o mundo agrícola unido pela biodiversidade ou uma breve história de um apicultor do Marne

Apicultor orgânico/bio em Ville-en-Tardenois, no Marne, Philippe Lecompte conta com uma estreita colaboração com o setor agrícola como um todo para preservar a fauna e a flora (ver aqui entrevista).

A jornada de Philippe Lecompte, apicultor orgânico perto de Reims!
Este especialista em abelhas e amante teve sua primeira colmeia em 1975 e tornou-se profissional em 1979. Preocupado com a qualidade do mel e o bem-estar de suas abelhas, tornou-se orgânico/bio em 1995. Philippe também é presidente da Réseau Biodiversité pour les Abeilles, e vice-presidente da associação Symbiose para paisagens e biodiversidade, que reúne representantes do mundo agrícola e vitivinícola, várias autoridades regionais do Grand Est e indústrias de proteção de plantas.

Este ano em França, as beterrabas, inclusive as orgânicas, foram parasitadas por pulgões, com quedas espetaculares de rendimento. Existem apenas dois tratamentos: os piretroides sintéticos, que são administrados por pulverização e, portanto, podem envenenar vários insetos com facilidade, e as sementes revestidas com neonicotinoides, menos prejudiciais porque permanecem no solo.

Mas esta polémica, acima de tudo, impede que se pense nas verdadeiras causas da mortalidade das abelhas. A Plataforma de Epidemiologia de Saúde Animal, uma organização independente sob a égide do Ministério da Agricultura e do INRAE (Instituto Nacional de Investigação para a Agricultura, Alimentação e Ambiente), publica um estudo anual sobre as causas de mortes de abelhas:

  • 1º responsável: parasitas, em particular a varroa, cuja fêmea se alimenta da abelha, e transmite um vírus mortal (nova estirpe de vírus mais virulenta espalha-se pelas colónias de abelhas na Europa).
  • Na 2ª posição, a Plataforma aponta para as más práticas apícolas, cada vez mais difundidas. A abelha é o terceiro animal doméstico em França há vários anos. Muitas pessoas iniciam a apicultura sem ter as habilidades e os conhecimentos necessários, o que tem graves consequências na mortalidade do seu efectivo.

Quais são as relações entre o apicultor do Grand-Est e outros atores do mundo agrícola?
A agricultura é um castelo de cartas: se uma cai, as outras seguem. Por exemplo, o desaparecimento do setor francês de beterraba teria sérias consequências na produção de alfafa, uma planta muito benéfica para a preservação da biodiversidade, porque as unidades de desidratação da alfafa também produzem polpa de beterraba, essencial para assegurar a sua rentabilidade.

Na nossa região, os atores do setor agropecuário em sentido amplo trabalham juntos há vários anos nestas questões. A associação Symbiose lançou assim iniciativas e experiências para promover a biodiversidade nos nossos territórios, como a instalação de faixas intra-parcela com floração escalonada, de forma a garantir a alimentação dos polinizadores durante todo o ano, sebes ou faixas de alfafa na orla das parcelas.”

fonte: https://www.lunion.fr/id201075/article/2020-10-23/marne-le-monde-agricole-uni-pour-la-biodiversite

um orçamento de apoio à apicultura fortemente revisto em alta… em França

Um exemplo e um modelo, o caso francês. Com uma estrutura sócio-demográfica do sector apícola bastante próxima da nossa, isto é, um sector predominantemente não-profissional, com uma distribuição de colónias por tipologia de apicultor semelhante à nossa, com um sector com gente mais madura que jovem, com as mesmas ameaças bióticas (varroa e velutina) e abióticas (aumentos da imprevisibilidade metereológica e extremos climáticos mais frequentes e duradouros), os decisores políticos estão relativamente atentos e actuantes, o que se materializa num orçamento de apoios directos à apicultura fortemente revisto em alta em duas áreas críticas: 1) apoios à manutenção do efectivo apícola; 2) apoios à modernização das operações de transumância. Por cá é o desprezo na atenção devida, a mediocridade das vistas curtas.

O ano de 2023 marcará uma mudança na ajuda à apicultura
Para 2023-2027, as ajudas à manutenção do efectivo apícola e à transumância mantêm-se, com novas despesas elegíveis e um orçamento fortemente revisto em alta.

Equipamento para transumância na floresta. Novos equipamentos serão elegíveis para ajuda a partir de 2023.

Desde 2004, a Europa acompanha e financia um programa destinado a melhorar as condições de produção e comercialização de produtos apícolas. Cada Estado-Membro dispõe de um orçamento anual indexado ao número de colónias presentes no seu território, devendo apresentar à Comissão Europeia um programa, detalhando a implementação no seu território das principais ações enquadradas pela UE. Sucederam-se assim os vários programas europeus de apicultura, com a duração de três anos, nomeadamente duas ajudas directas aos apicultores: a ajuda à manutenção do efectivo apícola e a ajuda à transumância.

A partir de janeiro de 2023, as medidas de apicultura serão integradas na política agrícola comum (PAC) e, portanto, serão objeto de um programa setorial de apicultura (PSA) de cinco anos. Uma mudança significativa no apoio público à indústria apícola!

Gestão do ano civil
A partir de 2023, o PSA será gerido por ano civil. Assim, para 2023, os investimentos devem ser feitos e pagos pelos apicultores entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2023. Mesmo que os pedidos de ajuda possam ser apresentados já no outono de 2023, os apicultores terão um prazo adicional em janeiro de 2024 para apresentar seus casos. É, portanto, o fim dos processos a serem apresentados em pleno verão, em plena época apícola.

A ajuda à transumância e manutenção do efectivo será alargada a novos materiais e equipamentos. Para ajudar a manter a apicultura no contexto das alterações climáticas e para dispositivos anti-roubo, por exemplo. Assim, além de manter os investimentos habituais (colmeias, enxames, rainhas, etc.), deverão surgir novos investimentos: isolamento de colmeias, bebedouros, colmeias conectadas à rede e vários dispositivos anti-roubo.

Uma lista mais ampla de investimentos elegíveis
Este não é o momento para imprudência ou gastos excessivos. A Europa exige que a FranceAgriMer regule o uso dos orçamentos. Isso requer uma lista precisa de investimentos elegíveis para assistência à transumância. Quanto à ajuda à manutenção do efectivo apícola, a FranceAgriMer garante que o apicultor assegurou uma boa gestão de Varroa, pedindo prova de compra de um medicamento anti-Varroa homologado. A implementação de uma auditoria de sanidade a partir de 2024 também está sendo considerada, em alguns casos.

Lado do orçamento
O desenvolvimento mais marcante desse novo programa continua sendo o modelo orçamentário. A partir de 2023 as duas ajudas diretas terão um orçamento total de 4,375 milhões de euros por ano:
1) Com um aumento de 67% para ajuda à manutenção do efectivo apícola;
2) E um aumento de 119% para ajuda à transumância;
3) Um aumento semelhante está previsto para as outras medidas do futuro programa setorial da apicultura.

fonte: https://www.reussir.fr/apiculture/lannee-2023-marquera-un-tournant-dans-les-aides-apicoles

o peso político do sector apícola em França

Em baixo deixo dois gráficos retirados de um documento intitulado L’apiculture à travers les questions adressées au gouvernement par les députés (Apicultura através das questões dirigidas ao governo pelos deputados).

A partir da legislatura de 2002-2007, a apicultura “entrou” na Assembleia Nacional Francesa. Nessa legislatura os deputados colocaram cerca de 300 questões sobre o sector ao governo. Na legislatura seguinte o número de questões atingiu o pico, chegando perto das 700. De lá para cá o número tem descido e na última legislatura, de 2017-a 2022, as questões aproximaram-se das 300. Com uma taxa de resposta superior a 90% a partir da 12.ª legislatura, a apicultura é um tema sobre o qual o Governo mais responde às questões colocadas pelos deputados. A título de comparação, 78% de todas as questões escritas produzidas durante a 15ª legislatura tiveram resposta do Governo.
Na última legislatura (2017-2022) verifica-se uma alteração na temática das questões colocadas pelos deputados, que se re-orientaram para uma partilha entre questões sanitárias e questões económicas.


Hipótese de explicação: Nestes anos mais próximos, a multiplicação de episódios climáticos extremos (geadas tardias, precipitações, secas, etc.) resulta em episódios de escassez de alimentos para os enxames de abelhas, devido à redução do pasto alimentar. As consequências são económicas e de saúde. Traduzem-se num aumento dos custos de produção com a alimentação das abelhas e na renovação dos efectivos, redução do rendimento das colónias, tanto mais significativo quanto a gestão sanitária é crescentemente mais exigente. Actualmente, observam-se altas taxas de mortalidade no final da invernada, que também podem ser causadas por outros fatores epidemiológicos. Também contribuem o aparecimento de novos bioagressores (Vespa orientalis, aethina thumida), o reforço da pressão dos já existentes (Vespa velutina nigrithorax) ou as consequências do stress químico, ligado à utilização de pesticidas nas culturas ou na pecuária que implicam uma alta taxa de mortalidade de colónias e um enfraquecimento dos apiários, principalmente entre os apicultores amadores. Em termos de questões parlamentares, isto traduz-se em questões sobre as medidas previstas pelo Governo para apoiar a economia apícola e reduzir os factores de stress das abelhas.

Por cá, em Portugal, o diagnóstico faz-se rapidamente: as questões dos deputados ao governo são próximo do inexistente. A atenção dos governos mais recentes ao sector tem sido nenhuma.

alive and kicking

Num período de interregno da minha actividade apícola no campo, o bichinho permanece, e uma parte do meu tempo é ocupado a pesquisar, ler, reflectir, sonhar sobre abelhas. Como mestre em Ciências da Educação, é natural que me interesse muito a faceta pedagógica/andragógica, interesse que consigo expressar em boa medida com este blog. Sem o apoio de minha mulher e de meu filho tudo seria muito mais difícil. Um beijo para Vós!

Agradeço a todos os que acompanham as publicações que vou fazendo, são uma grande motivação para continuar. Nos últimos dois meses a maior parte das 20 mil visitas são expectavelmente leitores de Portugal… mas não só. Fica em baixo o escalonamento por país de origem das visitas ao abelhas à beira. Muita saúde para todos e muita saúde para as vossas abelhas onde quer que estejam.

o programa apícola francês: apoios à transumância para 2023

Os apoios à transumância são críticos para a sustentabilidade do sector, porque cada vez mais o apicultor tem de “andar atrás” de fluxos. Se os fluxos da primavera não dão (como não deram este ano) transuma-se as colónias para zonas onde os fluxos de verão poderão dar alguma coisa. Se nem uns nem outros dão, transuma-se para a polinização de pomares,… e outras combinações possíveis. Para fazer a transumância de colónias são muito úteis alguns equipamentos dedicados, geralmente dispendiosos, indispensáveis para fazer um trabalho com melhores condições de higiene e segurança e com mais eficiência e eficácia. Estes apoios à sua aquisição fazem uma grande diferença no momento da decisão para avançar.

Nesta publicação apresento a actualização para 2023 dos apoios ao dispor dos apicultores franceses para modernizarem as suas operações de transumância. Em baixo deixo a tradução (para aceder ao documento original clique na imagem em baixo).


“Este dispositivo visa ajudar a financiar equipamentos para modernizar os apiários e reduzir a dureza do trabalho durante as operações de transumância.

O auxílio é de no máximo 40% do montante sem impostos do investimento elegível.

A ajuda financeira é co-financiada: 50% com créditos europeus (FEAGA) e 50% com créditos nacionais.

Investimentos elegíveis

  • Gruas
  • Empilhadores todo o terreno de 4 rodas
  • Carrinhos com motor elétrico
  • Empilhadores elétricos
  • Reboques
  • Plataformas elevatórias
  • Bandeja de carga para veículos
  • Paletes
  • Roçadeira com autopropulsão
  • Roçadeira de mochila
  • Melhoramento/adaptação dos locais de transumância
  • Balanças eletrónicas com informação remota

Valor mínimo de ajuda: € 700 por pedido (representa um valor mínimo de investimentos elegíveis de € 1.750)
Montante máximo da ajuda: a ajuda é limitada anualmente por exploração aos seguintes montantes:

Até 150 colónias declaradas: 7.000€ de ajuda correspondente a um montante total de investimentos elegíveis de 17.500€ excluindo impostos;

Mais de 150 colónias declaradas: 15.000€ de ajuda correspondente a um montante total de investimentos elegíveis de 37.500€ excluindo impostos.

Nota: nesta publicação indiquei os equipamentos e valores máximos elegíveis para o ano de 2021.

Notas: 1) O FEAGA também abrange Portugal. 2) Estive a ler e reler as condições/regulamento dos actuais apoios aos apicultores transumantes portugueses e não entendi as normas/artigos* (ver aqui, na pag. 301-302, secção IV). Se alguém quiser explicar pode utilizar a caixa de comentários para o fazer. Desde já o meu bem-haja!

  • não deixa de ter alguma ironia não ter compreendido, num documento escrito na minha língua materna, que apoios em concreto tem o apicultor português, e facilmente ter entendido os apoios que tem um apicultor francês, e escritos numa língua que não é minha.

a melada de azinheira: um caso específico

Até há quatro anos atrás, 3 dos meus 12 apiários estavam situados numa pequena freguesia do distrito da Guarda, num território com condições edafo-climáticas muito particulares, povoado por alguns sobreiros, muitas azinheiras, e onde não se viam castanheiros — a 10 Km da Guarda! Estes três apiários albergavam em média 130 colmeias. Anos houve de terem produzido cerca de 1200 kgs de mel de melada de azinheira. Esta melada começava a ver-se nas meias-alças no início de julho e terminava no início de agosto. Todos os anos colhia mel desta melada, mas os melhores anos estiveram associados a uma primavera sem ondas de calor e um mês de julho quente e com madrugadas enevoadas.

Quercus ilex rotundifolia (azinheira)

A propósito da coleta pelas abelhas da melada das azinheiras esta tem duas origens, de acordo com os especialistas: 1) as secreções da planta, em particular durante processo de formação das bolotas; 2) as excreções dos afídeos.

Bolotas de Quercus ilex mostrando secreções de melada. a. Bolota seca (esquerda) e bolota em desenvolvimento secretando melada, que surge entre a cúpula e a bolota. b. Desenvolvimento de melada na bolota. c. Bolota seca secretando melada. d. Cúpula com melada após a queda da bolota. Fotografias: P. López (a) e A. Gómez Pajuelo (b–d). Fonte: The profile of phenolic compounds by HPLC-MS in Spanish oak (Quercus) honeydew honey and their relationships with color and antioxidant activity, (2023).

Abelha libando a melada excretada pelos afídeos nas folhas de uma árvore .

apicultores da Europa Ocidental temem pelo futuro

Excelente artigo! Por esta razão deixo a tradução (os sublinhados/negrito são meus). Foi publicado em 2022.

“Em frente à loja de mel Api Douceur em Giromagny, em França, está um recipiente de vidro incomum ao lado do caminho que leva às colmeias. Trata-se de uma vending machine, instalada pelos donos do apiário em 2019. “Como éramos apenas dois, inicialmente não conseguíamos abrir a loja em horários regulares, então tivemos a ideia de uma vending machine, para permitir que os transeuntes, ou mesmo os caminhantes de domingo, comprem seu pote de mel”, diz Flavien Durant, 31 anos, que administra a empresa ao lado de Patrick Giraud desde 2017. A máquina de venda automática ajuda a expandir sua base de clientes e tentar lucrar com um comércio cada vez mais precário.

Embora Flavien e Patrick produzam em média oito toneladas de mel por ano, em 2021 o número caiu para 300 quilos. A maioria das 400 colmeias que tinham no final do inverno não produziram mel. A maioria dos apicultores teve o mesmo destino. A colheita de mel da França em 2021 foi de cerca de 7.000 a 9.000 toneladas, de acordo com a União Nacional de Apicultura da França (UNAF). Em 2020, foram cerca de 19.000 toneladas.

Condições climáticas adversas foram as responsáveis por uma colheita tão ruim. O inverno foi particularmente ameno, mas foi seguido por períodos de geada, frio e chuva durante a primavera e no verão. Junho chegou e Flavien ainda não tinha colhido um quilo de mel. Pior ainda, ele teve que alimentar suas abelhas, e elas já tinham consumido todas as reservas de mel de sua colmeia. “É um ano perdido, um ano pobre como nunca vimos antes.”

A situação era tal que Flavien decidiu procurar um emprego extra. Ele agora está trabalhando na indústria da construção e espera voltar a cuidar de suas abelhas na primavera. “Sendo gerente, é mais fácil para mim ir e vir do apiário. E isso me permite manter nossos dois funcionários, que realmente queremos manter.”

O departamento do Territoire de Belfort está atualmente analisando a declaração de uma “calamidade apícola”, o que poderia abrir caminho para a ajuda do Estado. Por enquanto, Flavien e seu parceiro de negócios receberam € 4.000 em ajuda da autoridade local para compensar as perdas causadas pela geada tardia. “Para produtores como nós, que vivem do que produzimos, quando não produzimos, a solução é viver das nossas reservas. Mas quando você acabou de começar, eles são muito limitados”, diz Flavien. Eles só tinham reservas suficientes para durar até dezembro.

O prelúdio de um desastre ambiental


Não é apenas na França que os apicultores estão lutando, mas em toda a Europa, refletindo uma tendência mais ampla. A produção de mel e a sobrevivência das abelhas têm diminuído constantemente nas últimas décadas. A taxa de mortalidade das abelhas é atualmente de cerca de 30 por cento. Em 1995, era de 5%, segundo a UNAF. E, no entanto, as abelhas contribuem com cerca de € 22 mil milhões para o setor agrícola europeu a cada ano – não graças ao mel que produzem, mas aos serviços de polinização que fornecem para as plantações. Os cientistas estimam que uma em cada três dentadas de comida depende de polinizadores.

A perturbação climática não é a única responsável por esse declínio. Os pesticidas usados em grande escala desde a década de 1990 também desempenharam seu papel. Numerosos estudos demonstraram a toxicidade dessas substâncias, como o realizado pela Universidade de Maryland em 2016, que também destaca os perigos do efeito sinérgico dos pesticidas.

Sébastien Guillier está mais do que familiarizado com o assunto. Em 2008, ele perdeu a maior parte de suas colónias, provavelmente devido a envenenamento. Ele trabalhava como apicultor profissional há dez anos em Haute-Saône, no nordeste da França. “No outono de 2007, as abelhas estavam com sede. Tratamentos foram aplicados na área para combater os ácaros vermelhos do trigo, e as abelhas beberam das poças, como costumam fazer. A dose deve ter sido muito alta”, explica o apicultor.

Os estados membros da UE podem conceder autorizações de emergência por até 120 dias quando houver “um perigo que não pode ser controlado por nenhum outro meio razoável”, de acordo com a diretiva da UE que rege essas medidas de emergência. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) identificou 17 medidas de emergência desde 2020, todas para a beterraba sacarina. Entre 2018 e 2020, no entanto, o projeto de jornalismo Unearthed da Greenpeace registou pelo menos 67 autorizações de emergência nos vários estados membros da UE.

Após sua derrota em 2008, Sébastien procurou levantar a questão no parlamento francês e na mídia. De pouco adiantou. Recebeu 45€ por colmeia em compensação do Estado, embora o montante necessário para reconstruir a colónia rondasse os 150€ por colmeia. Ele também teve que encontrar um segundo emprego. Ele agora trabalha como inspetor de leite e mantém cerca de 100 colméias na zona rural de Haute-Saône.

Na França, apenas três por cento dos 70.000 apicultores do país eram profissionais em 2019. O restante era amador (92 por cento) ou pluriativo (5 por cento). E embora o número de apicultores esteja aumentando em quase toda a Europa, o padrão permanece o mesmo da França: eles são principalmente amadores. Os apicultores europeus têm em média 21 colmeias.

Competição insustentável


Outro fator stressante para os apicultores é a concorrência barata do exterior. Os preços dos supermercados são muito baixos para os apicultores locais ganharem a vida, especialmente para aqueles que produzem em pequena escala.

Alguns dos produtores que mantêm os preços muito baixos estão baseados em países do Leste Europeu, como a Ucrânia, mas muitos também estão na China. Um quilo de mel importado da China custou aos grossistas € 1,40, em média, em 2020. A maioria dos apicultores da União Europeia não pode competir com esses preços. Seu custo médio de produção já é de € 3,90 por quilo, segundo a Copa-Cogeca, que representa agricultores e cooperativas agrícolas na UE. Cerca de 40 por cento do mel no mercado europeu é importado.” (ver esta publicação a propósito)

fonte: https://www.equaltimes.org/beekeepers-in-western-europe-fear

do Parque Natural de Montesinho ao Parque Natural da Serra da Estrela, um cenário de escassez

Li ontem, no jornal Brigantia, este testemunho de Carlos Alves: “Carlos Alves é o maior apicultor do Parque Natural de Montesinho. Tem 1200 colmeias, em Passos de Lomba, concelho de Vinhais. A apicultura começou por ser um passatempo, mas há cerca de sete anos decidiu profissionalizar-se, quando a actividade ainda era “rentável”. Agora, os prejuízos são grandes. “Pelas minhas contas anuais, o ano passado, na minha exploração, que se dedica exclusivamente à produção de mel, tive prejuízos entre os 12 a 15 mil euros”.

A continuar assim, pondera deixar a actividade, porque começa a ser intolerável aguentar os custos de produção. “Se este ano tiver perdas, em 2024 tenho que pensar seriamente se posso continuar ou não na actividade porque está a deixar de ser rentável. As produções estão a ser muito baixas, o custo de produção está elevadíssimo, os materiais para a apicultura estão muito caros, os alimentos também, o preço deles duplicou”.

O apicultor não compreende a falta de apoios do Ministério da Agricultura. “A falta de apoios, que temos pela parte do Estado, não se compreende porque nós temos que seguir as normas europeias, a nível de produção, tanto de bens derivados da apicultura como a forma como tratamos as colmeias. Quando se trata de direitos… não temos os mesmos direitos que os apicultores europeus”.

Foi um mero acaso, mas ontem em conversa o meu amigo Pires Veiga confirmou um cenário muito semelhante nos seus apiários situados no Parque Natural da Serra da Estrela. Meias alças vazias em junho, com as abelhas a não subirem apesar dos ninhos estarem bem povoados, com as abelhas paradas na frente das colmeias, sem vontade de saírem para o campo. A explicação que me adiantou foi a escassez de néctar no mês de abril, com o rosmaninho e outras florações a durar meia dúzia de dias, consequência das ondas de calor que também ali se sentiram. E como uma desgraça nunca vem só, as fortes chuvadas e as trovoadas do mês de maio lavaram as flores, piorando mais ainda as condições de pasto para as abelhas. Dizia-me a terminar que as coisas a continuarem assim, com fracas produções e os materiais cada vez mais caros, sem qualquer apoio digno desse nome (porque um apoio não é uma esmolinha) a apicultura será para aqueles com meia-dúzia de colmeias, que desejem passar algum do seu tempo livre a cuidar delas.

A terminar esta publicação dizer, caro amigo, que acompanho a tua análise da época e o teu sentimento acerca do futuro próximo. Haverá seguramente algumas zonas com produções razoáveis, infelizmente uma excepção à regra.

sobre a epidemia de enxameação e sobre as abelhas domésticas no Reino Unido

Em baixo deixo a tradução de um artigo publicado ontem na BBC News intitulado “Beekeepers ‘run out of equipment’ as swarms rise“. Muito interessante a explicação do apicultor Alan Deeley — eu também atrasei/adiei algumas vezes o meu maneio de prevenção da enxameação em alguns apiários por razões devidas à metereologia difícil e, quando finalmente o podia fazer, algumas colónias estavam já em modo de enxameação. Muito interessante também a opinião do professor David Chandler, sobre o papel dos apicultores na sobrevivência das abelhas melíferas domésticas.

“Os apicultores dizem que estão a ficar sem equipamentos para albergar o aumento do número dos enxames de abelhas após um período de calor.

Uma primavera longa e fria seguida do aumento das temperaturas significa que um número grande de enxames agora procuram novas localizações, dizem especialistas da Universidade de Warwick.

O público está sendo aconselhado a não entrar em pânico se avistar as abelhas e, em vez disso, chamar profissionais para as retirar.

“Foi um ano muito incomum para enxames”, disse o apicultor Alan Deeley.

Alan Deeley diz que uma longa primavera fria seguida de clima quente levou a um aumento de enxames.

Os apicultores inspecionaram as colmeias assim que se atingiram 15°C, no entanto, no início da primavera, as temperaturas permaneceram baixas, e por essa razão eles não conseguiram fazer o maneio de prevenção da enxameação, disse Deeley.

“Assim que o tempo melhorou, a enxameação aumentou de forma louca”, acrescentou.

O professor David Chandler, microbiologista e entomologista da Universidade de Warwick, disse: “Agora só existem abelhas por causa dos apicultores.

“Não há abelhas selvagens neste país porque as abelhas são afetadas por um ácaro parasita que se alimenta de seu sangue – é uma espécie invasora”.

O meu acordo total com o professor David Chandler, como se pode confirmar pelo que escrevi aqui há uma semana atrás.

Fonte: https://www.bbc.com/news/uk-england-coventry-warwickshire-65746081

jornadas apícolas marienses

Um agradecimento aos organizadores pelo convite para participar, onde descreverei as técncicas de prevenção da enxameação e as técnicas de controlo da enxameação que utilizei ao longo de vários anos num cantinho da Serra da Estrela.

Para mais informações ficam o número de telefone e o endereço electrónico no canto inferior direito do cartaz. Apareçam!