o que conta mais para sobreviver ao frio

Vista panorâmica do território
das minhas colónias nos
últimos dias.

Nestes dias frios que as minhas colónias estão a passar no distrito da Guarda estou confiante que a mortalidade será uma vez mais inferior a 5%. Esta confiança advém, basicamente, de dois aspectos: na generalidade têm reservas suficientes para este período (10-12 kgs de mel no ninho) e um número de abelhas (mínimo de 4 quadros de abelhas) que lhes permite uma eficiente termorregulação do cacho invernal. Na preparação da invernagem a última intervenção de fundo que tenho por hábito fazer é transferir os enxames mais pequenos para caixas núcleo, de modo a aumentar a sua densidade, e alimentá-los com quadros com mel ou com pasta açucarada (fondant).

Enxame que sofreu o impacto do PMS e foi transferido em meados de setembro para uma caixa núcleo. Na última inspecção, a 20 de novembro, retirei um quadro com poucas reservas e substitui-o por um com boas reservas de mel claro sem melezitose (à direita).

Para sobreviver ao inverno as abelhas comportam-se como os pinguins imperadores na Antártida. Os pinguins não tentam aquecer todo o continente congelado, eles aquecem-se formando um aglomerado compacto, com os indivíduos externos formando uma camada isolante para os pinguins no interior. As abelhas agem de forma semelhante.

As abelhas aglomeram-se, formando um manto exterior (mantle) que minimiza a perda de calor gerado no núcleo do aglomerado de abelhas (core). Se a colónia tiver criação a temperatura no interior do núcleo de abelhas (cacho) estabiliza entre os 32-35ºC. Se a colónia não tiver criação para aquecer (broodless) as abelhas estabilizam a temperatura em redor dos 18ºC. Por este facto as colónias sem criação consomem poucas reserva neste período quando comparadas com colónias com criação nos dias mais frios. As rainhas apis iberiensis respondem bem neste período, parando a postura, ao contrário por exemplo da apis ligustica (abelha italiana) e/ou algumas linhas híbridas mal-adaptadas, que não param a postura nesta época do ano.

Na imagem térmica de um aglomerado de abelhas numa colmeia horizontal do tipo “top-bar”, é observável como muito pouco calor escapa do aglomerado, deixando a temperatura no espaço restante da colmeia aproximadamente igual à temperatura externa. Muitos estudos mostraram que o aglomerado é eficiente em reter o calor, e muito pouco escapa para a cavidade da colmeia.

Por estas razões não me preocupo em adicionar protecções térmicas, deste ou aquele tipo, às colmeias que albergam os meus enxames, num dos territórios do nosso país mais fustigado pelo frio. Como dizia, há 80 anos atrás, o grande apicultor e investigador Clayton Farrar “Se uma colónia sobrevive ao inverno em boas condições tal é mais determinado pelo grau do seu desenvolvimento nos meses antecedentes do que pelo tipo ou quantidade de proteção da colmeia. ”. Mesmo que vários apicultores adorem discutir a proteção das colmeias no inverno, e sintam que estão a fazer a diferença ao proteger a colmeia com esta ou aquela placa de poliestireno, a minha atenção centra-se na produção de enxames novos numa época do ano que lhes dá o tempo suficiente para se desenvolverem antes do inverno chegar, e centra-se também no tratamento eficaz e a tempo e horas do varroa. Como outros, defendo que a sobrevivência das colónias ao inverno depende muito pouco do que fizermos/adicionarmos à própria estrutura, e muito dependerá da saúde e dimensão da colónia, constituída por abelhas preciosas de inverno maravilhosamente adaptadas ao frio.

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