Apresento alguns excertos de um relatório disponibilizado pela FNAP, a que tive acesso muito recentemente. Numa primeira leitura deste relatório chamaram-me a atenção vários aspectos, dos quais destaco os que apresento em baixo.
“… as explorações com mais de 600 colónias detêm um volume de mão-de-obra total equivalente a uma atividade a tempo inteiro, correspondendo a um volume de trabalho aproximado equivalente a 3 indivíduos.
A análise do volume de mão-de-obra apícola por colónia (UTA/número de colónias), permite verificar que os apicultores não profissionais dedicam um maior tempo à atividade (em média despendem 0,006 UTA por colónia) que os apicultores profissionais (em média, 0,003 UTA por colónia), sendo a diferença estatisticamente significativa (valor de p = 0,015), sem que tal se reflita numa maior produtividade de mel por colónia, como se verá no capitulo seguinte.
Sendo a visita ao apiário uma componente fundamental do maneio apícola, os apicultores foram inquiridos relativamente a esta prática. Por norma, na Primavera/Verão, 49% dos apicultores visitam o apiário semanalmente, 15% visitam-no diariamente, 12% fazem-no 3 vezes por semana e 11% quinzenalmente. No Outono/Inverno, 41% dos apicultores visitam o apiário mensalmente, 33% visitam-no quinzenalmente e 15% semanalmente.” p. 26
“A análise […] permite observar que à medida que a percentagem de perdas diminui com o aumento da dimensão da exploração, verificando-se diferenças estatisticamente significativas, entre apicultores profissionais e não profissionais (valor de p = 0,013).
Analisando a percentagem de perdas geograficamente, verificou-se que a região Centro apresenta, em média, maior taxa de perdas por exploração (38 %), seguindo-se a região Sul (28%); na região Norte as perdas são de 26%. Contudo estas diferenças não são estatisticamente significativas.
Quando analisada a relação entre as percentagens de perdas e o associativismo, verifica-se que os apicultores não associados têm percentagens de perdas na ordem dos 50%, enquanto que para os apicultores associados, essas perdas são, em média, apenas de 27%. Porém esta diferença não é estatisticamente significativa, atendendo à variabilidade encontrada nos dois grupos.
Foram analisadas outras variáveis, como o tipo de maneio (número de visitas ao apiário, realização de análises às abelhas, realização de tratamentos contra a varroa e a alimentação artificial), a formação em apicultura, a idade e o nível de instrução do apicultor, não se tendo verificado que estas influenciassem, de forma estatisticamente significativa, a percentagem de perdas do efetivo.” p.30
“A maioria do mel em MPB comercializado a granel é efetuada através de intermediários (79% do mel) ou da cooperativa/agrupamento com cerca de 20%. Quanto ao mel em MPB embalado, os canais de venda assumem posições mais equitativas: as lojas especializadas (37% do mel), a venda direta a particulares (23%), o comércio tradicional (19%), os intermediários (14%), e por fim, as grandes superfícies e o canal HORECA, com peso de 3%. Os preços praticados são também bastante diferenciados. No caso do mel a granel, a cooperativa/agrupamento destaca-se pela negativa, com valores de 0,34€/kg abaixo dos praticados pelos intermediários. Quanto ao mel embalado, o canal Horeca e comércio tradicional praticam os preços mais favoráveis, sendo a venda a grandes superfícies a menos lucrativa com um diferencial máximo, em média, de 0,35€/kg.
Os baixos preços obtidos pelos apicultores que optam por escoar o mel através da cooperativa/agrupamento talvez explique o porquê da comercialização do mel ser feita essencialmente de forma individual (75% dos apicultores opta por esta forma de comercialização), e apenas em 15% dos casos de forma coletiva (4% dos produtores fazem-no das duas2 formas). A dificuldade na criação de uma rede de comercialização é frequentemente apontada como dos principais entraves ao desenvolvimento da atividade empresarial em Portugal, designadamente no setor agrícola.” p. 43
” O modelo 1 mostra que a idade do apicultor, o montante despendido com despesas de exploração, o número de anos de atividade certificada e a utilização de colmeia lusitana têm uma influência positiva, estatisticamente significativa, na produção de mel por colónia. Especificamente, um acréscimo unitário no número de anos do apicultor traduz-se num acréscimo de 0,16kg na produção de mel por colónia, mantendo todas as outras variáveis e o erro constantes. Da mesma forma, cada ano adicional de atividade certificada implica um acréscimo de 0,80kg na produção de mel por exploração. Estas variáveis refletem os benefícios da experiência adquirida, que permite aos apicultores aprender com a prática. Por outro lado, a diferença na produção de mel por colónia entre utilização de colmeia lusitana ou outro tipo de colmeia é de 3,1 kg, mantendo-se tudo o resto constante. Pelo contrário, a variável Colmeia_reversível mostrou ter uma influência negativa, estatisticamente significativa, sobre a produção de mel por colónia; sendo a diferença na produção de mel por colónia entre utilização de colmeia reversível ou outro tipo de colmeia de -3,7 kg, mantendo todas as outras variáveis e o erro constantes. Também o número de apiários tem um impacto negativo na produção de mel por colónia, traduzido num decréscimo de 0,40kg por cada acréscimo unitário no número de apiários, indicando a existência de um decréscimo na produtividade com o aumento da área geográfica da exploração.” p. 47-48