apicultor em modo robin dos bosques

Hoje saí por volta da 14h00 para o apiário e andei por lá até às 16h00 em modo robin dos bosques.

Por aqui a máxima de 12ºC aconteceu por volta das 15h00.

Andei a tirar das mais ricas para dar às mais pobres.

Colónia rica (que eu costumo chamar de colmeia armazém) do modelo lusitana com ninho e sobreninho. O território é frio (900m de altitude) e relativamente seco.
O território é frio mas estas colónias ricas/armazém têm o suficiente para se aquecerem, isto é, um número apreciável de abelhas e reservas.
Colónia rica, solidária, que dá um bom quadro com mel e recebe um quadro vazio. Sim é verdade, tive que dar uma ajudita para que a solidariedade se materializasse.
Colónia pobre, que recebeu agradecida o quadro. Suponho que ficaram agradecidas, apesar de nem sempre o demonstrarem de forma inequívoca.

Andei também a tirar da carteira do patrão, que é rico e generoso, o necessário para comprar esta deliciosa pasta, que consomem em três tempos (neste caso em cerca de 3 semanas).

Núcleo de uma colónia que sofreu PMS e está a recuperar bem. Comem bem e respiram melhor. O vapor de água condensado no interior do saco tem origem na respiração das pequenitas.
Comam e mantenham-se saudáveis nestes dias com um sol frio… até daqui a 3 semanas!

inventário da susceptibilidade do Varroa destructor ao amitraz e tau-fluvalinato em França

Depois de cerca de 4 anos a tratar as minhas colónias de abelhas com Apivar e de acordo com um calendário afinado e ajustado ao território que ocupam, este ano verifiquei que o tratamento de verão não foi suficientemente eficaz em cerca de 30% das colónias tratadas. Entre as várias hipóteses susceptíveis de explicar o sucedido surge a de uma possível resistência ao amitraz em algumas das populações de ácaros que parasitavam estas abelhas. Até à data tinha conhecimento de dados fidedignos de resistência ao amitraz na Argentina e EUA. Este estudo francês, publicado recentemente (agosto deste ano), identifica uma percentagem elevada de ácaros (71% dos ácaros da amostra) não susceptíveis à dose letal habitual de amitraz para um LC90 (0.4 µg/mL).

A imagem da direita representa a dimensão de um ácaro varroa num corpo humano respeitando a regra da proporcionalidade.

O Varroa destructor é uma das maiores ameaças para a abelha europeia Apis mellifera. Os acaricidas são necessários para controlar a infestação de ácaros. Três substâncias químicas acaricidas convencionais são usadas na França: tau-fluvalinato, flumetrina e amitraz. O tau-fluvalinato foi usado durante mais de 10 anos antes de apresentar perda de eficácia. Em 1995, os testes através de bioensaios mostraram a resistência do primeiro ácaro ao tau-fluvalinato. Em alguns países, o amitraz foi amplamente utilizado, também levando à resistência do V. destructor ao amitraz. Em França, alguns testes de campo de eficiência mostraram uma perda de eficácia do tratamento com amitraz. Adaptámos o bioensaio de Maggi e colaboradores para determinar a susceptibilidade do ácaro ao tau-fluvalinato e amitraz em França em 2018 e 2019. A concentração letal (LC) que mata 90% das estirpes de ácaros suscetíveis (LC90) é 0,4 e 12 µg / mL para amitraz e tau-fluvalinato, respectivamente. Estas concentrações foram escolhidas como fatores determinantes para avaliar a susceptibilidade dos ácaros. Alguns ácaros, coletados em diferentes apiários, apresentam resistência ao amitraz e ao tau-fluvalinato (71% das amostras de ácaros apresentam resistência ao amitraz e 57% ao tau-fluvalinato). Como há poucas substâncias ativas disponíveis em França e se a resistência dos ácaros aos acaricidas continuar a aumentar, a eficácia dos tratamentos diminuirá e, portanto, serão necessários mais tratamentos por ano. Para evitar essa situação, uma nova estratégia precisa ser implementada e incluir a gestão da resistência dos ácaros. Sugerimos que o bioensaio será uma boa ferramenta para aconselhar os fazedores de políticas.

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s10493-020-00535-w

da sacarose ao HMF nos xaropes

Representação da molécula da sacarose (C12H22O11)

Na sequência da publicação anterior pretendo aqui descrever, de uma forma simples, que espero não simplista demais, como o processo de produção de xaropes com o vulgar açúcar granulado e a adição de ácidos conduz inevitavelmente à produção de quantidades maiores ou menores de hidroximetilfurfural (HMF).

A sacarose (vulgar açúcar) pode ser sujeita a um processo de inversão e decompor-se em dois açucares mais simples, a frutose e a glicose. Os catalisadores/aceleradores da inversão podem ser variados. Por exemplo, as abelhas colectam o néctar das plantas, que é composto predominantemente por sacarose/sucrose, e decompôem-no em glicose e frutose por via da adição da enzima natural invertase, convertendo o néctar em mel.

Estando estes dois monossacarídeos presentes, glicose e/ou frutose, a produção de HMF é inevitável em condições normais. É esta razão para o aumento gradual da quantidade de HMF no mel em condições normais de armazenamento. A transformação em moléculas de HMF ocorre por um processo de desidratação das moléculas de frutose e glicose.

Esquema de produção de uma molécula de HMF por desidratação de uma molécula de frutose por perda de 3 moléculas de água.

Este mecanismo de desidratação da frutose e glicose e produção de HMF é acelerado pelo aquecimento num ambiente de baixo pH ou após a adição de ácidos orgânicos ou inorgânicos durante o processamento.

Existe um consenso na comunidade científica que o HMF é tóxico para as abelhas. Contudo os efeitos do HMF nas abelhas e na colónia depende das quantidades presentes e do tempo de exposição ao mesmo. Por outro lado, a toxicidade do HMF traduz-se geralmente em efeitos sub-letais como a redução de tempo de vida das abelhas adultas, alguma mortalidade larval, feridas no intestino das abelhas,… . Como estes impactos negativos são dificilmente observáveis no âmbito de um trabalho normal de inspecção das colónias passam na maioria das vezes desapercebidos ao apicultor.

sumo de limão no xarope: um benefício ou um prejuízo?

Muitos apicultores misturam o sumo de limão nos xaropes de açúcar que fornecem às abelhas para evitar a sua fermentação e/ou promover a inversão dos açucares. O sumo de limão, para além de ser um acaricida ineficiente, pode ser prejudicial quando adicionado aos xaropes açucarados, de acordo com o estudo em baixo, publicado já este ano. Fica a tradução do resumo.

“A escassez de alimentos, juntamente com os stressores bióticos, contribui para as perdas de colónias de abelhas melíferas no inverno. No outono, para apoiar as colónias de abelhas e prepará-las para o inverno, os apicultores podem fornecer xaropes caseiros que podem conter compostos com possíveis efeitos colaterais negativos. Neste estudo, investigamos a toxicidade de um desses compostos (por exemplo, hidroximetilfurfural, HMF) em doses consistentes com dados da literatura tanto para abelhas saudáveis ​​quanto para abelhas debilitadas pelo seu parasita mais importante (ou seja, Varroa destructor). Para reforçar os dados disponíveis sobre a concentração de HMF em xaropes de açúcar, também investigámos a formação de HMF em xarope de açúcar invertido 2: 1 caseiro, considerando, em particular, a influência da temperatura ou do tempo de ebulição em diferentes xaropes de açúcar caseiros de acordo com sua acidez. Finalmente, estudamos os efeitos da acidez dos xaropes de açúcar na sobrevivência das abelhas e testamos se a inversão da sacarose por meio da acidificação é realmente necessária. Concluímos que doses de HMF semelhantes àquelas relatadas como subletais na literatura parecem não ser tóxicas mesmo para abelhas infestadas com ácaros. No entanto, a quantidade de HMF que pode ser encontrada em xaropes caseiros, que aumenta com a temperatura e a acidez, pode ser muito maior e pode causar mortalidade significativa de abelhas. Além disso, destacamos o efeito prejudicial da acidez dos xaropes na sobrevivência das abelhas, sugerindo que a adição de limão ou qualquer outra substância acidificante para inverter a sacarose pode ser prejudicial e desnecessária. Nossos resultados sugerem uma abordagem responsável para a nutrição caseira da colónia.”

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs13592-020-00745-6

Nota: Quando fazia os meus xaropes caseiros utilizava o vinagre (solução aquosa de ácido acético) para evitar a fermentação. Quero deixar claro que não conheço dados experimentais acerca dos efeitos da adição de vinagre ao xarope.

a humidade no interior de uma colmeia quando faz frio cá fora

Na sequência desta publicação, com uma das mensagens centrais a frisar que as abelhas, quando aglomeradas/em cacho nos dias mais frios, se aquecem entre si e nada fazem/conseguem para aquecer o espaço vazio da colmeia, vejamos agora com algum detalhe o que se sabe acerca da produção de humidade/água e da condensação do vapor de água no interior de uma colmeia nos dias frios de outono/inverno.

No inverno, as abelhas geram calor “queimando” o mel que armazenaram, ou seja, digerindo-o e usando a energia resultante para flectir os seus músculos de voo, para produzir e emitir calor. Nos dias frios, elas formam um aglomerado compacto (cacho invernal de abelhas) para manter o calor dentro do mesmo; elas não aquecem a colmeia, apenas o seu cacho.

Para muitos apicultores, é uma prática comum colocar uma camada espessa de algo* no topo da colmeia, no interior, para “absorver a humidade” que é produzida pela respiração das abelhas durante o inverno. O objetivo dessa camada absorvente é evitar que a água se condense no topo da colmeia, pingando e molhando as abelhas, resfriando-as e destruindo a colónia por congelamento.

A água vem da ‘combustão’ do mel; os produtos da combustão são dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). A água é exalada como vapor e condensa-se nas paredes frias e no topo da colmeia.

Na opinião de vários apicultores com experiência a água produzida pelo processo digestivo das abelhas durante o inverno é tanta que nenhuma quantidade razoável de material absorvente poderá absorvê-la. Em vez disso, o que acontece é que a camada espessa de “algo” actua como isolamento, evitando a condensação no topo da colmeia, de modo que o condensado se forma apenas nas paredes da colmeia, onde congela ou escorre pelas paredes, sem prejuízo neste caso. […]

As abelhas ao consumir cerca de 18 kgs de mel geram cerca de 12 litros/Kgs de água. As abelhas metabolizam os açúcares, de acordo com o seguinte equação: C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O.

Quando fazemos as contas, o metabolismo do açúcarpor cada quilograma de mel produz 6/10 de Kgs de água. Adicionemos a isso 17% de água líquida já presente no mel, e acabamos com aquele quilograma de mel transformando-se em 2/3 de Kgs de água (inicialmente mantida no interior do corpo das abelhas). As abelhas no cacho não podem conviver com este excesso de água por um longo período de tempo sem prejuízo para a sua saúde — está associado a desinteria e nosemose — e têm de lidar com ele de alguma maneira.
Sabemos que as abelhas reciclam cerca de ¾ deste excesso de água
na saliva para diluir o próximo quilo de mel para seu consumo, mas isso
não resolve completamente o excesso ganho a cada semana e que ainda precisa para ser tratado de alguma forma.


Lembremo-nos que que esta água é produzida na forma de vapor, ao longo de vários meses de inverno. Presumivelmente, grande parte dele é removido da colmeia com a saída do ar, pois é substituído por ar fresco. No entanto, se o vapor de água entrar em contato com uma superfície interna fria antes de sair da colmeia, ele se condensará, se liquefará e talvez congele.

A superfície interna da colmeia é fria no inverno; não há como evitar isso, e o vapor de água se condensará em superfícies frias. Se essa condensação fria pingar sobre o cacho invernal formado pelas abelhas, será bastante prejudicial. Podemos evitar isto tendo um pequeno orifício de ventilação próximo do topo da colmeia para permitir que o ar carregado de humidade se escape e isolando fortemente o topo da colmeia para que a humidade se condense nas paredes da colmeia, não no seu topo.

fontes:

  • https://www.beeculture.com/wait-much-water/
  • Randy Oliver (Bee-L (11-10-2020))

* Alguns apicultores utilizam como absorventes da humidade, por exemplo, cobertores, ou jornais, ou serradura colocados em tabuleiros dedicados no lugar das pranchetas convencionais.

avaliando a resistência a acaricidas para Varroa destructor em vários locais de Espanha

Estudo muito recente, publicado há um mês atrás (16 de setembro de 2020), e realizado no país vizinho.

A varroose é a doença causada pelo ácaro ectoparasitário Varroa destructor, uma das doenças mais destrutivas das abelhas. Em Espanha, existe uma grande preocupação porque existem muitas falhas terapêuticas após tratamentos acaricidas destinados a controlar surtos de varroose. Em alguns desses casos, não está claro se tais falhas são devidas à evolução da resistência. Portanto, é de grande interesse o desenvolvimento de metodologias para testar o nível de resistência em populações de ácaros. Neste trabalho, uma metodologia de bioensaio simples foi usada para testar se alguns relatos de baixa eficácia em diferentes regiões da Espanha estavam de fato relacionados com uma redução da sensibilidade do Varroa aos acaricidas mais usados. Este bioensaio mostrou-se muito eficaz na avaliação da presença de ácaros que sobrevivem após exposição a acaricidas. Nas amostras testadas, a mortalidade por cumafos variou de 2 a 89%; para o tau-fluvalinato, variou de 5 a 96%. Por outro lado, o amitraz causou 100% de mortalidade em todos os casos. Estes resultados sugerem a presença de Varroa resistente a cumafos e fluvalinato na maioria dos apiários amostrados, mesmo naqueles em que esses princípios ativos não foram utilizados nos últimos anos. A técnica de bioensaio apresentada aqui, sozinha ou em combinação com outras ferramentas moleculares, pode ser útil na detecção de populações de ácaros com diferentes sensibilidades a acaricidas, o que é de vital interesse na seleção do melhor manejo e / ou estratégia acaricida para controlar o parasita em apiários.

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s00436-020-06879-x

a temperatura no interior de uma colmeia com sobreninho quando faz frio cá fora

Durante o inverno algumas das minhas colónias passam o outono e inverno com um sobreninho (são as minhas colmeias armazém de outono/inverno). Neste sobreninho estão guardados/armazenados quadros com muito mel que vou distribuindo pelas colónias que deles necessitem ao longo deste período do ano. As colónias dedicadas a esta função são colónias fortes que entram no outono com 8 a 10 quadros bem preenchidos com abelhas. A pergunta que importa é: serão prejudicadas por terem de aquecer o dobro do espaço durante o inverno? A minha resposta é não, e alguns concordarão e outros discordarão. Tenho verificado que muitas das minhas colónias mais fortes à saída do inverno são precisamente estas colónias que passaram o inverno com uma alça com quadros cheios de reservas num dos distritos mais frios do pais. Passo a explicar, socorrendo-me de Rusty Burlew, que generosamente me autorizou a traduzir os excelentes conteúdos do seu blog Honeybeesuite, porque acho e observo que em colónias fortes este espaço a dobrar não as prejudica mesmo quando faz frio cá fora.

Rusty Burlew

Os sistemas naturais não desperdiçam energia e as abelhas não são exceção. Para sobreviver ao inverno, a aglomeração das abelhas permite-lhes manterem-se aquecidas. Embora façam isso com eficiência, elas não fazem esforço nenhum para aquecer todo o espaço dentro da colmeia.

O lugar mais quente dentro de uma colmeia está no centro da aglomeração/cacho invernal. A temperatura no cacho diminui em direção ao exterior do mesmo. As abelhas do lado de fora deste cacho ficam tão frias que precisam girar para dentro do mesmo. Se o interior da colmeia estivesse uniformemente aquecido, essa rotação seria desnecessária.

Claro, há algum calor perdido deste aglomerado para o ar circundante e, como o calor é perdido, as abelhas devem gerar continuamente mais. Se colocar a mão perto de um ferro aquecido, por exemplo, poderá sentir o calor. A perda de calor do ferro é semelhante à perda de calor do cacho de abelhas. Não precisamos de mudar a mão para longe para deixar de sentir o calor. O mesmo é verdade dentro da colmeia: a temperatura cai rapidamente à medida que você se afasta do cacho invernal.

No entanto, o ar dentro da colmeia é ligeiramente mais quente do que o ar externo do ambiente. Isso ocorre porque a própria caixa colmeia fornece uma pequena quantidade de isolamento. Mas o valor R (resistência térmica) de uma tábua de pinho não é elevado, o que significa que a diferença de temperatura entre o ar interno e o ar externo não é grande.

Existe um lugar na colmeia que é mais quente do que os outros, e esse lugar é imediatamente acima do cacho invernal. Isso ocorre porque o ar quente sobe. Um apicultor na França mediu as temperaturas nas suas colmeias quando a temperatura do ar externo era de 6,7 ° C. Ele mediu 35 °C no centro do cacho, 21,6 ° C imediatamente acima do cacho e 11,1 ° C nas outras partes vazias da colmeia. Outros apicultores encontraram gradientes de temperatura semelhantes.

Costumo ouvir as pessoas dizerem que não deixam alças com mel nas suas colmeias porque é muito espaço para as abelhas aquecerem. Além do fato de que as abelhas não vão tentar aquecê-lo, uma alça de mel é muito diferente de uma alça vazia. Um alça vazia fornece mais espaço para o calor crescente se escoar sem benefícios adicionais, por isso não é uma boa ideia.

Mas um alça de mel tem muitas vantagens. Além de ser um suprimento de comida, uma alça de mel é um bom isolante térmico no topo. Além disso, por ser muito denso, tem alta capacidade calorífica. Isso significa que pequenas ou rápidas flutuações na temperatura externa não mudam prontamente a temperatura do mel. Em outras palavras, um grande suprimento de mel estabiliza a temperatura interna da colmeia.

Além disso, uma alça com mel desacelera o fluxo de ar de baixo para cima na colmeia. Isso ocorre porque o ar que passa pelos espaços estreitos entre os quadros sofre atrito nas superfícies irregulares do favo, de modo que o fluxo de ar é consideravelmente perturbado. Isto é uma coisa boa: queremos que exista algum de fluxo de ar pela colmeia para remover a humidade, mas não queremos um túnel de vento. Um alça de mel, então, fornece alimento, isolamento, estabilidade de temperatura e reduz a velocidade do fluxo de ar quente no interior da colmeia.


“Se as abelhas não podem comer xarope frio, por que podem comer mel frio?” Na verdade, o mel não está frio quando as abelhas o comem.

Quando trazemos mantimentos da loja para casa, nós armazenamo-los num forno quente? Claro que não. E as abelhas também não precisam armazenar mel num local quente. Lembre-se, o calor sobe do cacho, então o mel acima do cacho é bastante quente. Mesmo o mel próximo às laterais do cacho estará quente o suficiente.

À medida que o mel quente é consumido, o cacho move-se lentamente em direção a mais mel e, à medida que se aproximam, esse mel aquece mais ainda. As abelhas aquecem a comida conforme a necessidade, assim como nós. Como mencionei no início, os sistemas naturais não desperdiçam energia. Seria um desperdício total manter todo o mel aquecido o tempo todo.

Além disso, o mel em armazenamento refrigerado tem muito menos probabilidade de ser destruído por outros insetos porque eles também não gostam de comida fria. Se as abelhas mantivessem seus estoques de mel muito quentes, a predação aumentaria.

fonte: https://www.honeybeesuite.com/physics-for-beekeepers-temperature-in-the-hive/

Dito isto, enxames fracos à saída de setembro, nos quais as abelhas cobrem apenas 2 a 4 quadros procuro cada vez mais transferi-los para caixas-núcleo. Estes enxames precisam na minha opinião de uma caixa mais pequena, ou de quadros-falsos (follower boards, segundo a designação inglesa), que aumentem a densidade do enxame. Tenho notado regularmente que estes casos sobrevivem melhor ao inverno e arrancam melhor à saída do inverno quando invernam num espaço interior mais reduzido. Tenho impressão que esta condição lhes permite:

  • atingir uma densidade optimizada;
  • beneficiar mais rapidamente do aquecimento proporcionado pelos dias ensolarados que vamos tendo durante o inverno;
  • diminuir as áreas frias no topo do cacho e assim evitar as zonas de condensação do vapor em água.

expandindo o apiário: o cruzamento da experiência de Bob Binnie com a minha

Há cerca de um ano atrás conheci Bob Binnie através das suas palestras virtuais e do seu canal no YouTube. Como alguém diz num comentário “Existem muitos especialistas com 2 ou 3 anos de apicultura ensinando no YouTube como lidar com as abelhas. Este não é um deles. É uma das poucas apresentações que assisti até ao fim e aproveitei cada minuto.”. Também para mim as palestras de Bob Binnie estão noutro patamar.

Bob Binnie e colaborador num dos seus apiários.

Neste vídeo do seu canal Bob Binnie apresenta a sua experiência de cerca de 40 anos no que respeita a alguns pontos da caminhada feita para expandir os seus apiários. Eu, com apenas 11 anos de experiência apícola, revejo-me e identifico-me com muito do que ali é descrito e aconselhado. Acho, de uma forma difícil de qualificar, que o meu percurso seguiu muitas das directrizes e cruzou-se inúmeras vezes com as experiências deste apicultor norte-americano, ainda que não as conhecesse na altura. Há coisas assim!

A palestra de Bob Binnie de março de 2019

Bob inicia a sua palestra sobre a justificação da expansão do(s) apiário(s) subordinando-a ao objectivo que queremos atingir. No meu caso em setembro e outubro de 2009 adquiri 50 colónias com o objectivo de passar a viver em exclusividade da apicultura. Larguei por completo a minha actividade profissional anterior e desde essa data passei a ocupar-me a tempo inteiro com as minhas abelhas.

De seguida pergunta quantas colónias os presentes desejam ter. No meu caso desejava atingir as 1000 colónias em cerca de 5 a 7 anos. Atingi as 700 passados 8 anos, mas teria chegado às mil e até ultrapassado este número caso não tivesse vendido inúmeras colónias ao longo dos anos.

Bob refere que tem 2500 colónias e que deseja baixar este número. De há dois anos para cá tenho reduzido significativamente o número das minhas colónias.

Refere que de há dois anos para cá “perdeu” 6 a 7 colaboradores experimentados e que ficou apenas ele e um colaborador experimentado para gerirem 2500 colónias. E, em razão desta situação, está a chegar atrasado às colónias para as tratar contra os ácaros varroa. A minha realidade difere neste aspecto, primeiro reduzi o número de colónias e só depois terminei a minha relação contratual com o meu empregado. Contudo, algumas vezes, também cheguei atrasado a algumas colónias para as tratar. Quem me segue com mais assiduidade e atenção sabe bem a importância que desde há anos dou à necessidade de fazer os tratamentos atempadamente. Parece-me que esta ideia começa a fazer o seu caminho na nossa comunidade apícola.

Bob alerta a sua audiência que não funciona passar de 5 a 10 colónias para 500 com um “estalar de dedos”. Infelizmente em Portugal e num passado recente as vozes e os estímulos iam num sentido contrário, e vários “jovens apicultores” sentiram o sabor amargo do fracasso, resultado de um projecto megalómano que tinha tudo para fracassar.

Aconselha a “crescer com as abelhas” e de forma gradual. Nos primeiros anos triplicou o número de colónias de ano para ano… de 8 para 25, de 25 para 75,… em 5 anos tinha 500 colónias. No meu caso das primeiras 50 passei para as 90, e no ano seguinte tinha 170,… e passados 5 anos tinha cerca de 450. Crescemos ambos com um saber acumulado de ano para ano que nos permitiu gerir eficazmente o número crescente de colónias de um ano para o outro.

Voltarei a esta palestra e, por agora, termino com esta afirmação de Bob Binnie: “As competências que são adquiridas com a experiência são a “arte” da apicultura. A apicultura é 50% ciência e 50% arte. A arte é o desconhecido, a arte é a forma de fazermos as coisas, arte é como trabalhamos as abelhas, a arte vai crescer durante o percurso, caso contrário falhamos.

tabuleiro divisor: fase final do maneio

Hoje, entre outras tarefas, transferi alguns dos últimos enxames produzidos este ano com recurso ao tabuleiro divisor para caixas-núcleo ou caixas-colmeia. Procuro sempre colocar estes novos enxames em caixas completamente independentes ao longo da estação e antes da invernagem. Assim, evito as dificuldades na alimentação do enxame situado na caixa inferior e a eventual entrada de humidade excessiva por entre o tabuleiro divisor.

Configuração da colmeia: a colónia 1 habita o ninho inferior com entrada no sentido oposto ao visível; tabuleiro divisor com entrada no sentido visível a separar as duas colónias; e colónia 2 no ninho superior.
Vista interior da colónia 2 que ocupa cerca de 5 quadros.
Transferência dos 5 quadros para uma caixa-núcleo; a rainha foi transferida sobre este segundo quadro.
O tabuleiro divisor.
Vista interior da colónia 1 que habita a caixa inferior.
Vista do exterior logo após a transferência dos quadros para a caixa-núcleo, caixa que irá permanecer no local original durante uns dias, antes de ser transferida para outro apiário.
Vista exterior 15-20 minutos após a transferência.

Deixo um vídeo muito interessante do apicultor profissional Bob Binnie, que conjuntamente com sua esposa Suzette, possui e opera a Blue Ridge Honey Co. em Lakemont, Geórgia, uma operação apícola com 2.000 colónias. Bob Binnie também faz uso dos tabuleiros divisores e descreve aqui as vantagens que observa da sua utilização. Binnie foi eleito o “Apicultor do ano” pela Associação de Apicultores da Geórgia em 2003 e tem uma operação apícola com quase quatro décadas.

expansão da Vespa velutina no noroeste da Espanha: influência da altitude, fatores meteorológicos e efeito da armadilha de isca em organismos vivos alvo e não alvo

Fica a tradução do resumo de um estudo, realizado na vizinha Galícia, acerca dos factores abióticos que parecem condicionar a expansão da V. velutina naquela região e do efeito das armadilhas de isca não selectivas na espécie-alvo e nas espécies não-alvo de acordo com as características dos locais de captura.

Resumo

A vespa de patas amarelas, Vespa velutina, é uma espécie invasora recente na Galiza (noroeste da Espanha). Sua invasão tem um importante impacto socioeconómico porque ataca abelhas (Apis mellifera) e outros insetos polinizadores cruciais. A dispersão desta espécie deve ser monitorada para minimizar os danos que causa e tomar as ações de controle necessárias. Os objetivos deste estudo foram determinar organismos vivos alvo e não alvos capturados por armadilhas de isca e comparar os padrões de distribuição de V. velutina e da autóctone V. crabro. A altitude e as condições climáticas desempenharam papéis importantes no comportamento das vespas. As armadilhas colocadas em áreas costeiras de baixa altitude continham uma maioria de vespas de patas amarelas. Em contraste, as vespas autóctones surgiram em números relativamente maiores nas armadilhas colocadas em áreas de grande altitude. Altas temperaturas mínimas, orvalho, humidade relativa alta e baixas temperaturas máximas favorecem a ocorrência e disseminação de V. velutina. Essas condições são comuns nas áreas costeiras deste território e promoveram a rápida dispersão desta praga. As armadilhas de isca usadas não eram seletivas, então muitos outros organismos artrópodes foram capturados juntamente com o vespão. Portanto, o uso de iscas seletivas para a espécie é necessário para o controlo ecologicamente correto desta praga de inseto.

fonte: https://link.springer.com/article/10.1007/s10340-018-1042-5

Imagens de um estudo sul-coreano acerca da competição interespecífica entre a V. velutina (invasora) e 5 outros vespões nativos daquela região, entre elas a V. crabro.