resistência aos acaricidas: alguns apontamentos e reflexões

Apontamentos

A resistência a pesticidas é um fenómeno que ocorre quando os organismos-alvo sobrevivem a doses ou concentrações de uma substância tóxica que anteriormente provocava níveis elevados de mortalidade. Os principais mecanismos de resistência hoje conhecidos incluem desintoxicação melhorada, insensibilidade do local-alvo e penetração cuticular reduzida.

Daqui decorre que para avaliar resistências seja indispensável conhecer/determinar um “valor-base de referência” da concentração necessária de uma determinada substância activa para que esta provoque elevados níveis de mortalidade em populações-alvo susceptíveis. Mais, é de todo desejável que se defina o que são níveis elevados de mortalidade na população-alvo.

No caso concreto dos pesticidas utilizados pelos apicultores para controlar as populações do varroa é uma tarefa complexa determinar com rigor se se está na presença de um fenómeno de resistência ao acaricida que se utilizou. Episodicamente há apicultores a testemunhar a baixa eficácia dos tratamentos, referindo com alguma frequência a possibilidade de resistências. Para termos uma noção da complexidade que envolve avaliar com o rigor necessário este fenómeno nada como analisar os protocolos utilizados na sua investigação.

Frank D. Rinkevich, um grande especialista na área (ver aqui excelente entrevista que deu), numa publicação recente dá-nos a conhecer um exemplo desse percurso/protocolo. Acerca da resistência ao amitraz e baixa eficácia do Apivar em alguns casos pontuais de operações apícolas profissionais nos EUA o autor sentiu, entre outros aspectos, a necessidade de apresentar uma definição funcional de resistência, e definiu-a assim: populações de varroa que apenas são susceptíveis a concentrações do amitraz 10 vezes superiores ao “valor-base de referência” e cuja eficácia do Apivar® é inferior a 80% podem ser classificadas como funcionalmente resistentes ao amitraz.

fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6968863/

Reflexões

Neste outro estudo de 2019, acerca da eficácia de tratamentos baseados no ácido fórmico, verificamos que dois dos três tratamentos avaliados apresentam uma eficácia inferior a 80%. Será um caso de varroas resistentes ao ácido fórmico? Aumentar em 10 vezes a dosagem do ácido fórmico está fora de questão porque as abelhas não iam sobreviver. De qualquer forma a resistência dos ácaros ao ácido fórmico, tanto quanto é do meu conhecimento, nunca foi rigorosamente testada com qualquer protocolo. Assume-se que a falta de eficácia dos tratamentos com fórmico não se pode dever à existência de varroas resistentes ao mesmo. Como esta hipótese não foi testada faltam evidências da resistência ao fórmico. A questão que me fica é se esta falta de evidências é uma evidência da falta de resistência? Não sei, não estou convencido, é um aspecto que na minha opinião merece mais estudo e menos partis pris!**

fonte: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00218839.2019.1656788

Nota: destes dois estudos, e sem querer tornar esta análise numa questão de tipo “clubístico”, noto que mesmo quando o Apivar é menos eficaz elimina os varroas numa percentagem semelhante ou até superior a dois dos tratamentos com fórmico.

** Neste aspecto estou bem acompanhado. Randy Oliver escreveu: “Tem sido frequentemente afirmado que os acaricidas naturais serão “sustentáveis”, isto é, que é improvável que o ácaro lhes desenvolva resistência. Eu não compro isso. Milani (2001) fala pelos biólogos quando afirma: “Não há razão para acreditar que o ácaro varroa não possa desenvolver resistência contra acaricidas de origem natural ou moléculas simples (por exemplo, ácido fórmico). Existem centenas de espécies de insetos e ácaros que se alimentam de plantas que contêm toxinas naturais. ”. fonte: http://scientificbeekeeping.com/the-arsenal-natural-treatments-part-1/

diz-me o que comes e VAD retro

Mantenho-me de olho na recuperação de colónias com abelhas afectadas pelo vírus das asas deformadas (VAD). O surgimento dos sintomas provocados pelos VAD estão geralmente associados a um nível elevado da infestação pelo ácaro varroa. E que nível será este? Estou convencido que este nível deverá situar-se entre os 6% e os 9% nas minhas abelhas. Na literatura são mencionadas situações episódicas de abelhas excepcionalmente tolerantes ao ácaro varroa, que com 10% a 12% de infestação não manifestam sintomas de VAD, ou no pólo oposto de VAD extremamente virulento que provoca sintomas em colónias com taxas de infestação pelo ácaro abaixo dos 3%. Não tenho capacidade de fazer medições directas (quem tem?) da virulência dos VAD presentes nas minhas colónias, mas pelos timings dos tratamentos e pelos hiatos de tempo entre tratamentos não estou convencido que tenha abelhas excepcionalmente tolerantes assim como não estou convencido que as populações de VAD presentes sejam extremamente virulentas.

Neste momento quero acreditar que as boas condições edafo-climáticas, com pólen a entrar generosamente e a ser prontamente convertido em pão-de-abelhas fresco pronto a ser consumido, estão a dar um importante contributo à superação deste estado doentio.

Arbustos de tágueda a 100 m do apiário.
Colónia com sintomas de VAD e com pão-de-abelha recém ensilado.

Este pólen natural, depois de transformado em pão-de-abelha e digerido, aumenta as defesas das abelhas fortalecendo o seu sistema imunitário ao nível individual e ao nível colectivo.Este é um dos aspectos que não devo deixar de valorizar e associar à melhoria dos padrões de compacticidade de criação em boa parte destas colónias.

Sobre os fundamentos científicos do conteúdo, apresentado informalmente nesta publicação, podem ver mais neste artigo com o título “Elucidando os mecanismos subjacentes aos efeitos benéficos do pólen na dieta de abelhas (Apis mellifera) infestadas por ectoparasitas ácaro Varroa” (fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-017-06488-2).

vespa mandarinia: primeiros dados da invasão na américa do norte

Título: Os primeiros relatos de Vespa mandarinia (Hymenoptera: Vespidae) na América do Norte dizem respeito a duas linhagens maternas distintas no estado de Washington, Estados Unidos, e na Colúmbia Britânica, Canadá

Sumário: “Em setembro de 2019, a destruição de um ninho de Vespa mandarinia Smith 1852 foi relatada pela primeira vez na América do Norte em Nanaimo, British Columbia, Canadá. Em dezembro de 2019, o Departamento de Agricultura do Estado de Washington também confirmou a primeira detecção de um espécime adulto de V. mandarinia nos Estados Unidos, no condado de Whatcom, Washington. A Vespa mandarinia é a maior da espécie das vespas e é um predador conhecido de vários insetos, incluindo a abelha melífera europeia (Apis mellifera, Hymenoptera, Apidae, Linnaeus, 1758). O estabelecimento de V. mandarinia na América do Norte representa uma séria ameaça à apicultura, e esta espécie foi considerada uma praga e accionou protocolos de quarentena. Aqui, descrevemos detalhes da primeira detecção desta espécie nos Estados Unidos e usamos dados da sequência genética obtidos de cinco espécimes em todo o mundo para estimar a origem das detecções canadianas e norte-americanas. […] Uma árvore de probabilidade […] sugere que as amostras do Canadá e dos EUA são de duas linhagens maternas separadas. Uma pesquisa em grande escala está em andamento para avaliar o nível de estabelecimento de vespas gigantes asiáticas em ambos os países e determinar a direção futura dos esforços de erradicação.”

fonte: Annals of the Entomological Society of America, XX(X), 2020, 1–5 doi: 10.1093/aesa/saaa024

Vespa mandarinia

Perspectivas de futuro: A acontecer a erradicação deste insecto invasor seria um feito nunca visto. A história diz-nos que nenhuma vespa social invasora foi alguma vez erradicada dos novos territórios colonizados (Beggs et al., 2011). À luz deste histórico deprimente o futuro não se afigura brilhante para os companheiros apicultores da américa do norte, que muito provavelmente irão ter de se conformar a viver com este insecto invasor e dar-lhe luta, como nós apicultores europeus o temos vindo a fazer com a Vespa velutina.

e se… 20% das colmeias tratadas ainda apresentarem abelhas com asas deformadas

Vamos imaginar este cenário: 20% das colmeias de dois apiários tratadas este ano (por exemplo 9 em 59), e supostamente a tempo, com um medicamento que se tem mostrado eficaz nos últimos anos, numa percentagem a rondar os 99% (menos de 1% das colónias morreu por varroose), apresentam a meio do período do tratamento várias abelhas com asas deformadas e uma ou outra jovem abelha a emergir moribunda do alvéolo.

Abelha moribunda a emergir do opérculo com o probóscide (língua) estirado e abelha com asas deformadas.

Vamos imaginar ainda este cenário: um amigo envia uma proposta de acção alternativa/correctiva, que decides experimentar nessas nove colónias.

Uma proposta de acção alternativa/correctiva!

Vamos ser imaginativos e criar mais este cenário: que estas 9 colónias venham a estar como as restantes 50, cheias de pão-de-abelha fresco e com criação saudável e compacta.

Pão-de-abelha fresco, ensilado recentemente, que se torna o motor da expansão de criação de abelhas de inverno muito saudáveis.
Criação compacta e aparentemente saudável.

A terminar não um cenário mas um desejo: num mundo próximo do ideal (o ideal seria o varroa nunca ter saído do território onde é autóctone) constar da lista dos medicamentos homologados um ou dois que entre outras coisas:

  • não sejam dependentes das temperaturas;
  • sejam de libertação lenta;
  • sejam de aplicação única e cubram 3 a 4 ciclos reprodutivos do varroa (40 a 50 dias);
  • sejam eficazes acima dos 90%;
  • não matem as jovens larvas numa altura em que é crítico ter o maior número possível de abelhas jovens a emergir até ao início de novembro;
  • não matem por vezes as rainhas;
  • apresentem substâncias activas suficientemente diferentes do medicamento mais eficaz que utilizamos frequentemente, para fazer a necessária rotação.

Nota: Alguns de nós, guiados pelo Randy Oliver, já transpuseram para a sua realidade estes aspectos que cenarizo. Muito sucesso para todos!

evidências sobre os benefícios para a saúde da inclusão do(a) própolis na dieta

Em 2019 foi publicado na revista Nutrients esta revisão dos estudos publicados entre 1990–2018 em torno das evidências sobre os benefícios para a saúde pelo consumo e/ou utilização do própolis.

“O(A) própolis é um produto com benefícios para a saúde já relatados, como melhoria da imunidade, redução da pressão arterial, tratamento de alergias e problemas de pele. Uma revisão da literatura e uma síntese foram efectuadas para investigar as evidências sobre os benefícios para a saúde relatados e a direção futura dos produtos com própolis. Usando uma estratégia de pesquisa predefinida, pesquisámos no Medline (OvidSP), Embase e Central quer estudos quantitativos quer qualitativos (1990–2018). Citação, referência, revisões manuais e consulta a especialistas também foram efectuadas. Estudos com ensaios clínicos randomizados (aleatórios) e dados da observação em humanos foram incluídos. […]. Um total de 63 publicações foram analisadas. A maioria foram estudos efectuados em células e em animais, com alguns testes realizados em humanos. Há dados muito significativos e prometedores do própolis enquanto agente antioxidante e anti-inflamatório eficaz, particularmente promissor na saúde cardiometabólica.

fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6893770/

As abelhas utilizam 0/a própolis para a defesa da cidade/colectividade, contra animais várias vezes maiores que elas, assim como contra microorganismos infecciosos, como os fungos e bactérias.

sobre o nível de formação apícola disponível em Portugal

Ontem, na Escola de Apicultura on-line, foi abordada ao de leve a questão do nível de formação apícola disponível em Portugal. Este é mais um tema que suscita uma diversidade de opiniões, geralmente balizadas entre dois pólos, de muito má a muito boa. Na minha opinião a formação inicial disponível em Portugal merece uma nota entre o suficiente e bom. Sobre a resposta formativa de nível avançado disponível no nosso país esta merece ser notada com um insuficiente. Passo a explicar um pouco mais a minha opinião com base na minha experiência, no que vou observando e ouvindo de outros e na minha reflexão, logo uma opinião sustentada em dados parcelares, incompletos, enviesados, como todas as opiniões. Disso não me livro!

Quando iniciei a minha apicultura fiz um curso de iniciação à apicultura que me foi útil. Recebi também ensinamentos do meu pai. Li várias dezenas de números do jornal As abelhas, onde escrevia um grande mestre, o Vasco Correia Paixão. Estive também presente em vários encontros, fóruns e palestras que contribuíram para a minha formação inicial. Lia com regularidade os blogues Monte do Mel e O Apicultor. Todo este trajecto de formação e auto-formação permitiram-me manter a minha operação apícola sustentável desde o seu início. Esta experiência de vida reforça em mim a ideia que a reposta formativa de nível 1, 2 e 3 é suficiente a boa em Portugal.

Contudo para aqueles que desejam fazer um aprofundamento sério e uma especialização dos seus conhecimentos, isto é receber formação de nível 4 e 5, para exercer a sua actividade profissional ou o seu hobby, a resposta formativa é insuficiente. Tanto quanto é do meu conhecimento apenas o Prof. Paulo Russo a ministra, contudo para o território português parece-me insuficiente por escassa e longínqua para muitos. Na minha opinião deveria existir uma estrutura formativa com 5 centros dedicados em Portugal (um a norte, outro no centro, outro no sul e um para cada um dos arquipélagos), apoiados num Centro de Investigação e Formação Apícola. Este Centro para além de coordenar e avaliar a investigação e formação feita em Portugal, teria a responsabilidade de manter na sua equipa formadores actualizados com o que de mais recente o estado-da-arte produziu. A equipa de formadores não teria de ser muito grande, mas sim de grande qualidade, com gente muito dedicada e com prática no terreno, por exemplo na manutenção de um apiário experimental. Esta equipa formativa deveria ser complementada por alguns poucos apicultores com vários anos de experiência no terreno com abelhas, e com um percurso revelador de um maneio bem sucedido ao longo de anos. Finalmente este Centro de Investigação e Formação Apícola deveria fazer chegar a casa dos apicultores que o desejassem News-letters pelas vias electrónicas mais comuns.

Mas a realidade como a observo, resposta formativa de nível 4 e 5 insuficiente, conduziu-me para a auto-formação. Por exemplo, só sobre o principal inimigo das abelhas, o ácaro varroa, a minha aprendizagem de nível mais avançado foi feita no estrangeiro, mas em casa e à distância de um clique. No estrangeiro porque em Portugal muito pouco se publica! Se se quiserem dar ao trabalho, pesquisem por favor na net o quão pouco tem sido publicado acerca deste ácaro, de mais aprofundado e em português de Portugal. Esta falta de publicações reflecte o estado insuficiente da formação de nível avançado em Portugal? Seria estranho que não reflectisse!

Propostas de pesquisa de temas de nível avançado sobre o principal inimigo das abelhas:

  • Síndrome da parasitação/parasitose pelo ácaro varroa;
  • duração do tratamento do apivar;
  • importância do timing do tratamento contra a varroose;
  • ciclo de vida do varroa;
  • o vírus das asas deformadas;
  • onde se alimenta o varroa,
  • monitorização taxa de infestação varroa.

o armazenamento das alças e meias-alças durante o inverno: a minha opção

Agradeço a um apicultor da velha guarda um dos melhores e mais úteis ensinamentos que ouvi ao longo destes poucos anos que levo de apicultura. Foi num encontro de apicultores em Seia, em 2010 ou 2011 e, para grande pena minha, nunca cheguei a saber o seu nome. Ouvi-o defender a ideia que para armazenar os quadros das alças ou meias-alças não podíamos armazenar quadros com pólen e devíamos deixá-los pendurados, numa estrutura dedicada, para entrar o ar e a luz. Assim, nestas condições, estes quadros não seriam atacados pela traça da cera.

Para a quantidade de quadros que já tinha para armazenar a preparação dessa estrutura dedicada para os pendurar pareceu-me inexequível. No entanto em 2012, não me tendo esquecido desta lição, e num daqueles poucos momentos “eureka” que vou tendo, decidi “inventar” um pouco e armazenar os quadros nas próprias meias-alças e alças, mas procurando ir ao encontro dos princípios básicos enunciados pelo generoso apicultor que ouvi em Seia: armazenar quadros sem pólen (ou muito pouco pólen) e dispor as caixas de forma a que entrasse a luz e o ar. Nesse ano de 2012 iniciei com sucesso até aos dias de hoje o armazenamento de meias-alças e algumas poucas alças, seguindo estas orientações. Armazeno-as nesta casa rústica a 900 m de altitude, bastante fria, ventosa e com ar pouco húmido, durante o inverno.

Os quadros que armazeno seguem o mais possível este padrão: quadros com cera clara e com muito pouco pólen ou pólen nenhum.

Quadro de ninho da Lusitana com os requisitos necessários para ser armazenado.
Quadro húmido, saído da sala de extracção, pronto a ser armazenado.

As meias-alças (alças meleiras) da Lusitana são sobrepostas em x, em pilhas de 8 a 10.

As meias-alças da Langstroth são sobrepostas em +.

O armazém está sempre iluminado e arejado, de acordo com as condições meteorológicas de cada dia.

Neste caso as janelas com vidros partidos são mais e não menos!

Esta opção para o controlo e prevenção da traça da cera durante o armazenamento, que já dei conta nesta publicação de 2016 (uns anos antes, 2013 ou 2014, já tinha tornado esta opção pública no fórum As Abelhas), fica agora reforçada com as fotografias.

Nota: as meias-alças húmidas saídas da extracção vêm directamente para esta casa-armazém; não as coloco em cima das colónias para serem limpas, dado que nesta casa as abelhas não as largam sem antes as limparem de todo o mel.

Poucos minutos após a chegada com a carga de alças húmidas, e ainda na carrinha, começam a ver-se as primeiras abelhas (as abelhas têm o sentido do olfacto mais apurado que os cães).

Reflexão: aos apicultores que optam por colocar as meias-alças húmidas em cima das colónias para serem limpas, e em zonas já colonizadas pela Vespa velutina, tenham em atenção se não estarão a, inadvertidamente, colocar a marca de alvo-a-atacar, nesse momento e nessa colónia. Sabemos que a Vespa velutina é atraída sobretudo pelos odores de mel e pólen emanados por uma colónia. Que aroma mais penetrante a mel existirá que o de uma meia-alça húmida, logo após a extracção, e colocada no topo de uma colónia de abelhas?

o processamento da cera de opérculos: a minha opção

O processamento da cera de opérculos era com frequência o ponto de estrangulamento no meu processo de extracção do mel. Mesmo naqueles anos em que extraí algumas dezenas de bidões de mel nunca dei o passo para a compra de uma máquina dedicada a esta operação. Nesses anos optei por externalizar parte do processo de extracção, socorrendo-me dos serviços de uma cooperativa da zona, e de forma inerente o processamento da cera de opérculos dos quadros lá extraídos.

Este ano, assim como nos anos em que optei por extrair a totalidade ou parte do mel na minha UPP, a opção escolhida para o processamento da cera de opérculos tem procurado rentabilizar os recursos que tenho disponíveis sem me empenhar em comprar maquinaria cara e que, eventualmente, avaria.

Assim, a cera dos opérculos, ainda parcialmente besuntada de mel, que retiro da tina de desoperculação…

… é colocada numas caixas largas e com pouca profundidade.

Estas caixas são levadas para uma casa rústica no interior da propriedade e a pouca distância do local onde está implantado o meu apiário preferido.

Como a casa na actualidade não é habitada, as janelas não estão nas melhores condições, apresentam alguns vidros partidos, mas este facto contribui para a entrada das abelhas na divisão onde armazeno as alças e meias alças e onde coloco temporariamente estas caixas com a cera dos opérculos.

As caixas com a cera dos opérculos são colocadas numa disposição que permita o acesso fácil das abelhas à mesma.

Passados poucos minutos estes opérculos começam a ser limpos do mel pelas abelhas do apiário.

Passados alguns dias estes opérculos estão completamente secos/limpos e em óptimas condições para serem encaminhados para a caldeira da cera.

Nota 1: nas duas ou três vezes em que procurei atalhar este processo, colocando as ceras dos opérculos retirados da tina e ainda besuntados com mel directamente na caldeira, reparei que sistematicamente a broa de cera resultante ficava muito “areada”, pouco aglomerada, o que me levou a intuir que o mel ainda presente contribuía para este desfecho que não me agradava.

Nota 2: por regra sempre fui relativamente espartano nas minhas compras de equipamento para a UPP. Se por um lado tinha muito pouca vontade de investir milhares de euros em maquinaria, por outro sempre temi ficar com o bebé nos braços ou por causa de uma avaria ou por causa de uma cessação abrupta da minha aventura apícola. Agora, com três vezes menos colmeias que há dois anos atrás, o equipamento que tenho é suficiente e acabaram-se os estrangulamentos no processo de extracção.

uma formulação em gel de ácido fórmico para o controle de ácaros (varroa e traqueia) em abelhas melíferas

Estudos com alguns anos e que, muito provavelmente, terão servido de ensaios percursores e inspiradores ao desenvolvimento do MAQS e outros tratamentos de gel com ácido fórmico. Medicamentos para a varroose com eficácia inferior a 90% creio que poderão ser homologados pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), mas com a orientação para o aplicador dever acompanhar o tratamento com outras medidas de gestão integrada de pestes*.

“Uma formulação de gel de ácido fórmico a 65% e um sistema de veiculação, conhecido como pacote de gel de ácido fórmico Beltsville (BFA), foram desenvolvidos para controlar ácaros parasitas de abelhas. As concentrações de ácido fórmico em aplicações únicas de pacotes de gel BFA foram em média de 10-50 ppm dentro da colmeia, o que igualou ou excedeu os níveis de ácido fórmico obtidos por quatro aplicações líquidas sucessivas. Num estudo de campo da Primavera, uma única aplicação de pacotes de gel de BFA foi cerca de 70% eficaz no controle do Varroa jacobsoni, quando avaliados por tratamentos de acompanhamento com Apistan®. Em estudos com abelhas enjauladas, o controle do ácaro da traqueia, Acarapis woodi, aproximou-se de 100% ao oitavo dia. O pacote de gel de BFA é mais seguro de manusear do que o ácido fórmico líquido e, devido à sua liberação mais lenta, requer menos aplicações do que seu equivalente líquido. A eficácia contra o Varroa e ácaros da traqueia deve encorajar o uso de pacotes de gel BFA num programa geral para controlar os ácaros (varroa e/ou traqueia) que parasitam as abelhas.”

fonte: https://www.researchgate.net/publication/287849856_A_Gel_Formulation_of_Formic_Acid_for_the_Control_of_Parasitic_Mites_of_Honey_Bees

Um segundo estudo, agora com uma formulação com uma concentração de ácido fórmico a 85% obteve uma taxa de eficácia semelhante.

“Duas formulações de um gel à base de amido contendo 85% de ácido fórmico foram avaliadas para controlar o Varroa destructor em colmeias de abelhas. […] A eficácia média na redução da população Varroa foi de cerca de 73%.

fonte: https://www.researchgate.net/publication/273259562_A_gel_formulation_of_formic_acid_for_control_of_Varroa_destructor

* À luz do que é feito na ficha técnica do Varromed:

4.4 Advertências especiais para cada espécie-alvo: VarroMed só deve ser usado como parte de um programa de controle integrado do Varroa. A eficácia foi investigada apenas em colmeias com taxas de infestação de ácaros baixas a moderadas.”

fonte: https://ec.europa.eu/health/documents/community-register/2017/20170202136456/anx_136456_en.pdf

a solução de um caso concreto de uma colónia com pms

Hoje a chegada ao apiário, onde localizei ontem uma colónia com sinais inequívocos de PMS, foi anunciada novamente pelo levantar voo da comunidade de abelharucos que por ali está instalada. Já os começo a ver com alguma simpatia e até esperança de que possam estar a contribuir para as zero velutinas que vi este ano nos meus apiários.

O que me levou ao apiário não foi contudo a intenção de observar as acrobacias aéreas dos abelharucos. Fui solucionar, o mais rapidamente possível, o caso da colónia com PMS.

Desta colónia, retirei 8 quadros com reservas que não apresentavam criação absolutamente nenhuma e coloquei esses quadros valiosos numa colmeia armazém deste apiário depois de sacudidas todas as abelhas.

A colónia doente, que ficou apenas com os dois quadros que apresentavam criação e respectivas abelhas, foi fechada e retirada do apiário.

Foi transportada para minha casa e colocada num cantinho da horta. Para eliminar as abelhas decidi introduzir água com detergente pelo óculo da prancheta.

Esta foi a solução que achei ser a melhor para este caso concreto de uma colónia já demasiado fragilizada pelo PMS, com uma população de abelhas que não chega para cobrir as duas faces de um quadro e muitas delas doentes pelas viroses, em particular o VAD.

Caso esta colónia tivesse mais abelhas e caso o PMS não estivesse tão avançado, muito provavelmente teria sido tentado a retratar e fazer um esforço mais para a apoiar . Não sendo isso o que vi, decidi retirá-la com a máxima urgência do apiário e eliminar este super-organismo moribundo, como recomenda qualquer manual de boas práticas da pecuária.

Conto em breve, e com um pouco mais de tempo, voltar ao caso desta colónia, que por ser único nos meus apiários nos últimos anos, pretendo aprofundar um pouco mais, agora na perspectiva da formulação de 3 ou 4 hipóteses alternativas que possam explicar as causas deste conjunto infeliz de eventos.