Entre outros alegados efeitos positivos dos três suplementos alimentares identificados no título é referido que podem ser utilizados como alternativa à Fumagilina-B no tratamento da Nosema apis e Nosema ceranae. Surpreendentemente, ou nem por isso (ver aqui), no estudo referenciado nesta publicação não se verificaram os efeitos positivos esperados na diminuição dos microsporídeos da nosema (apis e ceranae) com a utilização do Honey-B-Healthy®, Nozevit Plus e HiveAlive®.
Título: Evaluating the Efficacy of Common Treatments Used for Vairimorpha (Nosema) spp. Control (2023)
“Sumário:
Vairimorpha (anteriormente Nosema) apis e V. ceranae são patógenos microesporidianos que são motivo de preocupação para colónias de abelhas domésticas. Múltiplos tratamentos têm sido propostos como eficazes na redução da prevalência e intensidade de Vairimorpha spp. infecções. Aqui, testamos a eficácia desses produtos numa experiência de laboratório e três experiências de campo. Na experiência de laboratório, não encontramos reduções na prevalência de Vairimorpha spp. (proporção de indivíduos infectados com Vairimorpha spp.) ou intensidade (número de esporos de Vairimorpha spp. por indivíduo), mas encontramos uma diminuição na sobrevivência das abelhas após o tratamento com Fumagilin-B, Honey-B-Healthy® e Nozevit Plus. A primeira experiência de campo mostrou aumento da intensidade de Vairimorpha spp. em colónias tratadas com Fumagilin-B e HiveAlive® em comparação com um controle negativo (somente xarope de sacarose). A segunda experiência de campo mostrou uma fraca redução de intensidade de Vairimorpha spp. 3 semanas após o tratamento com Fumagilin-B em comparação com Nozevit. No entanto, a intensidade de Vairimorpha spp. voltou a níveis comparáveis aos de outros grupos de tratamento 5 semanas após o tratamento e permaneceu semelhante aos de outros grupos durante a experiência. O teste de campo final não mostrou efeitos positivos ou negativos do tratamento com Fumagilin-B ou Nosevit na prevalência e intensidade da Vairimorpha spp. Estes dados levantam questões sobre a eficácia dos produtos atualmente usados pelos apicultores para controlar Vairimorpha spp.“
Discussão dos resultados: “Embora a fumagilina e outros tratamentos destinados a reduzir Vairimorpha spp. se tenham mostrado eficazes em certas circunstâncias, existem muitos fatores que podem afetar a capacidade de resposta das colónias aos tratamentos. Com base nos dados aqui descritos, não é possível recomendar um tratamento específico em detrimento de outro para o controle da Vairimorpha spp.; em vez disso, recomendamos melhorar a saúde da colónia e reduzir a pressão de pragas para garantir que as colónias não sejam afetadas por vários stressores. […] Além disso, pesquisas futuras podem explorar mais como alguns produtos funcionam de forma preventiva, em vez de como um de tratamento, como o uso de própolis como tratamento preventivo para Vairimorpha spp.. Outros tratamentos preventivos que levem em conta a sazonalidade da Vairimorpha spp. também podem revelar-se eficazes. Essas informações seriam valiosas para pesquisadores e apicultores.”
fonte: https://www.mdpi.com/2076-3417/13/3/1303
Notas: 1) Algumas espécies de microsporídios do género Nosema (o caso apis e ceranae) foram recentemente incluídas no género Vairimorpha com base em estudos recentes baseados na filogenética molecular.
2) Os dados recolhidos das experiências em laboratório e das experiências em campo não confirmaram o efeito curativo para a Nosema dos produtos comercializados identificados no título. Verificaram a sazonalidade da doença, com pico à entrada da primavera, e o decréscimo natural dos microesporídeos daí em diante, associado ao consumo de pólen natural pelas abelhas. Por essa razão não recomendam nenhum tratamento específico, recomendam antes reduzir a pressão das pragas, a varroa e os vírus sobretudo acrescento eu.
3) Uma esperança no horizonte para a prevenção das infecções por Nosema é o própolis. Como sabemos a nossa abelha ibérica é uma abelha propolizadora o que lhe pode dar alguma vantagem em relação a raças menos propolizadoras. Ao contrário as abelhas melíferas presentes no sub-continente norte-americano, onde se realizou o estudo, foram seleccionadas ao longo dos dois últimos séculos para propolizarem muito pouco. De há uns anos para cá a comunidade científica desses países (EUA e Canadá) e os apicultores mais informados estão a re-direcionar a selecção para abelhas mais propolizadoras e construção de colmeias com paredes interiores mais rugosas como forma de estimulação da propolização.