mel: uma alternativa natural e dietética para o tratamento de doenças cardiovasculares

Publicado em 2020, o artigo Cardioprotective Effects of Honey and Its Constituent: An Evidence-Based Review of Laboratory Studies and Clinical Trials (Efeitos cardioprotetores do mel e seus constituintes: uma revisão baseada em evidências de estudos laboratoriais e ensaios clínicos) apresenta uma revisão da literatura na área. Os artigos de revisão são importantes porque apresentam uma visão holística do conhecimento científico mais relevante produzido num determinado período — últimos 60 anos neste estudo — e o relativo consenso alcançado pela comunidade científica numa determinada área de estudo — no presente caso os efeitos cardioprotetores do mel e seus constituintes.

Foto da minha cresta de 2021.

Resumo:
A doença cardiovascular é um grande problema de saúde pública em todo o mundo. O enfarte do miocárdio é a forma mais comum de doença cardiovascular resultante do baixo suprimento de sangue ao coração. Pode levar a outras complicações, como arritmia cardíaca, acúmulo de metabolitos tóxicos e áreas de enfarte permanente. O mel é um dos remédios medicinais mais apreciados desde a antiguidade. Há evidências que indicam que o mel pode funcionar como um agente cardioprotetor em doenças cardiovasculares. A presente revisão compila e discute as evidências disponíveis sobre o efeito do mel nas doenças cardiovasculares. Três bancos de dados eletrónicos, PubMed, Scopus e MEDLINE via EBSCOhost, foram pesquisados. O período estudado vai de janeiro de 1959 a março de 2020 e visou identificar relatórios sobre o efeito cardioprotetor do mel. Com base nos critérios de elegibilidade pré-estabelecidos, 25 artigos qualificados foram selecionados e discutidos nesta revisão. O mel investigado nos estudos incluiu variedades de acordo com sua origem geográfica. O mel protege o coração através da melhoria do metabolismo lipídico, actividade antioxidante, modulação da pressão arterial, restauração dos batimentos cardíacos, redução da área de enfarte do miocárdio, propriedades antienvelhecimento e atenuação da apoptose celular. Esta revisão estabelece o mel como um potencial candidato a ser mais explorado como uma alternativa natural e dietética para o tratamento de doenças cardiovasculares.

fonte: https://www.mdpi.com/1660-4601/17/10/3613

Foto da minha cresta de 2021.

Nota: em Portugal o consumo per capita anual de mel situa-se entre os 700-800 grs. Os nutricionistas recomendam o consumo equivalente a uma colher de sopa diariamente. Enquanto apicultores cabe-nos também passar a mensagem que o consumo de mel deve ser frequente, ao longo do ano, não apenas na época das gripes, porque os seus benefícios são muito mais alargados do que apenas desinfectarem as vias aéreas superiores. Passem a referir que também faz bem ao coração, porque não estão a exagerar nem um bocadinho!

nosemose: os efeitos de Honey-B-Healthy®, Nozevit Plus e HiveAlive®

Entre outros alegados efeitos positivos dos três suplementos alimentares identificados no título é referido que podem ser utilizados como alternativa à Fumagilina-B no tratamento da Nosema apis e Nosema ceranae. Surpreendentemente, ou nem por isso (ver aqui), no estudo referenciado nesta publicação não se verificaram os efeitos positivos esperados na diminuição dos microsporídeos da nosema (apis e ceranae) com a utilização do Honey-B-Healthy®, Nozevit Plus e HiveAlive®.

Título: Evaluating the Efficacy of Common Treatments Used for Vairimorpha (Nosema) spp. Control (2023)

Sumário:
Vairimorpha (anteriormente Nosema) apis e V. ceranae são patógenos microesporidianos que são motivo de preocupação para colónias de abelhas domésticas. Múltiplos tratamentos têm sido propostos como eficazes na redução da prevalência e intensidade de Vairimorpha spp. infecções. Aqui, testamos a eficácia desses produtos numa experiência de laboratório e três experiências de campo. Na experiência de laboratório, não encontramos reduções na prevalência de Vairimorpha spp. (proporção de indivíduos infectados com Vairimorpha spp.) ou intensidade (número de esporos de Vairimorpha spp. por indivíduo), mas encontramos uma diminuição na sobrevivência das abelhas após o tratamento com Fumagilin-B, Honey-B-Healthy® e Nozevit Plus. A primeira experiência de campo mostrou aumento da intensidade de Vairimorpha spp. em colónias tratadas com Fumagilin-B e HiveAlive® em comparação com um controle negativo (somente xarope de sacarose). A segunda experiência de campo mostrou uma fraca redução de intensidade de Vairimorpha spp. 3 semanas após o tratamento com Fumagilin-B em comparação com Nozevit. No entanto, a intensidade de Vairimorpha spp. voltou a níveis comparáveis ​​aos de outros grupos de tratamento 5 semanas após o tratamento e permaneceu semelhante aos de outros grupos durante a experiência. O teste de campo final não mostrou efeitos positivos ou negativos do tratamento com Fumagilin-B ou Nosevit na prevalência e intensidade da Vairimorpha spp. Estes dados levantam questões sobre a eficácia dos produtos atualmente usados ​​pelos apicultores para controlar Vairimorpha spp.

Discussão dos resultados: “Embora a fumagilina e outros tratamentos destinados a reduzir Vairimorpha spp. se tenham mostrado eficazes em certas circunstâncias, existem muitos fatores que podem afetar a capacidade de resposta das colónias aos tratamentos. Com base nos dados aqui descritos, não é possível recomendar um tratamento específico em detrimento de outro para o controle da Vairimorpha spp.; em vez disso, recomendamos melhorar a saúde da colónia e reduzir a pressão de pragas para garantir que as colónias não sejam afetadas por vários stressores. […] Além disso, pesquisas futuras podem explorar mais como alguns produtos funcionam de forma preventiva, em vez de como um de tratamento, como o uso de própolis como tratamento preventivo para Vairimorpha spp.. Outros tratamentos preventivos que levem em conta a sazonalidade da Vairimorpha spp. também podem revelar-se eficazes. Essas informações seriam valiosas para pesquisadores e apicultores.”

fonte: https://www.mdpi.com/2076-3417/13/3/1303

Notas: 1) Algumas espécies de microsporídios do género Nosema (o caso apis e ceranae) foram recentemente incluídas no género Vairimorpha com base em estudos recentes baseados na filogenética molecular.

2) Os dados recolhidos das experiências em laboratório e das experiências em campo não confirmaram o efeito curativo para a Nosema dos produtos comercializados identificados no título. Verificaram a sazonalidade da doença, com pico à entrada da primavera, e o decréscimo natural dos microesporídeos daí em diante, associado ao consumo de pólen natural pelas abelhas. Por essa razão não recomendam nenhum tratamento específico, recomendam antes reduzir a pressão das pragas, a varroa e os vírus sobretudo acrescento eu.

3) Uma esperança no horizonte para a prevenção das infecções por Nosema é o própolis. Como sabemos a nossa abelha ibérica é uma abelha propolizadora o que lhe pode dar alguma vantagem em relação a raças menos propolizadoras. Ao contrário as abelhas melíferas presentes no sub-continente norte-americano, onde se realizou o estudo, foram seleccionadas ao longo dos dois últimos séculos para propolizarem muito pouco. De há uns anos para cá a comunidade científica desses países (EUA e Canadá) e os apicultores mais informados estão a re-direcionar a selecção para abelhas mais propolizadoras e construção de colmeias com paredes interiores mais rugosas como forma de estimulação da propolização.

a exposição a agroquímicos na cera laminada causa efeitos insignificantes no crescimento e na sobrevivência no inverno de colónias de abelhas melíferas (Apis mellifera)

As investigações levadas a cabo em abelhas são realizadas em diversos tipos de ambientes. Dos menos naturais aos mais naturais temos, respectivamente: in silico; em laboratório; quasi-campo; em campo. Por vezes os investigadores utilizam uma abordagem híbrida, por ex. com investigação em laboratório e no campo. Deixo em baixo a tradução do sumário de um estudo publicado em 2019, onde a avaliação do impacto de resíduos de químicos de actividades agrícolas e acaricidas nas lâminas de cera foi feita em colónias reais no campo, comprovando uma vez mais que os resultados de campo não replicam resultados laboratoriais.

O uso generalizado de agroquímicos nos EUA levou à contaminação quase universal de cera de abelha em colmeias de abelhas. Os agroquímicos mais comumente encontrados na cera incluem acaricidas aplicados por apicultores contendo tau-fluvalinato, cumafos ou amitraz, e pesticidas aplicados em campo contendo clorotalonil ou clorpirifos. A cera contaminada com esses pesticidas afeta negativamente a qualidade reprodutiva de rainhas e zângãos. No entanto, os efeitos sinérgicos desses pesticidas no crescimento e sobrevivência de colónias jovens permanecem pouco estudados. Estabelecemos novas colónias usando lâminas de cera livre de pesticidas ou contaminadas com concentrações relevantes de campo de amitraz isolado, uma combinação de tau-fluvalinato e cumafos ou uma combinação de clorotalonil e clorpirifos. O crescimento da colónia foi avaliado pela estimativa da produção de favo e criação, armazenamento de alimentos e população de abelhas adultas durante a primeira temporada de uma colónia. Também medimos a sobrevivência de hibernação da colónia. Não encontrámos diferenças significativas no crescimento ou sobrevivência das colónias entre colónias estabelecidas em lâminas de cera livre de pesticidas versus contaminadas com pesticidas. No entanto, as colónias que tinham níveis de Varroa destructor acima de 3% no outono eram mais propensas a morrer durante o inverno do que aquelas com níveis abaixo desse limite, indicando que a alta infestação de Varroa no outono desempenhou um papel mais importante do que a exposição inicial a pesticidas nas lâminas de cera na sobrevivência no inverno de colónias recém-estabelecidas.

fonte: https://www.mdpi.com/2075-4450/10/1/19

Na Austrália, até recentemente livre da varroa, não me recordo de alguma vez ter lido notícias acerca do Colony Colapse Disorder (CCD) que afectou a Europa e os EUA, ainda que por lá os agricultores também utilizem pesticidas. Como explicar ainda que na mesma zona, apicultores vizinhos, uns tenham mortalidade invernal de +50% das colónias e outros inferior a 5%. Se é verdade que nem toda a mortalidade de colónias de abelhas se deve à varroa, também é verdade que os resíduos químicos presentes nas ceras são pequenos responsáveis pelo definhamento de colónias no grande quadro das coisas.

a longevidade das abelhas caiu para metade nos últimos cinquenta anos?

Neste artigo de divulgação científica o título afirma que a longevidade média das abelhas caiu para metades nos últimos cinquenta anos.

As conclusões deste queda para metade na duração média de vida das abelhas são retiradas através da comparação da longevidade de vida de abelhas testada em laboratório nos anos 70 do século passado com a longevidade testada recentemente por entomólogos da Universidade de Maryland. Afirma-se que a média de vida caiu de 34,3 dias (dados dos estudos levados a cabo nos anos 70) para 17,7 dias (dados do recente estudo).

Contudo estas conclusões devem ser consideradas com uma boa dose de prudente cepticismo por diversas razões, entre as quais destaco:

  • Se as conclusões forem corretas, isto não se teria refletido tanto no tamanho das nossas colónias assim como na média de produção de mel ao longo dos últimos 50 anos, isto é, actualmente as colónias não seriam muito menos populosas e, portanto, muito menos produtivas? Randy Oliver refere: “Se as abelhas vivessem apenas metade do tempo, teríamos definitivamente notado a enorme diminuição no tamanho das colónias”;
  • as abelhas enjauladas nos testes em laboratório não vivem tanto quanto as abelhas numa colmeia no campo e em condições reais. Será prudente assumir que estas conclusões não se aplicam tal e qual a abelhas em colmeias assentes nos apiários e em condições reais;
  • a enorme diferença pode ser provocada por diferenças entre os protocolos experimentais seguidos nos anos 70 e os seguidos actualmente, em particular no que concerne ao tipo de alimentação e ingredientes utilizados, que como sabemos têm um grande impacto na longevidade das abelhas;
  • ainda sobre a importância dos protocolos experimentais utilizados quando se avalia a longevidade das abelhas enjauladas, um investigador canadiano, Jerry Bromenshenk, faz o seguinte relato: “Identificámos um problema de longevidade nos últimos anos, mas atribuo isso às gaiolas que usamos. No início, construí pequenas gaiolas de madeira com laterais em rede. Depois passei a usar copos de sorvete pequenos e usei-os durante anos. No entanto, na última vez que fizemos testes em gaiolas, notamos perda de abelhas após cerca de 10 dias. Antigamente, os copos de sorvete que utilizávamos como gaiolas eram feitas de papel encerado. Os copos de sorvete modernos, pelo menos as que encontramos localmente, ou são completamente em plástico ou possuem algum tipo de revestimento plástico. As abelhas nestes copos morreram num espaço de duas semanas. Quando voltamos a utilizar gaiolas de madeira e rede a longevidade aumentou novamente, voltando ao esperado.” Nesta experiência actual levada a cabo pelos entomólogos da Universidade de Maryland as gaiolas utilizadas são de plástico;
  • Peter Borst, apicultor e divulgador da ciência apícola, escreve: “Há uma relação positiva entre a população de abelhas nas gaiolas e a expectativa de vida média … Isso pode ser um artefacto dos dados, sabendo que as experiências na década de 1970 usavam populações maiores, logo promoviam uma vida mais longa das abelhas.”;
  • Novamente Peter Borst: “Moffett et al. (1958) nos Estados Unidos relataram que observaram aumento da longevidade em abelhas adultas engaioladas alimentadas com pequenas doses de penicelina, tetraciclina ou eritromicina… em abelhas recém-emergidas. A alimentação com antibióticos para abelhas estava omnipresente na década de 1970 e, actualmente, não é permitido alimentar abelhas saudáveis com antibióticos.”;
  • Ainda Peter Borst: “Um trabalho de investigação recente de Jay Evans (2009) afirma: realizámos várias centenas de testes com abelhas adultas apenas em água com açúcar, com uma sobrevivência média de 36 dias e um máximo de 60+ dias”.

Na minha opinião não me surpreende que as abelhas tenham a sua longevidade diminuída por via de vários factores, dos quais destaco a presença mais intensa e ubíqua dos vírus transmitidos pelo varroa nos dias de hoje. Contudo tenho muitas dúvidas que as abelhas tenham sofrido uma queda para metade da sua longevidade nos últimos 50 anos. Ao longo dos meus 13 anos de apicultura não me apercebi de um declínio notável na população das minhas colónias, que teria sido enorme e observável a olho nú caso esta redução de longevidade se tivesse vindo a concretizar.

Sobre o processo de simplificação desde o conteúdo do artigo científico até à sua “interpretação” pela comunicação/redes sociais.

comparação entre a eficácia e a sensibilidade de duas técnicas de avaliação da taxa de infestação por varroa em abelhas adultas

Todos pretendemos que as técnicas que utilizamos para avaliar a taxa de infestação por varroa em abelhas adultas sejam muito precisas, não dêem falsos negativos e contribuam para melhorar as nossas tomadas de decisão acerca da necessidade de tratar e em que momento tratar. Como podemos ver os resultados mais confiáveis para avaliar a taxa de infestação em abelhas adultas são alcançados com a utilização de água com sabão/detergente quando comparados com os obtidos através de outra técnica submetida a avaliação, a polvilhação de abelhas com açúcar de pasteleiro.

Detergente limpa vidros, o detergente que prefiro utilizar pata testar a taxa de infestação em abelhas adultas.

Sumário: A infestação de colónias causada por Varroa destructor é uma grande preocupação na indústria apícola, pois muitas vezes resulta em perdas de produção e redução da sobrevivência das colónias. Ao longo dos anos, vários métodos de diagnóstico foram desenvolvidos para estimar os níveis de infestação de Varroa em uma colónia, sendo a Lavagem com Água com Sabão (SWW) e o Sugar Shake (SS) [polvilhação de abelhas com açúcar de pasteleiro] os métodos mais utilizados. No entanto, a eficácia e a sensibilidade deste último permanecem obscuras. Isso representa um risco potencial para os apicultores que usam SS [polvilhação de abelhas com açúcar de pasteleiro], pois pode levá-los a subestimar o nível de infestação de suas colónias, potencialmente retardando a aplicação do tratamento. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia e sensibilidade do SS em comparação ao SWW “padrão ouro”, para a detecção de V. destructor em abelhas adultas. Noventa e nove amostras foram coletadas e divididas em 3 grupos de acordo com a taxa de infestação (IR): baixa (<3%); médio (3,01-5,0%); e alta (≥5,01%). Verificou-se que os métodos SS e SWW apresentaram 76,6% e 100% de eficácia na remoção do ácaro, respectivamente (p< 0,05). A sensibilidade do SS foi menor em relação ao SWW. Em amostras com IR baixo, 5 delas resultaram em falsos negativos e 23 tiveram IR mal estimado. Isso não ocorreu em amostras com IR médio ou alto. Nossos resultados sugerem que o método SS é menos eficiente na detecção e remoção de ácaros foréticos em amostras de abelhas adultas, o que pode subestimar os níveis de infestação de Varroa, especialmente quando o número de ácaros é baixo.

fonte: http://revistas.udec.cl/index.php/chjaas/article/view/7446/6756

Abelhas polvilhadas com açúcar de pasteleiro para avaliar a taxa de infestação por varroa.

tratar ou não de acordo com o recomendado: resultados

Um estudo suiço muito interessante avaliou os resultados obtidos no controlo dos ácaros Varroa num grupo de 30 apicultores, ao longo de dois anos e num total de 300 colónias, em função do grau de adesão destes apicultores ao regime recomendado. Como relatam os autores: “Inscrevemos 30 apicultores num estudo longitudinal em três cantões da Suíça e monitorámos o maneio e a saúde de suas colónias durante dois anos. Avaliámos o cumprimento das recomendações de controle de ácaros e medimos as taxas de infestação de V. destructor, índices de produtividade das colónias (tamanho do ninho e colheita de mel) e mortalidade de colónias em 300 colónias.

Vejamos primeiro qual é o regime recomendado: “Na Suíça, o regime de tratamento recomendado do V. destructor inclui três aplicações de acaricidas. A primeira aplicação de ácido fórmico imediatamente após a colheita do mel, entre 25 de julho e 10 de agosto, utiliza dispensadores de longa duração. Recomenda-se uma segunda aplicação entre 25 de agosto e 15 de setembro. Entre novembro e dezembro, quando as colónias param a criação, recomenda-se a aplicação de ácido oxálico. Se mais de cinco ácaros caírem por dia no fundo das colmeias quatro semanas após este tratamento, é necessária uma segunda aplicação de ácido oxálico (Apiservice, 2021). Vários dispensadores de ácido fórmico estão disponíveis no mercado suíço [Apidea, FAM, Liebig, MAQS ou Nassenheder PRO (Apiservice, 2021)]. Esses modelos apresentam eficácia semelhante (Imdorf et al., 2003), e os apicultores participantes eram livres para usar qualquer um deles. Da mesma forma, vários modos de aplicação de ácido oxálico igualmente eficazes estão disponíveis [pulverização, gotejamento ou sublimação (Rosenkranz et al., 2010; van der Steen e Vejsnæs, 2021)], e os apicultores também eram livres para escolher seu modo preferido.

Vejamos os critérios utilizados para classificar os apicultores de acordo com a sua adesão ao regime recomendado: “O número e o momento das aplicações de tratamento foram usados para determinar as categorias de conformidade. A categoria “conforme” incluiu apicultores que seguiram corretamente o conceito de controle (ou seja, que aplicaram o número correto de tratamentos no momento apropriado). A categoria “quase conforme” agrupou os apicultores que aplicaram o número necessário de tratamentos, mas em momentos inadequados. A categoria “não conforme” caracterizou os apicultores que aplicaram menos tratamentos do que o recomendado.

Os resultados observados durante os dois anos deste estudo longitudinal foram assim descritos pelos autores: “Observamos um aumento de 10 vezes no risco de morte da colónia quando os apicultores se desviaram ligeiramente do regime de tratamento recomendado em comparação com os apicultores que seguiram escrupulosamente o regime recomendado. O risco de morte da colónia aumentou 25 vezes em apiários com desvios substanciais das recomendações. Os desvios levaram ao aumento dos níveis de infestação de V. destructor antes do inverno, o que provavelmente foi responsável pela mortalidade da colónia. Após comunicar aos apicultores a aparente ligação entre baixa adesão e baixa sobrevivência da colónia no final do primeiro ano, observamos melhor adesão e sobrevivência das colónias no segundo ano.

Os dados (vale a pena olhar para eles com atenção):

O que retiro de essencial destes dados:

  • os apicultores que fizeram menos que os três tratamentos recomendados tiveram uma taxa de mortalidade de 55% do seu efectivo;
  • ao longo de 12 meses é necessário um regime de três tratamentos, mínimo, para manter um nível elevado de controlo da infestação pelo Varroa, isto mesmo quando são utilizados acaricidas para os quais não se conhecem ácaros resistentes (caso do fórmico e do oxálico);
  • os apicultores que fizeram os três tratamentos recomendados mas em momentos inadequados (atrasaram o segundo tratamento com o fórmico) tiveram uma taxa de mortalidade de 20% do seu efectivo;
  • mesmo quando se utiliza um regime de três tratamentos o timing em que os mesmos são realizados são determinantes para a sua eficácia;
  • os apicultores que seguiram rigorosamente o regime de três tratamentos preconizados e no timing preconizado tiveram uma taxa de mortalidade de 2% do seu efectivo;
  • o grau de adesão a um determinado regime de tratamento, desde que este esteja bem desenhado, é determinante de uma apicultura bem sucedida.

fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0034528821003696

avaliação da vaporização repetida de ácido oxálico em colónias de abelhas (Hymenoptera: Apidae) para controle do ácaro ectoparasitário Varroa destructor

Há 6 anos atrás, no pico da moda da utilização de vaporizadores de ácido oxálico nos EUA, fiz esta publicação com um relato de um apicultor norte-americano sobre uma experiência menos bem sucedida no controlo da varroose com recurso à vaporização de ácido oxálico. Hoje, esta publicação traduz o sumário dos resultados da avaliação conduzida por Jennifer Berry e colegas relativa à eficácia de um programa de vaporização de ácido oxálico aplicado 7 vezes com intervalos de 5 dias entre aplicações e em colónias com criação operculada presente.

Nos últimos 18 anos, Jennifer Berry tem desenvolvido trabalho de pesquisa apícola e é responsável pela gestão do Laboratório Apícola da Universidade da Geórgia. Seus objetivos de pesquisa estão focados na melhoria da saúde das abelhas, os efeitos sub-letais de pesticidas em insetos benéficos e técnicas de Gestão Integrada de Pragas para controlo de varroa e pequenos besouros das colmeias.

Sumário: A indústria apícola americana experimenta continuamente a mortalidade das colónias com perdas anuais de até 43%. Uma das principais causas disso é o ácaro exótico e ectoparasita Varroa destructor Anderson & Trueman (Mesostigmata: Varroidae). As opções de Gestão Integrada de Pragas (IPM) são usadas para evitar que as populações de ácaros atinjam níveis letais, no entanto, devido à resistência e/ou à falta de opções de tratamento adequadas, novos controlos para reduzir os ácaros são utilizados. O ácido oxálico para controlar o V. destructor tornou-se uma opção de tratamento popular entre os apicultores comerciais/profissionais e de quintal/amadores. A aplicação de ácido oxálico vaporizado no interior de uma colmeia de abelhas é um método de aplicação legal nos EUA e resulta na morte dos ácaros expostos. No entanto, se os ácaros estão em fase reprodutiva e, portanto, sob a proteção da cera dos opérculos, o ácido oxálico é ineficaz. Um programa popular de aplicação de oxálico é vaporizar várias vezes ao longo de várias semanas para tentar contornar o problema dos ácaros escondidos nos alvéolos operculados com criação. Ao comparar com colónias de controle, testamos a vaporização de ácido oxálico em colónias submetidas a sete aplicações separadas por 5 d (35 dias no total). Testamos em apiários na Geórgia e no Alabama durante 2019 e 2020, totalizando 99 colónias. Descobrimos que as abelhas adultas Linnaeus (Hymenoptera: Apidae) e a criação em desenvolvimento não sofreram impactos adversos do regime de vaporização com o ácido oxálico. No entanto, não encontramos evidências de que a aplicação periódica frequente de oxálico durante os períodos com criação presente no ninho da colónia seja capaz de fazer descer as populações de V. destructor abaixo dos limiares de tratamento.

fonte: https://academic.oup.com/jinsectscience/article/22/1/15/6523139

amarelo não melhora a eficiência de armadilhas para captura de vespas dos géneros Vespula e Dolichovespula (Hymenoptera: Vespidae)

“Resumo: As vespas sociais são frequentemente consideradas pragas incómodas em ambientes urbanos e muitas vezes são controladas por meio de armadilhas. A maioria das armadilhas produzidas comercialmente para a captura de vespas tem o amarelo como cor dominante ao redor da entrada da armadilha. No entanto, as observações sobre a função do amarelo como atrativo para vespas são controversas. A eficiência das armadilhas de listras amarela, em comparação com as de listras verdes (N = 15) e as de listras amarelas e verdes (N = 15) foi avaliada. De acordo com os resultados, o amarelo não tem um papel específico como atrativo para vespas dos géneros Vespula Linnaeus e Dolichovespula. Para vespas, o tipo de isca será o principal atraente e pode ser suficiente por si só para fins de controle e monitorização.”

fonte: https://www.eje.cz/artkey/eje-201901-0027_yellow_does_not_improve_the_efficiency_of_traps_for_capturing_wasps_of_the_genera_vespula_and_dolichovespula_h.php

Armadilha com entrada de cor amarela.

não detecção de contaminação de colmeias de abelhas após uso de isca para vespas com proteína contendo fipronil

No seguimento da publicação anterior, com tradução de excertos de estudo acerca da grande eficácia obtida com o do uso de iscos proteicos intoxicados com fipronil na eliminação de ninhos de vespas germânicas, creio ser pertinente apresentar este outro que avalia o risco de intoxicação acidental de colónias de abelhas por via da utilização deste tipo de estratégia no controlo de indivíduos do género Vespula.

Colocação do Vespex numa armadilha dedicada para o efeito.

“Resumo: As vespas acidentalmente introduzidas (Vespula germanica e V. vulgaris) são pragas importantes na Nova Zelândia, com grandes impactos na ecologia e economia locais. As vespas comem abelhas (Apis mellifera), têm efeitos potencialmente devastadores na saúde da colmeia, bem como nas indústrias agrícolas e hortícolas. A isca Vespex, que contém fipronil [0,1%] num veículo proteico, foi recentemente introduzida [na Nova Zelândia] para controle de vespas. Em mais de uma década de ensaios relatados, as abelhas nunca foram observadas forrageando em Vespex, provavelmente porque a isca não contém açúcares para servir como fonte de alimento para as abelhas. No entanto, a possibilidade do agente de controle fipronil entrar nas colmeias não foi testado. Portanto, aqui, nós investigamos isso usando um ensaio de cromatografia líquida-espectrometria de massa de fipronil e dois derivados metabólicos de sua degradação ambiental, fipronil desulfinil e fipronil sulfona. Não detectamos fipronil em nenhuma das amostras de abelhas operárias, larvas de abelhas, mel ou pólen (n = 120 por produto) coletadas em 30 colmeias durante um período de 2 anos. […] Também não houve evidência de transferência trofalática de fipronil ou seus derivados em nenhuma das colmeias amostradas. […] nossos resultados fornecem confiança de que, se uma intoxicação indetectável estivesse ocorrendo, envolveria uma exposição aguda naqueles poucos indivíduos afetados, com prejuízo mínimo para as colónias. Portanto, concluímos que o uso de Vespex nas proximidades de abelhas não resulta em risco significativo para as colónias de abelhas, reduzindo efetivamente a pressão de vespas nas colónias de abelhas.”

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0206385

Nota: o Vespex , tanto quanto sei, não é comercializado na Europa.

remoção bem-sucedida de vespas germânicas (Hymenoptera: Vespidae) por isca tóxica

Conheço este estudo há meia-dúzia de anos ou um pouco mais. Acho oportuno dizer que nada me move contra a vespa germânica, um insecto nativo no território onde tenho as colmeias e que nunca lhes causou dano apreciável. Já a V. velutina, …

“Resumo: Vespula germanica é uma vespa social que invadiu muitas partes do mundo, inclusive a Argentina. Esta vespa costuma tornar-se uma praga, afetando diversas atividades económicas. Também pode impactar a comunidade nativa por meio da predação ou competição. O objetivo do nosso estudo foi testar iscas tóxicas para redução da abundância de vespas. Vespas foram envenenadas com 0,1% de fipronil misturado com carne moída crua em dois locais de floresta de faias em 20 de fevereiro de 2000 no noroeste da Patagónia. Todos os ninhos (46) dentro dos dois locais de 6 ha com estações/armadilhas com isca envenenadas foram eliminados, e as armadilhas nesses locais capturaram 81,1% menos vespas no final da temporada do que as armadilhas nos dois locais de controle. Após o ensaio a redução média de vespas forrageiras em iscas não tóxicas foi de 87%. O fipronil foi muito eficaz no controle do número de vespas, embora existam limitações ao método, principalmente no que diz respeito à conservação de espécies não-alvo. A isca tóxica pode ser útil no controle do número de vespas em apiários, quintais, quintas e parques. […]

Um experiência de escolha de isca foi realizado antes que as iscas envenenadas fossem colocadas. Alimentos enlatados com sabor de salmão (Whiskas, Kal Kan Foods, Vernon, CA) e carne picada crua foram testados no campo. A maioria dos estudos anteriores usou com sucesso iscas de peixe […], mas observações no nosso local de estudo indicaram que carne moída crua seria mais palatável para vespas do que isca de peixe. […] Intoxicámos com fipronil 0,1% misturado com carne moída crua, preparada no início da manhã. Um total de 3,8 kg de isca tóxica foi colocada em cada local, com 􏰏50 g por estação de isca. O fipronil é um membro de uma nova família de inseticidas, que usados ​​em baixas doses podem ser muito eficazes no controle de uma ampla gama de pragas de insetos. Devido ao seu modo de ação, o fipronil é mais específico para insetos com baixa toxicidade em aves e mamíferos. Ensaios realizados na Nova Zelândia para controlar V. vulgaris demonstraram que o fipronil é de ação rápida e eficaz em baixas concentrações, matando 􏰑90% dos ninhos de vespas dentro de uma área e especialmente sendo eficaz mesmo quando a densidade de vespas é relativamente baixa (Harris e Etheridge 2001).”

fonte: http://anterior.inta.gov.ar/bariloche/ssd/nqn/ecologiadeinsectos/pdfs/Sackmann%20et%20al%202001.pdf