re-visitando um antigo estudo valenciano

O que de bom têm os documentos escritos, sejam eles de que tipo forem, é que se podem re-visitar sempre que o desejamos, como fazemos com os nossos velhos e bons amigos.

Neste caso, e considerando um contexto de quase calamidade apícola tanto em Portugal como em Espanha, com inúmeros relatos sobre a razia que a varroa tem feito pelos apiários desta Península, acho importante re-visitar e deixar a bold, de forma vívida, carregada, algumas conclusões/observações de um antigo estudo valenciano por aqui referenciado há quase quatro anos atrás:

Cidade das artes e das ciências, Valência, Espanha.
  1. As colónias que não foram tratadas com acaricidas morreram num espaço de 10 e 12 meses após a infestação inicial;
  2. os meses de fevereiro e março são os meses em que se assiste ao pico da criação para esta região de acordo com o ecotipo de abelhas, as condições climáticas, e as florações (predominância de laranjeiras) segundo os autores;
  3. as colmeias não tratadas não enxameiam e a diminuição da população de abelhas adultas é gradual ao longo de quatro meses, março a junho, até à sua morte.
  4. a infestação pela varroa nas abelhas adultas quase que triplica no período de um mês apenas, entre abril e maio;
  5. a queda natural/mortalidade de ácaros varroa mais que quadriplica entre o início de fevereiro e meados de março;
  6. quando a infestação das abelhas adultas ultrapassa os 20% as abelhas nascem mais pequenas e pesam menos.

Notas:

  1. se fosse um teste “bond” à John Kefuss, “Live and let Die”, daqui não se retiraria uma única colónia para semente de futuras linhas resistentes; mas alguns continuam a acreditar que é por aqui o caminho!
  2. disponibilidade de pólen e crescimento dos enxames, uma das correlações mais fortes que conheço do que vou observando nos meus enxames;
  3. ao contrário do que muitas vezes é repetido estes enxames muito infestados não enxamearam; posso dizer o mesmo dos meus;
  4. no período de um mês a infestação não se multiplicou por 1,5, nem por 2; foi por 3;
  5. a mortalidade e queda natural de ácaros nos tabuleiros multiplicou por 4 em cerca de mês e meio; continuo a duvidar se algum dia confiarei na fiabilidade deste tipo de contagem para avaliar a eficácia do tratamento x ou y, pois não está escrito nos ácaros quais os que caíram por morte natural e aqueles que caíram por efeito do acaricida;
  6. este foi um aspecto que me levou também a considerar que o Apivar este ano estava a ser ineficaz em 20-25% das minhas colónias: para além de encontrar algumas abelhas com asas deformadas 12 semanas após o início do tratamento, o que quer dizer que estas abelhas já foram criadas e emergiram em pleno período do tratamento, para agravar a minha pré-ocupação vi algumas abelhas recém-emergidas com os abdómenes mais curtos.

terceiro encontro de apicultores do distrito da Guarda

É a terra onde fui parido há quase 55 anos. Lá estarei no próximo dia 11 de Dezembro com o mesmo prazer com que estive nos dois encontros anteriores.

Encontram o link para fazer a vossa inscrição aqui: https://www.facebook.com/profile.php?id=100014118912429

Mais uns momentos para continuarmos esta conversa inesgotável sobre as abelhas e a relação que vamos tendo com elas.

o distanciamento social das abelhas quando parasitadas pelo ácaro varroa

Este estudo, publicado em outubro deste ano, é muito interessante a diversos níveis e as minhas observações a olho, nas minhas colónias no campo, também apontam no mesmo sentido: em colónias muito parasitadas pelo ácaro varroa as abelhas andam mais dispersas nos quadros, menos agregadas e coesas. Desde há anos, quando abro uma colónia no verão/outono e observo as abelhas muito dispersas pelos quadros mais laterais, isto em pleno tratamento, desconfio que algo não está bem. E geralmente não está. Esta investigação vem confirmar esta minha constatação.

Resumo: O distanciamento social em resposta a doenças infecciosas é uma estratégia exibida por animais humanos e não humanos para neutralizar a disseminação de patógenos e/ou parasitas. As colónias de abelhas (Apis mellifera) são modelos ideais para estudar este comportamento devido à estrutura compartimentada dessas sociedades, evoluindo sob a exposição à pressão do parasita e a necessidade de garantir um funcionamento eficiente. Aqui, usando uma combinação de abordagens espaciais e comportamentais, investigamos se a presença do ácaro ectoparasita Varroa destructor induz mudanças na organização social das colónias de A. mellifera que poderiam reduzir a disseminação do parasita. Nossos resultados demonstraram que as abelhas reagem à intrusão de V. destructor modificando o uso do espaço e as interações sociais para aumentar o distanciamento social entre coortes de abelhas jovens (amas) e velhas (forrageadoras). Estes dados sugerem fortemente uma estratégia comportamental não relatada anteriormente em abelhas para limitar a transmissão intra-colónia do parasita.

Imunidade organizacional induzida. Mudança espacial nas danças de forrageamento (A) e comportamento de auto/hetero-limpeza (B) observada na colónia.

fonte: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abj1398

Nota 1: para além das hipóteses explicativas que encontro para a menor eficácia das tiras de Apivar nos dois últimos anos durante os tratamentos de verão (até agora o Apivar tem-se revelado muito eficaz nos tratamentos de final de inverno) que identifiquei na Nota 2 da publicação anterior, é possível que este distanciamento social contribua para uma insuficiente distribuição do amitraz entre todos os indíviduos da colónia, em particular entre as abelhas amas e as abelhas forrageiras. Na minha prática, coloco as tiras entre quadros com criação, e vou-as deslocando de forma a acompanharem a contracção da zona de criação. Se as abelhas forrageiras, vindas do campo pilharam colónias a colapasar por varroose nos apiários dos vizinhos e trouxerem agarradas ao seu corpo varroas do exterior, estas varroas poderão sobreviver sem serem expostas à dose letal de acaricida, dado que as abelhas amas não contactam o suficiente com as suas irmãs mais velhas para lhes passar a quantidade desejável de acaricida.

Nota 2: parece-me, neste contexto, que veículos celulósicos do amitraz, que permitam às abelhas roê-los, espalhar os pequenos pedaços de cartão pelo espaço da colmeia, poderá contrabalançar os efeitos do distanciamento social na distribuição do acaricida por todos os indivíduos da colónia.

Nota 3: como sabemos bem as abelhas na presença de tiras de cartão roem-nas afanosamente. Este comportamento de limpeza (que nada tem a haver com comportamento higiénico, são comportamentos independentes um do outro, isto é, as abelhas podem ser muito limpas e, contudo, não retirarem rapidamente dos alvéolos pupas ou larvas mortas, este sim o comportamento que expressa o comportamento higiénico) está bem disseminado nas populações de abelhas, creio eu. Indo um pouco mais longe, este comportamento de limpeza instintivo poderá agregar as abelhas sobre as tiras. Se assim for este instinto de limpeza pode contrabalançar o comportamento instintivo de distanciamento social num contexto de elevada parasitação pelo ácaro varroa, contribuindo para a agregação e contacto mais intenso entre as abelhas de diferentes gerações, o ideal para o aumento da eficácia dos tratamentos que funcionam por contacto. Um bom tema para ser investigado na minha opinião, e que seria de muita utilidade para todos nós. A ver se algum aluno de doutoramento pega nesta deixa!

apivar provavelmente o pior acaricida

Em 2016, escrevi no título de uma publicação “apivar provavelmente o melhor acaricida” (ver aqui a publicação). Hoje, sustentado nos dados do ano passado e nos dados recolhidos até ao dia de hoje, atinjo novamente uma taxa de ineficácia do tratamento do verão, com Apivar, entre os 20-25% das colónias. Chego a esta taxa de ineficácia contabilizando o número de colónias onde vejo uma ou mais abelhas com asas deformadas, isto após 2 ou 3 meses o início do tratamento.

Abelha com asas deformadas, sintoma provocada por um vírus que tem como veículo preferencial o ácaro varroa.

Até agora ainda não levei para casa nenhuma colmeia morta neste outono. As colónias estão a ser retratadas, inclusive, aquelas onde não encontro sintomas de varroose. Como as que apresento em baixo, que aparentam boa saúde.

O trabalho de retirada das tiras de apivar das colónias está a ser mais demorada que o habitual. De pé atrás com a experiência menos boa do ano passado com o Apivar e porque as temperaturas altas o permitem, estou a mergulhar em profundidade nos ninhos uma vez mais. Vejo, pelo menos, 5 a 6 quadros por colónia. Tenho vindo a utilizar este método para monitorizar a eficácia dos medicamentos acaricidas, nestes últimos anos. E tenho-me dado muito bem com este sistema de avaliação da eficácia dos acaricidas. Acho-o menos falível que os outros sistemas de monitorização.

Mas será o Apivar provavelmente o pior acaricida? Um amigo, com quem conversei hoje, tratou com fórmico a 60% e contou-me que já levou 25% das colónias para casa. No meu caso, como referi em cima, ainda não levei nenhuma. Talvez porque estava mal habituado, com elevadas eficácias do Apivar até há dois anos atrás, agora acho mais prudente entender o Apivar como provavelmente o pior acaricida, mesmo não tendo a certeza que haja algum melhor dentro do menu dos homologados. Assim para o próximo ano vai para o banco, não será titular!

Nota 1: hesitei no título desta publicação. Pensei intitular esta publicação com a expressão do latim medieval “mutatis mutandis” que significa “mudando o que tem de ser mudado”. De facto não acho o apivar o pior acaricida, apenas já não o acho o melhor, acho-o tão falível como os outros. A lentidão com que liberta o amitraz, julgo que é o seu principal defeito, aliás este defeito foi referido na publicação de 2016.

Nota 2: Tenho várias hipótese explicativas para a maior ineficácia do Apivar nos meus apiários, entre elas: acréscimo de resistência dos ácaros (a dose necessária para matar pelo menos 50% dos ácaros, o LD50, terá provavelmente aumentado um pouco); acréscimo da virulência do vírus das asas deformadas (conhecem-se duas estirpes de VAD, uma mais virulenta que a outra, e a importação de rainhas do estrangeiro é o veículo da entrada em território nacional de todos os patógenos não endémicos); melhor prevenção e controlo da enxameação (se os meus enxames enxameiam menos uma parte das varroas não vai para as árvores em cima das abelhas enxameadas, ficam todas em casa); quebra mais abrupta da postura no início do verão devido às temperaturas elevadas e/ou à velutina (as larvas multi-infestadas pelo ácaros aumentam nos períodos de contracção de postura e larvas multi-infestadas ficam mais susceptíveis à virulência dos vírus); mais apiários na vizinhança dos meus apiários (a pilhagem de colónias a colapsar por varroa traz um fluxo indesejado destes ácaros para o interior das minhas colmeias).

eureka, tenho uma colónia de abelhas resistente à varroa!

O titulo desta publicação é um “click bait” (caça cliques, muito utilizado nas redes sociais, vulgarmente utilizando títulos sensacionalistas). Mas já que aqui estão aproveitem para ler o resto. Serei breve.

Num dos dois apiários a 600 m de altitude, onde fui confrontado no início de setembro com algumas das colónias mais fortes na temporada com sinais de infestação pelo ácaro varroa, isto com o tratamento de final de verão iniciado na primeira semana de agosto, fui encontrar uma colónia com um padrão de postura estranhíssimo, mas que não apresentava sinais de varroose. Identifiquei este padrão de postura duvidoso no dia 09.09.

O padrão de postura é terrivelmente medíocre, muito mau para ser mais preciso.

Tem muitos ovos, tem larvas cor de pérola… mas parece-me que algures no processo, entre o quarto “instar” larval e a fase pré-pupal ou pupal, as abelhas eliminam boa parte da criação.

Ovos e larvas em vários estadios de desenvolvimento.
Não observo, inclusive, sinais de guanina (excrementos das varroas) no fundo e nas paredes dos alvéolos.

A rainha e abelhas novas fazem parte da comunidade… aparentemente cheias de saúde.

Rainha e uma das abelha novas assinaladas pelo meu filho, num desafio que lhe lancei para as identificar.

Voltando ao título. Na ilha sueca de Gotland, foram identificados vários enxames “naturais” resistentes ao varroa. Estes enxames resistentes foram muito estudados ao longo de vários anos. Entre outros mecanismos associados à resistência, verificou-se que muitas destas colónias perduravam com pouca criação e que os ninhos se mantinham pequenos ano após ano. Lembrei-me deste caso quando observava a minha colónia e a questão instalou-se em mim: será que este problema na criação ajudou e está a ajudar na manutenção de níveis de varroose aparentemente baixos desde o final do verão? Como o Randy Oliver gosta de afirmar “the easiest person to fool is always yourself” (a pessoa mais fácil de enganarmos somos nós mesmo) e, portanto, afirmar que tenho aqui uma colónia que apresenta um comportamento VSH, ou um outro comportamento supressor da reprodução do ácaro, será muito provavelmente um delírio. Contudo, sobrevivendo ao inverno, e acho que vai sobreviver, vou prestar muita atenção a esta colónia. Resta dizer, a terminar, que esta colónia foi das mais produtivas ao longo da temporada.

mais uma ronda neste verão índio

Ontem, dia de S. Martinho, iniciei mais uma ronda pelos meus apiários.

Com a temperatura em torno dos 16ºC, dei-me ao luxo de abrir as colmeias e inspeccionar algumas colónias no final do tratamento de verão/outono para a varroose. Como da última vez pareceu-me tudo bem! Não vi abelhas com abdómenes pequenos/atrofiados, não vi abelhas com asas deformadas.

E chegou a altura de retirar as tiras, após as 12 semanas passadas.

As colónias estão cheias de abelhas, apesar de as manchas de criação serem reduzidas. Estas são abelhas de vida longa (diutinus). Que bom as rainhas terem reduzido substancialmente a postura! Menos rotação de abelhas, menos abelhas novas a provocarem o envelhecimento precoce das gerações de abelhas mais velhas, menos reprodução da varroa, temperatura mais baixa nos ninhos, logo menos consumo, menos alimento suplementar, menos despesa.

Contudo… algumas colónias mais leves estão a ser suplementadas. Tratar de forma igual desiguais é um erro que procuro o mais possível evitar.

Na envolvente, a folhagem dos castanheiros, ali pelo chão, alguns tiros dos caçadores, um pouco lá ao longe. Mais um verão índio.

ineficácia dos tratamentos para a varroose: para lá da resistência

Todos os tratamentos contra a varroose num momento ou outro são ineficazes. Nenhum deles foi eficaz de todas as vezes que foi aplicado. Esta ineficácia, que surge mais frequentemente em certos anos ou em certos apiários, é por si só a demonstração de resistência da varroa aos princípios activos utilizados? Se a resposta fosse um simples sim, então teríamos de concluir que existem varroas resistentes, por exemplo, ao ácido fórmico ou ao ácido oxálico sempre que ele não é eficaz — pelos relatórios que tenho traduzido, os apicultores da região da Alsácia que utilizam o fórmico, o oxálico ou o timol identificam ano após ano uma percentagem de mortalidade de colónias a rondar os 30%.

Até à data, ninguém informado aceita que seja a resistência ao fórmico ou ao oxálico a explicação para a ineficácia destes nos casos em que a sua aplicação não resultou efectiva. Os factores de ineficácia apontados são variados mas podem resumir-se na frase “too little, too late” (pouco e tarde).

Contudo, se facilmente se aceita que as razões da elevada ineficácia destes tratamentos orgânicos não está na resistência das varroas aos mesmos, já no caso do amitraz, presente em três medicamentos homologados em Portugal, o Apivar, o Apitraz e o Amicel, é a resistência a explicação mais ouvida e utilizada para explicar os casos de ineficácia. Este pré-juízo em relação ao amitraz pode ser muito prejudicial à apicultura nacional:

  • Primeira razão: pode deixar a ilusão numa boa parte dos apicultores que existem tratamentos alternativos, como o fórmico ou o oxálico que, sem casos documentados de varroas resistentes, são sempre eficazes. Pensar assim é um erro crasso — os apicultores que estão em Bio que abram o livro e tornem público as dificuldades que passam e a mortalidade de colónias que infelizmente constatam nos seus apiários, isto apesar de utilizarem tratamentos para os quais as varroas não têm resistência. Os tratamentos orgânicos são sempre eficazes, até ao momento em que o não são.
  • Segunda razão: não descartando a possibilidade de as varroas terem aumentado um pouco a resistência ao amitraz, isto é serem menos susceptíveis às quantidades que as matavam no passado, a explicação da ineficácia dos tratamentos homologados com amitraz a partir exclusivamente da ideia de resistência contribui para não se explorar devidamente a hipótese que a ineficácia se deveu sobretudo ao facto de ter sido “too little, too late” a que eu acrescento “too slow” (lento).

Nada como ouvir a JoJo a discorrer sobre o conceito “too little, too late”, para o interiorizarmos devidamente :-).

https://www.youtube.com/watch?v=YaSs9z8e6YI

Nota 1: deixo o apelo dos responsáveis pelo inquérito em Portugal: por favor respondam ao mesmo. O link: https://bgoodwp4.ugent.be/home/portuguese-version/

Nota 2: Sugiro a leitura desta publicação em complemento.

os resultados da minha estratégia de combate à varroa este ano: o sumário que fiz ao Randy Oliver

Tomei conhecimento da boa notícia sobre a sua saúde há dois dias e aproveitei a oportunidade para o felicitar e lhe dar o feedback sobre os resultados globais da minha estratégia de combate à varroa este ano. Em baixo o e-mail que enviei hoje ao Randy Oliver.

“Good morning, Randy!

I’m very happy that you are doing well, as you wrote in Bee-L. 

I continue to translate some excerpts from SBeekeeping for my blog. I learn a lot from what you do and write. 
This year I treated my colonies three times during the year: in February and August with apivar strips and I did an intermediate treatment in June with oxalic acid cardboard strips from the Polish manufacturer Lyson. In 90% of the colonies this strategy gave good results, however in October I found bees with deformed wings in 8% and in 2% PMS. About 80% of these colonies, where the strategy was not effective, were very strong hives throughout the season. Next year I am planning to carry out two intermediate treatments with the oxalic strips in the strongest hives.

Randy I wish you and your family the best of health. 
A big hug from your friend,
Eduardo Gomes”

[Estou muito feliz que você esteja indo bem, como escreveu no Bee-L.

Continuo traduzindo alguns excertos do SBeekeeping para o meu blog. Aprendo muito com o que você faz e escreve.
Este ano tratei as minhas colónias três vezes durante o ano: em fevereiro e agosto com tiras de apivar, e fiz um tratamento intermédio em junho com tiras de cartão com ácido oxálico do fabricante polaco Lyson. Em 90% das colónias esta estratégia deu bons resultados, porém em outubro encontrei abelhas com asas deformadas em 8% e PMS em 2%. Cerca de 80% destas colónias, onde a estratégia não foi eficaz, foram colmeias muito fortes durante a temporada. No próximo ano, planeio realizar dois tratamentos intermédios com as tiras de oxálico nas colmeias mais fortes.

Randy, desejo a você e a sua família muita saúde.
Um grande abraço do seu amigo,
Eduardo Gomes “]

Foto de um ninho tirada há cerca de 2 semanas atrás. Estão bem visíveis as duas principais modificações à estratégia que efectuei este ano: passei a utilizar 3 tiras de apivar nos ninhos muito povoados e fiz um tratamento intermédio com 3 tiras de ácido oxalico (os restos destas tiras são visíveis sobre os travessões dos quadros).

Nota: Por comparação com os resultados do ano passado (cerca de 20% de colónias com níveis elevados de varroose, em setembro/outubro), a estratégia deste ano melhorou notavelmente os resultados. Espero que a do próximo ano siga esta trajectória de melhoria.

a análise do sector apícola com vista à elaboração do Plano Estratégico da PAC 2023-2027

Em baixo deixo alguns excertos do relatório de Análise Sectorial da Apicultura, elaborado pelo do GPP (Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral), para dar resposta à elaboração do Plano Estratégico da PAC 2023-2027.

Da minha leitura, as linhas directrizes básicas mantêm-se relativamente ao último relatório: o sector apícola é reconhecido como um sector essencial para a agricultura pelo papel relevante que tem na polinização, … e continua a não ter medidas específicas de apoio directo. Se isto não é incoerente, alguém que encontre melhor qualificador. Como já tive oportunidade de referir neste blog, há uns anos atrás, a maior ameaça ao sector não é a varroa, a velutina, os pesticidas, a fragmentação do território, as alterações climáticas, …; é o baixo e imprevisível retorno do investimento financeiro e humano feito. Sem um conjunto de ajudas do estado português e UE, justas e efectivas, que garanta alguma segurança e tranquilidade a quem investe no sector, o presente e o futuro não são difíceis de descrever: quem está no sector tenderá a diminuir o efectivo ou até a abandoná-lo e os jovens, que deveriam ir substituindo os mais velhos, dificilmente o farão por não encontrarem os atractivos mínimos para o considerar uma oportunidade profissional e empresarial.

Ficam os excertos do relatório que achei relevantes e oportuno destacar nesta publicação.

A apicultura é praticada em todos os Estados-Membros da UE, sem exceção, sendo caracterizada pela diversidade das condições de produção, em que os rendimentos e as práticas apícolas representam um pequeno setor, mas considerado essencial para a agricultura por causa papel relevante da polinização.” (pg. 4)

O setor apícola em Portugal, tal como no resto da União Europeia, é uma atividade tradicionalmente ligada à agricultura, normalmente encarada como um complemento ao rendimento das explorações, sendo porém de assinalar um crescente universo de apicultores profissionais, para os quais a apicultura é a base das receitas de exploração. A apicultura representa, contudo, um serviço vital para a agricultura através da polinização e contribui para a preservação da biodiversidade ao manter a diversidade genética das plantas e o equilíbrio ecológico.

É uma atividade que desempenha um papel relevante no aproveitamento integrado e economicamente sustentável do espaço rural, na animação do nosso tecido rural e na ligação do homem urbano àquele meio, que deve, como tal, ser avaliada tendo por base não só os fatores de produção envolvidos e o valor dos produtos diretos da atividade, como o mel, a cera, o pólen, a própolis, a geleia real e as abelhas, mas também outros fatores da ação na interação humana com o meio em que se desenvolve.

Trata-se contudo, de um setor com uma baixa taxa de profissionalização, com fraca concentração de oferta, mas por outro lado com um crescente interesse do consumidor e da indústria (por ex. cosmética e farmacêutica), não só do produto mel, mas também de outros produtos inerentes à atividade apícola.” (pg. 7)

Segundo dados relativos à conta de cultura da atividade apícola em Portugal, em 2018, verifica-se que:

A atividade apícola não profissional, é atribuída uma produtividade de 15 Kg por colmeia e em que se apresenta o caso de um apicultor com 25 colmeias;

Um apicultor com uma dimensão média de 30 colmeias, correspondente à dimensão média do apicultor não profissional (ou seja, a 90% dos apicultores portugueses) apresenta um custo total de 91€/colónia;” (pg.13)

Relativamente ao triénio anterior o REL [Rendimento Empresarial Líquido] médio passou de 33.642 euros [2013-2015] para 15.459 [2016-2018] euros o que corresponde a uma diferença de – 46 %.

Esta diferença deve-se à diminuição da produção de mel por colmeia (22 para 15Kg nos apicultores profissionais e não profissionais e 33 para 22Kg nos apicultores profissionais com transumância) e à diminuição do preço dos enxames de 75€ para 55 €). Por outro lado, nos encargos com consumos intermédios (custos variáveis) a reposição de ceras e a alimentação artificial aumentaram 67% (de 6 para 10€/colmeia e de 4,5 para 7,5 €/colmeia, respetivamente).” (pg.16)

O setor da apicultura não tem medidas de apoio direto específicas.” (pg. 29).

Sobre as ajudas que proponho já escrevi aqui de forma relativamente detalhada.

fontes: https://www.gpp.pt/images/PEPAC/Anexo_NDICE_ANLISE_SETORIAL___APICULTURA.pdf ; https://www.gpp.pt/index.php/pepac/plano-estrategico-da-pac-2023-2027-consulta-alargada

o catedrático que acarreta pedras

Soube ontem que um apicultor veterano da nossa praça, resolveu destratar-me nas minhas costas chamando-me depreciativamente de apicultor “catedrático”. Não fico admirado que alguns não gostem de mim, vivo bem com o desamor/ódio de alguns. Nunca procurei agradar a ninguém. E apesar disso (ou por isso) agrado a muitos mais. Vamos aos factos.

Sei de fonte muito segura, através das estatísticas do WordPress, o servidor que abriga este blog, que as minhas publicações são vistas, em média, por cerca 10 mil leitores todos os meses (destes, 70% são leitores frequentes). Os leitores atentos já perceberam há muito que não sou de dar receitas. Que não sou de ter certezas. Que procuro sempre circunstanciar as minhas observações aos meus apiários, no seu território. Que tenho uma aversão a proclamar verdades universais e absolutas. Que apenas me atrevo a dizer o que faço, porque o faço, e que resultados obtenho. Alguns leitores, que vão escrevendo no espaço dos comentários, dizem-me que algumas das minhas opções também têm resultado quando as ensaiam nos seus apiários. Alguns mais corajosos, digo eu, têm inclusive dado os seus testemunhos que aqui tenho publicado com muito gosto. É este respeito que tenho conquistado entre os mais novos, mas inclusivamente entre os “mestres” da nossa praça, ainda que não o admitam (nunca o admitirão, eu sei).

Se estas publicações fossem de um arrogantezinho catedrático, que publica um conjunto de tretas sem adesão com a realidade, então 10 mil leitores/mês seriam uns néscios. Mas não, não o são! São pessoas como eu, apaixonados pelas abelhas e com mais dúvidas informadas que com certezas cegas, à procura de um caminho para fazer melhor e com o espírito aberto.

Se sou um “catedrático”, sou um catedrático com muitas dúvidas, que sustenta o que diz e faz no que observa e que, quando não é possível observar, vai e lê o que observam os investigadores em experiências devidamente controladas. Se sou um catedrático é porque tenho aversão a afirmações peremptórias fruto de “achismos”, porque tenho uma atitude de cepticismo informado e sou muito mal-disposto com os vendilhões de ilusões, que não fazem a arte avançar, apenas procuram o lucro com os incautos ao virar de cada esquina. Para estes não tenho complacência, daí não gostarem de mim nem das minhas intervenções.

O mais belo e eterno livro escrito em língua portuguesa, os Lusíadas, termina os seus dez cantos com a palavra “inveja”. Das poucas certezas que tenho, sei que quem me apelida de catedrático sofre do pior mal que acomete frequentemente alguns portugueses, o mal de inveja.

Hoje fiz 300 km de urgência e andei a fazer o meu trabalho, sem o adiar para um dia em que já é tarde demais. Andei a colocar pedras sobre os tectos das colmeias para não levantarem voo com as rajadas de vento que se prevêem nos próximos dias. Hoje, uma vez mais sujei as mãos, transpirei, fiz o que tinha que fazer para conseguir o que poucos conseguem no nosso país: viver exclusivamente das abelhas (e ainda ter algum tempo para outras coisas, como ir escrevendo uma linhas neste blog).

Ah, e sou pouco dado a um outro mal, que me parece demasiado frequente nas nossas gentes, e que o meu querido filho tão certeiramente apelidou de “ofendidismo”. Como não me dou a esses achaques, não vou deixar de publicar e comentar o que desejar e me apetecer. E que outros “catedráticos” apareçam a descrever o seu trabalho no campo e as leituras e os conhecimentos actualizados que vão adquirindo. Que falta fazem!

Leio investigação controlada à segunda-feira e acarreto pedras para colocar sobre as minhas colmeias à terça. Esta é uma frase que me define de forma cristalina.