Não sendo uma circunstância que verifique nas minhas colónias, em alguns países (Suíça (1), França, por ex.), ou eventualmente em certas regiões do nosso país, acontece com alguma frequência as colónias invernarem com mel que cristalizou nos quadros do ninho. A cristalização do mel está frequentemente associada a elevados teores de melezitose no mel, superior a 10% dos açucares totais. Este mel apresenta uma taxa elevada de sais minerais, o que lhe confere uma condutividade eléctrica típica dos meis de melada, acima dos 0,8 mS/cm.
Sendo o mel de melada muito procurado por alguns dos maiores apreciadores de mel e valorizado pelos mercados internacionais e pelos grossistas para a produção de lotes mistos, há muito apicultores em certas regiões europeias que entendem que este é um mel “perigososo” enquanto reserva alimentar para as abelhas durante a invernagem. Segundo a sua experiência o consumo deste mel pelas abelhas durante a invernagem está frequentemente associada a desinteria, que pode culminar num excesso de mortalidade de abelhas neste período (2). Na Suíça é recomendado aos apicultores a extracção destes quadros dos ninhos e/ou a sua guarda e re-utilização na primavera seguinte (ver https://www.abeilles.ch/actualites/detail/News/detail/attention-miel-de-melezitose-1005.html).
Para a re-utilização destes quadros com mel cristalizado, um dos maneios aconselhados consiste na colocação na primavera seguinte destes quadros previamente desoperculados numa alça por baixo da caixa do ninho e, simultaneamente, a colocação de uma alça por cima do ninho com quadros puxados vazios. As abelhas irão liquidificar o mel cristalizado e transferi-lo, em maior ou menor percentagem, para os quadros da alça que foi colocada por cima do ninho (ver https://www.apiservices.biz/media/kunena/attachments/9028/zementhonig_f.pdf).
Notas: (1) uma palavra de reconhecimento e gratidão à equipa de pesquisa do Centre Suisse de Recherches Apicoles, Liebefeld, Suiça, pelo que me tem ensinado e pelo que tem confirmado do pouco que já sabia; (2) a mortalidade normal, durante a invernagem, situa-se entre as 2 mil e as 3 mil abelhas (Imdorf, A., 2010).