Efficacy of Protein Baits with Fipronil to Control Vespa velutina nigrithorax (Lepeletier, 1836) in Apiaries é um estudo espanhol publicado em junho deste ano. Creio que é o único estudo publicado numa revista científica (Animals) acerca da avaliação do impacto dos “cavalos de troia” na visitação e predação de abelhas melíferas por V. velutinas em apiários na Península Ibérica. A utilização dos “cavalos de troia” é uma técnica controversa, aspecto que é abordada neste parágrafo do artigo: ” […] é necessário estudar os riscos que larvas e vespas mortas e restos de iscas podem representar para aves, outros insetos e meio ambiente.”
Resumo Simples
Desde a introdução acidental da vespa-de-patas-amarela (Vespa velutina nigrithorax) no início do século 21 na Europa, ela tornou-se uma ameaça para muitos polinizadores, incluindo as abelhas domésticas. Após sua chegada a França em 2004, rapidamente se espalhou pelo continente, chegando a Gipuzkoa (País Basco) em 2010, onde representa um sério problema para a apicultura. Para reduzir este problema, várias estratégias de controle foram desenvolvidas, como a remoção de ninhos ou a captura de rainhas fundadoras na primavera. No entanto, estes métodos não foram eficazes na redução do impacto das vespas na apicultura. O uso de iscas proteicas com biocidas tem-se mostrado um método eficaz no controle de populações de vespas invasoras em ambientes naturais, porém, não têm sido utilizadas para o controle de V. velutina [nota minha: não tem sido utilizado oficialmente e com a autorização das autoridades administrativas]. Este estudo avaliou a eficácia destas iscas na redução do impacto das vespas nos apiários. Os resultados mostraram que quando a presença de vespas nos apiários é alta, ocorre um alto consumo de iscas, levando a uma redução significativa no número de vespas em 48 h. Esta redução dura pelo menos duas semanas após a colocação da isca e permite que as abelhas recuperem e retornem à sua atividade normal.
Sumário técnico
A vespa-de-patas-amarela (Vespa velutina nigrithorax), fora de sua área de distribuição natural, tornou-se uma grande ameaça para as abelhas domésticas. Vários métodos de controle têm sido usados para combater V. velutina, mas os resultados obtidos não são satisfatórios. O uso de iscas proteicas com biocidas tem-se mostrado um método eficaz no controle de populações de vespas invasoras, mas não tem sido utilizado para o controle de V. velutina. Assim, a eficácia de iscas proteicas contendo fipronil para reduzir a presença de vespas em apiários foi avaliada neste estudo. Após a determinação laboratorial da eficácia ótima de uma isca proteica com concentração de 0,01% de fipronil, foram realizados ensaios de campo envolvendo 222 apicultores. Os dados relatados pelos 90 apicultores que responderam ao questionário solicitado demonstraram que nos grupos de apiários com maior pressão de vespas (grupos com 10–30 e mais de 30 vespas por apiário), houve uma diminuição significativa na presença de V. velutina, durante pelo menos duas semanas. A redução no número de vespas foi positivamente correlacionada com o consumo de iscas, e o consumo de iscas foi positivamente correlacionado com o número de vespas presentes no momento do tratamento. Embora o método utilizado tenha mostrado boa eficácia e a concentração de fipronil utilizada tenha sido muito baixa possíveis efeitos negativos sobre o meio ambiente também devem ser avaliados.”
Materiais e métodos
Testando a Eficácia de Iscas em Apiários
Para verificar a eficácia das iscas de proteína, o trabalho de campo ocorreu entre agosto e outubro de 2019, 2020 e 2021. Foi obtida autorização oficial do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente da Espanha e do Conselho Provincial de Gipuzkoa.
Foram utilizados quatro tipos de iscas proteicas, sendo três de peixe e uma de carne. Todos tinham a mesma concentração de fipronil (0,01% p/p) [0,01 gr de fipronil por 100 gr de isco]. […] Entre 50 e 100 gr de isca foram acondicionados em pequenos recipientes recicláveis e mantidos congelados (-20 °C) até à utilização nos apiários. A distribuição dos iscos aos apicultores foi feita na sede do GBA, onde os técnicos anotaram a quantidade de iscos fornecidos a cada apicultor, o número de apiários e colmeias a tratar e o local onde foram colocados.
Para realizar os ensaios, os apicultores que concordaram em participar foram informados sobre uma série de pré-requisitos a serem atendidos, (i) um número mínimo de vespas deveria estar presente no apiário (>2 vespas por apiário), (ii) em dias de chuva e/ou ventos fortes devem ser evitados, (iii) no dia do tratamento, a entrada das colmeias deve ser fechada antes do amanhecer e mantida fechada por 4 h, período em que as iscas foram colocadas próximo das colmeias.
Assim, uma hora após o nascer do sol, com as iscas descongeladas e temperadas, um pequeno recipiente com aproximadamente 50 g de isca para cada 4 a 5 colmeias foi colocado próximo da entrada das colmeias. À medida que a isca era consumida, mais isca era adicionada. No final do dia, as embalagens eram recolhidas e descartadas em ponto de reciclagem.
Ensaios de inactivação larval em laboratório
Comparando os efeitos das iscas tóxicas nos diferentes grupos de larvas, aquelas alimentadas com a isca contendo 0,01% de fipronil apresentaram maior percentagem de larvas afetadas em 24 h.
Uma mortalidade de 100% foi observada 48 horas após a administração das iscas tóxicas. […] Após 48 h, as larvas controle ainda estavam vivas.
A maioria das larvas alimentadas com iscas proteicas com diferentes concentrações de fipronil apresentaram mudança progressiva de coloração, passando a uma coloração enegrecida quando morreram. Para determinar se a mudança de cor foi devido à ingestão de fipronil, as larvas de controle foram mantidas sem comida até morrerem. Dez dias após o início da experiência, as larvas controle perderam a atividade até morrerem, evoluindo de esbranquiçadas para pretas, como ocorreu com as larvas alimentadas com fipronil.
Discussão
A remoção do ninho e captura de rainhas fundadoras na primavera e operárias no verão são as técnicas mais comuns usadas para o controle de V. velutina. A melhor estratégia é combinar diferentes métodos ao longo do período de atividade anual das vespas. Neste estudo, apresentamos outro método utilizado com sucesso com outros membros da família Vespidae baseado no controle químico com iscas tóxicas. Vários biocidas foram investigados para controlar vespas, e o fipronil forneceu eficácia ótima em doses baixas. De fato, uma isca protéica com fipronil foi recentemente comercializada na Nova Zelândia para esse fim*. Primeiramente, é fundamental que a isca seja palatável e não provoque nenhum tipo de rejeição por parte das vespas. A esse respeito, ao longo dos três anos, nenhum apicultor indicou nos questionários que havia observado qualquer rejeição da isca por parte das vespas. Em segundo lugar, uma baixa dose de biocida na isca é fundamental porque as vespas adultas precisam sobreviver à exposição à isca e serem capazes de a transportar até ao ninho para alimentar as larvas. No presente estudo, os ensaios in vivo alimentando as larvas com iscas contendo diferentes concentrações de biocida mostraram que o percentual de inativação das larvas aumentou com a concentração, obtendo 84,1% de inativação após 24 h para a concentração máxima de fipronil testada (0,01%). Os restos de fipronil encontrados em larvas mortas representaram de 13% a 30% do total de biocida administrado. Essa baixa concentração pode ser atribuída aos processos de metabolismo e excreção do biocida. […]
Assim, a isca proteica com 0,01% de fipronil foi selecionada para o estudo de eficácia nos apiários, apresentando efeito significativo na redução da presença de V. velutina. Observou-se que para minimizar a pressão de V. velutina no apiário, a quantidade de isca tóxica transportada para os ninhos deve ser alta. No entanto, o consumo de iscas dependia do número de vespas presentes no apiário com resultados ótimos quando mais de 30 vespas estavam presentes ao mesmo tempo em frente das colmeias do apiário. A redução no número de vespas no grupo de apiários com >30 vespas (≈75%) foi semelhante a outros estudos que usaram iscas proteicas com fipronil para controlar espécies de Vespula em ambientes naturais, mas menor em comparação com outros. No entanto, a concentração de fipronil usada no presente estudo é dez vezes menor (0,01% p/p) do que as concentrações de fipronil usadas para controlar outras espécies de Vespidae (0,1% p/p). Além disso, não temos conhecimento de outras publicações sobre a eficácia de iscas de proteína tóxica no controle de V. velutina em apiários e, infelizmente, não podemos comparar os nossos resultados com outros estudos realizados em locais semelhantes. Além disso, de acordo com as observações dos apicultores, a redução alcançada nos apiários com alta predação permitiu que as abelhas continuassem sua atividade normal.
[…] Embora a contagem de vespas não tenha continuado após +14 dias pós-isca, alguns apicultores relataram um aumento de vespas, mas que não atingiram a contagem inicial. Esses aumentos foram provavelmente devidos à eclosão de novas vespas que estavam em estágio de pupa no momento da isca e, conseqüentemente, não foram alimentadas com a isca tóxica. Além disso, após o declínio inicial, um rápido aumento de vespas também foi relatado num apiário. Isso pode ser devido às vespas vindas de outros ninhos devido à menor competição entre as vespas após a iscagem em comparação com os dias anteriores. No grupo de apiários com baixa contagem de vespas (<10), alguns apiários mostraram uma ligeira diminuição no número de vespas, mas rapidamente o recuperaram.
Vários autores descobriram que aumentar a intensidade das iscas aumenta sua eficácia. Como visto neste estudo, o uso de biocidas como o fipronil pode ser útil para controlar as populações de V. velutina nos períodos de maior pressão nos apiários. […] o uso de iscas proteicas com biocidas deve ser o mais restrito possível, optimizando as condições para o máximo consumo no menor tempo possível. Essas condições podem ser alcançadas se uma isca altamente palatável estiver disponível, e os apicultores usarem essa estratégia quando os apiários são fortemente predados por V. velutina no final do verão e início do outono, quando os ninhos de V. velutina crescem rapidamente, sob controle e supervisão das autoridades locais.
O controle de V. velutina em apiários não só beneficia a apicultura como também preserva a fauna entomológica local, que também é alvo da vespa de patas amarelas. Nesse sentido, estudos realizados em França, indicam que várias espécies de vespas sociais podem representar um terço das presas de V. velutina.”
fonte: https://www.mdpi.com/2076-2615/13/13/2075
Notas: *1) Como complemento ver aqui e aqui sobre a utilização de iscos com fipronil utilizados na Nova Zelândia para controlar a vespa germânica, um insecto exótico naquele país.
2) Ainda que consciente da controvérsia que a utilização de cavalos de troia apresenta, entendo que no actual contexto de forte predação de apiários em certos territórios, a Europa devia permitir a produção controlada e a utilização parcimoniosa e com dispositivos seguros deste tipo de iscos tóxicos, à imagem do que se faz na Nova Zelândia para o controle da Vespa germânica. Enquanto assim não for, a utilização desta técnica continuará a ser levada a cabo, como já o é, provavelmente com doses de tóxico superiores ao necessário e com dispositivos rudimentares que aumentam o risco dos efeitos colaterais noutras espécies.
No ano passado contactei a Nova Zelândia no sentido de me enviarem uma amostra.
Resposta: não era possível o envio porque o Fipronil era proibido na europa.
Segue a resposta: Dear Rogério
Thanks for your enquiry and we are very sorry to hear of your issues with Vespa velutina. Unfortunately we are unable to send Vespex to Portugal due to regulations around the use of fipronil in Europe. We have, however, been assisting researchers in France (funded by ITSAP) that hope to develop a version of Vespex that could be used in Europe to target V. velutina. We are very aware that these invasive hornets are a major issue for apiarists and hope a good solution will be found soon.
Kind regards
Richard Toft
Managing Director
Merchento Ltd
Office: 27b Forests Rd – Stoke – Nelson 7011 – New Zealand
Postal: PO Box 2256 – Stoke – Nelson 7041 – New Zealand
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Sim Rogério, infelizmente este tipo de solução está proibida no espaço da UE. Eventualmente este e outros estudos que possam surgir podem dar tracção a uma evolução e mudança dos actuais regulamentos. Era importante que assim fosse, porque medir e colocar 0,01 grs de fripronil em 100 grs. de isco não está ao alcance da maioria por não ter ao seu dispor balanças com esta precisão. Se e quando for autorizado, não faltarão empresas interessadas neste mercado e com a capacidade de fabricar de forma controlada estes iscos. Até lá irão continuar a ser feitos cavalos de troia utilizando doses de fipronil muito provavelmente bem superiores ao necessário.
Obrigado pelo excelente contribuição para apicultura.
Infelizmente não acredito que essa alteração seja efectuada, por falta de interesse.
Nós vamos morrendo aos poucos lutando sozinhos até um dia desistir.
Ps : das minhas 50 á chegada da velutina não consigo passar das 20, até que um dia chegue a 0 (zero) e aceite a derrota.