É alto, ventoso, abundante o território do apiário onde me entretenho no maneio na companhia de minha mulher.










blog de Apicultura
É alto, ventoso, abundante o território do apiário onde me entretenho no maneio na companhia de minha mulher.
Ontem, para o Marcelo Murta, que me veio ajudar, e para mim, o dia começou às 6h45m.
Por volta das 7h50 estávamos a entrar neste apiário de Lusitanas, território das flores com coração, para iniciar a cresta dos méis claros deste ano. O plano era crestarmos os sete sobreninhos lá presentes. Por volta das 9h10 estávamos de regresso a casa, com a carga que tinha sido planeado trazer. As imagens são do início desta cresta e extracção deste néctar prístino, intocado, que fluiu de forma natural e primitiva entre as abelhas.
A todos nós que iniciámos a cresta, ou a vamos iniciar, desejo uma boa cresta e colheita. Que o semeado ao longo de meses tenha agora correspondência no que colhemos.
Ontem, 28 de junho, fui ao meu apiário das lusitanas (a 600 m de altitude) aplicar o tratamento intermédio contra a varroa. Para tal tive de desmontar todas as colónias ali assentes para chegar ao ninho. Aproveitei a oportunidade para fotografar a intimidade da primeira colónia que desnudei.
Do topo para a base vou expor gradualmente a sua intimidade, despindo-a suave e prazerosamente.
Hoje, dia 26 de junho, à entrada do verão voltei às abelhas. Após quase 15 dias de férias, voltei! Por lá andei das 10h00 às 13h00, a fazer o maneio que me apeteceu fazer, que devia fazer e que não me cansou fazer; isto tudo num assento com cerca de 40 colónias, entre núcleos, colónias novas em desenvolvimento não dirigidas à produção e colónias orientadas para a produção. Para o final da tarde iremos às restantes 50 estacionadas neste apiário.
Em diversas situações o meu caminho, estratégia e maneio vai em sentido contrário ao saber estabelecido. Esta publicação serve para deixar explícito que estou muito consciente, que estou a par e conheço relativamente bem esse saber estabelecido. Serve ainda o propósito de afirmar que dar o primeiro passo para fora dessa zona de conforto, entrar numa zona onde a magia acontece, foi uma grande vitória pessoal. Foi em boa medida este o percurso que sustenta meu sucesso como apicultor; apicultor que vive exclusivamente da apicultura há mais de dez anos. E o meu sucesso dependeu e depende de duas coisas simples, ao alcance de todos: muita transpiração e alguma inspiração/imaginação.
Vejamos agora dois casos concretos que ilustram este caminho, várias vezes ao arrepio do saber estabelecido:
Hoje estava assim, de baixo a cima:
2. O caso dos núcleos doadores de quadros a colónias em produção: em baixo a ilustração da palmerização de um núcleo, que doa quadros com criação fechada às colónias em produção, ou a colónias com rainhas fecundadas muito recentemente.
Notas: As fotos são de ontem, 02.06.2021, tiradas em dois apiários situados a 600m de altitude.
É num território de marcavala, cheio de promessas, que estou a re-activar o meu quarto apiário. Foi neste local que tudo se iniciou para mim na apicultura e onde regresso sempre, mais ou menos por esta altura do ano.
Com as marcavalas (Echium lusitanicum) a iniciar a floração, só faltavam as abelhas para completar o trinómio território-abelhas-apicultor.
Hoje, a parte da manhã passei-a colocar as primeiras meias-alças sobre uma série de ninhos chegados recentemente ao território da marcavala.
Se as abelhas se querem saudáveis, o apicultor será o seu cuidador, já o território, esse, quer-se abundante.
Nada existe isoladamente, tudo se interliga e complementa e, neste jogo vital de interdependências, os ciclos sucedem-se.
No dia de ontem transitei entre os 4 apiários que tenho activos neste momento — na terça-feira re-activei o quarto.
E com este transito procuro acompanhar a transição entre o modo de enxameação reprodutiva, a terminar no território, e o modo de produção.
Para ilustrar a gestão que faço nesta época de transição, nada melhor que mostrar o que faço actualmente com colónias que me serviram para realizar desdobramentos pela técnica Doolittle — durante o período da enxameação reprodutiva.
Hoje a maioria dessas colónias permanece com a configuração ninho, excluidora de rainhas e sobreninho — com boa parte delas com uma meia-alça sobre o sobreninho.
A gestão da transição nestas colónias passa por um maneio simples: nos sobreninhos, onde antes colocava quadros com criação retirados do ninho da própria e/ou de outras colónias, coloco agora e de forma gradual quadros com cera laminada, que estão a ser puxados para as abelhas aí armazenarem o néctar recolhido.
E assim vou fazendo a minha apicultura, transitando ao ritmo das abelhas. E sinto-me bem a acompanhar este transito e este ritmo. As abelhas recentram-me como ser natural, impelindo-me e lembrando-me que tudo nelas é feito em ciclos de desenvolvimento anuais: primeiro há que fazer a prevenção e o controlo da enxameação, para depois, e só depois, pensar em orientar as colónias para o armazenamento de néctar e mel para crestar — no caso concreto destas colónias o armazém do néctar/mel tem a dimensão de um sobreninho. As abelhas — as minhas ao menos —antes de pensarem em armazenar para o inverno pensam em reproduzir-se. Levei anos para compreender, aceitar e, sobretudo, encontrar soluções para integrar este facto natural na abordagem global de maneio das minhas colónias de abelhas!
No passado dia 15, ao sacudir abelhas dos quadros para fazer desdobramentos, vi o néctar do futuro mel claro a escorrer generosamente dos quadros pela primeira vez este ano. O fluxo iniciou-se dentro da data prevista e, correndo tudo normalmente, vai manter-se durante os dois próximos meses, umas semanas mais intensamente outras menos, com origem em diversas florações.
Em baixo deixo imagens do padrão de postura das rainhas, de várias colónias que abri ontem para conformar à regra “não mais que seis”, e que tendo passado pela minha aprovação durante o último mês e meio para prosseguirem temporada adentro, se expressam nos quadros de ninhos Lusitana desbloqueados da forma que as fotos ilustram.
Com o início do fluxo é chegada a altura de ir convertendo gradualmente as colónias preparadas até aqui para doarem quadros com criação e abelhas para os desdobramentos, em colónias direccionadas para a produção de mel.
No passado dia 8 coloquei, no mesmo dia, um sobreninho e uma excluidora de rainhas numa colmeia do modelo Lusitana. O objectivo era configurar esta colónia de forma a utilizá-la esta semana para desdobramentos pela técnica Doolittle.
Nesse mesmo dia coloquei um quadro com criação fechada no sobreninho, transferido do ninho da mesma. Hoje fui encontrar o quadro com criação como a foto em baixo ilustra.
O meu erro foi ter “esticado a natureza”, isto é, ter pedido a uma colónia ainda que forte para aquecer de imediato um quadro com criação que estava no andar de cima e separado por uma excluidora. A meteorologia, com noites ainda abaixo do 8ºC, também não foi amiga — nem tem de ser, é o que é. De forma cristalina só posso afirmar que este maneio não foi prudente, que foi um erro!
Habitualmente o processo de preparação destas colónias passa por uma abordagem mais gradualista. Numa primeira fase do processo coloco o sobreninho apenas com quadros puxados vazios e/ou com ceras laminadas. Uma a duas semanas depois, caso a rainha tenha subido ao sobreninho para aí fazer postura — o que acontece frequentemente — confino-a ao ninho com recurso à excluidora, e deixo no sobreninho um ou dois quadros com criação da mesma. Só cumpridas estas etapas e observados estes pré-requisitos passo a utilizá-la para os desdobramentos pela técnica Doolittle. Este maneio é prudente e, na minha opinião, o correcto nesta altura do ano.
E foi assim que corrigi o erro. Noutra colónia confinei a rainha, que já andava em postura no sobreninho, ao ninho.
Lição re-aprendida: numa época do ano em que as temperaturas mínimas ainda podem descer abaixo do 8-10ºC, só nas colónias que naturalmente já subiram ao sobreninho e, preferencialmente, onde a rainha já ande em postura, devem ser utilizadas para este fim. Aprende Eduardo que eu não duro para sempre!