o que observo nas minhas abelhas, nos meus apiários, nos respectivos territórios…

Esta publicação vem a propósito das “verdades” apícolas que todos, sem excepção, transportamos dentro de nós, aplicamos no nosso maneio e, algumas vezes, desejamos convencer outros apicultores a aplicá-las, defendendo convicta e teimosamente que são o único e melhor caminho para uma prática apícola bem sustentada. Entre outros aspectos, esta atitude imperativa e impositiva, assumida por alguns apicultores, ainda que cheios de boa vontade na divulgação da sua “verdade universal” que lhes parece tão óbvia, esquece dois aspectos fundamentais:

  1. toda a apicultura é local. Para mim, isto quer dizer que apesar dos diferentes enxames de abelhas apresentarem uma vasta gama de comportamentos e necessidades bastante universal e semelhante, os momentos, épocas do ano, em que os apresentam pode diferir de local para local semanas ou até meses. Na minha opinião, um exemplo bastante elucidativo deste caso é o ciclo anual de desenvolvimento e declínio da população de uma colónia de abelhas, um aspecto básico para um maneio pertinente das colónias.
  1. sem um grupo de controlo que permita testar devidamente hipóteses explícitas e/ou implícitas — acerca das vantagens deste ou daquele tipo de maneio, desta ou daquela peça de equipamento, desta ou daquela opção para alimentar e nutrir as colónias, desta ou daquela… — as conclusões retiradas destas experiências “ingénuas” em rigor pouca ou nenhuma validade têm.

A este propósito chamo, uma vez mais, a atenção para as lacunas formativas no nosso país, ultrapassáveis com centros apícolas devidamente sustentados e orientados, onde as conclusões retiradas de experiências devidamente controladas com a nossa abelha autóctone e em territórios representativos da diversidade edafo-climática do todo continental e insular, serviriam de referência para as opções que os apicultores tomariam.

Será esta lacuna e ambição para a superar exclusiva do nosso tempo e do nosso país? O texto em baixo, com mais de um século, de um apicultor de nome Flint, do Michigan (EUA), recentemente trazido à luz por P.B. no fórum Bee-L, e respectivo comentário de Randy Oliver, ScientificBeekeeping.com, mostram que nem a lacuna é recente nem local, e a ambição de a superar não é exclusiva deste humilde escriba — que vai referindo com frequência que o que observa é nas suas abelhas, nos seus apiários, nos respectivos territórios — e que teme todos os dias que as suas opções de maneio sejam vistas como receitas universais e devidamente testadas. Que fique claro, uma vez mais, que não são nem uma coisa nem a outra. Quem deseje e procure “o receituário” este não é o local indicado para o encontrar.

Nem todo apicultor é “talhado” para ser um experimentador. É necessário uma pessoa com espírito judicioso, que esteja perfeitamente disposta, por assim dizer, a que uma experiência prove a verdade. Muitos de nós temos a tendência de primeiro tomar uma decisão e depois trabalhar e tentar provar aquilo em que já acreditamos. Esta atitude não vai responder ao necessário.

Um experimentador deve estar totalmente desinteressado nos resultados, isto é, estar disposto a que uma experiência teste ambos os lados da questão. Custa dinheiro, tempo e abelhas para experimentar. O apicultor médio não pode dar-se ao luxo de dispensar muitos destes recursos sem uma suposição razoável de que haverá um retorno em dinheiro. Se ele deseja experimentar, será confrontado com a pergunta, será que vale a pena? A menos que haja boas perspectivas de retorno em dinheiro, a motivação para experimentar será abandonada. Estes não são os únicos motivos pelos quais seria aconselhável ter apicultores competentes contratados pelo governo para se encarregarem dos apiários experimentais. A REVISÃO DOS APICULTORES. FLINT, MICHIGAN, 10 DE JULHO DE 1893.

fonte: Bee-L, P.B., 5 dezembro, 2020

Comentário/reposta de Randy Oliver:

Pouco mudou desde 1893:) É tão frustrante ouvir apicultor após apicultor dizer-me “testei esta e aquela coisa”, mas que não se preocupou em fazer um grupo de controle. Você não pode aprender sem um grupo de controle.” 

fonte: Bee-L, Randy Oliver, 5 dezembro, 2020, ScientificBeekeeping.com

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