A grande maioria das minhas colónias passa o outono-inverno confinada a uma só caixa (Langstroth ou Lusitana).
Apiário a 600 m durante o inverno de 2018-2019
Contudo algumas delas passam este período invernal com ninho e sobreninho nos apiários a 600m e 900m de altitude.
Colmeia armazém que passou o outono-inverno nesta configuração (foto 17.02.2020).
São colónias que saem muito fortes no final do verão e que destino à guarda, durante os meses seguintes, de quadros não crestados.
Quadros não crestados em 2019, armazenados nas colmeias armazém durante o inverno (foto 17.02.2020).
Estes quadros são de extrema utilidade, por ex., para repor as reservas das colónias que em fevereiro/março arrancaram muito bem, e que consumiram boa parte do seu stock de mel.
Colónia que, pela posição das tiras de Apivar, apresentava em fevereiro/março 8 quadros com criação e, naturalmente, as reservas em baixo.
Quadro com poucas reservas que foi substituído por outro com reservas mais abundantes (foto 27.02.2020).
Numa próxima publicação abordarei o maneio que habitualmente realizo durante os meses de arranque e crescimento linear da população de abelhas nos meus apiários (meses de fevereiro, março e abril).
É este o castanheiro que me serve de farol para ter a certeza que os castanheiros da minha terra estão para começar a floração. Ano após ano é dos primeiros a florir. Aprendi com a boa gente da minha terra que o tempo da floração varia um pouco de acordo com as castas dos castanheiros: se a casta é longal mais cedo um pouco, se é martainha mais tarde um pouco.
Dos que eu vejo costuma ser dos primeiros.
Vieram pois na altura certa, espero eu, as colónias com as novas rainhas formadas nos apiários a 600 m, para os dois apiários que neste momento estão activos no território dos soutos. E se nas novas colónias langstroth tive oportunidade e os recursos para “palmerizar” com relativa frequência, os recursos para efectuar esse maneio no apiário das lusitanas foram mais escassos. Como consequência, para além de ter transumado colónias que pesavam mais que um burro, estive hoje a desbloquear os ninhos destas lusitanas que apresentavam quadros a mais de mel no ninho e, portanto, quadros a menos com espaço para a oviposição das novas rainhas.
Como poderá uma rainha num quadro como este…… fazer este lindo serviço?
O maneio é simples, que já não tenho idade nem talento para coisas muito complicadas. Crio uma colmeia armazém, colocando nesta altura e desde logo uma excluidora de rainhas sobre o ninho e um sobreninho no topo. Este sobreninho vai doando quadros com cera laminada aos ninhos parcialmente bloqueados das colónias nas proximidades e recebendo quadros bloqueados com mel ou néctar, de preferência quadros claros para serem posteriormente crestados.
Colmeia armazém, criada hoje, com 4 quadros com mel/néctar recebidos de outras colónias e com 6 quadros com ceras laminadas para doar a mais algumas colónias parcialmente bloqueadas. Colocação hoje de um quadro de cera laminada no ninho porque…… estas rainhas de emergência precisam de uma “tela” adequada para expressarem com toda a liberdade o seu potencial.
Ah, e será a grade excluidora uma merda? como opinou recentemente e publicamente um conhecido apicultor da nossa praça. O que posso dizer é que as minhas abelhas não ligam nenhuma ao que este companheiro diz das excluidoras. Hoje em várias das minhas colónias (friso, das minhas, das de cada um, cada um saberá melhor), com exluidoras colocadas em 17 de maio entre o ninho e sobreninho, constato uma vez mais que o resultado em nada confirma três pré-juízos: não impede/dificulta a armazenagem de mel nas caixas que lhe estão sobrepostas; as excluidoras não aumentaram a taxa de enxameação; não limitaram o potencial de oviposição das minhas rainhas. Se assim não fosse como seria eu capaz de explicar que todas as minhas colónias com ninho e sobreninho, e com grelhas excluidoras colocadas a 17 de maio, tenham neste momento armazenado entre 30 e 50 kgs de mel/néctar?
Com cerca de 50 kgs de mel/néctar já armazenado…… a caminho dos 60… e com o castanheiro todo para fazer!
Nas minhas colónias o grande factor limitante à expressão do potencial de oviposição de rainha é um ninho parcialmente bloqueado… com mel ou pólen, ou os dois em conjunto. Não se verificando este bloqueio, os mais de 3500 alvéolos por face de lâmina de cera (langstroth ou lusitana) são suficientes para as minhas jovens rainhas, expressarem devidamente o seu vigor. A utilização do “ninho infinito”, como já o utilizei inúmeras vezes, mostraram-me vezes e vezes, que as minhas rainhas, assim como as rainhas de criadores profissionais, não precisavam mais que 7 a 8 quadros bastante desbloqueados para completarem um ciclo de 21 dias de postura.
Com 7 a 8 quadros no ninho com este padrão, para elas é suficiente e, portanto, para mim também, que remédio!
Falta fazer este disclaimer: qualquer semelhança das minhas observações, nas minhas colmeias, com as observações nas colmeias de qualquer companheiro de lide, é mera coincidência. Digo isto porque não me recordo de ouvir algum apicultor no nosso país referir que o ninho das suas langstroth ou lusitana é suficiente para albergar o ritmo/quantidade de oviposição das suas rainhas. Mais uma vez me encontro a ver coisas que mais ninguém vê!!! Como hoje quando parei para almoçar eram 14, 15h, e já tinha 8h de trabalho no pêlo, tudo isto pode muito bem ser fruto de uma alucinação por exaustão! Por isso vou fazendo um registo fotográfico porque, tanto quanto é do meu conhecimento, os “smartphones” não sofrem de alucinações. Ficava mais um pouco, mas tenho de ir a um outro apiário ainda hoje. Bom trabalho para todos… e não bloqueiem com os disparates que vou vendo!
Mais um dia de trabalho a começar com o sol a nascer por detrás de um céu muito nublado, e debaixo de uma chuva miudinha que parecia ter passado por um coador de malha fina ao cair.
Com vários objectivos para cumprir, nomeadamente “palmerizar” alguns núcleos, retorno a este em concreto:
Núcleo que em 24.03 não apresentava postura e que em 02.04 classifico a rainha como fraca de acordo com o padrão de postura que observo. Nestas situações costumo dar mais 15 a 20 dias para ver se o padrão de postura da rainha evolui e me faz alterar a ideia que se trata de uma rainha a eliminar. E muitas das vezes altero! Este foi mais um desses casos.De lá para cá este núcleo já doou vários quadros com criação e hoje voltou a fazê-lo, este quadro que vemos na foto. O que provocou a reviravolta na qualidade da postura? Há muito me convenci que são as abelhas, isto é, a qualidade e a quantidade de abelhas que compõem a colónia, que fazem, na grande maioria dos casos que observo nos meus apiários, a qualidade das rainhas.
A este propósito, deixo a tradução do sumário de um estudo muito interessante, publicado há pouco mais de um ano na revista Insects.
Título: O padrão de postura numa colónia de abelhas é um indicador confiável de qualidade da rainha?
Sumário: “A falta de qualidade da rainha é frequentemente identificada como uma das principais causas de mortalidade das colónias de abelhas. No entanto, os fatores que podem contribuir para a “falta de qualidade da rainha” estão mal definidos e geralmente estão mal compreendidos. Estudámos um aspecto específico associado à falta de qualidadeda rainha: padrão de postura fraco. Em 2016 e 2017, identificámos pares de colónias com padrões de criação “bom” e “fraco” em apiários de profissionais de apicultura e usamos métricas padrão para avaliar a saúde das rainhas e colónias. Não encontrámos dados da qualidade das rainhas associadas de maneira confiável a colónias com padrão de postura fraco. No segundo ano (2017), trocámos rainhas entre pares de colónias (n = 21): rainhas de colónias com padrão de postura fraco foram introduzidas em colónias com padrão de postura bom e vice-versa. Observámos que os padrões de criação de rainhas originárias de colónias com padrão de postura fraco melhoraram significativamente após a colocação em colónias com padrão de postura bom após 21 dias, sugerindo outros fatores que não a rainha contribuíram para a alteração do padrão de postura. Nosso estudo desafia a noção de que o padrão de postura é suficiente para julgar a qualidade da rainha. Nossos resultados enfatizam os desafios que se colocam na determinação da raiz dos problemas associados à rainha ao avaliar a saúde das colónias de abelhas.“
Hoje, por volta da 6,15 h, encontrava-me a caminho dos meus dois apiários a 600 m de altitude com dois objectivos em mente: identificar colmeias para transumar para os dois apiários que tenho neste momento em território de castanheiro e a cerca de 900 m de altitude, e fazer uma estimativa do mel armazenado à data.
Quando o desnível nos permite ver com alguma frequência o lado de cima das nuvens!
Nestes dois apiários a altitude mais baixa desdobrei cerca de 70% das colónias e deixei as restantes dedicadas à produção de mel, o que me deixou com 24 colónias, contas exactas, dedicadas ao mel. Tendo hoje visto com algum detalhe a quantidade de mel armazenado nas alças e nas meias-alças, verifico que a média não sendo nenhum sonho realizado, também não confirma o pesadelo que se afigurava até meados de maio.
Não tenho memória de neste local ter começado a colocar meias-alças a partir somente de meados de maio, e ter necessidade de alimentar a grande maioria das colónias até essa altura. Praticamente pronto para seguir para a extracção.Colmeia lusitana com ninho e sobreninho com grade excluidora. Várias das colmeias nesta configuração serviram dois propósitos em momentos diferentes: durante o mês de abril e até meados de maio contribuíram com quadros com criação e abelhas para os desdobramentos, e dessa altura até à data orientei-as para a produção de mel. Para me auxiliar nessa mudança de objectivo socorri-me da grade excluidora.
Quanto à produção global dos dois apiários a minha previsão aponta para os 400 kgs de mel claro. Se dividir este valor pelas 24 colónias dedicadas a este fim a média por colónia ronda os 16,5 kgs. Estou francamente convicto que esta média será ultrapassada pelas colónias dos dois apiários a 900 m de altitude, que a meteorologia deste ano está a favorecer claramente.
Configuração de uma de várias colónias no primeiro apiário a 900 m de altitude, com grade excluidora colocada a 17.05. Com o castanheiro nos “beginnings”, e com um belíssimo ano de marcavala, que está a dar as últimas.
Como uma cadeira, que tem de ter 4 pernas para não se desequilibrar e cumprir a sua função, também a apicultura, como a entendo, assenta em 4 pernas: a meteorologia, as abelhas, o apicultor e o território. A meteorologia quer-se pouco alterada, a abelha quer-se adaptada, o apicultor quer-se cuidador, o território quer-se abundante.
É para este território abundante que vou, a pouco e pouco e à medida das minhas energias, transumando algumas das minhas colónias.
Um território ainda verdejante, cheio de frescor e riachos a rumorejar. Onde alguma marcavala ainda persiste nos locais mais húmidos e na sombra do folhedo das árvores. Com arvoredo de vária espécie, enraizado em terra amiga.Onde coexistem soutos centenários e soutos recentes.
E são estas muito simples razões que me levam a ver o sol a nascer, já no apiário, para iniciar mais uma pequena transumância. Pequena na distância (cerca de 30 km desta feita) e pequena no número de colmeias (12 de cada vez que é o número que a minha carrinha carrega de forma confortável quer para as abelhas, quer para mim, que já fui mais novo, e as langstroth para um homem só não são brinquedo a carregar e a descarregar!).
4+4+4Colónias, que neste momento e para esta transumância, procuram obedecer à regra “não menos de 8 quadros de criação”. Várias com 9 e uma ou outra com 10. São rainhas novas e o período da enxameação reprodutiva está a terminar. Postura de rainha nova. Um detalhe: nesta altura já se começa a ver a abóbada de mel e pólen, que irá crescendo à medida que o verão for entrando. De imprevidente, a estas abelhas adaptadas, não lhes conheço nada. Já assentes… no território dos castanheiros, à espera das candeias que florirão dentro de dias. Tempo de ir ao armazém carregar meias-alças com cera puxada…… para acabar de fazer o que tem de ser feito.Não esquecendo alguns detalhes… como deixá-las decidir se desejam ou não ventilação superior (que eu disso nada percebo!).
Nesta semana tenho repartido o tempo na realização de um conjunto variado de tarefas. Os dias têm começado cedo e têm terminado debaixo de um céu de fogo!
Com os dias a começaram cedo e a terminarem debaixo de um céu de fogo!Introdução de um segundo lote de rainhas que me foram oferecidas pelo meu amigo David Marques.Palmerização de núcleos para fortalecimento de colónias a transumar para o território do castanheiro.Montagem de colmeias.Preparação de quadros do ninho com cera laminada.Limpeza do acesso a um apiário.Limpeza do apiário para receber colónias num território de castanheiro e azinheira, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela. Transumância de pequena distância (cerca de 15 km e com ganhos de 300 m de desnível) que permite às colónias aproveitar as florações mais tardias do castanheiro e da silva.
Só tenho acesso ao sumário do estudo, e desconheço qual a proporção de açúcar em relação à água presente no xarope mais concentrado e no xarope menos concentrado**. Achei particularmente interessante os pontos 4 e 5 deste artigo de 1961, porque me parece confirmam as minhas observações e reflexões. Nos meus apiários tenho verificado que as colónias que alimento com pasta de açúcar aparentam ter mais área de criação à saída do inverno (fevereiro e março) do que as colónias que não alimento ou alimento menos frequentemente. E para o explicar já tinha colocado a hipótese que isso se deveria ao facto das colónias alimentadas a pasta poderem disponibilizar mais abelhas para a colecta de pólen. Assim sendo, estas colónias estarão em condições de fornecer uma dieta mais adequada tanto às abelhas amas como às larvas em desenvolvimento, porque têm acesso a uma maior quantidade e diversidade de aminoácidos.
“As colónias de abelhas foram alimentadas com xarope de açúcar concentrado ou diluído, ou permaneceram não alimentadas, na primavera, verão e outono de 1958 e 1959.
O xarope mais concentrado foi mais aceite que o diluído em todos os grupos experimentais, mas a desproporção de aceitação de xarope concentrado para o diluído diminuiu ao longo dos dois anos.
A concentração do xarope fornecido não fez diferença aparente no ganho de peso das colónias, provavelmente porque a maior eficiência no armazenamento de xarope concentrado foi compensada pela diminuição no forrageamento produzido nas colónias assim alimentadas.
A alimentação de xarope diluído ou concentrado aumentou a área de criação durante e após a alimentação num ano (mau tempo), mas não teve efeito na área de criação no outro ano (bom tempo).
Enquanto eram alimentadas, as colónias geralmente colectavam mais pólen do que as não alimentadas.
A alimentação de qualquer concentração de xarope provavelmente diminuiu a coleta de néctar quando as condições de forrageamento eram boas e o xarope concentrado pode ter diminuído mais do que o xarope diluído o comportamento de forrageamento.”
** actualização em 13-01-2021: o grupo A foi alimentado xarope de açúcar concentrado (62% de açúcar) e grupo B xarope de açúcar diluído (40% de açúcar).
Hoje eram 9.00h, de acordo com o relógio da torre, quando arranquei para o meu apiário a 900 m de altitude. O objectivo principal era fazer a prevenção e controlo da enxameação, porque é por lá que agora “as coisas estão mais quentes”. Dado as condições climatéricas relativamente atípicas do ano o período propício à enxameação iniciou-se mais tarde e está, naturalmente, a prolongar-se um pouco para lá da época habitual. Para além desta razão de natureza racional, é também um apiário que gosto bastante de frequentar por ser o único num terreno meu, por ter sido aqui que instalei o meu primeiro apiário, faz quase 11 anos, e porque é deveras magnífica a vista quando levanto o olhar para o horizonte e contemplo a plantação de diversas árvores que o meu saudoso pai lá fez.
Durante o maneio das colónias deparei-me, em 3 delas, com três situações idênticas, estavam a construir mestreiros, mas com significados diferentes, isto pelo menos de acordo com o meu domínio actual do abelhês. É uma língua que pressupõe alguns pré-requisitos (experiência e leituras) e em simultâneo um espirito livre que esteja disposto a deixar fluir o melhor possível a experiência actual, integrá-la no já aprendido ou, pelo contrário, questionar esse “já aprendido”, para submergir mais e melhor no “falar” daquelas abelhas, naquele momento e naquele local. Admito pacificamente que haja aspectos universais desta linguagem, mas nem tudo é igual em todos os locais, e é, quantas vezes nas nuances, nos detalhes do “abelhês” regional, o local onde vou encontrar Deus e o Diabo.
Constatei e decidi que o melhor a fazer era nada fazer!Observei e decidi que o melhor a fazer era nada fazer!Aqui o meu pequeno domínio do abelhês disse-me que era melhor fazer alguma coisa!Sim a mãe andava ainda por lá… ali!À falta de um núcleo foi para dentro de uma caixa de 10! Com este padrão de postura dei por bem dispendido os cerca de 3 minutos que me levou a localizá-la!O restante do enxame foi divido em dois, com recurso ao tabuleiro divisor, para evitar os garfos (o Vasco Correia Paixão e outros escrevem a palavra no masculino e não no feminino, e sigo essa escola).
Por volta das 13.ooh estava de regresso a casa com um incremento no meu património, correndo tudo bem, na ordem dos 250€. Sim, porque também vou fazendo estas contas. Ainda que não pareça, ainda sou um apicultor profissional, e esta componente financeira, com menos peso que no passado é verdade, continua a ter o seu peso.
Nota: uma questão final, que ainda não compreendi do abelhês: qual a vantagem evolutiva que as abelhas encontraram em continuar a enxamear após o primeiro enxame, em enxames cada vez mais pequenos (os garfos), uns atrás dos outros, condenados a enorme maioria deles ao insucesso?
Este ano direccionei um número significativo das minhas colónias para a produção de novos enxames (cerca de 70% das colónias). Como comercializei nos dois últimos um número importante de enxames, quer junto de amigos que conhecia pessoalmente, quer de amigos que fui conhecendo através deste blogue, e porque ainda tenho dois pedidos para entregar um número jeitoso de enxames nos próximos meses, tive que orientar a minha operação neste sentido.
Para dar seguimento ao compromisso de entregar estas colónias (modelo Langstroth), num dos apiários que tenho a uma cota de 600m, com capacidade para 100 colónias, e onde neste momento estão 87, iniciei relativamente cedo na época (tendo em conta as condições meteorológicas locais deste ano) os desdobramentos. As primeiras etapas consistiram na identificação das colónias que arrancaram melhor à saída do inverno, localizar as rainhas e colocá-las em núcleos com um ou dois quadros com criação e abelhas aderentes aos quais adicionei um quadro com reservas e fui alimentando com pasta açucarada enquanto necessário (neste local alimentar com proteína parece-me desnecessário desde há muitos anos, pela razão da entrada generosa de pólen a partir de meados de fevereiro). As colónias-mãe que foram orfanadas, ficaram no local com praticamente toda a população de abelhas e, sobretudo, com muitas abelhas novas, as condições necessárias e suficientes para criarem rainhas de emergência de grande qualidade. Em simultâneo, e em boa hora, decidi deixar esses núcleos no apiário, muitos deles em cima das próprias colmeias-mãe.
Imagem parcial do apiário onde se podem ver 4 núcleos, onde coloquei as rainhas-mãe, em cima das colmeias-mãe, colmeias que foram orfanadas há cerca de um mês e meio. Núcleo com a rainha-mãe, formado a 18.04, em cima da colmeia-mãe, que a 14.o3 foi conformada à regra “não mais de 6”, em 18.04 foi orfanada, e hoje, 09.06 confirmei postura de qualidade da nova rainha.Esta colónia com uma rainha nova e este padrão/compaticidade de postura, apresentava 9 quadros com criação. Não me vai deixar em pouco junto dos meus clientes!Ah pobres rainhas de emergência! Para uma rainha nova que se está a iniciar na tarefa, parece que nasceu ensinada. Não falha um alvéolo…… de travessão a travessão!
Voltando à gestão… desde há cerca de 3 a 4 semanas tenho gerido este binómio, núcleo com a rainha-mãe e colónia-mãe orfanada, com base num princípio que é conhecido por “palmerização“, em homenagem ao grande apicultor e criador de rainhas norte-americano Michael Palmer, que popularizou a técnica. A tirar proveito das leituras que procuro fazer regularmente!
Um dos vários núcleos que “palmerizei” entre as 8.50h e 12.10h no dia de hoje.São estes os quadros que prefiro “roubar” aos núcleos. Quadros com abelhas prestes a emergir nas próximas horas (ver jovem abelha a emergir do alvéolo). Visão geral do quadro que introduzi na colmeia e que vai dar um bom empurrão à nova rainha. Quadro com cera laminada que vai ocupar o espaço do quadro retirado. Dentro de 10 a 12 dias poderei voltar a palmerizar este núcleo, caso seja necessário.
Sempre gostei de ler, e de há 11 anos para cá iniciei a leitura intensiva do tema “abelhas” e “apicultura” aquando da minha profissionalização. E foram, e continuam a ser, as leituras a fonte de principal da minha aprendizagem, a par com as horas e horas passadas nos apiários a trabalhar e observar “in loco” colónia após colónia.
O que ganho com as leituras? Mais do que serei capaz de descrever. Na grande maioria das vezes a minha observação no local é orientada e afinada pelas leituras realizadas em casa. Como todos creio eu, geralmente presto atenção e procuro descodificar o que observo, porque estou municiado de uma grelha de observação que decorre de algo que li, e assim precavido, munido desse “olhar” intencional e não ingénuo ou desatento, dou um sentido e uma interpretação aos dados em bruto que uma colónia de abelhas me oferece.
Contudo estou também cada vez mais ciente que as abelhas são muito plásticas, que os seus comportamentos, ainda que relativamente bem conhecidos, seguem quase sempre os seus próprios desígnios, algumas vezes à margem do que está escrito. Vou constatando aqui e ali, pelas observações que vou fazendo, que por vezes as abelhas não leram os mesmos livros que eu li.
Vem isto a propósito de uma observação que fiz hoje no meu apiário a 900 m de altitude. Na literatura que eu conheço, vem referido de uma forma muito consensual que a abelha rainha sai com o enxame primário poucas horas após os primeiros mestreiros terem sido operculados. Contudo, com alguma frequência, tenho observado que nem sempre as minhas abelhas e nos meus apiários “seguem o livro”. Ainda hoje o constatei e ilustrei neste conjunto de fotografias em baixo.
No dia 06.06 constatei que esta colónia apresentava vários mestreiros de enxameação operculados. Dividi-a com recurso ao tabuleiro divisor. E a rainha, ainda por lá andava? Como vi ovos, que me pareceram ter um dia ou dois (isso dos ovos na vertical serem do 1º dia e os inclinados serem ovos do segundo dia não será bem assim), e porque já vi este filme várias vezes, não parti do princípio que a rainha já tinha saído com o enxame primário só porque encontrei mestreiros operculados. O meu princípio é o oposto: se há ovos recentes e muitas abelhas, há uma boa probabilidade de a rainha ainda estar presente. Quando verifico a ocorrência destes dois aspectos não deixo de fazer uma inspecção quadro a quadro para ver se encontro a rainha. Cada vez é mais fácil encontrá-las (sim, rainhas não marcadas, as marcadas é para meninos!! :)) até porque, cada vez mais, o comportamento das abelhas no quadro me indiciam que é naquele quadro que a rainha anda. Sim andava, e coloquei-a neste núcleo. No dia 06.06.No dia 06-06, fica registado a colocação do tabuleiro divisor (TD) com mestreiros na caixa inferior e na caixa superior.
Ora, se as minhas abelhas lessem os livros que eu leio sobre elas, no dia 06.06 os mestreiros que encontrei teriam sido operculados há poucas horas. Teriam portanto 9 a 10 dias a contar do dia da oviposição e as rainhas emergiriam cerca de 6 a 7 dias depois, lá para os dias 12.06 ou até 13.06. Mas parece que não lêem, ou por vezes algumas não lêem.
Hoje, 08.08, e como tinha deixado este desdobramento e mais outros dois com muitas abelhas e vários quadros com mestreiros de grande qualidade no dia 06.06 nas caixas por cima dos tabuleiros divisores, voltei ao apiário com a intenção de voltar a desdobrar estes três enxames. E assim fiz. Neste enxame em particular, constato que há alguns mestreiros com as rainhas prestes a emergir (ver pequeno rasgo na extremidade deste mestreiro, sinal que a rainha está prestes a sair do seu casulo), como veio a acontecer passado cerca de 1 a 2 minutos a foto tirada.
Voltando aos números e datas e para este caso, a rainha mãe encontrada no enxame a 06.06, não saiu com o enxame primário pouco após os primeiros mestreiros terem sido operculados. O que esta observação me diz é que as abelhas após a operculação deste mestreiro (assim como outros que vi neste enxame, em condições semelhantes) adiaram a enxameação primária. Por vezes este adiamento decorre de más condições meteorológicas, segundo alguns especialistas. Neste caso, sei que os dias 4 e 5 deste mês, os dias em que segundo os livros a enxameação deveria ter ocorrido, me pareceram dias agradáveis para enxamear, com temperaturas a rondar os 20-22ºC de máxima e com pouco vento. Mas como não sou eu que enxameio , são elas, a minha opinião nada conta. E elas lá terão tido as suas razões para não terem seguido o livro à letra.