modo de produção biológico: excertos do relatório 2011-2013

Apresento alguns excertos de um relatório disponibilizado pela FNAP, a que tive acesso muito recentemente. Numa primeira leitura deste relatório chamaram-me a atenção vários aspectos, dos quais destaco os que apresento em baixo.

“… as explorações com mais de 600 colónias detêm um volume de mão-de-obra total equivalente a uma atividade a tempo inteiro, correspondendo a um volume de trabalho aproximado equivalente a 3 indivíduos.

A análise do volume de mão-de-obra apícola por colónia (UTA/número de colónias), permite verificar que os apicultores não profissionais dedicam um maior tempo à atividade (em média despendem 0,006 UTA por colónia) que os apicultores profissionais (em média, 0,003 UTA por colónia), sendo a diferença estatisticamente significativa (valor de p = 0,015), sem que tal se reflita numa maior produtividade de mel por colónia, como se verá no capitulo seguinte.

Sendo a visita ao apiário uma componente fundamental do maneio apícola, os apicultores foram inquiridos relativamente a esta prática. Por norma, na Primavera/Verão, 49% dos apicultores visitam o apiário semanalmente, 15% visitam-no diariamente, 12% fazem-no 3 vezes por semana e 11% quinzenalmente. No Outono/Inverno, 41% dos apicultores visitam o apiário mensalmente, 33% visitam-no quinzenalmente e 15% semanalmente.” p. 26

“A análise […] permite observar que à medida que a percentagem de perdas diminui com o aumento da dimensão da exploração, verificando-se diferenças estatisticamente significativas, entre apicultores profissionais e não profissionais (valor de p = 0,013).

Analisando a percentagem de perdas geograficamente, verificou-se que a região Centro apresenta, em média, maior taxa de perdas por exploração (38 %), seguindo-se a região Sul (28%); na região Norte as perdas são de 26%. Contudo estas diferenças não são estatisticamente significativas.

Quando analisada a relação entre as percentagens de perdas e o associativismo, verifica-se que os apicultores não associados têm percentagens de perdas na ordem dos 50%, enquanto que para os apicultores associados, essas perdas são, em média, apenas de 27%. Porém esta diferença não é estatisticamente significativa, atendendo à variabilidade encontrada nos dois grupos.

Foram analisadas outras variáveis, como o tipo de maneio (número de visitas ao apiário, realização de análises às abelhas, realização de tratamentos contra a varroa e a alimentação artificial), a formação em apicultura, a idade e o nível de instrução do apicultor, não se tendo verificado que estas influenciassem, de forma estatisticamente significativa, a percentagem de perdas do efetivo.” p.30

“A maioria do mel em MPB comercializado a granel é efetuada através de intermediários (79% do mel) ou da cooperativa/agrupamento com cerca de 20%. Quanto ao mel em MPB embalado, os canais de venda assumem posições mais equitativas: as lojas especializadas (37% do mel), a venda direta a particulares (23%), o comércio tradicional (19%), os intermediários (14%), e por fim, as grandes superfícies e o canal HORECA, com peso de 3%. Os preços praticados são também bastante diferenciados. No caso do mel a granel, a cooperativa/agrupamento destaca-se pela negativa, com valores de 0,34€/kg abaixo dos praticados pelos intermediários. Quanto ao mel embalado, o canal Horeca e comércio tradicional praticam os preços mais favoráveis, sendo a venda a grandes superfícies a menos lucrativa com um diferencial máximo, em média, de 0,35€/kg.

Os baixos preços obtidos pelos apicultores que optam por escoar o mel através da cooperativa/agrupamento talvez explique o porquê da comercialização do mel ser feita essencialmente de forma individual (75% dos apicultores opta por esta forma de comercialização), e apenas em 15% dos casos de forma coletiva (4% dos produtores fazem-no das duas2 formas). A dificuldade na criação de uma rede de comercialização é frequentemente apontada como dos principais entraves ao desenvolvimento da atividade empresarial em Portugal, designadamente no setor agrícola.” p. 43

” O modelo 1 mostra que a idade do apicultor, o montante despendido com despesas de exploração, o número de anos de atividade certificada e a utilização de colmeia lusitana têm uma influência positiva, estatisticamente significativa, na produção de mel por colónia. Especificamente, um acréscimo unitário no número de anos do apicultor traduz-se num acréscimo de 0,16kg na produção de mel por colónia, mantendo todas as outras variáveis e o erro constantes. Da mesma forma, cada ano adicional de atividade certificada implica um acréscimo de 0,80kg na produção de mel por exploração. Estas variáveis refletem os benefícios da experiência adquirida, que permite aos apicultores aprender com a prática. Por outro lado, a diferença na produção de mel por colónia entre utilização de colmeia lusitana ou outro tipo de colmeia é de 3,1 kg, mantendo-se tudo o resto constante. Pelo contrário, a variável Colmeia_reversível mostrou ter uma influência negativa, estatisticamente significativa, sobre a produção de mel por colónia; sendo a diferença na produção de mel por colónia entre utilização de colmeia reversível ou outro tipo de colmeia de -3,7 kg, mantendo todas as outras variáveis e o erro constantes. Também o número de apiários tem um impacto negativo na produção de mel por colónia, traduzido num decréscimo de 0,40kg por cada acréscimo unitário no número de apiários, indicando a existência de um decréscimo na produtividade com o aumento da área geográfica da exploração.” p. 47-48

tabuleiro divisor: fase final do maneio

Hoje, entre outras tarefas, transferi alguns dos últimos enxames produzidos este ano com recurso ao tabuleiro divisor para caixas-núcleo ou caixas-colmeia. Procuro sempre colocar estes novos enxames em caixas completamente independentes ao longo da estação e antes da invernagem. Assim, evito as dificuldades na alimentação do enxame situado na caixa inferior e a eventual entrada de humidade excessiva por entre o tabuleiro divisor.

Configuração da colmeia: a colónia 1 habita o ninho inferior com entrada no sentido oposto ao visível; tabuleiro divisor com entrada no sentido visível a separar as duas colónias; e colónia 2 no ninho superior.
Vista interior da colónia 2 que ocupa cerca de 5 quadros.
Transferência dos 5 quadros para uma caixa-núcleo; a rainha foi transferida sobre este segundo quadro.
O tabuleiro divisor.
Vista interior da colónia 1 que habita a caixa inferior.
Vista do exterior logo após a transferência dos quadros para a caixa-núcleo, caixa que irá permanecer no local original durante uns dias, antes de ser transferida para outro apiário.
Vista exterior 15-20 minutos após a transferência.

Deixo um vídeo muito interessante do apicultor profissional Bob Binnie, que conjuntamente com sua esposa Suzette, possui e opera a Blue Ridge Honey Co. em Lakemont, Geórgia, uma operação apícola com 2.000 colónias. Bob Binnie também faz uso dos tabuleiros divisores e descreve aqui as vantagens que observa da sua utilização. Binnie foi eleito o “Apicultor do ano” pela Associação de Apicultores da Geórgia em 2003 e tem uma operação apícola com quase quatro décadas.

acerca do futuro próximo da apicultura e seus apoios

Começo por remeter para esta publicação. Se o sector apícola europeu em lugar dos 40 milhões que recebe anualmente da PAC (Política Agrícola Comum), recebesse 1% das mais-valias que incorpora à fileira alimentar, os números seriam muito diferentes: passaria a receber 140 milhões (14 mil milhões/100= 140 milhões). Até por esta razão se verifica que sector apícola europeu está claramente sub-financiado!

Que forças vejo a convergir para que o actual sub-financiamento da PAC ao sector apícola seja alterado e venhamos a assistir a curto-prazo, isto é já no próximo triénio-quinquénio, a um reforço significativo dos apoios concedidos? Vejo três grandes forças a convergir para o desfecho: (i) os negociadores e decisores da distribuição sectorial dos fundos da PAC irão fazer mais ainda nesse sentido, consequência da informação científica disponível acerca da importância crítica do sector apícola enquanto motor da produtividade de muitos dos outros sectores agro-pecuários; (ii) o sector apícola europeu conquistará poder e força na competição por fundos, lado-a-lado com os outros sectores agro-pecuários, resultado de uma percepção dos cidadãos europeus cada vez mais despertos e informados da importância dos polinizadores para a qualidade e preço de uma vasta gama de alimentos que fazem parte da sua dieta diária; (iii) a crise no sector ficará mais visível ainda pelo abandono da actividade apícola e/ou não regeneração da actual geração de apicultores com a entrada de apicultores jovens, pouco motivados e estimulados a fazer a opção pela apicultura no menu de outras escolhas profissionais aparentemente mais aliciantes.

Com mais apoios ao sector como os distribuir?, que grandes eixos priorizar? Deixo algumas sugestões:

Continuação do apoio ao tratamento obrigatório do varroa (esta política parece-me que tem vantagens, se observarmos a mortalidade de colónias na UE por comparação com os EUA);

Apoio a linhas de investigação bem sustentadas e integradas em programas europeus bem planeados (forma de evitar desperdiçar fundos em investigação do tipo céu azul) no desenvolvimento e melhoramento de (novas) ferramentas de controlo de (novas) pragas, como por exemplo a vespa velutina;

Apoio a campanhas para o consumo de mel e outros produtos da colmeia de produção local, enquanto alimento de elevada qualidade, e promotores de serviços ecossistémicos locais;

Apoio ao reforço do rastreamento da qualidade de meis e outros produtos da colmeia oriundos de outros espaços económicos;

Apoios directos, como sucede noutros sectores agrícolas;

Apoios ao rendimento dos apicultores, à imagem do que sucede noutros sectores agrícolas;

Apoios à instalação e desenvolvimento de redes curtas de comercialização;

Apoios a centros de investigação e formação de nível 4 e 5 em cada um dos países-membros;

evidências sobre os benefícios para a saúde da inclusão do(a) própolis na dieta

Em 2019 foi publicado na revista Nutrients esta revisão dos estudos publicados entre 1990–2018 em torno das evidências sobre os benefícios para a saúde pelo consumo e/ou utilização do própolis.

“O(A) própolis é um produto com benefícios para a saúde já relatados, como melhoria da imunidade, redução da pressão arterial, tratamento de alergias e problemas de pele. Uma revisão da literatura e uma síntese foram efectuadas para investigar as evidências sobre os benefícios para a saúde relatados e a direção futura dos produtos com própolis. Usando uma estratégia de pesquisa predefinida, pesquisámos no Medline (OvidSP), Embase e Central quer estudos quantitativos quer qualitativos (1990–2018). Citação, referência, revisões manuais e consulta a especialistas também foram efectuadas. Estudos com ensaios clínicos randomizados (aleatórios) e dados da observação em humanos foram incluídos. […]. Um total de 63 publicações foram analisadas. A maioria foram estudos efectuados em células e em animais, com alguns testes realizados em humanos. Há dados muito significativos e prometedores do própolis enquanto agente antioxidante e anti-inflamatório eficaz, particularmente promissor na saúde cardiometabólica.

fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6893770/

As abelhas utilizam 0/a própolis para a defesa da cidade/colectividade, contra animais várias vezes maiores que elas, assim como contra microorganismos infecciosos, como os fungos e bactérias.

sobre o nível de formação apícola disponível em Portugal

Ontem, na Escola de Apicultura on-line, foi abordada ao de leve a questão do nível de formação apícola disponível em Portugal. Este é mais um tema que suscita uma diversidade de opiniões, geralmente balizadas entre dois pólos, de muito má a muito boa. Na minha opinião a formação inicial disponível em Portugal merece uma nota entre o suficiente e bom. Sobre a resposta formativa de nível avançado disponível no nosso país esta merece ser notada com um insuficiente. Passo a explicar um pouco mais a minha opinião com base na minha experiência, no que vou observando e ouvindo de outros e na minha reflexão, logo uma opinião sustentada em dados parcelares, incompletos, enviesados, como todas as opiniões. Disso não me livro!

Quando iniciei a minha apicultura fiz um curso de iniciação à apicultura que me foi útil. Recebi também ensinamentos do meu pai. Li várias dezenas de números do jornal As abelhas, onde escrevia um grande mestre, o Vasco Correia Paixão. Estive também presente em vários encontros, fóruns e palestras que contribuíram para a minha formação inicial. Lia com regularidade os blogues Monte do Mel e O Apicultor. Todo este trajecto de formação e auto-formação permitiram-me manter a minha operação apícola sustentável desde o seu início. Esta experiência de vida reforça em mim a ideia que a reposta formativa de nível 1, 2 e 3 é suficiente a boa em Portugal.

Contudo para aqueles que desejam fazer um aprofundamento sério e uma especialização dos seus conhecimentos, isto é receber formação de nível 4 e 5, para exercer a sua actividade profissional ou o seu hobby, a resposta formativa é insuficiente. Tanto quanto é do meu conhecimento apenas o Prof. Paulo Russo a ministra, contudo para o território português parece-me insuficiente por escassa e longínqua para muitos. Na minha opinião deveria existir uma estrutura formativa com 5 centros dedicados em Portugal (um a norte, outro no centro, outro no sul e um para cada um dos arquipélagos), apoiados num Centro de Investigação e Formação Apícola. Este Centro para além de coordenar e avaliar a investigação e formação feita em Portugal, teria a responsabilidade de manter na sua equipa formadores actualizados com o que de mais recente o estado-da-arte produziu. A equipa de formadores não teria de ser muito grande, mas sim de grande qualidade, com gente muito dedicada e com prática no terreno, por exemplo na manutenção de um apiário experimental. Esta equipa formativa deveria ser complementada por alguns poucos apicultores com vários anos de experiência no terreno com abelhas, e com um percurso revelador de um maneio bem sucedido ao longo de anos. Finalmente este Centro de Investigação e Formação Apícola deveria fazer chegar a casa dos apicultores que o desejassem News-letters pelas vias electrónicas mais comuns.

Mas a realidade como a observo, resposta formativa de nível 4 e 5 insuficiente, conduziu-me para a auto-formação. Por exemplo, só sobre o principal inimigo das abelhas, o ácaro varroa, a minha aprendizagem de nível mais avançado foi feita no estrangeiro, mas em casa e à distância de um clique. No estrangeiro porque em Portugal muito pouco se publica! Se se quiserem dar ao trabalho, pesquisem por favor na net o quão pouco tem sido publicado acerca deste ácaro, de mais aprofundado e em português de Portugal. Esta falta de publicações reflecte o estado insuficiente da formação de nível avançado em Portugal? Seria estranho que não reflectisse!

Propostas de pesquisa de temas de nível avançado sobre o principal inimigo das abelhas:

  • Síndrome da parasitação/parasitose pelo ácaro varroa;
  • duração do tratamento do apivar;
  • importância do timing do tratamento contra a varroose;
  • ciclo de vida do varroa;
  • o vírus das asas deformadas;
  • onde se alimenta o varroa,
  • monitorização taxa de infestação varroa.

depois da convalescença um passeio pelo botânico de coimbra

Passados dez dias de convalescença de minha esposa, hoje pediu-me para a acompanhar num passeio pelo Jardim Botânico de Coimbra. Que bem que nos soube!

Ficam algumas fotos que fui tirando de alguns pormenores das árvores e plantas deste Jardim. A minha homenagem a todos os protectores e cuidadores deste Jardim, desde  Domingos VandelliAvelar Brotero (sec. XVIII) até à actualidade.

“é mesmo possível viver da apicultura?”

Um jovem apicultor, amigo e cliente, colocou-me ontem a questão do título da publicação. Hoje respondi-lhe: alguns conseguem viver da apicultura e outros não. Eventualmente este jovem, assim como outros, desejam uma resposta sim ou não. Mas essas respostas de sim ou não para aspectos complexos, que dependem de inúmeras variáveis, sendo sedutoras para quem as ouve porque fica com o assunto resolvido logo ali, e tentadoras para quem as dá porque reforçam o seu estatuto de autoridade e conhecimento, são na realidade respostas parvas (do étimo pequeno).

Por exemplo, hoje saí de casa depois de tomar o café e comer uma barrita de cereais, estavam a bater as 9h30 no relógio da torre. A manhã esteve relativamente fresca e o trabalho corria bem e, quando dei por mim, eram 13h10. Parei um pouco para reflectir se deveria continuar ou parar e fazer 15 km de regresso a casa para almoçar e retornar depois de almoço. Decidi continuar o trabalho e concluí-o por volta das 14h00. Contudo e como ainda faltava uma tarefa que tinha mesmo que fazer hoje noutro apiário, a cerca de 4 km de distância, decidi castigar um pouco mais o corpo e ir fazê-lo, antes de regressar a casa para almoçar. Terminei por lá por volta das 16h00. Regressei a casa e almocei por volta das 17h00. Voltei de novo a esses dois apiários já próximo das 18h00 e conclui a principal tarefa que hoje me comprometi fazer, seriam cerca das 19h45. Agora, que já estou em casa, dou comigo a pensar que este está longe de ter sido um dos dias duros, dos muitos que já tive na apicultura. Alturas houve em que os dias duros vinham em cachos de 5 ou 6 dias seguidos ao longo de 4 a 5 meses.

Voltando à questão: sim para alguns é possível viver da apicultura e, acredito, que o factor decisivo, como não poderia deixar de ser, é o humano, isto é, é a ética profissional, o conhecimento, o pragmatismo, a vontade de superação, a resiliência e, para mim a mais importante na apicultura, a paciência. Paciência para esperar pela natureza, porque quem toca a música é a natureza, o ritmo é marcado por ela.

Vista geral parcial do apiário que trabalhei hoje de manhã.
Vista geral parcial do apiário que trabalhei da parte da tarde.

Não acredito nos “mecânicos/melhoradores da genética” da natureza, não acredito nos “criadores” de naturezas exóticas alternativas. Acredito e admiro os “amadores” da natureza local, aqueles que pacientemente a prescrutam e, sem lhe alterar a génese, ou introduzir exotismos, se apercebem dos carreiros mais escondidos por onde devem fazer o seu caminho. Tenho para mim cada vez mais certo que o apicultor que quer viver da apicultura em Portugal mais tarde ou mais cedo vai confirmar aquilo que já confirmei há algum tempo: não é sobretudo uma questão de genética, é mais uma questão de maneio. Mesmo que isso implique adiar a hora do almoço!

os mais visitados em 2019

Ultrapassada, com o contributo inestimável do meu filho, uma dificuldade técnica que me impedia de aceder às estatísticas anuais dos posts mais visitados, ao número de visitas anuais e à caixa de comentários, venho finalmente repor a tradição de elencar os posts mais visitados no último ano (ainda que neste caso os valores incluam também os meses decorridos neste ano de 2020). Nos últimos 12 meses (abril de 2019 a abril de 2020) estão registadas quase 200 mil visitas (198462 visitas em rigor). Este valor, que me surpreendeu, deixa-me com uma certa tremedeira nos joelhos. Com o crescer do número de visitas cresce também a responsabilidade de partilhar coisas tão apaixonantes mas tão incertas e locais como é próprio da natureza das abelhas e da actividade apícola. Agradeço aos leitores e comentadores (a estes últimos peço desculpa e compreensão, pois só hoje, depois de ultrapassada a dificuldade referida em cima, fui capaz de publicar os comentários dos últimos meses, sempre muito bem-vindos e muito estimulantes) que são parte desta realidade. Aqui ficam os posts que mais visitas receberam.

10º mais visitado;

9º mais visitado;

8º mais visitado;

7º mais visitado;

6º mais visitado;

5º mais visitado;

4º mais visitado;

3º mais visitado;

2º mais visitado;

1º mais visitado.

as abelhas produzem… solo e água

Ainda na senda da minha intervenção na Mesa Redonda — A PAC pós 2020 — Perspectivas para o sector apícola, no XX Fórum Nacional de Apicultura, e a propósito da questão colocada, pelo jornalista do Observador, Paulo Ferreira, acerca das perspectivas que tenho da apicultura como uma actividade reconhecida como prestadora de serviços do ecossistema referi que as abelhas produzem… solo e água.

Praticamente todas as plantas que se reproduzem por sementes no mundo necessitam ser polinizadas. Entre estas estão muitas das plantas silvestres que crescem um pouco por todo o lado, nomeadamente nas encostas das nossas serras, e que sem a polinização levada a cabo pelos insectos, não se renovariam ou expandiriam.

As relações de interdependência entre o solo, a água e as plantas são mediadas pelos polinizadores. Estas relações podem descrever-se de forma sumária: as plantas com flores ajudam a purificar a água e impedir a erosão através de raízes que mantêm o solo no lugar e folhagens que amortecem o impacto da chuva quando ela cai na terra. O ciclo da água depende das plantas para devolver a humidade à atmosfera, e as plantas dependem de polinizadores para ajudá-las a reproduzirem-se.

Faixas de plantas nativas incorporadas nas pradarias

Um caso exemplar: As faixas de plantas na pradaria são uma prática de conservação que protege o solo e a água, enquanto fornece habitat para a vida selvagem. A equipe do STRIPS […] realiza pesquisas sobre faixas da pradaria há mais de dez anos e mostramos que a integração de pequenas faixas de pradaria em locais estratégicos nos campos de milho e soja — na forma de tiras de amortecimento de contorno em campo e tiras de filtragem nas bordas de campo — podem gerar grandes benefícios para o solo, a água e a biodiversidade. As faixas de pradaria fornecem esses benefícios em maior grau do que outros tipos de vegetação perene, devido à diversidade de espécies de plantas nativas incorporadas, seus sistemas radiculares profundos e multicamadas e seus caules rígidos que suportam chuvas fortes. A pesquisa STRIPS também mostra que as faixas de pradaria são uma das práticas de conservação agrícola mais acessíveis e ambientalmente benéficas disponíveis. Fonte: https://www.nrem.iastate.edu/research/STRIPS/content/what-are-prairie-strips

as abelhas produzem… carne de vaca

No seguimento do XX Fórum Nacional de Apicultura, que decorreu este ano na cidade de Viseu, onde tive o prazer e honra de participar na Mesa Redonda — A PAC pós 2020 — Perspectivas para o sector apícola, gostaria de aproveitar para aprofundar um pouco mais alguns aspectos que os limites de tempo, próprios destes eventos, não permitem.

Questionado, pelo jornalista do Observador, Paulo Ferreira, acerca das perspectivas que tenho da apicultura como uma actividade reconhecida como prestadora de serviços do ecossistema comecei por referir que as abelhas produzem… carne de vaca. Um facto verdadeiro ainda que estranho, mas um facto que se deve entranhar na consciência de todos, a começar nos apicultores, no sentido de reivindicar com argumentos fortes e racionais os apoios directos por colmeia, apoios justos e necessários, como defendeu o João Casaca da FNAP nessa mesma mesa redonda.

À pergunta qual é a colheita mais importante que necessita de ser polinizada por insectos? a melhor respostas não é a colheita de frutos ou vegetais de nosso consumo directo, mas sim a de alfafa. Sim, alfafa, não porque consumimos grandes quantidades dos seus brotos, mas porque o gado precisa desse alimento. A alfafa é designada por alguns como a rainha das forrageiras. Assim, sem alfafa a produção de carne e leite ficaria gravemente comprometida.

Flor de alfafa

Um caso exemplar: na Nova Zelândia, quando por lá se começou a cultivar alfafa para alimentar o gado introduzido no território, verificou-se que os poucos polinizadores nativos não eram atraídos por aquelas novas flores. Ano após ano, o feno crescia exuberantemente mas sem sementes. Os produtores de alfafa tiveram que recorrer à importação de algumas espécies de abelhas da Europa para reduzir as despesas na compra de sementes todos os anos. Assim, estas pequenas trabalhadoras salvaram o dia naquele país.