a longevidade das abelhas caiu para metade nos últimos cinquenta anos?

Neste artigo de divulgação científica o título afirma que a longevidade média das abelhas caiu para metades nos últimos cinquenta anos.

As conclusões deste queda para metade na duração média de vida das abelhas são retiradas através da comparação da longevidade de vida de abelhas testada em laboratório nos anos 70 do século passado com a longevidade testada recentemente por entomólogos da Universidade de Maryland. Afirma-se que a média de vida caiu de 34,3 dias (dados dos estudos levados a cabo nos anos 70) para 17,7 dias (dados do recente estudo).

Contudo estas conclusões devem ser consideradas com uma boa dose de prudente cepticismo por diversas razões, entre as quais destaco:

  • Se as conclusões forem corretas, isto não se teria refletido tanto no tamanho das nossas colónias assim como na média de produção de mel ao longo dos últimos 50 anos, isto é, actualmente as colónias não seriam muito menos populosas e, portanto, muito menos produtivas? Randy Oliver refere: “Se as abelhas vivessem apenas metade do tempo, teríamos definitivamente notado a enorme diminuição no tamanho das colónias”;
  • as abelhas enjauladas nos testes em laboratório não vivem tanto quanto as abelhas numa colmeia no campo e em condições reais. Será prudente assumir que estas conclusões não se aplicam tal e qual a abelhas em colmeias assentes nos apiários e em condições reais;
  • a enorme diferença pode ser provocada por diferenças entre os protocolos experimentais seguidos nos anos 70 e os seguidos actualmente, em particular no que concerne ao tipo de alimentação e ingredientes utilizados, que como sabemos têm um grande impacto na longevidade das abelhas;
  • ainda sobre a importância dos protocolos experimentais utilizados quando se avalia a longevidade das abelhas enjauladas, um investigador canadiano, Jerry Bromenshenk, faz o seguinte relato: “Identificámos um problema de longevidade nos últimos anos, mas atribuo isso às gaiolas que usamos. No início, construí pequenas gaiolas de madeira com laterais em rede. Depois passei a usar copos de sorvete pequenos e usei-os durante anos. No entanto, na última vez que fizemos testes em gaiolas, notamos perda de abelhas após cerca de 10 dias. Antigamente, os copos de sorvete que utilizávamos como gaiolas eram feitas de papel encerado. Os copos de sorvete modernos, pelo menos as que encontramos localmente, ou são completamente em plástico ou possuem algum tipo de revestimento plástico. As abelhas nestes copos morreram num espaço de duas semanas. Quando voltamos a utilizar gaiolas de madeira e rede a longevidade aumentou novamente, voltando ao esperado.” Nesta experiência actual levada a cabo pelos entomólogos da Universidade de Maryland as gaiolas utilizadas são de plástico;
  • Peter Borst, apicultor e divulgador da ciência apícola, escreve: “Há uma relação positiva entre a população de abelhas nas gaiolas e a expectativa de vida média … Isso pode ser um artefacto dos dados, sabendo que as experiências na década de 1970 usavam populações maiores, logo promoviam uma vida mais longa das abelhas.”;
  • Novamente Peter Borst: “Moffett et al. (1958) nos Estados Unidos relataram que observaram aumento da longevidade em abelhas adultas engaioladas alimentadas com pequenas doses de penicelina, tetraciclina ou eritromicina… em abelhas recém-emergidas. A alimentação com antibióticos para abelhas estava omnipresente na década de 1970 e, actualmente, não é permitido alimentar abelhas saudáveis com antibióticos.”;
  • Ainda Peter Borst: “Um trabalho de investigação recente de Jay Evans (2009) afirma: realizámos várias centenas de testes com abelhas adultas apenas em água com açúcar, com uma sobrevivência média de 36 dias e um máximo de 60+ dias”.

Na minha opinião não me surpreende que as abelhas tenham a sua longevidade diminuída por via de vários factores, dos quais destaco a presença mais intensa e ubíqua dos vírus transmitidos pelo varroa nos dias de hoje. Contudo tenho muitas dúvidas que as abelhas tenham sofrido uma queda para metade da sua longevidade nos últimos 50 anos. Ao longo dos meus 13 anos de apicultura não me apercebi de um declínio notável na população das minhas colónias, que teria sido enorme e observável a olho nú caso esta redução de longevidade se tivesse vindo a concretizar.

Sobre o processo de simplificação desde o conteúdo do artigo científico até à sua “interpretação” pela comunicação/redes sociais.

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