o caminho para a homologação de um medicamento de uso veterinário

Não sendo uma absoluta novidade para mim o quão complexo e dispendioso é o processo de homologação de um medicamento de uso veterinário, encontrei no Bee-L uma descrição informal do processo de homologação requerido nos EUA. Na nossa UE não será muito diferente. No caso da apicultura apenas os tratamentos para a varoose estão homologados. Todas as outras doenças que afectam as colónias de abelhas não têm tratamentos homologados pela UE.

Contextualizando brevemente, esta é uma descrição de um apicultor, que por acaso é químico ou bio-químico e que trabalhou no âmbito da sua actividade profissional em vários laboratórios de produção de medicamentos, tanto quanto eu percebi até agora. As iniciais do seu nome são R.C. Esta descrição está ligada a uma questão que surgiu no Bee-L acerca do processo de homologação dos famosos toalhetes com oxálico e glicerina que têm vindo a ser testados pelo Randy Oliver. Tenho ideia que a EPA será a congénere norte-americana da nossa Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e a FDA a congénere da nossa Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

De vez em quando virei ler esta publicação para me lembrar o caminho que tem de ser percorrido (já nem falando em tudo o que está a montante em I&D) para alguém ver o seu medicamento para a varroose homologado. Não quero também esquecer-me do que alguns entre nós fizeram, e bem, para que esses medicamentos tenham comparticipação da UE e do Estado português no seu custo de aquisição. Por exemplo, nos EUA essa comparticipação não existe.

Os toalhetes de ácido oxálico diluído em glicerina
criados e testado por Randy Oliver.

R.C. : “Eu realmente não sei quais dados a EPA gostaria de ver. No mínimo, eles provavelmente gostariam de ver os dados de resíduos no mel e na cera para o ácido oxálico quando o produto for usado de acordo com o protocolo proposto. Portanto, a primeira coisa necessária é um rótulo com o protocolo de de uso proposto. Não creio que os resíduos de glicerina sejam motivo de preocupação. Afinal, nosso próprio corpo produz glicerina todos os dias como parte do metabolismo normal. De acordo com sua prática de longa data sobre dados, eles (EPA) gostariam que os dados fossem gerados com boas práticas de laboratório (BPL). O BPL não tem quase nada a ver com fazer boa ciência e obter resultados corretos. Em vez disso, as BPL se referem à manutenção de registros e inspeções de qualidade, registros de laboratório e procedimentos operacionais padrão escritos e de forma muito detalhada para cada operação. Coisas como qual foi o número do lote de todos os reagentes usados, qual foi a data em que esses frascos foram abertos e se estavam devidamente rotulados e registros de quem abriu o frasco e prazo de validade. Se você usou um frasco de acetona, se o rótulo era atualizado toda vez que era recarregado, mesmo que você o recarregasse três vezes ao dia. Você tem registros escritos mostrando qual balança que foi usada para cada pesagem e você tem registros escritos que teve sua calibração verificada com algum peso padrão e foi documentado todos os dias em que a balança foi usada? Seus cadernos são devidamente conferidos diariamente? Se você usou uma geleira, você tem documentação em papel que mostra o registro de temperatura nessa geleira para todos os dias em que fez parte do estudo? Você tem arquivos protegidos à prova de fogo onde pode armazenar todos os registros de estudo para sempre? O BPL realmente resulta no corte de uma floresta de árvores de para fornecer todo o papel necessário a esta extensa tarefa de registrar tudo ao mais pequeno pormenor. Todo o objetivo do BPL é fornecer documentação mais do que suficiente para que alguém versado na técnica possa repetir o estudo como feito originalmente e obter os mesmos resultados e também demonstrar que todos os equipamentos usados ​​estava em boas condições de funcionamento no dia em que foram usados ​​e que um inspetor de Qualidade verificou essas coisas e verificou todos os cálculos para ter certeza de que foram feitos corretamente. Em geral, a EPA não tem interesse em qualquer estudo que não seja feito em conformidade com as BPL.

O trabalho de Randy é determinar como usar o material para obter eficácia na eliminação de ácaros. A EPA não tem interesse real em saber se a substância realmente mata os ácaros e não quer estudos de eficácia. Estas são as perguntas que a FDA faz, porque se focam em avaliar se as coisas realmente funcionam. Para os pesticidas que não funcionam ou funcionam, mas causando alguns danos colaterais indesejados, como matar a rainha, estes problemas são resolvido por um utilizador (apicultor) que processa o fornecedor por danos, em tribunais civis. Lembre-se que a EPA deseja dados que digam que o material é seguro para o aplicador usar, os produtos produzidos são seguros para o consumidor usar e o produto químico não causa danos ambientais inaceitáveis. Eu não acho que eles tenham muitas dúvidas com a segurança do utilizador (apicultor) ou o ambiente, seja pelo ácido oxálico ou pela glicerina. Mas há limites para a quantidade de ácido oxálico que uma pessoa pode comer por dia, então algum tipo de dado de resíduo terá de ser indicado para proteger o consumidor. Todos nós sabemos que não é possível usar ácido oxálico em quantidades que venha a causar um problema de saúde ao consumidor por comer mel de colmeias tratadas. Mas saber e ter provas são duas coisas diferentes e os funcionários da EPA vão-se proteger de um erro pedindo algum tipo de dado sobre resíduos. No caso de um tratamento por gotejamento ou por sublimação de oxálico, eles podem contar com dados de registros estrangeiros, como Canadá ou UE. Talvez você possa convencê-los a confiar nos dados da UE neste caso, pois acho que uma mistura de glicerina oxálica está registrada na UE para gotejamento. No pior cenário esta análise pode ter que passar por algum laboratório contratado que tenha BPL (há muitos deles) e gastar $ 30.000 ou $ 60.000 para o trabalho analítico e respectivo relatório. Alguém precisaria fazer o trabalho de campo para obter as amostras e o BPL também é necessário para o trabalho de campo. Os registos dos testes de campo necessários assim como o que o apicultor fez e tudo isto em conformidade com as BPL (Boas Práticas Laboratoriais).

Lembre-se também de que a EPA estava sendo pressionada por Michelle Obama para registrar o gotejamento e a sublimação com oxálico e, como resultado, homologou com menos dados do que jamais os vi homologar qualquer coisa no passado. Se não fosse por sua influência política, provavelmente não teríamos estas utilizações do oxálico homologadas nos Estados Unidos hoje. Ela não é mais a primeira-dama, então não tem mais clube para bater à porta. E, como a Brushy (empresa apícola norte-americana), a empresa que submeteu este processo de homologação, não está mais no mercado, a atual homologação para o gotejamento e a sublimação só é válido até que a agência tenha alguma dúvida que exija uma resposta e como a empresa que o homologou não existe, talvez a homologação seja cancelada. Toda a homologação é totalmente revista pelo menos a cada 15 anos então em algum momento isso vai acontecer com os processos de gotejamento e a sublimação actualmente homologados e alguém deve solicitar essa essa revisão.“R.C.

fonte: Bee-L (fórum apícola norte-americano), 02-09-2020

das abelhas resistentes e das cabras sapadores

No passado dia 4 de agosto informaram-me que, num dos dois apiários que tenho a 600 m de altitude, as cabras de um pastor que partilham o mesmo território tinham derrubado uma colmeia. Ao final da tarde desloquei-me a esse apiário para recolocar no assento não uma mas duas colmeia que estavam tombadas pelo chão completamente viradas ao contrário. Não mereceria este episódio ser trazido aqui, outros semelhantes já me têm acontecido esporadicamente (nesses outros casos provocados não por cabras mas por vitelos e/ou vacas), não fossem dois aspectos do maneio que julgo poderão interessar outros companheiros de lide.

As duas colmeias que se cruzaram no caminho das cabras sapadores!

Hoje tive oportunidade de regressar ao apiário e analisar o estado do ninhos de todas as colónias deste apiário, nomeadamente as duas colónias que haviam sido tombadas.

Na colónia da esquerda verifiquei que estava zanganeira apresentando criação fechada de zângão em alvéolos de obreira. Fazendo alguns cálculos leva-me a supor que as colmeias foram tombadas por volta de 27 de Julho: a postura das obreiras poedeiras intensifica-se passados cerca de 28 dias após a postura do último ovo da rainha perdida, e as larvas de zângão são operculadas após 9 dias a contar do ovo de primeiro dia; sendo assim e recuando 37 dias a partir do dia de hoje encontramos a data provável do choque frontal entre as cabras e o assento das colmeias tombadas.

Este é um dos três quadros que a colónia apresentava com postura de poedeiras. Ainda que existam sempre abelhas poedeiras em todas as colónias o seu número aumenta, assim como a expressão da sua postura, numa situação de orfandade irresolúvel pelas abelhas.
Nesta altura do ano a minha solução passa por eliminar a colónia zanganeira e colocar estes quadros com a criação raspada numa colónia viável para que esta aproveite a proteína destas larvas de zângão.

Na colónia da direita verifico que este acidente não provocou um desfecho semelhante ao da colónia da esquerda. Tem rainha ao dia de hoje, com uma postura vibrante, mas… vi meia-dúzia de abelhas com as asas deformadas e vi “isto” num dos quadros…

… alguns alvéolos com pupas desoperculados pelas abelhas (na foto conto 7 que não me levantam dúvidas).

Este comportamento de desoperculação de alvéolos é a manifestação de um certo grau de comportamento higiénico por parte das abelhas, e surge habitualmente na presença de um grau de infestação pelo ácaro varroa relativamente elevado**. Se alguns apicultores acham que este comportamento é por si só sinónimo de abelhas resistentes ao varroa e/ou de linhas excepcionalmente higiénicas e com genética a explorar e desenvolver, eu e outros achamos que este comportamento é um comportamento banal e padrão presente em quase todas as colónias quando sujeitas a uma taxa de infestação que está a atingir valores elevados. Não há neste comportamento nada de excepcional nem superlativo! Pelo que vou vendo estas colónias irão sucumbir aos ácaros e aos vírus por eles transmitidos, não se fazendo nada para ajudar as abelhas. A natureza, intensidade e extensão deste comportamento nas minhas colónias revelou-se até agora insuficiente para me permitir cruzar os braços e esperar que as colónias resolvam o problema. Como não acho correcto fazer marketing com afirmações despudoradas e mal fundamentadas sobre ter abelhas resistentes e, ao mesmo tempo, devo tirar as devidas implicações desta “filosofia céptica” sobre o que é ou não é um traço de resistência, apoiei esta colónia com os recursos disponíveis no momento: dupliquei a dosagem de Apivar.

Colmeia da direita com 4 tiras de Apivar.

E porque adicionei mais duas tiras de Apivar às duas que já lá estão há cerca de mês e meio? Lembro que esta colónia esteve tombada, de pernas para o ar, cerca de 8 a 10 dias, com as duas tiras de Apivar, que tinha colocado cerca de 15 dias antes, fora do sítio indicado. No dia em que as voltei a recolocar no assento não estive com grandes preocupações de colocar as tiras no sítio adequado dada a agitação das abelhas, e só hoje passados 37 dias da data que estimo ter ocorrido o acidente fiz uma inspecção mais atenta. Como só nesta colónia vi o fenómeno de “cria calva” (designação espanhola para o fenómeno que descrevi) atribuo a causa da falta de eficácia no controlo do ácaro à incorrecta localização das tiras. Como entretanto as tiras foram perdendo “potência” pela exposição ao ar (o amitraz degrada-se na presença do oxigénio) e a infestação foi ganhando “potência” entendi que colocar mais duas tiras iria equilibrar as premissas deste jogo de vida ou morte entre as abelhas e o ácaro.

** a traça da cera também provoca a desoperculação dos alvéolos das pupas. Neste caso surgem habitualmente meia-dúzia de alvéolos adjacentes desoperculados e em linha uns com os outros.

depois da convalescença um passeio pelo botânico de coimbra

Passados dez dias de convalescença de minha esposa, hoje pediu-me para a acompanhar num passeio pelo Jardim Botânico de Coimbra. Que bem que nos soube!

Ficam algumas fotos que fui tirando de alguns pormenores das árvores e plantas deste Jardim. A minha homenagem a todos os protectores e cuidadores deste Jardim, desde  Domingos VandelliAvelar Brotero (sec. XVIII) até à actualidade.

a dinâmica populacional das colónias durante o inverno

Nos meus primeiros 2 anos de apicultura fiquei diversas vezes assustado com o reduzido número de quadros ocupados pelas abelhas durante a invernagem. Depois fui observando que mesmo colónias com 2 a 3 quadros Langstroth ou Lusitana cobertos de abelhas se “aguentavam” relativamente bem durante a invernagem, e destas uma boa parte evoluía bem a partir de meados de fevereiro no território que ocupam.

Quantas abelhas são necessárias para cobrir cada uma das faces de um quadro langstroth, quadros por norma com 8 dm2 de área? Tenho referido várias vezes neste blogue o número de mil. Segundo A. Imdorf (2010) são cerca de 1100 (cerca de 130 abelhas por dm2). Partindo desta referência e fazendo contas simples, um quadro langstroth coberto de abelhas aloja 2200 abelhas (2 faces vezes 1100 abelhas), isto é uma colónia com dois quadros cobertos de abelhas tem uma população à volta de 4400 abelhas, e uma colónia com três quadros cobertos de abelhas tem uma população de um pouco mais de 6500 abelhas. Estes valores podem aplicar-se também aos quadros das colmeias do modelo Lusitana sabendo que têm áreas idênticas.

Se fizerem esta avaliação num dia particularmente frio (o que desaconselho, mas não é letal se o fizerem com alguma rapidez) com as abelhas dispostas em “cacho invernal”, verificarão que uma parte das abelhas estão enfiadas de cabeça para baixo nos alvéolos, comportamento adoptado pelas abelhas para optimizarem a termorregulação e, nesta circunstância, o número de abelhas pode chegar às 400 por dm2 (uma abelha enfiada num alvéolo ocupa 1/3 da área que ocupa quando faz a suas tarefas fora do alvéolo) e, portanto, essa diferença deve ser levada em consideração na avaliação da população.

Resumindo os números da dinâmica populacional durante o inverno em territórios com baixas temperaturas e ausência de floração nectarífera (Imdorf, A., 2010):

  • população à entrada do inverno (Dezembro): 8000-15000 abelhas (4 a 7 quadros cobertos de abelhas);
  • perda normal de inverno: 2000-3000 abelhas;
  • população no final do inverno: 5000-13000 abelhas (2 a 6 quadros cobertos de abelhas).

Conhecesse eu estes valores nos dois primeiros anos da minha aventura com as abelhas e teria dormido algumas noites de inverno mais sossegado, sem temer as piores desgraças, sabendo que aquela população era normal para aquela época do ano num território frio e sem florações nectaríferas.

Nota: No início de 2017 apresentei a minha proposta para a dinâmica populacional nos meses de primavera e verão que, confirmo agora, se aproxima muito dos valores propostos por Anton Imdorf (2010), investigador senior do Centre Suisse de Recherches Apicoles, referenciando um pico de população de 40 mil abelhas no mês de junho.

quadros com mel cristalizado: uma proposta de maneio

Não sendo uma circunstância que verifique nas minhas colónias, em alguns países (Suíça (1), França, por ex.), ou eventualmente em certas regiões do nosso país, acontece com alguma frequência as colónias invernarem com mel que cristalizou nos quadros do ninho. A cristalização do mel está frequentemente associada a elevados teores de melezitose no mel, superior a 10% dos açucares totais. Este mel apresenta uma taxa elevada de sais minerais, o que lhe confere uma condutividade eléctrica típica dos meis de melada, acima dos 0,8 mS/cm.

Mel cristalizado no favo, com elevado teor
de melezitose

Sendo o mel de melada muito procurado por alguns dos maiores apreciadores de mel e valorizado pelos mercados internacionais e pelos grossistas para a produção de lotes mistos, há muito apicultores em certas regiões europeias que entendem que este é um mel “perigososo” enquanto reserva alimentar para as abelhas durante a invernagem. Segundo a sua experiência o consumo deste mel pelas abelhas durante a invernagem está frequentemente associada a desinteria, que pode culminar num excesso de mortalidade de abelhas neste período (2). Na Suíça é recomendado aos apicultores a extracção destes quadros dos ninhos e/ou a sua guarda e re-utilização na primavera seguinte (ver https://www.abeilles.ch/actualites/detail/News/detail/attention-miel-de-melezitose-1005.html).

Para a re-utilização destes quadros com mel cristalizado, um dos maneios aconselhados consiste na colocação na primavera seguinte destes quadros previamente desoperculados numa alça por baixo da caixa do ninho e, simultaneamente, a colocação de uma alça por cima do ninho com quadros puxados vazios. As abelhas irão liquidificar o mel cristalizado e transferi-lo, em maior ou menor percentagem, para os quadros da alça que foi colocada por cima do ninho (ver https://www.apiservices.biz/media/kunena/attachments/9028/zementhonig_f.pdf).

Notas: (1) uma palavra de reconhecimento e gratidão à equipa de pesquisa do Centre Suisse de Recherches Apicoles, Liebefeld, Suiça, pelo que me tem ensinado e pelo que tem confirmado do pouco que já sabia; (2) a mortalidade normal, durante a invernagem, situa-se entre as 2 mil e as 3 mil abelhas (Imdorf, A., 2010).

suplementação artificial de proteína: alguns dados experimentais

O pólen é a única fonte de proteínas das abelhas e desempenha um papel decisivo na criação de novas abelhas, bem como no desenvolvimento das glândulas nas operárias mais jovens. As abelhas suprem as suas necessidades de aminoácidos e minerais essenciais por meio do pólen. A sua ingestão é essencial para o desenvolvimento dos órgãos internos, em particular do tecido adiposo e das glândulas hipofaríngeas das abelhas.

Quadro com reservas de carbohidratos (mel) e proteína bruta (pão-de-abelha).

Os apicultores mais informados estão cientes que a criação de novas abelhas depende radicalmente do suprimento natural de pólen. Se nenhuma reserva de pólen estiver disponível nos favos e/ou se o campo não estiver a disponibilizar pólen a colónia diminui significativamente a criação, podendo esta ser interrompida.

Tendo estes aspectos em conta, alguns apicultores veteranos procuram, através da suplementação artificial de fontes de proteína (conhecidos como bifes proteicos), manter e/ou mesmo estimular a criação de abelhas novas em épocas de escassez. Vejamos se os dados trazidos por alguns estudos controlados (realizados na Suíça), confirmam esta expectativa.

Alimentação de pólen de primavera (Imdorf A., et al., 1988) 
Como às vezes há falta de pólen na primavera [Suiça], um conjunto de estudos foram realizados em 1986/87 para descobrir se a alimentação suplementar com pólen poderia acelerar o desenvolvimento da colónia nesta época do ano. Verificou-se que esta apenas levou a um aumento temporário na criação, mas não influenciou o desenvolvimento das colónias. Além disso, as diferenças observadas não foram estatisticamente significativas .

Alguns detalhes do desenho experimental e dos dados obtidos: na primavera de 1986 e 1987, dois grupos de 5 e 8 colónias, foram suplementados durante 5 semanas, do final de março ao início de maio, recebendo semanalmente 500 g de pasta de pólen (300 g de pólen de sua própria colheita e 200g água com açúcar 1: 1). De final de março ao final de maio, a população foi medida a cada três semanas (criação e abelhas adultas). Grupos de colónias semelhantes sem nenhuma suplementação serviram como controle.
Ao longo dos dois anos da experiência, foi observado um ligeiro aumento na criação de novas abelhas no início de abril. Três semanas depois nenhuma diferença foi observada na quantidade de criação de novas abelhas entre grupos. Nenhuma diferença entre os grupos foi observada durante e após a alimentação no desenvolvimento da população de abelhas.

Colónia suplementada artificialmente com um bife proteico.


Uns anos antes o mesmo investigador tinha avaliado o impacto da suplementação de pólen e de um substituto de pólen na criação de novas abelhas e no crescimento populacional noutra época do ano.

Alimentação de pólen entre meladas (Imdorf, A., et al., 1984)
Estudos realizados na Suíça com centenas de colónias de abelhas mostraram que o pico populacional é alcançado no final de junho ou início de julho e coincide com um período de baixo suprimento de pólen. Durante e após o fluxo de néctar da floresta/bosque, assiste-se a um rápido declínio na população de abelhas.
Em 1981 e 1982, os estudos focaram-se na possibilidade de desacelerar o declínio da população das colónias entre as meladas, suplementado-as com pólen e seus substitutos. Verificou-se que a criação e a expectativa de vida das abelhas não são influenciadas pela suplementação de pólen. A criação de novas abelhas nas colónias suplementadas com pólen não aumentou em comparação com as colónias não suplementadas. Da mesma forma, nenhuma extensão de vida foi observada. Em algumas colónias, o único efeito da suplementação foi a diminuição da colecta de pólen no exterior. Entretanto um aspecto muito negativo foi observado: uma infecção de cria de giz (ascosferiose) ocorreu em colónias alimentadas com pólen. Por esta razão, na América do Norte apenas pólen irradiado é aconselhado para suplementação.


Durante o intervalo entre as meladas no verão de 1981, um teste de alimentação suplementar foi realizado com pasta de pólen (700 g por 5 semanas; alimentação uma vez por semana; n = 6) e uma pasta feita com substituto de pólen de Protivy (540 g; 160 g Protivy 50, 360 g de água com açúcar 1: 1 e 20 g de pólen; n = 9). Um grupo de colónias não suplementadas serviu como controle (n = 12). A ingestão de proteína não teve influência nos dois grupos na criação de novas abelhas e na população de abelhas e não evitou o declínio da população durante o intervalo entre os fluxos de mel em 1981.

Um suplemento proteico industrial para abelhas (creio que não é comercializado na Europa, a ver se assim não firo susceptibilidades).

Reflexão: sendo muito consensual a importância crítica da nutrição das abelhas (ainda não conhecemos abelhas que sobrevivam na ausência de alimento) esse consenso não existe acerca do impacto da nutrição artificial suplementar, seja de proteína seja de carbohidratos, na aceleração do desenvolvimento da população de colónias de abelhas. Portanto, afirmar como uma verdade absoluta e universal, escrita nas pedras, que esse impacto existe é prematuro. O caso ainda está a ser avaliado e julgado! Do que retiro das minhas observações, com as minhas abelhas, no meu território e com o meu maneio, posso confirmar apenas três coisas muito simples, e que vejo repetirem-se ano após ano:

  • já evitei a morte por fome de inúmeras das minhas colónias com alimentação suplementar na forma de pasta de açúcar;
  • as minhas colónias respondem muito bem à entrada de pólen do campo, que se inicia em meados de fevereiro nos territórios onde tenho assentes os apiários, aumentando generosamente a quantidade de criação e, em regra, arrancam bem e chegam muito bem povoadas a abril/maio;
  • até agora nunca utilizei alimentação suplementar proteica no final do verão/início do outono, e as abelhas têm invernado bem sem ela (este ano, 2019-2020, a mortalidade invernal não ultrapassou os 4%).

o envelhecimento das abelhas: alguns aspectos

O nascimento das primeiras abelhas de inverno ocorre sobretudo no final do verão e início do outono, isto é, entre agosto e outubro. Segundo alguns estudos (Merz et al. 1979; Imdorf et al. 2010) uma boa parte destas abelhas de inverno nasce em setembro. Também por esta razão, as nossas colónias devem estar desparasitadas do varroa por esta altura.

Enquanto as abelhas de verão vivem cerca de 35-40 dias em média, as abelhas de inverno vivem cerca de 180 dias. Aspectos de natureza genética, fisiológica, morfológica e ambiental explicam esta diferença. Por exemplo abelhas da sub-espécie ligústica vivem menos tempo em média que abelhas da sub-espécie cárnica (efeito genético); abelhas com mais hormona juvenil na hemolinfa (abelhas de verão) vivem menos tempo que abelhas com menos hormona juvenil (abelhas de inverno). Morfologicamente as abelhas de inverno distinguem-se das abelhas de verão no tecido adiposo, maior nas primeiras que nas segundas.

Tecido adiposo de uma abelha de inverno (à esquerda) e de uma abelha de verão (à direita).


Mas são as variáveis de natureza ambiental que apresentam um impacto mais profundo no tempo de vida expectável das abelhas (Imdorf et al. 2010). E aqui o termo ambiental engloba não apenas as condições ambientais externas à colmeia (a metereologia, por ex.), mas também as condições ambientais internas, como a presença ou ausência de criação para alimentar nos meses de final de verão e início do outono. Analisemos mais aprofundadamente este dado que, no meu ponto de vista, apresenta um grande interesse e implicações práticas acerca das benesses e prejuízos que podem advir da utilização de alimentação estimulante no final do verão/início do outono.


Creio que todos nós, apicultores com alguns anos de abelhas, já pudemos observar que uma colónia zanganeira, livre de cria, não perece habitualmente em poucas semanas, pelo contrário pode sobreviver por vários meses. Dados experimentais têm mostrado que as abelhas em colónias sem cria (colónias com rainha enjaulada, por ex.) vivem muito mais e exibem características fisiológicas típicas de abelhas longevas de inverno. Fluri e Imdorf (1989) testaram os efeitos no desenvolvimento de colónias com paragem de desova entre 13 de agosto e 18 de setembro. As colónias com paragem de desova criaram 6.000 abelhas a menos do que o grupo de controle e tiveram em média 1.800 abelhas a menos que hibernaram por colónia. À saída do inverno, a força média das colónias foi no entanto muito semelhante nos dois grupos de colónias. Isso sugere que durante uma paragem de desova no final do verão/início do outono, uma grande parte das abelhas se transforma mais cedo em abelhas de inverno de vida mais longa. Estas observações levaram à hipótese de que o cuidado com a criação encurta a expectativa de vida. Em 1985, Wille, H. e colegas demonstraram que a criação intensiva de cria é sinónimo de redução da expectativa de vida das abelhas. O mesmo concluíram Westerhoff e Büchler (1994): cuidados mais intensivos com a criação podem explicar dois terços da redução na expectativa de vida das abelhas.

Ligando os pontos, julgo que estou em condições de poder dizer que a alimentação estimulante não é necessariamente um bem absoluto e a utilizar como regra, especialmente neste período de fim de verão/início de outono. Podemos estar, em muitas circunstâncias e vários locais, a envelhecer prematuramente e desnecessariamente as abelhas adultas já presentes nas nossas colónias ao obrigá-las a criar em excesso novas abelhas. No que me diz respeito não me lembro de ter utilizado alguma vez alimentação estimulante nestas alturas do ano, no meu território, onde não tenho pressão de velutinas nem florações nectaríferas importantes no inverno. Nunca me pareceu que fizesse qualquer falta, e cedo aprendi a conviver e a achar natural o decréscimo populacional de uma colónia de abelhas nesta época do ano. Numa ou outra fico na dúvida se passará o inverno, e em regra até passam desde que tenham alimento suficiente (natural ou artificial na forma de pasta).

Resumindo, as abelhas de inverno para serem longevas devem nascer num ambiente desparasitado (com poucas varroas e vírus) e devem ser libertadas da tarefa de alimentar um excesso de criação provocado por uma alimentação artificial inoportuna.

perdas de colmeias em três regiões francesas no inverno de 2017-2018: dados, análise e discussão

Enquanto apicultor profissional (a minha renda anual depende exclusivamente dos proveitos alcançados por via das minhas colónias de abelhas, isto desde 2010) e enquanto amador das abelhas (tenho uma paixão por ajudar as minhas colónias a manterem-se vivas e saudáveis, particularmente durante os meses de escassez), a maior satisfação provem das baixas taxas de mortalidade invernais, que felizmente têm ficado abaixo dos 5% nos últimos anos. Sobre as abelhas já vi um pouco (experiência), já li um pouco mais (estudo), e já pensei um pouco mais ainda (tentando construir algum conhecimento), para que desta mistura saia o necessário, ano após ano, que me permita estar mais preparado frente a este grande desafio: manter os enxames de abelhas vivos e saudáveis para me darem a renda anual que procuro.

Uma das ferramentas para alcançar tal desiderato tem sido, como referi, as leituras, e nessas leituras destaco os magníficos relatórios da Chambre d’Agriculture d’Alsace, pelo contributo que têm dado à minha aprendizagem e reflexão. Aqui e aqui deixei traduzidos os relatórios produzidos nos dois anos anteriores (2016 e 2017). Apresento agora a tradução de alguns excertos do relatório publicado em 2018, acerca das perdas ocorridas no inverno de 2017-2018 nas mesmas três regiões, inseridas na região Grand Est (Alsace, Champagne-Ardenne et Lorraine).

A região Grand Est

As respostas foram fornecidas por 640 participantes. A pesquisa abrange 534 respostas válidas que descrevem o ocorrido em 16.940 colmeias distribuídas por 2.737 apiários de inverno.

Uma panorâmica geral

Com 11,6% das colmeias a chegarem mortas à primavera de 2018 (e 9,7% das colmeias sem valor à entrada da primavera), a situação da apicultura na região do Grand Est é semelhante à perda média dos últimos nove anos. Combinando estas duas taxas, as perdas globais chegam, portanto, a 21,3% das colmeias invernadas pelos apicultores (colmeias mortas + sem valor). Não houve mortalidade excessiva na primavera de 2018.

De forma semelhante aos inquéritos anteriores, constata-se um número mais elevado de perdas nos apicultores com poucas colmeias face a outros com mais colónias. De acordo com os dados disponíveis, este excesso de mortalidade foi estimado em 56% a mais de perdas para apicultores com “menos de 10 colmeias” em comparação com as de apicultores profissionais.

E, uma vez mais, confirma-se a influência central das escolhas técnicas relacionadas com o combate ao parasita Varroa na sobrevivência das colónias.

Influência de rainhas jovens na sobrevivência da colónia
Ao todo, 9.075 colónias de abelhas tinham rainhas do ano (53,6% das colmeias).
O inquérito não solicitava que o apicultor diferencie as perdas sofridas por colmeias com e sem rainhas jovens. As estatísticas não são precisas, portanto. Contudo de acordo com os sentimentos pessoais dos apicultores:
– Os problemas decorrentes das rainhas parecem ser equivalentes aos de anos anteriores; – Colmeias com rainhas jovens não têm invernado nem melhor nem pior do que as outras.

Remoção de cria de zângãos (corte de cria de zângãos)
A remoção de cria de zângãos retarda a progressão da infestação de Varroa, mas não constitui um tratamento em si. Para ser útil, é necessário um mínimo de 3 ou 4 cortes por primavera (abril a junho / julho).
Entre os 534 apicultoresinquiridos, apenas 29 praticaram esse corte “pelo menos 3 vezes”. Sua taxa média de perdas é de 22,7% (contra 21,3% para aqueles que não praticaram).

Embora esta medida seja reconhecida pela sua ação na infestação por varroa (desacelerando a infestação na primavera), sua influência nas perdas no inverno parece insignificante. Esta observação é consistente com os dados de inquéritos anteriores. A falta de efeito mensurável nas perdas de inverno pode ser explicada por um lado pela fertilidade do Varroa (que recuperaria no final do ano o “tempo perdido” pelas acções de remoção de cria de zângão) e / ou pelos fenómenos de reinfestações entre apiários vizinhos, o que acabaria por anular a vantagem proporcionada pelo método no início da época.

Quais são as culturas/florações presentes no ambiente da maioria de suas colónias?
O inquérito pediu informações acerca das culturas/florações presentes em redor dos apiários. A ausência de culturas melíferas parece estar sistematicamente ligada a maiores perdas (exceto para urze);

No que diz respeito à urze, a sua presença está associada a um grande número de colmeias que perderam o seu valor. Trata-se principalmente de colmeias que ficaram zanganeiras (28% das colónias em território de urze ficaram zanganeiras, 5% ficaram muito fracas).
Sobre este aspecto em particular não é possível, com base nos dados disponibilizados pelo inquérito, realizar análises estatísticas mais precisas, dada por um lado a imprecisão das informações coletadas e por outro lado o tamanho da amostra (número baixo de apiários onde as urzes estavam presentes).
A rede Coloss planeia explorar esta questão com base em dados coletados nos vários países participantes.

Tratamento “principal” de fim de verão
O período escolhido para o controle do parasita Varroa destructor é no final da temporada de produção de mel (ou seja, julho / agosto / setembro/outubro no Grand-Est).
Em 2017, a colocação dos tratamentos começou timidamente em julho (6% dos apicultores) e, a maioria foram realizados principalmente em agosto (44% dos apicultores) e em setembro (40% dos apicultores).
No Grand-Est, recomenda-se a realização dos tratamentos em julho / agosto, dada a duração de ação dos tratamentos (variável de 2 a 12 semanas) e o fim do período de criação das abelhas de inverno (aproximadamente em Outubro, Imdorf 2010). De fato, é necessário para a sobrevivência das colmeias que as abelhas de inverno sejam criadas em condições/ambiente já desparasitado.

Ligação entre a data do tratamento principal e as perdas de inverno As colónias tratadas mais cedo estão associadas às melhores taxas de sobrevivência no inverno.

As colmeias tratadas em outubro de 2017 mostram um excesso de mortalidade 2,2 vezes maior do que as colmeias tratadas em julho de 2017.
Com 36,7% de colmeias mortas, os tratamentos iniciados em outubro são muito menos úteis do que os realizados em julho (perdas de 16,6%, ou seja, 2,2 vezes menos perdas).

Ligação entre a escolha do medicamento principal para a varroose e as perdas no inverno

  • Apivar® – O medicamento mais utilizado para o “tratamento principal” (final do verão) é o APIVAR (11.705 colmeias, ou 69% das colónias monitoradas pela pesquisa). É o medicamento autorizado associado aos melhores resultados (melhores taxas de sobrevivência no inverno). Resultado sempre observado ao longo dos anos inquiridos (de 2010 a 2018).
  • Ácido fórmico – Segundo tratamento mais utilizado (1534 colmeias, ou 9% das colónias monitoradas pela pesquisa); a aplicação do ácido fórmico é aprovada na Agricultura Orgânica. Apresenta resultados variáveis ​​dependendo das condições de uso e das condições meteorológicas no apiário. O “MAQS” possui uma MA (Autorização de Introdução no Mercado), ao contrário das preparações caseiras utilizadas até agora.
  • Timol (Apiguard®, Thymovar®, Apilifevar®) – Usado em 5% das colmeias monitoradas pela pesquisa, esses medicamentos apresentam fortes variações de eficácia entre colmeias de um mesmo apiário. Está associado a perdas maiores.
  • Apistan (tau-fluvalinato) – cada vez mais raramente utilizado (> 1% das colmeias), esta molécula não é recomendada devido ao seu acúmulo em ceras e aos problemas de resistência a ela associados.
  • Ácido oxálico (Varromed) – o ácido oxálico é conhecido por ser eficaz contra Varroa na ausência de cria na colmeia. Recentemente, foi disponibilizado em preparações com Autorização de Introdução no Mercado e a particularidade é que pode ser utilizado durante todo o ano, inclusive na presença de cria. Atualmente, não temos nenhum feedback técnico de testes sobre a real eficácia deste produto (quais as doses e qual a frequência de aplicação para atingir qual taxa de eficiência?). A taxa de mortalidade associada às 633 colmeias tratadas com Varromed é de 32,5% (mas em que doses foram tratadas?). Um ponto que requer mais detalhes no futuro.
  • O amitraz “caseiro”, utilizado em menos de 1% dos casos, é uma prática proibida devido aos perigos diretos para o apicultor e para as abelhas. Seu desempenho é inferior ao do Apivar (com o mesmo princípio ativo).
  • Falta de tratamento e “outros métodos” — as respostas indicam que 1115 colmeias não foram tratadas e 402 colmeias foram tratadas com “outros métodos” (não especificado). As colmeias que não foram tratadas tiveram a maior taxa de perda de todas as colmeias da amostra (49%)!

Tratamento de inverno (ácido oxálico)
O inverno é uma oportunidade de realizar um tratamento complementar ao tratamento principal (verão), de forma a eliminar o varroa residual: a aplicação de ácido oxálico (AO) permite realizar um tratamento muito eficaz contra a varroa na ausência de criação. AO é uma molécula natural, que deve ser manuseada com cuidado. O período ideal é o período sem cria, geralmente final de dezembro-início de janeiro [nos meus apiários seria de meados de novembro a meados de dezembro… local, local, local!].

Durante o inverno de 2017-2018, o ácido oxalico foi aplicado no Grand Est como se descreve:

49 aplicações de AO “gotejado” (incluindo 34 em dezembro e 10 em janeiro). 41 aplicações AO por “sublimação” (gás) (incluindo 17 em dezembro e 11 em janeiro).

(Tenha cuidado com o entupimento dos seus dispositivos com a preparação ApiBioxal que infelizmente contém açúcar! O ApiBioxal é impróprio para este tipo de utilização.

As perdas registadas não são diferentes entre colmeias tratadas ou não com AO, no inverno (teste Z não significativo). E por uma boa razão: o tratamento de inverno não é usado para melhorar a taxa de sobrevivência no inverno! É o tratamento principal, o de verão, que se reflecte na sobrevivência no inverno. O objetivo do tratamento de inverno é minimizar o número de ácaros varroa nas colmeias para promover uma melhor época/arranque no ano seguinte.

fonte: https://www.adage.adafrance.org/downloads/compte_rendu_enquetes_pertes_hivernales_grand_est_2018_v2.pdf

vespa velutina: o estado da arte do que sabemos

Como em muitas outras áreas, o estudo e o conhecimento da Vespa velutina nigrithorax (VV) tem vindo a evoluir lentamente. Como disse alguém não é fácil estudar um insecto que se esconde e que apresenta algumas armas defensivas bem conhecidas. Mas o estudo vai-se fazendo e serve esta publicação para sumariar o que se sabe hoje de mais sólido acerca deste insecto.

  • Introdução acidental: aconteceu em França, muito provavelmente em 2004, de apenas uma rainha, fecundada pelo menos por 4 machos;
  • a expansão: tem sido rápida na Europa, facilitada pelo transporte de mercadorias e pelas muitas fontes de alimento disponíveis (outros insectos e também o lixo, em especial nas zonas urbanas e peri-urbanas);
  • o ciclo de vida: cada ninho gera um grande número de operárias; assiste-se à criação de algumas centenas de novas rainhas por ninho; encontram-se machos diploides (estéreis) em fases precoces do ciclo de vida do ninho (consequência da consanguinidade?);
  • o comportamento de caça: caracteriza-se pelo vôo estacionário em frente às colmeias; as VV apresentam elevado grau de fidelidade ao sítio de caça; não se confirma a marcação química/feromonal das colmeias a atacar; há trofaláxis no vespeiro;
  • comportamento defensivo das abelhas: formação de um tapete/barba de abelhas no alvado da colmeia; tentativas tímidas e ineficientes de “shimmering” (comportamento defensivo presente e muito eficiente nas Apis dorsata e cerana); comportamento de pelotamento da VV mas muito ineficiente na Apis melífera europeia;
  • impacto na entomofauna europeia: a presa favoritas das VV são as abelhas melíferas, especialmente em zonas mais urbanizadas; as VV são atraídas pelos odores exalados pelas colónias de abelhas e pelo avistamento das colmeias; em zonas rurais ou florestais a sua dieta é mais diversificada, verificando-se um aumento relativo de insectos díptera e Hymenoptera vespidae consumidos;
  • o contexto global: numa miríade de perigos e factores danosos para a saúde das abelhas melíferas a vespa velutina vem somar-se-lhes e estima-se que em França ela é responsável, no universo de perda de colónias, por 30% dessas perdas;
  • como lutar contra a velutina: das medidas até agora utilizadas, várias delas com efeitos negligenciáveis, a chave está na destruição/perturbação da actividade dos ninhos; mas a grande dificuldade e problema está em encontrá-los cedo o suficiente;
  • raio de acção da VV: caçam sobretudo num raio de 800m do ninho, e até um raio de 5 km; 95% dos voos acontecem entre as 8h00 e as 19h00 e 95% dos voos demoram menos de uma hora;
  • desenvolvimento de novas tecnologias: estão a ser estudados e melhorados um conjunto de equipamentos para encontrar os ninhos, entre eles o radar harmónico que permite acompanhar de forma precisa a trajetória dos insetos, mas apenas em áreas abertas e é um sistema muito complicado e caro; com um tag/transponder leve (sistema passivo) o alcance é de 450m; a radiotelemetria permite a localização do inseto qualquer que seja o tipo de paisagem (árvores, arbustos, morros, edifícios), é portátil e relativamente barato; contudo o tag/transponder é pesado (sistema ativo) e tem um alcance de 800m;
  • o biocontrolo: os predadores naturais presente na Europa não são eficientes para mitigar o suficiente a predação e controlar a expansão das VV (pássaros e parasitas), e experimenta-se a utilização de de fungos patogénicos (Metarhisium robertsii e Beauveria bassiana, Poidatz et al. 2018, 2019), introduzidos no ninho através de uma estratégia “cavalo-de-troia”.

Como todos os sumários este foi curto para tanto conteúdo, e deixou de fora alguns aspectos muito interessantes já conhecidos ou que se começam a conhecer melhor. Esta publicação pretende também desmistificar alguns assuntos em torno deste insecto exótico e predador da entomofauna nativa, especialmente da abelha melífera europeia. Seremos tão mais efectivos na ajuda às nossas abelhas, restante entomofauna nativa, e também na protecção de uma diversidade de produções agrárias, também predadas pelas vespas de patas amarelas, quanto maior e melhor for o nosso conhecimento.

eficácia do mel para o alívio dos sintomas em infecções do trato respiratório superior: uma revisão sistemática e meta-análise

O consumo de mel em Portugal não sendo dos mais altos da Europa também não é dos mais baixos. Em Portugal o seu consumo ronda os 700-800 grs per capita/ano. Naturalmente estes valores podem e devem subir um pouco mais para benefício de todos, dos cidadãos consumidores, dos apicultores e sobretudo das abelhas. Sem consumo dos produtos da colmeia não haverá apicultores e sem apicultores não haverá abelhas melíferas. Estas relações de forte interdependência vão mais além ainda: sem abelhas melíferas os serviços de polinização ficarão seriamente ameaçados e sem esses serviços de polinização a qualidade da nossa dieta ficará diminuída e a fauna e floras silvestres empobrecerá. As campanhas promocionais para o consumo dos produtos da colmeia, e do mel em particular, devem, na minha opinião, apoiar-se e divulgar estas linhas de fundo. Para cada um destes pilares de uma bem desenhada campanha de marketing devemos apoiar os nossos argumentos nas melhores evidências científicas. Vem a este propósito a tradução deste estudo, publicado há 3 dias atrás, em torno de uma meta-análise sobre os efeitos do mel no combate aos sintomas de infecções do trato respiratório superior (sobre os serviços ecossistémicos prestados pelos polinizadores em geral, e as abelhas melíferas em particular, já escrevi algumas vezes).

Antecedentes: A prescrição de antibióticos para infecções do trato respiratório superior (ITRSs) na intervenção primária exacerba a resistência antimicrobiana. Há necessidade de alternativas eficazes à prescrição de antibióticos. O mel é um remédio popular para ITRSs e têm vindo a surgir evidências para seu uso. O mel tem propriedades antimicrobianas, e as diretrizes recomendam mel para tosse aguda em crianças.

Objetivos: Avaliar a eficácia do mel para o alívio sintomático em ITRSs.

Métodos: Uma revisão sistemática e meta-análise. Pesquisámos Pubmed, Embase, Web of Science, AMED, Cab abstracts, Cochrane Library, LILACS e CINAHL com uma combinação de palavras-chave e termos MeSH.

Conclusões: O mel foi superior ao tratamento usual para a melhora dos sintomas de infecções do trato respiratório superior. Ele fornece uma alternativa amplamente disponível e barata aos antibióticos. O mel pode ajudar nos esforços para retardar a disseminação da resistência antimicrobiana, mas são necessários mais ensaios clínicos, controlados com placebo, de alta qualidade.”

fonte: https://ebm.bmj.com/content/early/2020/07/28/bmjebm-2020-111336.full

Os nutricionistas recomendam o consumo de uma colher de sopa de mel diariamente (foto tirada hoje comigo prestes a ingerir a minha dose diária de mel).