o cisne negro ou quando os resíduos de acaricidas são surpreendentemente baixos

Como tornar credível uma publicação que contraria a tese de que todos os cisnes são brancos? Apresentando evidências de que existe pelo menos um cisne negro.

Um apicultor, que conheço bem, teve necessidade de tratar as suas colónias com um medicamento acaricida com meias alças com mel em cima. Caso não o fizesse uma percentagem significativa das mesmas iria colapsar antes de ter oportunidade de efectuar a cresta. O medicamento que utilizou para controlar a infestação, que já ía alta, foram as tiras celulósicas de Amicel.

Após a cresta efectuada, dado esta circunstância heterodoxa e por uma questão de segurança alimentar, decidiu enviar uma amostra deste mel para ser submetida a análise aos resíduos do acaricida utilizado. Tomou essa decisão para controlar a qualidade do mel extraído no que respeita à presença de amitraz e seus metabolitos, considerando o Limite Máximo de Resíduos (LMR) dos mesmos no mel (sobre este aspecto ver esta publicação).

O LMR do amitraz e seus metabolitos no mel são de 200 ppb (partes por bilião) por kg de mel. Sabemos que estando abaixo desse valor o mel pode ser colocado no mercado para consumo humano, por não apresentar qualquer risco alimentar.

Sabemos também que para o mel em Modo de Produção Biológica o LMR do amitraz e seus metabolitos são de 10 ppb.

As análises foram realizadas num laboratório reconhecido nacionalmente, com vasta experiência no campo.

Resultados da análise a acaricidas na amostra do mel. Como podemos confirmar o “TOTAL AMITRAZ”, isto é a soma de amitraz e seus metabolitos, nesta amostra é inferior a 10 ppb.

Os resultados são inequívocos: a amostra de mel analisada estava abaixo do LMR para o mel em modo de produção convencional, isto é, abaixo de 200 ppb. Mais, o mel analisado estava abaixo do LMR para o mel em modo de produção biológico, isto é, abaixo de 10 ppb.

Em conclusão, neste caso o mel que saiu de colmeias tratadas com Amicel de forma urgente, em altura inoportuna, não o tornou impróprio para consumo. A evidência disso mesmo está em cima.

Temos um cisne negro em cima da mesa. Que fazer com ele? Eliminá-lo e continuar a defender que todos os cisnes são brancos, ou fazer uma melhor pesquisa para confirmar se há mais cisnes negros e, sobretudo, compreender o melhor possível porque razão há cisnes negros? A humanidade evoluiu em conhecimento fazendo o segundo percurso.

Notas: 1) Esta publicação não é um incentivo à utilização dos medicamentos fora do protocolo definido pelo fabricante.

2) Esta publicação é um incentivo aos fabricantes para refazerem os seus estudos sem enviesamentos ideológicos, sem quimiofobia radical*. Transparência precisa-se! Para que as nossas colónias não colapsem porque chegámos tarde com os medicamentos que as poderiam ter salvo caso tivessem sido colocados mais cedo, sejam eles quais forem.

3) Lembro que a DGAV apenas aconselha a utilização de um medicamento durante o fluxo, o MAQS.

4) *Quimiofobia radical é uma doença, que no caso das colónias de abelhas tem condenado muitas a um sofrimento e morte evitável.

5) Dos resultados surpreendentemente baixos dos resíduos de acaricidas neste caso, não podemos concluir que se repetirão sempre e em qualquer circunstância.

6) Neste contexto, o apicultor não menosprezou o risco alimentar. Sabendo que a utilização do acaricida poderia levar a níveis superiores ao LMR, fez o que devia ter feito: enviou para análise uma amostra do mel extraído e confirmou que está em perfeitas condições de salubridade para ser colocado no mercado. Neste caso despendeu umas dezenas de euros nas análises e evitou o colapso de colónias no valor de uns poucos de milhares de euros.

7) Não me repugna este caminho em situações de excepcionalidade como a apresentada, sempre que se tenha o cuidado de com as análises requeridas garantir a salubridade do mel.

a apimondia da (in)sustentabilidade

O programa científico da Apimondia, que este ano decorrerá no Chile no próximo mês de setembro, tem a sustentabilidade como núcleo central — Sustainable beekeeping in a changing world, parece ser o foco.

Quem se opõe ao conceito de uma apicultura mais sustentável que levante o braço… ninguém. Ok, vamos em frente!

O que me surpreende é que esta preocupação, admirável preocupação, com a sustentabilidade não se tenha concretizado na possibilidade de os interessados poderem assistir virtualmente, on-line, em suas casas, com uma pegada carbónica bastante reduzida, quando comparada com a pegada deixada pelas deslocações que irão ser feitas das mais diversas e longínquas partes do mundo pelos interessados em assistir.

Dei comigo a pensar sobre esta incoerência ontem. Não iria passar disso, um pensamento que iria ficar comigo, caso o João Gomes hoje, em conversa comigo, não tivesse apontado também esta evidente incoerência, e isto sem termos antes falado sobre o assunto. Se dois estão a pensar sobre o mesmo é bem provável que haja muitos outros a fazê-lo. Serve esta publicação para dar voz a esses pensamentos e procurar contribuir para que todos nós, nas pequenas e grandes coisas da nossa vida, pensemos cada vez mais e mais em que medida as nossas acções no dia-a-dia estão a contribuir para a (in)sustentabilidade deste planeta. Estas jornadas da Apimondia este ano começam com o pé errado, e sem a mão ecológica necessária para credibilizar todas as magníficas palestras que irão ser realizadas sobre apicultura sutentável. Irão estar a defender uma coisa e a fazer o seu contrário!

Nota: mais estranha e incoerente esta situação é se tivermos em conta que na anterior edição da Apimondia era possível fazer a inscrição para participação virtual… pelo valor de 40€.

hoje o mel que produzo são as minhas publicações e um agradecimento

Hoje o mel que produzo são as minhas publicações. E tal como o mel que produzi quando tinha abelhas não era contrafeito, também as minhas publicações não o são.

Até hoje fiz 788 publicações. Uma boa parte delas são publicações originais, resultado da descrição do trabalho que desenvolvi e observei nos meus apiários, ou o resultado do exercício de opinião numa sociedade livre como a nossa, ou ainda da conjugação de reflexões pessoais com informações do conhecimento comum. Estas publicações obviamente não carecem da identificação das fontes.

Uma parte mais reduzida das minhas publicações são traduções, mais ou menos literais, mais ou menos parcelares, de estudos de natureza científica ou de textos de apicultores pelos quais tenho uma especial predilecção. Nestas identifico sempre as fontes e/ou referências bibliográficas que utilizei.

E os que acompanham as minhas publicações sabem que assim é.

Tanto assim é que um amigo, investigador na UC, ligou-me há umas semanas atrás a pedir-me a referência de um estudo francês que se lembrava de ter lido por aqui a tradução. Como precisava de aceder a esse estudo, e através do google scholar não estava a conseguir fazê-lo, pediu-me ajuda para localizar a publicação e assim chegar ao respectivo estudo. Ele sabia que a referência bibliográfica lá estava, como habitualmente está nas publicações deste tipo. Pela descrição que ele me fez do conteúdo da publicação, localizei-a com alguma facilidade… e lá estava, preto no branco, a referência bibliográfica, que de imediato enviei a este meu amigo.

Este mel não é contrafeito. Quando muito pode ter algumas notas um pouco amargas para alguns, como tem o mel de urze. É natural que nem todos as apreciem.

Contudo dizer que este mel puro foi misturado com açúcar magoa e ofende. E foi dessa ofensa que juntamente com os meus amigos(as), parte dos quais não conheço pessoalmente, me defendi. E lhes expresso o meu profundo agradecimento.

A vida continua… muita saúde para todos(as). Um abraço enorme!

vespa velutina: da sua caça e dieta básica aos iscos proteicos

Caçadoras muito ágeis

A V. velutina é das melhores caçadoras no mundo das vespas. Já escrevi anteriormente que de todas as vespas que poderiam colonizar a Europa esta é muito provavelmente a pior, pois é muito mais rápida e ágil do que outras espécies de vespa (Kuo e Yeh, 1990). Na verdade, é uma das vespas mais hábeis a apanhar abelhas em voo. Outras espécies pousam nas entradas das colmeias para caçarem abelhas, e este comportamento permite às abelhas embolarem-nas/pelotarem-nas. Já a V. velutina paira na frente da colmeia a uma distância de 30 –40 cm, e desce tentando repetidamente capturar forrageiras. Este comportamento de caça impede que as abelhas as embolem. Já vi as abelhas a embolarem as V. crabro, e outras vespas, que poisam e/ou entram nas colmeias fortes. Nunca vi uma velutina a correr o risco de ser embolada entrando numa colmeia forte.

O que comem as vespas adultas

Como é habitual na família das Vespidae, as V. velutinas não consomem carne (embora possam ingerir sucos de carne). As proteínas que recolhem da caça de outros insectos, da carne de carcaças de mamíferos, aves e peixes são transportadas para o seu ninho para alimentar as larvas. A V. velutina adulta alimenta-se de carboidratos doces, como néctar, frutas maduras, seiva de árvores, e de regurgitações especiais das larvas (Matsuura e Yamane, 1990). As larvas produzem secreções larvais ricas em carboidratos e aminoácidos. Estas secreções alimentam as operárias adultas assim como as futuras rainhas, para que construam os seus corpos gordos, antes do acasalamento e hibernação.

Transferência das regurgitações larvares para vespas adultas (mecanismo já descrito em publicações anteriores deste blog, nomeadamente nas publicações acerca do brilhante trabalho levado a cabo por Ernesto Astiz, imbuído pelo espírito de ciência cidadã).

Os iscos proteicos

Os iscos proteicos são utilizados mundialmente para controlar as pragas de insectos exóticos da família Vespidae, por ex. nos EUA, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Argentina, … Por cá, alguns enterram a cabeça na areia e esperam que pai natal chegue na forma de abelhas treinadas a embolar as velutinas em voo, abelharuco vorazes, ou de chips milagrosos, baratos, mais leves que meio cabelo e cujo sinal atravesse os declives do terreno até a um radar que cabe num bolso e é pago com uma nota de cinco euros!!! Plagiando as profundas e riquíssimas tiradas do José Silva, aka Lem Sipa,… ENFIM.

E os iscos proteicos funcionam porque toda a V. velutina que agarre na sua bolinha de carne ou peixe, dirige-se de imediato para o ninho para a entregar às suas larvas. Estas, por sua vez, vão entregar-lhe as regurgitações açucaradas e ricas em aminoácidos já temperadas com uma ínfima quantidade de “free-pro”, que depressa as libertará de forma muito definitiva e permanente dos labores terrestres.

Notas: 1) bom, bom era que estas regurgitações “tingidas” chegassem à rainha do ninho. E nada impede que em circunstâncias afortunadas chegue, porque também elas se alimentam destas regurgitações.

2) bom, bom era também que uma linha de investigação explorasse esta ideia que deixei em 2019 nesta publicação.

vespa velutina: efeito inicial dos iscos proteicos — apêndice

Do meu conhecimento, e na sequência desta publicação, 3 amigos experimentaram pela primeira vez os iscos proteicos com quantidades baixas de fipronil. Ligaram-me a descrever os efeitos positivos observados, com uma diminuição muito acentuada na predação e o retorno das abelhas à actividade normal de forrageio. As pipetas utilizadas foram da marca Frontline Combo, a referida na publicação, e que contém um adulticida (o fipronil) e um larvicida (o metopreno).

Também na sequência desta publicação outro companheiro relatou que utilizou uma pipeta de Fronline Tri-Act para elaborar o isco proteico. Observou que nas quatro horas que manteve as colónias fechadas as velutinas não apanharam isco absolutamente nenhum! De forma espirituosa remata a sua observação com esta tirada bem humorada: “Posso ter feito alguma coisa mal.. não ter salteado os camarões em azeite e não ter acompanhado com um verde cá da casa.”

De facto o problema e a razão do insucesso está noutro aspecto. O Frontline Tri-Act, como o nome indica é um composto que actua em três frentes: a adulticida e a larvicida, até aqui igual ao Fronline Combo, mas às quais adiciona um efeito repelente dos insectos. É este efeito repelente que explica o facto de as velutinas não terem pegado no isco.

Os desparasitantes com um ingrediente repelente de insectos não devem ser utilizados na elaboração de iscos proteicos, como o caso do Frontline Tri-Act, entre outros.

Fica a chamada de atenção para este detalhe de importância crítica para que a palatibilidade/atracção do isco proteico seja adequada.

Utilizem esta ou outra técnica, mas pela saúde das vossas abelhas façam o possível para evitar a paralisia de voo, comportamento que ocorre habitualmente nas colónias quando na presença de 3 ou mais velutinas a pairar sobre a entrada das colmeias. Para além de não fazerem as naturais tarefas de forrageio, as abelhas nestas circunstâncias sofrem uma carga de stresse oxidativo que lhes retira saúde. Acossadas, unem-se pelo medo. Por muita valentia que as abelhas mostrem formando um “tapete” compacto à entrada da colmeia, estão a envelhecer demasiadamente depressa neste ambiente que as aterroriza.

vespa velutina: controlar a dispersão de novas fundadoras

Cada ninho maduro de V. velutina, cria em média 600-900 machos e 350-500 novas fundadoras por cada ciclo anual.

Se nesta população de novas fundadoras forem eliminadas antes de iniciarem uma nova colónia por causas naturais, como competição entre fundadoras e/ou por predação de outros animais, ou por causas artificiais, como armadilhagem para captura de fundadoras levadas a cabo por apicultores e outros, 90% dos indivíduos, os 10% da população sobrevivente terá o potencial para criar 350 a 500 mil novos indivíduos no ano em questão, a uma razão de 10 mil indivíduos por ninho.

Pela capacidade estonteante de criar inúmeros indivíduos reprodutores e fecundados por cada ciclo anual, fica claro que qualquer estratégia de controlo desta praga só terá sucesso se estiver desenhada e se tiver os meios para eliminar os ninhos maduros antes da dispersão de novas fundadoras, isto é antes de do mês de outubro, em geral.

Para levar a cabo a localização e/ou destruição dos ninhos antes da fase de dispersão da nova geração de fundadoras temos vários procedimentos, todos eles com virtualidades e limitações:

  • localização por triangulação;
  • localização por radar;
  • localização por imagens térmicas;
  • localização por perseguição;
  • localização acidental;
  • estações com iscos tóxicos;
  • “cavalos de troia”;

A propósito da localização de ninhos por perseguição deixo este pequeno vídeo com um exemplar da V. mandarinia, espécie ainda não identificada na Europa. A V. mandarinia, a maior vespa do mundo, tem a capacidade para levantar voo com um “lençol” agarrado. Com a V. velutina teria que se fazer com algo mais leve e pequeno. Nestas condições seria visível com um drone? Nada como experimentar, se ainda não foi experimentado.

Nota: os apicultores utilizam um conjunto mais vasto de ferramentas para proteger as suas colónias, que não menciono nesta publicação — escrevi outras publicações sobre as mesmas. Essas ferramentas estão desenhadas para defender as colónias de abelhas, e são mais ou menos eficazes. Contudo uma boa parte dessas técnicas e ferramentas têm apenas esse alcance: protegem as colónias mas não têm um impacto notável nos ninhos da V. velutina e na sua dispersão anual.

vespa velutina: contas e reflexões

As contas:

(i) Sabemos que os ninhos de uma colmeia Lusitana ou Langstroth bem povoado tem cerca de 20 mil abelhas.

(ii) Sabemos que 20 mil abelhas pesam 2 kgs, aproximadamente.

(iii) Sabemos que em Portugal e por quilómetro quadrado podemos estimar com bom grau de confiança uma presença média de 5 ninhos maduros de vespa velutina que escaparam às rudimentares medidas de controlo das fundadoras de que dispomos.

(iv) Sabemos que cada ninho maduro consome cerca de 12 kgs de insectos.

(v) Podemos agora calcular que por cada quilómetro quadrado as vespas velutinas consomem 60 kgs de insectos, o correspondente a trinta ninhos de abelhas bem povoados.

V. velutina com uma mosca das flores entre as mandíbulas.

As reflexões:

  1. a grande ameaça à biodiversidade são as velutinas em si mesmo, e só a destruição dos ninhos, mecânica ou química, antes da produção de futuras fundadoras permite algum controlo da praga;
  2. os abelharucos não são um meio de controlo das velutinas ; apenas consomem algumas poucas velutinas. Para serem um meio de controlo deveriam atacar e destruir os ninhos da vespa antes da produção de futuras fundadoras. Na melhor das hipóteses afugentam durante uns dias ou semanas as velutinas dos nossos apiários;
  3. só na nossa imaginação cada fundadora capturada corresponde a menos um ninho mais adiante. Uma boa parte das fundadoras não chegam a criar ninhos porque morrem por causas naturais antes de o fazerem. No entanto e apesar disso basta uma taxa de sobrevivência de 10% das fundadoras criadas no ano anterior para por cada ninho termos mais 35 a 50 novos ninhos no ano seguinte e enquanto os recursos locais permitirem esta taxa de crescimento.

vespa velutina: efeito inicial dos iscos num apiário com pressão elevada

Na sequência de duas publicações, aqui e aqui, um companheiro apicultor decidiu experimentar nesta terça-feira a utilização de iscos tóxicos para diminuir e controlar a elevada predação/presença de vespas velutinas no seu apiário. O contexto era indicado à utilização desta técnica pois na véspera tinha observado entre 15 e 30 vespas a rondarem as suas colmeias.

Como atractivo utilizou 400 grs. de camarão triturado aos quais adicionou uma pipeta de Frontline Combo de 2,68 ml de volume e com 268 mg de fipronil. De acordo com os cálculos, cada 100 grs. de isco continha 0,067 grs. de fipronil. Esta concentração está situada num valor intermédio entre as concentrações referidas no estudo espanhol (0,01% p/p) e as concentrações utilizadas na Nova Zelândia e Argentina (0,1% p/p).

Os procedimentos que utilizou seguiram de perto o protocolo do estudo espanhol. Por volta das 6h30m fechou as colmeias com esponjas dedicadas, que permitem a entrada de ar, ou com as réguas de transumância. Por volta das 7h30m distribuiu o isco por várias zonas do apiário. Nas duas primeiras horas do procedimento a maior parte vespas pouco ligou ao isco, preferindo fazer o habitual: pairar à frente das colmeias à espera de abelhas que desta vez não saíam. Passadas estas duas horas iniciais as vespas mudaram o chip e passaram a focar-se nos iscos, poisaram sobre eles, fizeram as habituais bolas deles e com o (pet)isco bem agarrado entre as patas levantavam voo. Durante as quatro horas que manteve as colónias fechadas estima que as velutinas levaram cerca de 50% do isco. Passadas as 4 horas retirou o isco sobrante e abriu as colónias. De tarde voltou ao apiário e encontrou apenas 3 velutinas a rondarem as colmeias. Efeito do isco? efeito da sua presença horas antes?

Ontem, passadas 48h, diz-me o seguinte: “Vi uma a duas vespas e enxames a trabalhar. Tenho de dar a mão à palmatória, porque estava muito céptico em relação ao resultado. Acho estranho na segunda-feira haver a quantidade que havia e agora não. É que nem lhes dei porrada, o que as poderia afastar. Só as deixei andar a levar a comida.

Passadas 48h, ou a bichas são muito assustadiças e ainda tremem de medo só de pensar voltar àquele apiário habitado por um vulto branco fantasmagórico, ou ficaram de cama com uma indigestão estranha, associada a febre alta, suores frios e tremores musculares. Será que o camarão estava estragado?

abelhas resistentes: o seminário

Depois da divulgação do seminário, venho nesta publicação apresentar alguns dos aspectos que o Prof. Dirk de Graaf e sua equipa pesquisaram e concluíram num caminho que tem cerca de 20 anos. O seminário decorreu ontem no auditório do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a que tive o prazer de assistir e foto-documentar, com a autorização do palestrante e dos organizadores, para posterior publicação neste espaço.

O Prof. Dirk de Graaf no início da sua palestra.
Actualmente Dirk de Graaf e sua equipa levam a cabo duas linhas de investigação principais. A mais antiga, visa identificar os marcadores genéticos associados ao SMR (suppressed mite reproduction), um dos mecanismos que confere resistência contra o ácaro varroa. Uma segunda linha de investigação, visa identificar os marcadores genéticos associados ao SOV (suppressed in ovo virus), um mecanismo que confere resistência/imunidade contra os vírus frequentemente presentes nos ovos da criação de obreiras e zângãos.
Depois de concluídas uma série de etapas de investigação, identificaram 8 marcadores genéticos com uma probabilidade elevada de estarem associados ao SMR.
Quando estes marcadores foram testados em campo, verificou-se ser necessário corrigir e afinar algumas das relações espúrias entre eles. Feita esta “limpeza” ao modelo o seu valor preditivo está bastante robustecido. Com base neste modelo, os criadores de rainhas belgas estão a proceder à seleção das suas matriarcas desde 2021, auxiliados gratuitamente na identificação dos marcadores genéticos pela equipa do Prof. Dirk de Graaf.

Uma reflexão: vemos aqui um exemplo de como uma investigação de cariz fundamental, aparentemente muito afastada da prática, devolve resultados práticos e de mérito à comunidade. Este caminho levou 20 anos a percorrer e só a inteligência e persistência dos envolvidos, assim como o financiamento adequado permitiram alcançar os resultados que nos levam a antever abelhas resistentes ao varroa na próxima década. O Prof. Dirk de Graaf exortou os parceiros portugueses a trabalharem com a abelha ibérica, identificarem os marcadores relevantes para o comportamento resistente nesta abelha, seguindo o caminho (método) que ele desbravou e seguiu na Bélgica.

Os parceiros institucionais.
A equipa… as pessoas.

A terminar, o meu agradecimento ao Nuno Capela pela chamada de atenção para este seminário e convite para estar presente no mesmo. O Nuno concluiu há pouco o seu doutoramento com temática na apicultura, e está muito empenhado no estabelecimento de relações entre o mundo da ciência apícola e a comunidade de apicultores. Esta interacção caracteriza cada vez mais o posicionamento da academia em relação à comunidade que a alberga… e bem!

levedura de cerveja inactivada: um bom alimento?

Uma vez mais o meu amigo Umberto Moreno abre as portas a uma conversa muito elucidativa, desta feita com o especialista Carlos Contreras, Zoólogo da Universidade Nacional da Colômbia e estudante de Mestrado em Apicultura na Universidade de Cornell dos Estados Unidos. Nesta conversa em torno dos probióticos, e na fase das perguntas e respostas, uma interveniente questionou o especialista sobre se o açucar e as tortas proteicas podem afectar o microbioma existente no intestino das abelhas (1.10.58 do vídeo). A resposta do especialista é que as leveduras inactivadas de cerveja, habitualmente presentes nas tortas proteicas, podem ser prejudiciais às abelhas e portanto há que ter cuidado com a sua utilização. Em 2016, nesta publicação, tinha indicado o mesmo: “a adição de leveduras e malte de cerveja encurta a vida das abelhas, deste modo recomendamos a utilização de alimentação suplementar sem a sua utilização destes dois aditivos“.

Sobre o cerne desta conversa, os probióticos, escrevi aqui e aqui, e espero fazer uma publicação em breve.