Na publicação do passado dia 9 escrevi: “Para a semana conto colocar mais cerca de cinco excluidoras num outro apiário, desta feita em colmeias muito fortes do modelo Langstroth. Numa publicação a surgir num futuro próximo pretendo explicitar a estratégia que persigo com a colocação destas excluidoras nas colónia mais fortes e tão cedo na época. Em 2018 e para atingir o fim que pretendo atingir este ano também assim fiz e correu muito bem. Se não tiver desaprendido, com trabalho e uma pitada de sorte, acho que irei alcançar os objectivos que pretendo, e uma parte dever-se-á a esta estratégia. Este pequeno passo hoje dado vai revelar-se fundamental.”
Com três dia de trabalho já cumpridos, esta semana observo que as colónias têm aproveitado muito bem o pólen disponível e estão a crescer um pouco mais rapidamente do que aquilo que previa. Assim, à data de ontem, tinha colocado mais 13 grelhas excluidoras sobre colónias muitos fortes. Conto no início da próxima semana ter atingido o número de 20-25 colónias com grelha excluidora, o que me permite perseguir a estratégia de desdobramentos para o início desta temporada. O objectivo é simples: pretendo que estas 20-25 colónias me permitam fazer 70 núcleos de forma gradual, para introduzir 5 rainhas fecundadas esta semana, 25 rainhas virgens na próxima, 20 na seguinte e as últimas 20 na semana que se iniciará a seguir à Páscoa. No final deste período conto ter estas 20-25 colónias-mãe prontas e disponíveis para produzir mel.
Os procedimentos são em tudo semelhantes aos que utilizei em 2018 para produzir cerca de 250 núcleos, com recurso a um número relativamente pequeno de colónias, cerca de 40, que utilizei recorrentemente ao longo de dois meses para fornecerem abelhas, quadros e criação, ao mesmo tempo que mantinha a integridade da colónia preservada, isto é, com rainha, abelhas, criação e reservas. Em simultâneo podia trabalhar à vontade no sobreninho dado que a rainha estava confinada ao ninho pela excluidora.
Este ano fiquei a saber que esta técnica é conhecida por “desdobramento Doolittle” (sim, o mesmo Doolittle da técnica de translarve).
Em baixo fica o foto-filme com a sequência dos principais procedimentos.
Nota: quando pretendo que os novos enxames desdobrados/orfanados criem as suas próprias rainhas não utilizo esta técnica.
Solicitei na publicação anterior, a 500, e a propósito deste número redondo, comentários aos leitores com sugestões e apreciações ao conteúdo do abelhas à beira. Esta publicação apresenta todos os comentários recebidos. A minha gratidão a todos que reservaram um pouco do seu tempo para os escrever. As sugestões serão abordadas/aprofundadas em futuras publicações.
Viva Sr. Eduardo, Desde já endereço-lhe os meus parabéns pelo blog, e pelos conteúdos que regularmente são colocados por si, ajuda qualquer apicultor que tenha paixão e dedicação pela Apicultura, principalmente aos novos apicultores, que é o meu caso. Muito Obrigado! A sugestão que eu deixo, é no caso de ser possível, continuar com a riqueza de conteúdos ao longo da época apícola, à medida que esta avança, e auxiliando-nos com os seus conhecimentos e práticas referentes a cada momento, e ser uma base e uma moleta que nos ajuda a perceber a diversidade da arte. Um bem haja Sr. Eduardo! —Pedro Miguel Marques Centeio
Leitor assíduo do blogue. Dá muita partilha de conhecimentos apícolas de forma sucinta e muito pragmática. Dá a conhecer o maneio apícola e estudos internacionais sempre importantes. Venho aqui colher sabedoria e muita prática que tenho aplicado no maneio apícola com inúmeros sucessos. Isto posto, que sugestão? Agradecer ao autor do blogue pelo tempo que perde em prol da partilha de forma altruísta. Parabéns Eduardo. Abraço, — Octávio
Olá Amigo, Parabéns pelo numero atingido das suas publicações e pela qualidade dos seus conteúdos. Sugestões?… Continue com o elevado nível de partilha de conhecimento. Como seguidor atento das suas mensagens, aproveito para agradecer porque elas têm servido para apurar os meus conhecimentos sobre o mundo apícola. Bem haja. — José A. Marques
Sou um simples apicultor amador mas aproveito para enaltecer e agradecer as publicações que faz pois realmente são bem feitas, bem escritas, demostrando que sabe o que escreve. Posso dizer que quando “tropeço” nas suas publicações são raras as vezes que não leio. Obrigado e cumprimentos de Viana do Castelo — Duarte
Sou um apicultor amador. Adoro o seu blog e acho que louvar a forma como expõe informação, de forma simples e sempre baseada na ciência, coisa que hoje em dia é muito raro. Por favor continue. Cumprimentos — Rui Rocha
Boa Tarde Eduardo. Antes de mais um grande obrigado pela preciosa partilha de conhecimentos. Muitos Parabéns pelo Blog é uma enciclopédia de apicultura. É de louvar a sua atitude altruísta. Aprendi e aprendo muito com os seus artigos e é fascinante na prática verificar que os seus ensinamentos são exactamente assim. Gostaria que publicasse sobre desdobramentos e a formação dessas magníficas colmeias armazém que tanto me fascinam. Obrigado e Deus o ajude a continuar a partilhar a sua magnífica sabedoria. Grande Abraço — Tó Zé
Parabéns! É sempre com expectativa que aguardo o próximo! Ainda nao percebi é como posso navegar pelos anteriores, estarei a ficar iletrado nestas novas ferramentas sociais? — Manuel Rodas
Amigo Eduardo, sou um assíduo leitor dos seus artigos. Não tenho nada a propor para alteração, a não ser que continue a ser como é, para bem da nossa apicultura. Um abraço e bem haja pela sua disponibilidade. — António dos Santos Almeida
Parabéns Eduardo Gomes, excelente blog que criaste nestes últimos 5 anos. Fundamentado, bastante informativo e de um conhecimento indiscutível. Obrigado pela sabedoria e experiência que continuas a partilhar, fazes com que a apicultura seja um pouco mais simples. — Marcelo Murta
Parabéns pelo número redondo. Que venham muitas mais publicações. Faltam-me sugestões a dar porque é deste blog apanho as novidades, dicas, alertas e respostas a muitas dúvidas. É dar-lhe continuação. E, já agora, obrigado! — Ricardo
Caro Eduardo, sou um fiel seguidor do seu blog. Admiro-o como para além de apicultor ainda consegue pesquisar informação atualizada com base em publicações científicas. É neste blog que venho “beber” da sua apicultura e aplicar muitos dos conceitos e técnicas adaptadas à minha realidade de apicultor (se for digno desse adjetivo). Gosto muito de melhoramento genético animal – tema que em apis parece estar longe de se conseguirem os objetivos desejados. No meu apiário centro-me na produção de mel e todos os anos tenho o registo produtivo de cada colônia. Quando tenho baixas desdobro e coloco larvas do dia das colónias que se classificaram acima do desvio-padrão (tendo por base a descrição estatística da produção anual). Por vezes introduzo rainhas de outros criadores, mas sinceramente ainda nenhuma se revelou interessante. Será aqui a adaptação ao meio o fator mais importante? Será que com as minhas abelhas eu sigo um método de seleção (simples) que até resulta? Este tema é o meu principal interesse em apicultura. Obrigado pelas suas partilhas – estou-lhe grato. Abraço apícola. — Pedro Sarmento
Caro Eduardo, Tenho seguido as suas publicações com muita satisfação, artigos muito bons. A minha sugestão vai para o tema do “espaçamento ideal entre quadros”. Muito obrigado pela sua partilha. Cump. — Rogerio Melo
Tenho ideia que a apicultura é um dos sectores da pecuária que menos resíduos produz. Contudo alguns produz. E ontem à tarde passei cerca de 2h30m no processamento/encaminhamento de alguns destes resíduos.
Um outro resíduo são as tiras plásticas dos medicamentos contra a varroose. Neste caso as tiras não devem ser colocadas nos contentores do lixo ou no plasticão. Os apicultores têm a obrigação de entregar estes resíduos na sua associação para posterior recolha e processamento pela Valormed.
Nota: esta é a publicação número 500. Foi alcançado cerca de 5 anos após ocomeço deste blog. Gostaria muito que os leitores, aqueles que o desejem, enviem através da caixa de comentários sugestões de temas e melhorias/ajustes a fazer ao blog, ou outros assuntos. Pretendo fazer a publicação nº 501 com os comentários recebidos. Se desejarem preservar o vosso anonimato por favor indiquem explicitamente que desejam que o vosso comentário seja publicado mas de forma anónima. Muito obrigado pela vossa participação!
Há cerca de 5 anos atrás li num pequeno excerto escrito por Mel Disselkoen, conhecido apicultor norte-americano, referido que os efeitos do vírus das asas deformadas se tornavam visíveis — emergência de abelhas com asas deformadas — quando as larvas eram infestadas e parasitadas por mais que uma varroa fundadora. Na altura achei este dado da grande importância, mas nas pesquisas que fiz não consegui confirmar a afirmação em fontes externas. Recentemente tenho lido bastante acerca do fenómeno de multi-infestação pelo varroa, e acho que a tese de Mel Disselkoen tem pernas para andar.
O abrandamento da postura das abelhas-mãe — este período inicia-se a partir de meados de maio nos apiários a 600 m de altitude e a partir de meados de junho nos apiários a 900 m de altitude — favorece o fenómeno de multi-infestação pelos ácaros varroa. De forma simples, a multi-infestação é um fenómeno que se dá sempre que uma larva é infestada e parasitada por mais que uma varroamãe/fundadora. Não é incomum encontrar alvéolos com larvas de abelha infestadas por dois, três ou mais ácaros fêmeas fundadoras, enquanto muitos outros alvéolos permanecem não infestadas. Este comportamento sugere que a distribuição do ácaro entre os alvéolos com criação não é aleatória — tese que não está solidamente confirmada por enquanto. Mais sólida é a observação que este fenómeno de multi-infestação ocorre mais frequentemente nas colónias com níveis elevados de infestação associado ao abrandamento da postura das rainhas.
A nós apicultores interessa-nos conhecer em mais detalhe os efeitos da multi-infestação que:
reduz a fiabilidade de algumas técnicas de monitorização da infestação, em especial as que utilizam a desoperculação de cria de obreira e/ou zângão;
reduz em cerca de 20% a longevidade das futuras abelhas;
aumenta a exogamia* do ácaro, fenómeno que pode estar na origem de uma maior resistência aos acaricidas — tese que não está solidamente confirmada por enquanto.
aumenta a carga viral nas abelhas;
aumenta a fertilidade das varroas.
* Exogamia: reprodução com baixa frequência de cruzamento entre indivíduos que apresentam consanguinidade.
Conhecendo este fenómeno da multi-infestação estou em melhores condições para compreender a tempestade perfeita que previsivelmente ocorrerá mais adiante em colónias muito fortes, após o fluxo de néctar, e que vê a sua existência em risco 45 -60 dias após o pico de postura, entre agosto e setembro.
Varroa destructor: A Complex Parasite, Crippling Honey Bees Worldwide
Nota: quantas e quantas vezes se ouve testemunhos de apicultores a jurarem que colmeias muito fortes ficaram sem abelhas mais adiante. Vários acreditam na tese que as abelhas terão abandonado a colmeia — sabemos que este fenómeno é muito raro nas abelhas europeias, ainda que relativamente frequente nas abelhas africanizadas e em ambiente tropical —, mas deverão procurar a resposta na infestação por varroa se desejarem e tiverem coragem para olhar de frente a causa mais provável.
Na passada sexta feira (06-03), a seguir ao almoço, voltei ao meu apiário mais pequeno. A temperatura rondava os 17ºC e o vento mal se sentia. Quando sai de casa tinha dois objectivos: transferir dois núcleos para colmeias de 10 quadros e colocar duas excluidoras de rainha em duas colónias muito fortes. Acerca dos procedimentos para alcançar o primeiro objectivo fiz esta publicação. Vou agora identificar alguns procedimentos que procuro seguir aquando da colocação de grelhas excluidoras de rainha.
Para a semana conto colocar mais cerca de cinco excluidoras num outro apiário, desta feita em colmeias muito fortes do modelo Langstroth. Numa publicação a surgir num futuro próximo pretendo explicitar a estratégia que persigo com a colocação destas excluidoras nas colónia mais fortes e tão cedo na época. Em 2018 e para atingir o fim que pretendo atingir este ano também assim fiz e correu muito bem. Se não tiver desaprendido, com trabalho e uma pitada de sorte, acho que irei alcançar os objectivos que pretendo, e uma parte dever-se-á a esta estratégia. Este pequeno passo hoje dado vai revelar-se fundamental.
Anteontem à tarde (06-03) fiz as primeiras transferências para colmeias das colónias que invernaram em núcleos. Uma boa parte destes núcleos resultaram das piores razões. Em finais de agosto/início de setembro cerca de 20% das minhas colónias apresentavam sinais óbvios de PMS. Por uma razão que não está suficientemente clara, o tratamento iniciado em finais de julho/início de agosto não foi eficaz nestas colónias. Debilitadas, com uma quebra populacional enorme e com a longevidade das abelhas sobreviventes comprometida decidi passar estas colónias para núcleos com a intenção de aumentar a sua densidade e agregação. Alguma coisa terei feito bem dado que a maioria ultrapassou esta dura prova. Gradualmente começam a atingir o volume que exige a transferência para uma caixa de dez quadros. Em baixo apresento o foto-filme dos procedimentos que utilizo habitualmente nestas circunstâncias.
Por cá, nos dois apiários a 600 m de altitude, neste terço final do inverno — entre meados de fevereiro e até a primavera entrar — as colónias mais fortes crescem um a dois quadros de abelhas por semana até atingirem o pico da sua população. Os factores desta aceleração repetem-se ano após ano: temperaturas máximas frequentemente entre os 14-20ºC, pólen abundante e de qualidade num campo farto, bom estado sanitário das colónias e rainhas de qualidade produzidas organicamente na época adequada — a da enxameação reprodutiva.
O Pedro Miguel, um dos meus clientes com quem falo regularmente, tem o bom hábito de me fazer perguntas pertinentes e pragmáticas. Há poucos dias questionava-me acerca da razão de preferir colocar sobreninhos/alças nesta altura do ano em detrimento das meias-alças. A resposta sumária é porque neste período a principal produção das minhas colónias não é mel… a principal produção é abelhas— o fluxo de néctar é ainda fraco e serve apenas para o seu consumo. Neste período as colónias mais desenvolvidas produzem até 12 a 13 quadros de criação, considerando os modelos que uso. Ao colocar uma alça a servir de sobreninho atinjo melhor os dois propósitos principais do momento: a prevenção da enxameação e a produção de novos enxames. As meias-alças serão colocadas mais adiante, quando se iniciar o fluxo do rosmaninho neste território.
A outra questão que o Pedro me colocou tem a ver com os critérios que utilizo para escolher as colónias onde colocar os sobreninhos. Por regra escolho colónias com 7 ou mais quadros com criação.
Caso 1)
Caso 2)
Notas:
Sugiro esta publicação para aprofundamento da compreensão do ritmo de crescimento populacional de uma colónia nesta altura do ano.
Um agradecimento ao Pedro Miguel, não fosse a sua curiosidade e não teria feito esta publicação como a fiz.
Este trabalho no campo foi realizado entre as 11h00 e as 13h30. Depois de chegar a casa, comer qualquer coisa rapidamente, sentei-me à secretária e liguei o computador para assistir à primeira sessão on-line do Curso de Apicultura coordenado pelo Prof. Paulo Russo de Almeida, da UTAD. O Paulo há uns tempos atrás, sabendo meu interesse pelo processo de construção do conhecimento pelo método científico desafiou-me a assistir a esta primeira sessão onde iria abordar o tema. Já tive oportunidade de lhe agradecer o convite e volto a fazê-lo aqui. As cerca de 4 horas de sessão passaram a voar por diversas razões, das quais destaco estas: a excelente relação pedagógica que o Paulo estabelece —intercalando equilibradamente o método expositivo com o método interrogativo —; o rigor da linguagem utilizada lado a lado com o enorme conhecimento e domínio dos temas tanto no plano teórico como no plano prático; os espaços frequentes de diálogo que abre e o aproveitamento dos casos trazidos pelos formandos para os integrar devidamente nos conteúdos da sessão; o tempo ainda para as notas de humor que ajudam a fortalecer os vínculos relacionais entre todos. Entre outros aspectos, destaco estes. Termino dizendo que no âmbito da minha licenciatura e mestrado tive alguns muito bons professores. Não tive o Paulo como professor, mas gostaria de o ter tido. É de formação com esta qualidade que pensava quando fiz esta publicação.
Na publicação do passado dia 4, o José Cardoso reparou que nesta foto surgem colmeias — as três colocadas no primeiro assento do lado direito da foto — com a orientação do alvado para o lado oposto das outras e perguntou-me se havia alguma razão para tal.
Antes de ir à resposta em concreto, devo dizer que, em todos os treze apiários que já construí, aquando da sua construção/preparação acompanhavam-me sempre dois objectos: uma bússola e um nível. A bússola para me auxiliar a determinar com exactidão a orientação cardeal do local relativamente a nascente. Os assentos eram depois posicionados no terreno relativamente a este ponto cardeal. Por ex., neste apiário da foto em cima a disposição dos assentos é a que se pode ver pela razão de que foi a que me permitiu colocar as colmeias com o alvado voltado o mais possível a nascente. Relativamente ao nível, este foi um utensílio inestimável para construir os assentos com um muito ligeiro desnível descendente no sentido nascente, para garantir que as colmeias ficariam com o lado frontal ligeiramente mais baixo relativamente ao lado posterior. Desta forma alguma água que entrasse escorria facilmente para o exterior da colmeia.
Abordando agora a razão de algumas colmeias estarem com os alvados orientados para um ponto cardeal tão pouco ortodoxo, entre poente e norte. Como em várias outras coisas, as minhas opções de maneio têm consequências inicialmente não previstas. Neste caso em concreto, a rotação das colónias durante o processo de desdobramento vertical, leva a que as colónias no final do processo fiquem com o alvado para o lado oposto ao original. Destas, as que não são transumadas, acabam por passar o outono-inverno com o alvado virado a poente-norte. Esta orientação tão pouco ortodoxa dos alvados não foi uma decisão planeada e intencional. Surgiu como um “sub-produto” do maneio de desdobramentos por divisão vertical.
Imagino que neste momento a questão que paira na cabeça da maior parte dos leitores desta publicação seja: e que tal, como se portam as colónias com o alvado de costas para nascente? O que posso dizer, e do que consigo observar até agora, é que se desenvolvem como as outras, nem mais nem menos. Umas mais fortes, outras mais fracas, tal e qual como observo nas que estão orientadas a nascente-sul.
Dito tudo isto, vou continuar a orientar a entrada das colónias para o nascente-sul por duas razões: a ligeira inclinação dos assentos que referi em cima; ter o mais possível todas as colónias orientadas para o mesmo lado por simplicidade de maneio. Contudo soubesse na altura que fiz os assentos o que sei hoje e em alguns teria colocado os assentos com outra disposição para interagir melhor e mais facilmente com o perfil do terreno.
A minha experiência com a introdução em gaiola de rainhas fecundadas é relativamente pequena. Nestes mais de dez anos de actividade apícola terei introduzido perto de 40 rainhas fecundadas. A taxa de aceitação inicial rondou os 100%, dos dados que registei na memória — como fiquei satisfeito com o facto dos procedimentos que me ensinaram e apliquei com o melhor rigor que me foi possível terem dado tão bons resultados! Contudo, mais adiante, cerca de 30% destas rainhas vieram a ser substituídas. Sei muito bem que a minha experiência é pouco representativa, a amostra é muito pequena, mas foi expressiva o suficiente para me elucidar que por vezes as abelhas também mudam de ideias, e aquela relação que começa bem evolui e termina mal.
Na altura não me empenhei em perceber melhor as causas do sucedido, o trabalho era muito e tinha de seguir em frente. Intimamente achei que tal se deveria a uma deficiência qualquer presente nestas rainhas, difícil ou até impossível de corrigir, fruto de uma certa aleatoriedade natural inultrapassável. E fui andando com a minha vida sem investir muito tempo neste assunto. Afinal introduzir rainhas fecundadas não é a minha praia; há mais de 5 anos que não o faço, já passaram mais de dois anos desde que introduzi massivamente rainhas virgens, tirando duas excepções que resultaram da oferta generosa de dois amigos de umas poucas rainhas virgens. Este não era, e continua a não ser, um assunto do meu interesse imediato. Apesar disso tal não me impede de reconhecer a sua importância para o sector apícola nacional, dado que vários companheiros recorrem à introdução de rainhas fecundadas pelos mais diversos motivos. Estava eu a preparar esta publicação e, nem de propósito, um companheiro contactou-me a solicitar uma opinião para o ajudar a entender, entre outras coisas, a razão da elevada taxa de substituição precoce das rainhas fecundadas que tem introduzido. Mal irei, e este blog comigo, quando me auto-centrar exclusivamente nas minhas práticas. Ficarei mais pobre e limitado nos conhecimentos, o blog menos abrangente e diversificado, enfim correria o risco de o tornar um diário, desinteressante e auto-proclamatório.
Será então adequada e actual a hipótese de que a substituição precoce de rainhas, 2 a 4 meses após a sua introdução e aceitação inicial, é uma situação inultrapassável própria de uma situação natural, da qual conhecemos, dominamos e controlamos pouco as diversas variáveis envolvidas? Não, nem a hipótese é actual nem é adequada. Hoje sabemos mais que isso. Hoje estão identificadas as variáveis que condicionam a taxa de sucesso deste processo.
Neste pequeno vídeo Bob Binnie identifica as principais causas da não aceitação ou substituição precoce de rainhas fecundadas introduzidas em gaiola e afirma que os criadores de rainhas podem melhorar o processo a montante. Recorre às reflexões e observações do Irmão Adam (o enorme apicultor alemão da Abadia de Buckfast) e aos estudos controlados levados a cabo por Doug Summerville (o autor da obra fundamental Fat Bees, Skinnie Bees).
Hoje, tudo leva a crer que os factores de sucesso/insucesso se encontram a montante, e uma vez mais os timings são muito relevantes. Bob Binnie afirma e identifica as principais condicionantes e factores de insucesso do processo: “a maioria dos problemas com rainhas e com pacotes, como fraca aceitação e substituição precoce deve ser atribuída a:
rainhas colhidas demasiado novas;
rainhas criadas demasiado cedo;
rainhas armazenadas em banco por demasiado tempo.“
Também nesta publicação da prestigiada revista apícola Bee Culture — https://www.beeculture.com/requeening/— referem os mesmos motivos subjacentes à elevada taxa de substituição precoce de rainhas fecundadas.
Hoje realizei a primeira transumância de colónias deste ano. A distância percorrida foi pouca, cerca de 15 km a descer, as colónias passaram dos 900m de altitude para os 600m e para uma zona edafo-climática cerca de 5ºC mais quente — hoje por ex. cá em cima esteve uma máxima de 12ºC e lá em baixo a máxima chegou aos 17ºC.
Tendo identificado e pré-preparado ontem as 12 colónias a transumar, hoje às 8h15 lá estava para acabar de as fechar — foi só empurrar o resto de esponja. As abelhas como previ estavam todas ainda ao quente, e por companhia só tive as vaquinhas que por ali pastavam.