O consumo de mel em Portugal não sendo dos mais altos da Europa também não é dos mais baixos. Em Portugal o seu consumo ronda os 700-800 grs per capita/ano. Naturalmente estes valores podem e devem subir um pouco mais para benefício de todos, dos cidadãos consumidores, dos apicultores e sobretudo das abelhas. Sem consumo dos produtos da colmeia não haverá apicultores e sem apicultores não haverá abelhas melíferas. Estas relações de forte interdependência vão mais além ainda: sem abelhas melíferas os serviços de polinização ficarão seriamente ameaçados e sem esses serviços de polinização a qualidade da nossa dieta ficará diminuída e a fauna e floras silvestres empobrecerá. As campanhas promocionais para o consumo dos produtos da colmeia, e do mel em particular, devem, na minha opinião, apoiar-se e divulgar estas linhas de fundo. Para cada um destes pilares de uma bem desenhada campanha de marketing devemos apoiar os nossos argumentos nas melhores evidências científicas. Vem a este propósito a tradução deste estudo, publicado há 3 dias atrás, em torno de uma meta-análise sobre os efeitos do mel no combate aos sintomas de infecções do trato respiratório superior (sobre os serviços ecossistémicos prestados pelos polinizadores em geral, e as abelhas melíferas em particular, já escrevi algumas vezes).
“Antecedentes: A prescrição de antibióticos para infecções do trato respiratório superior (ITRSs) na intervenção primária exacerba a resistência antimicrobiana. Há necessidade de alternativas eficazes à prescrição de antibióticos. O mel é um remédio popular para ITRSs e têm vindo a surgir evidências para seu uso. O mel tem propriedades antimicrobianas, e as diretrizes recomendam mel para tosse aguda em crianças.
Objetivos: Avaliar a eficácia do mel para o alívio sintomático em ITRSs.
Métodos: Uma revisão sistemática e meta-análise. Pesquisámos Pubmed, Embase, Web of Science, AMED, Cab abstracts, Cochrane Library, LILACS e CINAHL com uma combinação de palavras-chave e termos MeSH.
Conclusões: O mel foi superior ao tratamento usual para a melhora dos sintomas de infecções do trato respiratório superior. Ele fornece uma alternativa amplamente disponível e barata aos antibióticos. O mel pode ajudar nos esforços para retardar a disseminação da resistência antimicrobiana, mas são necessários mais ensaios clínicos, controlados com placebo, de alta qualidade.”
fonte: https://ebm.bmj.com/content/early/2020/07/28/bmjebm-2020-111336.full