sobre o nível de formação apícola disponível em Portugal

Ontem, na Escola de Apicultura on-line, foi abordada ao de leve a questão do nível de formação apícola disponível em Portugal. Este é mais um tema que suscita uma diversidade de opiniões, geralmente balizadas entre dois pólos, de muito má a muito boa. Na minha opinião a formação inicial disponível em Portugal merece uma nota entre o suficiente e bom. Sobre a resposta formativa de nível avançado disponível no nosso país esta merece ser notada com um insuficiente. Passo a explicar um pouco mais a minha opinião com base na minha experiência, no que vou observando e ouvindo de outros e na minha reflexão, logo uma opinião sustentada em dados parcelares, incompletos, enviesados, como todas as opiniões. Disso não me livro!

Quando iniciei a minha apicultura fiz um curso de iniciação à apicultura que me foi útil. Recebi também ensinamentos do meu pai. Li várias dezenas de números do jornal As abelhas, onde escrevia um grande mestre, o Vasco Correia Paixão. Estive também presente em vários encontros, fóruns e palestras que contribuíram para a minha formação inicial. Lia com regularidade os blogues Monte do Mel e O Apicultor. Todo este trajecto de formação e auto-formação permitiram-me manter a minha operação apícola sustentável desde o seu início. Esta experiência de vida reforça em mim a ideia que a reposta formativa de nível 1, 2 e 3 é suficiente a boa em Portugal.

Contudo para aqueles que desejam fazer um aprofundamento sério e uma especialização dos seus conhecimentos, isto é receber formação de nível 4 e 5, para exercer a sua actividade profissional ou o seu hobby, a resposta formativa é insuficiente. Tanto quanto é do meu conhecimento apenas o Prof. Paulo Russo a ministra, contudo para o território português parece-me insuficiente por escassa e longínqua para muitos. Na minha opinião deveria existir uma estrutura formativa com 5 centros dedicados em Portugal (um a norte, outro no centro, outro no sul e um para cada um dos arquipélagos), apoiados num Centro de Investigação e Formação Apícola. Este Centro para além de coordenar e avaliar a investigação e formação feita em Portugal, teria a responsabilidade de manter na sua equipa formadores actualizados com o que de mais recente o estado-da-arte produziu. A equipa de formadores não teria de ser muito grande, mas sim de grande qualidade, com gente muito dedicada e com prática no terreno, por exemplo na manutenção de um apiário experimental. Esta equipa formativa deveria ser complementada por alguns poucos apicultores com vários anos de experiência no terreno com abelhas, e com um percurso revelador de um maneio bem sucedido ao longo de anos. Finalmente este Centro de Investigação e Formação Apícola deveria fazer chegar a casa dos apicultores que o desejassem News-letters pelas vias electrónicas mais comuns.

Mas a realidade como a observo, resposta formativa de nível 4 e 5 insuficiente, conduziu-me para a auto-formação. Por exemplo, só sobre o principal inimigo das abelhas, o ácaro varroa, a minha aprendizagem de nível mais avançado foi feita no estrangeiro, mas em casa e à distância de um clique. No estrangeiro porque em Portugal muito pouco se publica! Se se quiserem dar ao trabalho, pesquisem por favor na net o quão pouco tem sido publicado acerca deste ácaro, de mais aprofundado e em português de Portugal. Esta falta de publicações reflecte o estado insuficiente da formação de nível avançado em Portugal? Seria estranho que não reflectisse!

Propostas de pesquisa de temas de nível avançado sobre o principal inimigo das abelhas:

  • Síndrome da parasitação/parasitose pelo ácaro varroa;
  • duração do tratamento do apivar;
  • importância do timing do tratamento contra a varroose;
  • ciclo de vida do varroa;
  • o vírus das asas deformadas;
  • onde se alimenta o varroa,
  • monitorização taxa de infestação varroa.

o armazenamento das alças e meias-alças durante o inverno: a minha opção

Agradeço a um apicultor da velha guarda um dos melhores e mais úteis ensinamentos que ouvi ao longo destes poucos anos que levo de apicultura. Foi num encontro de apicultores em Seia, em 2010 ou 2011 e, para grande pena minha, nunca cheguei a saber o seu nome. Ouvi-o defender a ideia que para armazenar os quadros das alças ou meias-alças não podíamos armazenar quadros com pólen e devíamos deixá-los pendurados, numa estrutura dedicada, para entrar o ar e a luz. Assim, nestas condições, estes quadros não seriam atacados pela traça da cera.

Para a quantidade de quadros que já tinha para armazenar a preparação dessa estrutura dedicada para os pendurar pareceu-me inexequível. No entanto em 2012, não me tendo esquecido desta lição, e num daqueles poucos momentos “eureka” que vou tendo, decidi “inventar” um pouco e armazenar os quadros nas próprias meias-alças e alças, mas procurando ir ao encontro dos princípios básicos enunciados pelo generoso apicultor que ouvi em Seia: armazenar quadros sem pólen (ou muito pouco pólen) e dispor as caixas de forma a que entrasse a luz e o ar. Nesse ano de 2012 iniciei com sucesso até aos dias de hoje o armazenamento de meias-alças e algumas poucas alças, seguindo estas orientações. Armazeno-as nesta casa rústica a 900 m de altitude, bastante fria, ventosa e com ar pouco húmido, durante o inverno.

Os quadros que armazeno seguem o mais possível este padrão: quadros com cera clara e com muito pouco pólen ou pólen nenhum.

Quadro de ninho da Lusitana com os requisitos necessários para ser armazenado.
Quadro húmido, saído da sala de extracção, pronto a ser armazenado.

As meias-alças (alças meleiras) da Lusitana são sobrepostas em x, em pilhas de 8 a 10.

As meias-alças da Langstroth são sobrepostas em +.

O armazém está sempre iluminado e arejado, de acordo com as condições meteorológicas de cada dia.

Neste caso as janelas com vidros partidos são mais e não menos!

Esta opção para o controlo e prevenção da traça da cera durante o armazenamento, que já dei conta nesta publicação de 2016 (uns anos antes, 2013 ou 2014, já tinha tornado esta opção pública no fórum As Abelhas), fica agora reforçada com as fotografias.

Nota: as meias-alças húmidas saídas da extracção vêm directamente para esta casa-armazém; não as coloco em cima das colónias para serem limpas, dado que nesta casa as abelhas não as largam sem antes as limparem de todo o mel.

Poucos minutos após a chegada com a carga de alças húmidas, e ainda na carrinha, começam a ver-se as primeiras abelhas (as abelhas têm o sentido do olfacto mais apurado que os cães).

Reflexão: aos apicultores que optam por colocar as meias-alças húmidas em cima das colónias para serem limpas, e em zonas já colonizadas pela Vespa velutina, tenham em atenção se não estarão a, inadvertidamente, colocar a marca de alvo-a-atacar, nesse momento e nessa colónia. Sabemos que a Vespa velutina é atraída sobretudo pelos odores de mel e pólen emanados por uma colónia. Que aroma mais penetrante a mel existirá que o de uma meia-alça húmida, logo após a extracção, e colocada no topo de uma colónia de abelhas?

o processamento da cera de opérculos: a minha opção

O processamento da cera de opérculos era com frequência o ponto de estrangulamento no meu processo de extracção do mel. Mesmo naqueles anos em que extraí algumas dezenas de bidões de mel nunca dei o passo para a compra de uma máquina dedicada a esta operação. Nesses anos optei por externalizar parte do processo de extracção, socorrendo-me dos serviços de uma cooperativa da zona, e de forma inerente o processamento da cera de opérculos dos quadros lá extraídos.

Este ano, assim como nos anos em que optei por extrair a totalidade ou parte do mel na minha UPP, a opção escolhida para o processamento da cera de opérculos tem procurado rentabilizar os recursos que tenho disponíveis sem me empenhar em comprar maquinaria cara e que, eventualmente, avaria.

Assim, a cera dos opérculos, ainda parcialmente besuntada de mel, que retiro da tina de desoperculação…

… é colocada numas caixas largas e com pouca profundidade.

Estas caixas são levadas para uma casa rústica no interior da propriedade e a pouca distância do local onde está implantado o meu apiário preferido.

Como a casa na actualidade não é habitada, as janelas não estão nas melhores condições, apresentam alguns vidros partidos, mas este facto contribui para a entrada das abelhas na divisão onde armazeno as alças e meias alças e onde coloco temporariamente estas caixas com a cera dos opérculos.

As caixas com a cera dos opérculos são colocadas numa disposição que permita o acesso fácil das abelhas à mesma.

Passados poucos minutos estes opérculos começam a ser limpos do mel pelas abelhas do apiário.

Passados alguns dias estes opérculos estão completamente secos/limpos e em óptimas condições para serem encaminhados para a caldeira da cera.

Nota 1: nas duas ou três vezes em que procurei atalhar este processo, colocando as ceras dos opérculos retirados da tina e ainda besuntados com mel directamente na caldeira, reparei que sistematicamente a broa de cera resultante ficava muito “areada”, pouco aglomerada, o que me levou a intuir que o mel ainda presente contribuía para este desfecho que não me agradava.

Nota 2: por regra sempre fui relativamente espartano nas minhas compras de equipamento para a UPP. Se por um lado tinha muito pouca vontade de investir milhares de euros em maquinaria, por outro sempre temi ficar com o bebé nos braços ou por causa de uma avaria ou por causa de uma cessação abrupta da minha aventura apícola. Agora, com três vezes menos colmeias que há dois anos atrás, o equipamento que tenho é suficiente e acabaram-se os estrangulamentos no processo de extracção.

uma formulação em gel de ácido fórmico para o controle de ácaros (varroa e traqueia) em abelhas melíferas

Estudos com alguns anos e que, muito provavelmente, terão servido de ensaios percursores e inspiradores ao desenvolvimento do MAQS e outros tratamentos de gel com ácido fórmico. Medicamentos para a varroose com eficácia inferior a 90% creio que poderão ser homologados pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), mas com a orientação para o aplicador dever acompanhar o tratamento com outras medidas de gestão integrada de pestes*.

“Uma formulação de gel de ácido fórmico a 65% e um sistema de veiculação, conhecido como pacote de gel de ácido fórmico Beltsville (BFA), foram desenvolvidos para controlar ácaros parasitas de abelhas. As concentrações de ácido fórmico em aplicações únicas de pacotes de gel BFA foram em média de 10-50 ppm dentro da colmeia, o que igualou ou excedeu os níveis de ácido fórmico obtidos por quatro aplicações líquidas sucessivas. Num estudo de campo da Primavera, uma única aplicação de pacotes de gel de BFA foi cerca de 70% eficaz no controle do Varroa jacobsoni, quando avaliados por tratamentos de acompanhamento com Apistan®. Em estudos com abelhas enjauladas, o controle do ácaro da traqueia, Acarapis woodi, aproximou-se de 100% ao oitavo dia. O pacote de gel de BFA é mais seguro de manusear do que o ácido fórmico líquido e, devido à sua liberação mais lenta, requer menos aplicações do que seu equivalente líquido. A eficácia contra o Varroa e ácaros da traqueia deve encorajar o uso de pacotes de gel BFA num programa geral para controlar os ácaros (varroa e/ou traqueia) que parasitam as abelhas.”

fonte: https://www.researchgate.net/publication/287849856_A_Gel_Formulation_of_Formic_Acid_for_the_Control_of_Parasitic_Mites_of_Honey_Bees

Um segundo estudo, agora com uma formulação com uma concentração de ácido fórmico a 85% obteve uma taxa de eficácia semelhante.

“Duas formulações de um gel à base de amido contendo 85% de ácido fórmico foram avaliadas para controlar o Varroa destructor em colmeias de abelhas. […] A eficácia média na redução da população Varroa foi de cerca de 73%.

fonte: https://www.researchgate.net/publication/273259562_A_gel_formulation_of_formic_acid_for_control_of_Varroa_destructor

* À luz do que é feito na ficha técnica do Varromed:

4.4 Advertências especiais para cada espécie-alvo: VarroMed só deve ser usado como parte de um programa de controle integrado do Varroa. A eficácia foi investigada apenas em colmeias com taxas de infestação de ácaros baixas a moderadas.”

fonte: https://ec.europa.eu/health/documents/community-register/2017/20170202136456/anx_136456_en.pdf

a solução de um caso concreto de uma colónia com pms

Hoje a chegada ao apiário, onde localizei ontem uma colónia com sinais inequívocos de PMS, foi anunciada novamente pelo levantar voo da comunidade de abelharucos que por ali está instalada. Já os começo a ver com alguma simpatia e até esperança de que possam estar a contribuir para as zero velutinas que vi este ano nos meus apiários.

O que me levou ao apiário não foi contudo a intenção de observar as acrobacias aéreas dos abelharucos. Fui solucionar, o mais rapidamente possível, o caso da colónia com PMS.

Desta colónia, retirei 8 quadros com reservas que não apresentavam criação absolutamente nenhuma e coloquei esses quadros valiosos numa colmeia armazém deste apiário depois de sacudidas todas as abelhas.

A colónia doente, que ficou apenas com os dois quadros que apresentavam criação e respectivas abelhas, foi fechada e retirada do apiário.

Foi transportada para minha casa e colocada num cantinho da horta. Para eliminar as abelhas decidi introduzir água com detergente pelo óculo da prancheta.

Esta foi a solução que achei ser a melhor para este caso concreto de uma colónia já demasiado fragilizada pelo PMS, com uma população de abelhas que não chega para cobrir as duas faces de um quadro e muitas delas doentes pelas viroses, em particular o VAD.

Caso esta colónia tivesse mais abelhas e caso o PMS não estivesse tão avançado, muito provavelmente teria sido tentado a retratar e fazer um esforço mais para a apoiar . Não sendo isso o que vi, decidi retirá-la com a máxima urgência do apiário e eliminar este super-organismo moribundo, como recomenda qualquer manual de boas práticas da pecuária.

Conto em breve, e com um pouco mais de tempo, voltar ao caso desta colónia, que por ser único nos meus apiários nos últimos anos, pretendo aprofundar um pouco mais, agora na perspectiva da formulação de 3 ou 4 hipóteses alternativas que possam explicar as causas deste conjunto infeliz de eventos.

pms: a factura que as minhas abelhas estão a pagar pela minha incompetência

Hoje, por volta das 9h30, estava a entrar no meu segundo apiário a 600 m de altitude, e não pude deixar de notar um bando de cerca de 10 abelharucos a levantar voo. Não sei se coincidência ou não, o ano passado tinha algumas velutinas à frente dos alvados das colmeias neste território e não dei conta dos abelharucos. Este ano dou conta dos abelharucos e não vi, até agora, uma velutina ou crabro em frente dos alvados das colmeias.

Nas 41 das 42 colónias assentes neste apiário à data de hoje verifico uma expansão da área de criação em boa parte delas e um padrão e compaticidade que me deixaram satisfeito.

Foto representativa do padrão de postura e compaticidade encontrado nas 41 das 42 colónias deste apiário.

E na 42ª?

Na 42ª foi isto o que vi:

Colónia pouco povoada! Medicada com duas tiras de Apivar, e tratamento iniciado em meados de julho, de acordo com o calendário afinado nos últimos anos.
Criação em mosaico, abelhas com asas deformadas, abelhas com varroas, larvas distorcidas…
… abelhas moribundas a emergir com o probóscide/língua estirado.

Tudo sinais muito claros de PMS. Isto numa colónia com reservas de mel e pão-de-abelha suficientes para a altura.

Olhando para o tecto da colmeia, onde fui anotando os aspectos críticos desta colónia ao longo da estação, ajudou-me a tornar compreensível este desfecho.

Esta colónia, prematuramente forte, tinha a rainha já em postura no sobreninho a 16.03.

Sendo uma colónia forte e tendo eu colocado o sobreninho cedo na temporada, reforcei-a com alguns quadros com criação retirados de outras colónias dedicadas à produção para conformar estas à regra “não mais de 6”. Apesar de na altura esta colónia ter as duas tiras de Apivar no ninho (tratamento de final do inverno), este suplemento de quadros com criação deveria ter sido acompanhado com a colocação de mais uma ou duas tiras de Apivar no sobreninho para respeitar o que o fabricante preconiza: uma tira de Apivar por cada cinco quadros de abelhas. Sabendo isto há anos, não o tendo feito é inequivocamente uma incompetência minha no maneio desta colónia sobrepovoada.

A 16.05 coloquei uma excluidora entre o ninho e o sobreninho, com a rainha confinada ao ninho. Hoje vi sinais muito evidentes de PMS.

PMS identificado hoje, e hoje ainda ou amanhã cedo, o mais tardar, vou dar os passos que se exigem para solucionar esta situação. Tema para uma próxima publicação.

o caminho para a homologação de um medicamento de uso veterinário

Não sendo uma absoluta novidade para mim o quão complexo e dispendioso é o processo de homologação de um medicamento de uso veterinário, encontrei no Bee-L uma descrição informal do processo de homologação requerido nos EUA. Na nossa UE não será muito diferente. No caso da apicultura apenas os tratamentos para a varoose estão homologados. Todas as outras doenças que afectam as colónias de abelhas não têm tratamentos homologados pela UE.

Contextualizando brevemente, esta é uma descrição de um apicultor, que por acaso é químico ou bio-químico e que trabalhou no âmbito da sua actividade profissional em vários laboratórios de produção de medicamentos, tanto quanto eu percebi até agora. As iniciais do seu nome são R.C. Esta descrição está ligada a uma questão que surgiu no Bee-L acerca do processo de homologação dos famosos toalhetes com oxálico e glicerina que têm vindo a ser testados pelo Randy Oliver. Tenho ideia que a EPA será a congénere norte-americana da nossa Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e a FDA a congénere da nossa Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

De vez em quando virei ler esta publicação para me lembrar o caminho que tem de ser percorrido (já nem falando em tudo o que está a montante em I&D) para alguém ver o seu medicamento para a varroose homologado. Não quero também esquecer-me do que alguns entre nós fizeram, e bem, para que esses medicamentos tenham comparticipação da UE e do Estado português no seu custo de aquisição. Por exemplo, nos EUA essa comparticipação não existe.

Os toalhetes de ácido oxálico diluído em glicerina
criados e testado por Randy Oliver.

R.C. : “Eu realmente não sei quais dados a EPA gostaria de ver. No mínimo, eles provavelmente gostariam de ver os dados de resíduos no mel e na cera para o ácido oxálico quando o produto for usado de acordo com o protocolo proposto. Portanto, a primeira coisa necessária é um rótulo com o protocolo de de uso proposto. Não creio que os resíduos de glicerina sejam motivo de preocupação. Afinal, nosso próprio corpo produz glicerina todos os dias como parte do metabolismo normal. De acordo com sua prática de longa data sobre dados, eles (EPA) gostariam que os dados fossem gerados com boas práticas de laboratório (BPL). O BPL não tem quase nada a ver com fazer boa ciência e obter resultados corretos. Em vez disso, as BPL se referem à manutenção de registros e inspeções de qualidade, registros de laboratório e procedimentos operacionais padrão escritos e de forma muito detalhada para cada operação. Coisas como qual foi o número do lote de todos os reagentes usados, qual foi a data em que esses frascos foram abertos e se estavam devidamente rotulados e registros de quem abriu o frasco e prazo de validade. Se você usou um frasco de acetona, se o rótulo era atualizado toda vez que era recarregado, mesmo que você o recarregasse três vezes ao dia. Você tem registros escritos mostrando qual balança que foi usada para cada pesagem e você tem registros escritos que teve sua calibração verificada com algum peso padrão e foi documentado todos os dias em que a balança foi usada? Seus cadernos são devidamente conferidos diariamente? Se você usou uma geleira, você tem documentação em papel que mostra o registro de temperatura nessa geleira para todos os dias em que fez parte do estudo? Você tem arquivos protegidos à prova de fogo onde pode armazenar todos os registros de estudo para sempre? O BPL realmente resulta no corte de uma floresta de árvores de para fornecer todo o papel necessário a esta extensa tarefa de registrar tudo ao mais pequeno pormenor. Todo o objetivo do BPL é fornecer documentação mais do que suficiente para que alguém versado na técnica possa repetir o estudo como feito originalmente e obter os mesmos resultados e também demonstrar que todos os equipamentos usados ​​estava em boas condições de funcionamento no dia em que foram usados ​​e que um inspetor de Qualidade verificou essas coisas e verificou todos os cálculos para ter certeza de que foram feitos corretamente. Em geral, a EPA não tem interesse em qualquer estudo que não seja feito em conformidade com as BPL.

O trabalho de Randy é determinar como usar o material para obter eficácia na eliminação de ácaros. A EPA não tem interesse real em saber se a substância realmente mata os ácaros e não quer estudos de eficácia. Estas são as perguntas que a FDA faz, porque se focam em avaliar se as coisas realmente funcionam. Para os pesticidas que não funcionam ou funcionam, mas causando alguns danos colaterais indesejados, como matar a rainha, estes problemas são resolvido por um utilizador (apicultor) que processa o fornecedor por danos, em tribunais civis. Lembre-se que a EPA deseja dados que digam que o material é seguro para o aplicador usar, os produtos produzidos são seguros para o consumidor usar e o produto químico não causa danos ambientais inaceitáveis. Eu não acho que eles tenham muitas dúvidas com a segurança do utilizador (apicultor) ou o ambiente, seja pelo ácido oxálico ou pela glicerina. Mas há limites para a quantidade de ácido oxálico que uma pessoa pode comer por dia, então algum tipo de dado de resíduo terá de ser indicado para proteger o consumidor. Todos nós sabemos que não é possível usar ácido oxálico em quantidades que venha a causar um problema de saúde ao consumidor por comer mel de colmeias tratadas. Mas saber e ter provas são duas coisas diferentes e os funcionários da EPA vão-se proteger de um erro pedindo algum tipo de dado sobre resíduos. No caso de um tratamento por gotejamento ou por sublimação de oxálico, eles podem contar com dados de registros estrangeiros, como Canadá ou UE. Talvez você possa convencê-los a confiar nos dados da UE neste caso, pois acho que uma mistura de glicerina oxálica está registrada na UE para gotejamento. No pior cenário esta análise pode ter que passar por algum laboratório contratado que tenha BPL (há muitos deles) e gastar $ 30.000 ou $ 60.000 para o trabalho analítico e respectivo relatório. Alguém precisaria fazer o trabalho de campo para obter as amostras e o BPL também é necessário para o trabalho de campo. Os registos dos testes de campo necessários assim como o que o apicultor fez e tudo isto em conformidade com as BPL (Boas Práticas Laboratoriais).

Lembre-se também de que a EPA estava sendo pressionada por Michelle Obama para registrar o gotejamento e a sublimação com oxálico e, como resultado, homologou com menos dados do que jamais os vi homologar qualquer coisa no passado. Se não fosse por sua influência política, provavelmente não teríamos estas utilizações do oxálico homologadas nos Estados Unidos hoje. Ela não é mais a primeira-dama, então não tem mais clube para bater à porta. E, como a Brushy (empresa apícola norte-americana), a empresa que submeteu este processo de homologação, não está mais no mercado, a atual homologação para o gotejamento e a sublimação só é válido até que a agência tenha alguma dúvida que exija uma resposta e como a empresa que o homologou não existe, talvez a homologação seja cancelada. Toda a homologação é totalmente revista pelo menos a cada 15 anos então em algum momento isso vai acontecer com os processos de gotejamento e a sublimação actualmente homologados e alguém deve solicitar essa essa revisão.“R.C.

fonte: Bee-L (fórum apícola norte-americano), 02-09-2020

das abelhas resistentes e das cabras sapadores

No passado dia 4 de agosto informaram-me que, num dos dois apiários que tenho a 600 m de altitude, as cabras de um pastor que partilham o mesmo território tinham derrubado uma colmeia. Ao final da tarde desloquei-me a esse apiário para recolocar no assento não uma mas duas colmeia que estavam tombadas pelo chão completamente viradas ao contrário. Não mereceria este episódio ser trazido aqui, outros semelhantes já me têm acontecido esporadicamente (nesses outros casos provocados não por cabras mas por vitelos e/ou vacas), não fossem dois aspectos do maneio que julgo poderão interessar outros companheiros de lide.

As duas colmeias que se cruzaram no caminho das cabras sapadores!

Hoje tive oportunidade de regressar ao apiário e analisar o estado do ninhos de todas as colónias deste apiário, nomeadamente as duas colónias que haviam sido tombadas.

Na colónia da esquerda verifiquei que estava zanganeira apresentando criação fechada de zângão em alvéolos de obreira. Fazendo alguns cálculos leva-me a supor que as colmeias foram tombadas por volta de 27 de Julho: a postura das obreiras poedeiras intensifica-se passados cerca de 28 dias após a postura do último ovo da rainha perdida, e as larvas de zângão são operculadas após 9 dias a contar do ovo de primeiro dia; sendo assim e recuando 37 dias a partir do dia de hoje encontramos a data provável do choque frontal entre as cabras e o assento das colmeias tombadas.

Este é um dos três quadros que a colónia apresentava com postura de poedeiras. Ainda que existam sempre abelhas poedeiras em todas as colónias o seu número aumenta, assim como a expressão da sua postura, numa situação de orfandade irresolúvel pelas abelhas.
Nesta altura do ano a minha solução passa por eliminar a colónia zanganeira e colocar estes quadros com a criação raspada numa colónia viável para que esta aproveite a proteína destas larvas de zângão.

Na colónia da direita verifico que este acidente não provocou um desfecho semelhante ao da colónia da esquerda. Tem rainha ao dia de hoje, com uma postura vibrante, mas… vi meia-dúzia de abelhas com as asas deformadas e vi “isto” num dos quadros…

… alguns alvéolos com pupas desoperculados pelas abelhas (na foto conto 7 que não me levantam dúvidas).

Este comportamento de desoperculação de alvéolos é a manifestação de um certo grau de comportamento higiénico por parte das abelhas, e surge habitualmente na presença de um grau de infestação pelo ácaro varroa relativamente elevado**. Se alguns apicultores acham que este comportamento é por si só sinónimo de abelhas resistentes ao varroa e/ou de linhas excepcionalmente higiénicas e com genética a explorar e desenvolver, eu e outros achamos que este comportamento é um comportamento banal e padrão presente em quase todas as colónias quando sujeitas a uma taxa de infestação que está a atingir valores elevados. Não há neste comportamento nada de excepcional nem superlativo! Pelo que vou vendo estas colónias irão sucumbir aos ácaros e aos vírus por eles transmitidos, não se fazendo nada para ajudar as abelhas. A natureza, intensidade e extensão deste comportamento nas minhas colónias revelou-se até agora insuficiente para me permitir cruzar os braços e esperar que as colónias resolvam o problema. Como não acho correcto fazer marketing com afirmações despudoradas e mal fundamentadas sobre ter abelhas resistentes e, ao mesmo tempo, devo tirar as devidas implicações desta “filosofia céptica” sobre o que é ou não é um traço de resistência, apoiei esta colónia com os recursos disponíveis no momento: dupliquei a dosagem de Apivar.

Colmeia da direita com 4 tiras de Apivar.

E porque adicionei mais duas tiras de Apivar às duas que já lá estão há cerca de mês e meio? Lembro que esta colónia esteve tombada, de pernas para o ar, cerca de 8 a 10 dias, com as duas tiras de Apivar, que tinha colocado cerca de 15 dias antes, fora do sítio indicado. No dia em que as voltei a recolocar no assento não estive com grandes preocupações de colocar as tiras no sítio adequado dada a agitação das abelhas, e só hoje passados 37 dias da data que estimo ter ocorrido o acidente fiz uma inspecção mais atenta. Como só nesta colónia vi o fenómeno de “cria calva” (designação espanhola para o fenómeno que descrevi) atribuo a causa da falta de eficácia no controlo do ácaro à incorrecta localização das tiras. Como entretanto as tiras foram perdendo “potência” pela exposição ao ar (o amitraz degrada-se na presença do oxigénio) e a infestação foi ganhando “potência” entendi que colocar mais duas tiras iria equilibrar as premissas deste jogo de vida ou morte entre as abelhas e o ácaro.

** a traça da cera também provoca a desoperculação dos alvéolos das pupas. Neste caso surgem habitualmente meia-dúzia de alvéolos adjacentes desoperculados e em linha uns com os outros.

depois da convalescença um passeio pelo botânico de coimbra

Passados dez dias de convalescença de minha esposa, hoje pediu-me para a acompanhar num passeio pelo Jardim Botânico de Coimbra. Que bem que nos soube!

Ficam algumas fotos que fui tirando de alguns pormenores das árvores e plantas deste Jardim. A minha homenagem a todos os protectores e cuidadores deste Jardim, desde  Domingos VandelliAvelar Brotero (sec. XVIII) até à actualidade.

a dinâmica populacional das colónias durante o inverno

Nos meus primeiros 2 anos de apicultura fiquei diversas vezes assustado com o reduzido número de quadros ocupados pelas abelhas durante a invernagem. Depois fui observando que mesmo colónias com 2 a 3 quadros Langstroth ou Lusitana cobertos de abelhas se “aguentavam” relativamente bem durante a invernagem, e destas uma boa parte evoluía bem a partir de meados de fevereiro no território que ocupam.

Quantas abelhas são necessárias para cobrir cada uma das faces de um quadro langstroth, quadros por norma com 8 dm2 de área? Tenho referido várias vezes neste blogue o número de mil. Segundo A. Imdorf (2010) são cerca de 1100 (cerca de 130 abelhas por dm2). Partindo desta referência e fazendo contas simples, um quadro langstroth coberto de abelhas aloja 2200 abelhas (2 faces vezes 1100 abelhas), isto é uma colónia com dois quadros cobertos de abelhas tem uma população à volta de 4400 abelhas, e uma colónia com três quadros cobertos de abelhas tem uma população de um pouco mais de 6500 abelhas. Estes valores podem aplicar-se também aos quadros das colmeias do modelo Lusitana sabendo que têm áreas idênticas.

Se fizerem esta avaliação num dia particularmente frio (o que desaconselho, mas não é letal se o fizerem com alguma rapidez) com as abelhas dispostas em “cacho invernal”, verificarão que uma parte das abelhas estão enfiadas de cabeça para baixo nos alvéolos, comportamento adoptado pelas abelhas para optimizarem a termorregulação e, nesta circunstância, o número de abelhas pode chegar às 400 por dm2 (uma abelha enfiada num alvéolo ocupa 1/3 da área que ocupa quando faz a suas tarefas fora do alvéolo) e, portanto, essa diferença deve ser levada em consideração na avaliação da população.

Resumindo os números da dinâmica populacional durante o inverno em territórios com baixas temperaturas e ausência de floração nectarífera (Imdorf, A., 2010):

  • população à entrada do inverno (Dezembro): 8000-15000 abelhas (4 a 7 quadros cobertos de abelhas);
  • perda normal de inverno: 2000-3000 abelhas;
  • população no final do inverno: 5000-13000 abelhas (2 a 6 quadros cobertos de abelhas).

Conhecesse eu estes valores nos dois primeiros anos da minha aventura com as abelhas e teria dormido algumas noites de inverno mais sossegado, sem temer as piores desgraças, sabendo que aquela população era normal para aquela época do ano num território frio e sem florações nectaríferas.

Nota: No início de 2017 apresentei a minha proposta para a dinâmica populacional nos meses de primavera e verão que, confirmo agora, se aproxima muito dos valores propostos por Anton Imdorf (2010), investigador senior do Centre Suisse de Recherches Apicoles, referenciando um pico de população de 40 mil abelhas no mês de junho.