em Portugal.
Abelhas novas e abelhas a emergir. Não fosse este padrão de criação, aparenta ser uma colónia saudável.
Sua majestade passeando tranquilamente deixando a feromona da pegada.
Pão de abelha recente e com cores vibrantes.
Benditas leiras de nabiças nas proximidades!

Questões: Poderão algumas populações da A. m. iberiensis apresentar a combinação genética e correspondentes comportamentos resistentes ao varroa? Não tenho qualquer dúvida que sim; algures haverá colónias resistentes na nossa sub-espécie nativa. Será o caso desta colónia? Não me parece. Não vejo sinais dos mecanismos que mais comumente conferem resistência. Posso sonhar que o mecanismo encontrado por esta colónia para resistir ao varroa seja de outra natureza? Com certeza que sim; vou sonhar. A natureza encontra sempre um caminho, por vezes caminhos vários. Em fevereiro/março começarei a ter as primeiras respostas.

treinar o olhar para localizar rainhas: a minha proposta de solução

No seguimento desta publicação apresento a minha proposta de solução: a rainha virgem/não fecundada/mal fecundada está na extremidade da seta.

Sobre a foto em baixo escrevi: “Intrigou-me o facto de alguma desta criação parecer criação de obreira à vista desarmada. Os opérculos estão muito pouco salientes em relação ao plano da cera. Julgo saber a razão, mas vou deixar em aberto este aspecto para os meus leitores.” A razão que descortino vai ao encontro da mencionada pelo João Paulo na caixa dos comentários. Estes zângãos estão mal-nutridos, são praticamente do tamanho de obreiras e, como tal, as abelhas não estão a fechar os alvéolos com um opérculo mais saliente em relação ao plano da cera por não ser necessário. Na minha opinião é um caso cristalino em que a “nature”/genética do indivíduo é fortemente determinada pelo “nurture”/ambiente. Apesar de terem todo o aparato genético para serem uns matulões, estes zângãos nascem pequenos por deficiências nutricionais e por o “ventre”/alvéolo onde são criados ser mais pequeno que o normal.

Para reflectir: as abelhas “ratinhas” de que o meu pai me falava, abelhas mais pequenas, será um caso de “nature” ou um caso de “nurture”?

Agradeço aos meus leitores, muito especialmente aos que participaram fazendo o seu comentário.

treinar o olhar para localizar rainhas

No meu histórico dos últimos 7 anos a maior parte das minhas perdas invernais deve-se a problemas com rainhas. Dos habituais 4 a 5% do total de perdas invernais, 2 a 3% devem-se a problemas com rainhas. Ou a colmeia fica absolutamente órfã, ou fica funcionalmente órfã, isto é, tem uma rainha não fecundada. Hoje tirei um conjunto de fotos de uma colónia nestas condições.

Na inspecção de 19 de outubro verifiquei que tinha uma rainha virgem.

Nas fotos em baixo anda uma rainha virgem. Faço esta publicação a pensar nos companheiros que se convenceram que não conseguem encontrar as rainhas. Nada mais errado e derrotista. Só é preciso um pouco de paciência e, sobretudo, acreditar que a vão localizar. As minhas dicas: tem o abdómen ligeiramente mais comprido; as asas estão fechadas e assentes sobre o abdómen; os círculos beije que dividem os segmentos do abdómen são mais finos; o tórax, muito importante, não tem pelos e é mais saliente; as patas são maiores. Conseguindo identificar e localizar uma rainha virgem, identificar e localizar uma rainha fecundada é para meninos ; -). Aproveitam para treinar o olhar nestas imagens paradas. A dificuldade vai sendo maior à medida que vão avançando nas fotografias.

Na foto em baixo, vemos a criação desta rainha não fecundada. Intrigou-me o facto de alguma desta criação parecer criação de obreira à vista desarmada. Os opérculos estão muito pouco salientes em relação ao plano da cera. Julgo saber a razão, mas vou deixar em aberto este aspecto para os meus leitores. Se desejarem dar a vossa opinião façam-no através dos comentários. Serão muito bem vindos. Que orgulho e honra me dão em me acompanharem!

alimentando… e fazendo contas

Desde 2014 que os suplementos alimentares que forneço aos meus enxames são em pasta açucarada, em 99% dos casos. Nos três primeiros anos da minha apicultura, 2009 a 2011, alimentava no final do inverno/início da primavera com xarope líquido. Em 2012 e 2013 meteu-se-me na cabeça que o açúcar era prejudicial às abelhas e deixei de as alimentar. Nesses dois anos vi algumas das minhas colónias morrerem à fome. Mais que o eventual prejuízo de alimentar as minhas abelhas com açúcar, ficou-me claro o prejuízo irrecuperável que adveio da fome que algumas passaram. É caso para dizer que a realidade atropelou as minhas crenças!

Em 2014, e de lá para cá, ficou claríssimo para mim que a minha competência como apicultor se mediria também pela taxa de colmeias mortas, em particular durante a invernagem. De lá para cá, defini esta métrica para mim: considerar-me-ía um apicultor com razoável competência se conseguisse atingir, ano após ano, uma taxa de mortalidade, por fome e/ou varroa, abaixo dos 10% do meu efectivo. E de lá para cá, com muito trabalho, com algum conhecimento à mistura, com um pouco de sorte também, tenho atingido de forma consistente este objectivo. Como não tenho por feitio responsabilizar terceiros pela mortalidade das minhas colónias (farmacêuticas, doenças desconhecidas, os governantes, os insecticidas, as fases da lua,…), procurei melhorar o que dependia de mim. E assim, de 2014 para cá, conta-se pelos dedos de duas mãos o número de colónias que me morreram por fome.

E hoje, dia sem chuva e com algum sol e com uma temperatura mais amigável, pus-me a caminho para mais uma ronda de alimentação.

Algumas colónia já tinham comido o Kg de pasta que lhes coloquei há 4 semanas atrás.
Outras ainda não.
Duas colónias lado a lado, a debaixo tinha consumido tudo e esta mais próxima não.
Como vi as abelhas a trazerem boas cargas de pólen e como a temperatura a rondava os 15ºC, aproveitei para confirmar se havia criação em alguns núcleos. Nos que abri, sim tinham criação. Uma situação um pouco anormal neste território, nesta altura do calendário. A abelha esmagada mostra bem como o levantamento dos quadros nesta altura do ano pode correr muito mal se em lugar de uma abelha for uma rainha.
As colónias aparentavam boa saúde, com excepção de um núcleo (num apiário com 22 núcleos) com um cacho de cerca de 500 abelhas, resultados tardios do PMS, que muito provavelmente irá morrer nas próximas 2 a 3 semanas.
Pão de abelha e pólen recente.

Neste momento para além de as alimentar faço contas também. O meu fornecedor de alimento para as abelhas refere-me um aumento recente de cerca de 30% por kg de alimento. Obviamente não deixarei de alimentar as colónias que necessitarem — neste momento são cerca de 25% das colónias assentes neste apiário. No final do ano apícola (próximo outubro de 2022) aferirei do retorno do investimento.

shake, shake: fazendo os ácaros soltarem as suas garras


Conforme apontado pelo Dr. David de Jong em 1982, os ácaros aderentes de forma superficial a uma abelha são relativamente fáceis de remover agitando as abelhas num líquido [ou açúcar em pó], mas os ácaros que estão profundamente alojados nas membranas intersegmentais no abdómen das abelhas podem ser mais difíceis de desalojar.

Curioso em determinar exatamente como os ácaros varroa se seguram numa abelha, passei algum tempo olhando-os de perto sob o microscópio.

É fascinante observar um ácaro caminhando sobre o vidro. A cada passo, o ácaro infla um empódio pegajoso. Nesta foto, coloquei um ácaro vivo de costas numa lâmina de microscópio e, em seguida, coloquei uma lamínula de vidro fina sobre ele. O ácaro é obrigado a andar de cabeça para baixo no vidro. O empódio da perna superior nesta foto está a começar a se desdobrar; o próximo está totalmente estendido no vidro.”

fonte: https://scientificbeekeeping.com/6960-2/

Nota: para além desta capacidade de grande aderência, os varroas mimetizam também os odores do corpo das abelhas de forma perfeita, o que lhes permite escapar boa parte das vezes ao comportamento de auto e hetero limpeza das abelhas. Esta capacidade de ocultação é mais um aspecto que faz deles uma arma de aniquilação massiva das abelhas.

enxameação e pilhagem: um dispositivo tecnológico de alerta

Na publicação anterior fiz alusão a um dispositivo tecnológico. Embora não fosse minha intenção inicial escrever em profundidade sobre este dispositivo, dado o elevado número de mensagens e e-mails que recebi a questionarem-me sobre a função deste equipamento, decidi complementar a publicação anterior com informações mais detalhadas acerca das funcionalidades deste equipamento.

Sensor de radar e vibração instalado na colmeia.

Existem dois eventos num apiário que requerem intervenção imediata do apicultor: enxameação e roubo.

A enxameação é um evento natural durante o qual cerca de metade da população de abelhas deixa a colmeia para estabelecer uma nova colónia. Na medida do possível, os apicultores gostam de evitar a enxameação e a perda associada da produção de mel, utilizando técnicas de maneio adequadas. Quando a enxameação acontece inesperadamente, no entanto, o apicultor gostaria de ser alertado o mais rápido possível. A enxameação pode ocorrer em questão de minutos. Geralmente começa com um grande alvoroço vindo da colmeia, seguido por um rápido voo de milhares de abelhas numa nuvem para o exterior. O enxame pousa inicialmente e forma um aglomerado próximo à colmeia original antes de voar para seu destino final. Este acampamento [bivouac] pode durar uma hora, ou dependendo do clima, pode durar dias. A ação rápida durante a fase de acampamento é a melhor chance do apicultor de capturar um enxame e, assim, aumentar seu efectivo.

Em épocas de fluxo insuficiente de néctar, as abelhas de uma colmeia mais forte podem atacar uma colmeia mais fraca e roubar o seu mel. Se forem bem-sucedidos, os ladrões podem limpar todo o mel da colmeia em poucos dias. Roubar tende a ser um evento persistente durante todo o dia, geralmente acompanhado por um alto nível de ruído e atividade frenética de voo contínuo na frente da colmeia. Uma maneira de lidar com essa situação é reduzir temporariamente o tamanho da entrada da colmeia ou fechá-la totalmente.

Uma atividade comum e inofensiva é o “voo de orientação em massa”, uma atividade das abelhas que até agora escapou a uma explicação biológica concisa. Neste cenário, uma nuvem substancial de abelhas voa para frente e para trás na frente da entrada da colmeia. Voos de orientação em massa costumam ser confundidos com enxameação, excepto que as abelhas não voam para longe da colmeia e retornam à colmeia após alguns minutos. O nível de atividade de voo, de voos de orientação e enxameação, pode ser muito semelhante; no entanto, o nível de ruído acústico associado aos voos de orientação é consideravelmente mais baixo. Embora os voos de orientação também sejam detectados pelo nosso sensor, eles geralmente não requerem intervenção do apicultor.

Observando cuidadosamente a atividade de voo perto da entrada da colmeia e o ruído acústico da colmeia, um apicultor experiente pode dizer rapidamente se as abelhas estão felizes, tristes ou enraivecidas. No entanto, muitas vezes não é prático para o apicultor verificar diariamente as colmeias num apiário remoto. Um sistema de monitorização de colmeias de baixo custo é de interesse para avisar o apicultor que a enxameação está para acontecer, ou acabou de ocorrer, ou que um roubo/pilhagem está em andamento.

Dispositivo Janus.

Um sensor externo, conforme ilustrado, pode atender ao requisito acima mencionado. Mostraremos que as observações de eventos de enxameação, feitas tanto com um radar Doppler quanto com um sensor de vibração, estão altamente correlacionadas, embora estejam baseadas em fenómenos totalmente diferentes. Quando ocorre uma grande perturbação da colmeia e os níveis de Doppler e de vibração estão altos, é provável que seja uma enxameação. Quando os níveis diferem significativamente, então o evento é mais provavelmente devido a um roubo ou a um “voo de orientação”.

Diagrama do bloco do sensor de radar e vibração.

Conclusão
Tanto o radar quanto o sensor de vibração, quando montados na parede externa de uma colmeia, são capazes de detectar a atividade de enxameação e roubo/pilhagem. Embora o sensor de vibração por si só seja consideravelmente mais barato, o desempenho de detecção pode ser melhorado (isto é, falsos alarmes reduzidos) combinando medições de ambos os sensores e submetendo-os a um PCA (principal component analysis)*.

* “Numa experiência, numa colmeia (8B), o espaço disponível para a expansão da população de abelhas foi limitado propositadamente para induzir a enxameação. Na verdade, a colmeia enxameou cinco vezes. A análise de PCA identificou de forma clara e inequívoca esses eventos, permitindo que os enxames fossem capturados. Notámos um nível reduzido de atividade cerca de dez dias antes do enxame primário. Este nível de atividade reduzido foi relatado num outro artigo**, mas é difícil de detectar automaticamente ou com antecedência.”

fonte: https://ieeexplore.ieee.org/document/9346064

** S. Ferrari, M. Silva, M. Guarino and D. Berckmans, “Monitoring of swarming sounds in bee hives for early detection of the swarming period”, Comput. Electron. Agriculture, vol. 64, pp. 72-77, 2008.

Notas:

  1. tenho ideia que as colmeias nos EUA são fabricadas com tábuas com 2cm de espessura. Em Portugal, como sabemos, as tábuas das nossas colmeias têm 2,5 cm de espessura. Se esta diferença de espessura deve ser ou não tida em consideração, na eventualidade de desejarmos colocar este dispositivo nas nossas colmeias, não ficou claro para mim da leitura que fiz do artigo original.
  2. em apiários não cobertos por rede de telemóvel, temo que a transferência de dados para os nossos telemóveis ou computadores seja impossível. Não o garanto, é um aspecto que também não está absolutamente claro para mim.

novas tecnologias na apicultura: uma opinião e uma reflexão

Deixo em baixo uma opinião do apicultor J.F. sobre um dispositivo tecnológico que apareceu recentemente no mercado e sua visão sobre a introdução de tecnologias em determinados sectores agrícolas e sua comparação com o sector apícola. A terminar apresento a minha reflexão.

Uma patente comercial foi recentemente emitida com base na “intenção de uso” para a “JANUS HIVESENTRY” para a Maine Biosensors LLC, portanto, mais uma esperança que entra no mercado, baterias não incluídas.

O sensor Janus.

Não há vida útil mais curta do que os muitos flashes das empresas de “tecnologia para colmeias”. A verdade básica é que os apicultores estão entre os clientes mais forretas de toda a agricultura e gastarão US $ 10 na tentativa de economizar US $ 5.
Os produtores de leite têm espalhadores de estrume que dispensam quantidades precisas de fertilizante para cada metro quadrado de terra localizado no GPS, calibrados para dados de humidade e vegetação coletados por satélites apenas para melhorar a produção de feno para alimentar suas vacas, enquanto a maioria dos apicultores ainda lutam com a mudança de “gerir pelo calendário” para “gerir pelas mudanças sazonais” (mais quente, mais cedo), e a maioria nem sequer consegue manter um simples caderno com anotações do que observa e faz.

A apicultura permanece essencialmente inalterada desde a época de Langstroth, excepto pelo impacto de doenças exóticas invasivas e pragas perpetradas na agricultura pelo “Comércio Mundial”. Eu vejo isso como uma coisa boa, semelhante ao tiro ao alvo com meu Fausti, uma espingarda quase idêntica à Benelli que meu avô usava. Coisas que são um prazer nem sempre se tornam mais prazerosas com o acréscimo de tecnologia, e tenho sido privilegiado com a apicultura que continua sendo um prazer.” J.F. (Bee-L, 07-12-2021)

Nota: este ponto de vista, não coincide totalmente com o meu ponto de vista. Contudo entendo-o, na medida que uma parte do prazer que retiro da minha apicultura está associado ao desafio, e sua superação, que encontro na avaliação regular que faço das minhas colónias. Mais, associado a esta vontade de avaliar está o prazer em obter a resposta para o “suspense” que cada colmeia por abrir representa. Se um conjunto de sensores deste e daquele tipo, instalados fora e dentro da colmeia, fizerem esta avaliação por mim, temo que a minha apicultura perda a componente cognitiva mais complexa e estimulante, a de avaliar. Perderia também um aspecto lúdico muito intenso e prazeroso, o do “suspense antes de abrir”. Temo que a minha apicultura passasse a ser predominantemente uma actividade psico-motora, isto é, tirar e colocar coisas na colmeia. Contudo, dispositivos que meçam com rigor os acontecimentos da colónia, por ex. a taxa de infestação por varroa a cada semana/quinzena, ou outros aspectos, dispositivos que me forneçam dados inteligíveis, que me permitam calibrar/ajustar as minhas intervenções poupar-me-ia dinheiro, tempo e esforço. Não estou certo se os adoptaria e não estou certo que lhes viraria as costas. Muito provavelmente compraria alguns e faria os meus ensaios-piloto. E avaliaria.