transitando: do modo de enxameação para o modo de produção

No dia de ontem transitei entre os 4 apiários que tenho activos neste momento — na terça-feira re-activei o quarto.

Vista parcial do quarto apiário.

E com este transito procuro acompanhar a transição entre o modo de enxameação reprodutiva, a terminar no território, e o modo de produção.

Para ilustrar a gestão que faço nesta época de transição, nada melhor que mostrar o que faço actualmente com colónias que me serviram para realizar desdobramentos pela técnica Doolittle — durante o período da enxameação reprodutiva.

Hoje a maioria dessas colónias permanece com a configuração ninho, excluidora de rainhas e sobreninho — com boa parte delas com uma meia-alça sobre o sobreninho.

Configuração actual das colónias que foram utilizadas para os desdobramentos pela técnica Doolittle.

A gestão da transição nestas colónias passa por um maneio simples: nos sobreninhos, onde antes colocava quadros com criação retirados do ninho da própria e/ou de outras colónias, coloco agora e de forma gradual quadros com cera laminada, que estão a ser puxados para as abelhas aí armazenarem o néctar recolhido.

Quadro colocado recentemente no sobreninho, já semi-puxado e parcialmente preenchido com o néctar recolhido nestes dias.

E assim vou fazendo a minha apicultura, transitando ao ritmo das abelhas. E sinto-me bem a acompanhar este transito e este ritmo. As abelhas recentram-me como ser natural, impelindo-me e lembrando-me que tudo nelas é feito em ciclos de desenvolvimento anuais: primeiro há que fazer a prevenção e o controlo da enxameação, para depois, e só depois, pensar em orientar as colónias para o armazenamento de néctar e mel para crestar — no caso concreto destas colónias o armazém do néctar/mel tem a dimensão de um sobreninho. As abelhas — as minhas ao menos —antes de pensarem em armazenar para o inverno pensam em reproduzir-se. Levei anos para compreender, aceitar e, sobretudo, encontrar soluções para integrar este facto natural na abordagem global de maneio das minhas colónias de abelhas!

a transmissão do conhecimento tácito e o encontro de gerações

As organizações procuram com as ferramentas de “gestão do conhecimento”, que os seus empregados mais experientes de saída da empresa, por reforma ou mudança para outro local de trabalho, por exemplo, capturar o conhecimento tácito destes para o transmitir aos mais novos. Entre outras medidas, como o recurso a entrevistas, gravações do desempenho no terreno, umas das mais utilizadas passa por colocar o aprendiz ao lado do seu colega mais experiente acompanhando-o no desempenho da suas funções. Esta experiência visa dar oportunidade a que um conjunto de detalhes do modo de fazer, do momento de o fazer e do contexto em que os fazer, não escritos e capturados nos manuais dos descritivos de funções e de procedimentos, sejam apreendidos pela observação “natural”, em local, pelo aprendiz.

Vem isto a propósito da mais recente visita do meu amigo Marcelo Murta, que me acompanhou e ajudou na realização de diversas operações de maneio em dois dos meus apiários. Tendo o Marcelo lido boa parte do que escrevo no blog, o local onde verto o meu conhecimento explícito, achei por bem que viesse ver como trabalho, para que pudesse aceder a uma parcela do conhecimento tácito que uso no maneio das colónias e das diversas componentes que o envolvem.

O Marcelo Murta à minha esquerda.

Para terminar o Marcelo, que tem idade para ser meu filho, também partilhou comigo os seus conhecimentos, opiniões e sugestões. Julgo que tal se originou na boa relação que temos os dois, por não o oprimir com as minhas opções e narrativas, por me manter disponível e receptivo aos seus contributos e saberes.

O encontro de gerações não sendo uma impossibilidade metafísica, exige uma escuta atenta, uma apreciação justa, uma atitude equilibrada de ambas as partes. Relevam-se os pontos comuns e analisam-se tranquilamente as divergências. Assim se estabelece uma relação serena e produtiva.

Que a diferença de idades seja um motivo para as diferentes gerações erguerem pontes, não muros. Que o conhecimento tácito flua como o néctar flui entre as plantas e as abelhas…

sobre o estado de humor de uma colónia de abelhas

A preservação do estado normal de uma colónia de abelhas depende, na sua base, de três condições necessárias: uma abelha-mãe no desempenho regular das suas funções; abelhas adultas, de várias faixas etárias preferencialmente, e alimento, sendo este mel/néctar, pólen/pão de abelha e água. Uma das manifestações deste estado de normalidade, na época que atravessamos, é a presença de ovos. Estou absolutamente convencido que a normalidade vs. anormalidade de uma colónia tem expressão no estado de humor da mesma.

Ovos, ou a natureza re-iniciando-se…

Neste momento, se abro uma colónia e as abelhas presentes na meia-alça permanecem ocupadas nos seus labores, em boa medida indiferentes à invasão do seu espaço, considero que tudo lhes deve estar a correr de feição e de forma prazerosa. Se abro um ninho e encontro as abelhas muitíssimo calmas, se poucas ou nenhumas levantam voo, à la buckfast, vou logo ver se têm mestreiros de enxameação. Se, pelo contrário, as encontro demasiado deslaçadas, desorganizadas, defensivas, irritadas e indecisas vou verificar se estão órfãs. Se as encontro lentas, sem energia e deprimidas tenho de ver o estado de saúde da sua criação.

Toda a natureza comunica o seu estado de humor, e as abelhas não são excepção. Até porque acredito que a ausência de um estado de humor é uma impossibilidade no mundo dos seres vivos mais inteligentes e que funcionam em rede, das árvores, às abelhas (por que razão não fui capaz de terminar no homem, fica para mim!). Basicamente esse estado é a expressão do balanço entre as forças e as fragilidades, entre a nutrição e a privação, entre a saúde e a doença, entre o bem-estar e o mal-estar, entre o amor e a sua ausência, que cada ser vivo vivencia.

Sejamos nós, apicultores, observadores atentos dos estados de humor das nossas colónias de abelhas, e saibamos descodificar correctamente alguns dos mais elementares. Até porque alguns são-nos ainda indecifráveis, como indecifrável é, por vezes, o coração de uma mulher.

Nota: aproveitem a caixa de comentários, quem o desejar, para aí descrever outros estados de humor que encontra nas vossas colónias.

com borges e calvino

Referi na primeira publicação que este blog surge, entre outras, pela razão do meu prazer pela escrita. E este prazer está associado a um enamoramento, o enamoramento pela literatura.

E ao escrever, mesmo num blog de apicultura eminentemente técnico, aqui e ali não podemos deixar de expressar, desejando até expressar, procurando até expressar, um certo traço de escrita presente nos autores que tanto amamos ler.

Borges e Calvino

Os dois excertos em baixo, cuja escolha não é despropositada, como se fosse possível fazer escolhas despropositadas, são de Jorge Luís Borges, um velho companheiro desde os meus 16 anos, e de Italo Calvino, um escritor que conhecendo como se conhecem os vizinhos numa cidade, só muito recentemente lhe abri a soleira da minha porta, bebi um copo com ele, e desde essa altura se tornou um companheiro para a/da vida.

Que os mundos maravilhosos das abelhas e da literatura nos continuem a encantar.

OS DOIS REIS E OS DOIS LABIRINTOS (1), de Jorge Luís Borges

Contam os homens dignos de fé (porém Alá sabe mais) que nos primeiros dias houve um rei das ilhas da Babilônia que reuniu arquitetos e magos e ordenou-lhes a construção de labirinto tão surpreendente e sutil que os varões mais prudentes não se aventuravam a entrar, e os que entravam se perdiam. Essa obra era um escândalo, pois a confusão e a maravilha são operações próprias de Deus e não dos homens. Com o correr do tempo, veio a sua corte um rei dos árabes, e o rei da Babilônia (para zombar da simplicidade de seu hóspede) fez com que ele penetrasse no labirinto, onde vagueou humilhado e confuso até o fim da tarde. Implorou então o socorro divino e deu com a porta. Seus lábios não proferiram queixa nenhuma, mas disse ao rei da Babilônia que ele tinha na Arábia outro labirinto e, se Deus quisesse, lho daria a conhecer algum dia. Depois regressou à Arábia, juntou seus capitães e alcaides e arrasou os reinos da Babilônia com tão venturosa sorte que derrubou seus castelos, dizimou sua gente e fez prisioneiro o próprio rei. Amarrou-o sobre um camelo veloz e levou-o para o deserto. Cavalgaram três dias, e lhe disse: “Oh, rei do tempo e substância e símbolo do século, na Babilônia, quiseste que me perdesse num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; agora o Poderoso achou por bem que eu te mostre o meu, onde não há escadas a subir, nem portas a forçar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros que te vedem os passos”.

Em seguida, desatou-lhes as amarras e o abandonou no meio do deserto, onde morreu de fome e de sede. A glória esteja com Aquele que não morre.

(1) Esta é a história que o reitor comentou do púlpito. Ver em Abenjacan, o Bokari, morto no seu labirinto.

AS CIDADES E O DESEJO, de Italo Calvino

A três dias de distância, caminhando em direção ao sul, encontra-se Anastácia, cidade banhada por canais concêntricos e sobrevoada por pipas. Eu deveria enumerar as mercadorias que aqui se compram a preços vantajosos: ágata ônix crisópraso e outras variedades de calcedônia; deveria louvar a carne do faisão dourado que aqui se cozinha na lenha seca da cerejeira e se salpica com muito orégano; falar das mulheres que vi tomar banho no tanque de um jardim e que às vezes convidam — diz- -se — o viajante a despir-se com elas e persegui-las dentro da água. Mas com essas notícias não falaria da verdadeira essência da cidade: porque, enquanto a descrição de Anastácia desperta uma série de desejos que deverão ser reprimidos, quem se encontra uma manhã no centro de Anastácia será circundado por desejos que se despertam simultaneamente. A cidade aparece como um todo no qual nenhum desejo é desperdiçado e do qual você faz parte, e, uma vez que aqui se goza tudo o que não se goza em outros lugares, não resta nada além de residir nesse desejo e se satisfazer. Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo.

Os dois reis e os dois labirintos, in O Aleph; As cidades e o desejo, in As cidades invisíveis

projectistas de parques solares e polinizadores: a simbiose

O Miguel Marques chamou-me a atenção para dois artigos de divulgação científica em torno da conjugação simbiótica entre a instalação de parques solares, a implementação de sementeiras/ plantações biodiversas com espécies vegetais nativas, e o efeito benéfico sobre os insectos polinizadores. Os resultados são de duas investigações, uma levada a cabo nos EUA e outra no RU. Fiz a tradução de alguns excertos com a divulgação dos dados recolhidos pelos investigadores norte-americanos.

“Pesquisadores nos Estados Unidos constataram que o sombreamento parcial fornecido pelos parques solares cria um microclima que favorece o crescimento mais diverso e abundante de flores e polinizadores. Eles também descobriram que o sombreamento parcial aumenta a abundância da floração ao atrasar o seu desenvolvimento, aumentando a forragem para polinizadores durante o final da estação quente e seca.

Os insetos polinizadores visitam as flores, mesmo que estas cresçam sob os painéis de um parque solar, e a sombra dos módulos também é benéfica ao atrasar o período de floração, o que, por sua vez, tem um efeito positivo na abundância e diversidade dos polinizadores.

Esta é a principal conclusão do estudo “O sombreamento parcial por painéis solares retarda o florescimento, aumenta a abundância floral durante o final da estação para polinizadores num ecossistema agrivoltaico de sequeiro”, publicado recentemente em relatórios científicos, nos quais cientistas da Universidade Estadual de Oregon nos EUA investigaram se o acoplamento de PV ao habitat para polinizadores selvagens pode ajudar a aumentar a biodiversidade.

“Alguns estados, como Minnesota, Carolina do Norte, Maryland, Vermont e Virgínia, desenvolveram diretrizes e incentivos estaduais para promover instalações solares com foco em polinizadores”, afirmam os cientistas. “Nesta prática, a forragem para polinizadores é estabelecida como o sub-bosque do painel solar, em vez da grama tradicional ou cascalho.”

fontes: https://www.pv-magazine.com/2021/04/20/pollinator-focused-solar-parks/

o controlo da enxameação ou apaixonado como um adolescente

Tenho utilizado pontualmente a técnica Demaree. Este ano, e até à data, utilizei-a em três colónias. Por mero acaso, neste conjunto de três casos acompanho neste blog o caso onde se revelou mais complicado e difícil fazer o controlo do impulso reprodutivo. Enquanto nos outros dois casos não observei a produção de mestreiros no ninho após a aplicação da técnica, este caso não seguiu exactamente esse curso como aqui descrevi.

A colónia. A descrição do caso começou aqui.

Ontem foi dia de voltar ao apiário realizar diversas tarefas, como a verificação de postura em núcleos onde introduzi virgens a 12 de abril. Em mais de 50% dos casos só ontem vi os primeiros ovos (tema para uma futura publicação).

Passados quase já 30 dias sobre o início da aplicação da técnica voltei a inspeccionar a colónia do caso em análise. Primeiro ponto a realçar: não vi mestreiros de enxameação, de substituição ou de emergência nesta colónia — aparentemente a colónia entrou em modo de produção e deixou para trás o modo de enxameação.

Quadro do sobreninho, onde se observa os primeiros apontamentos do aromático néctar da Erica arborea — não da Erica lusitanica, como erradamente assumi numa publicação anterior (obrigado Filipa!). Neste território, e pela frente, ainda tenho fluxo de várias origens durante cerca de mais 6 a 8 semanas.

Segundo ponto a realçar: se no sobreninho as coisas estão a começar a acontecer, no ninho o conjunto das três fotos em baixo falam por si e dispensam-me o texto…

Quadro na posição 6.
Quadro na posição 7.
Quadro na posição 8.

Terceiro ponto a realçar: se bem me lembro no passado dia 12 de abril, transferi para o sobreninho uns 7 ou 8 quadros com criação. De lá para cá já retirei do ninho desta colónia 3 quadros com criação. No total esta colónia doou cerca de 50 mil abelhas a outras colónias — as contas são, 10 quadros cada com cerca de 5 mil abelhas para emergir. Este número de abelhas doadas enchem duas caixas Langstroth de uma ponta à outra mais uma meia-alça. Estando eu expectante que esta colónia produza até ao final da época cerca de 30-40 kgs de mel, tomara eu que todas as minhas colónias tivessem este nível de desempenho e me dessem este rendimento. Que tenho para dizer a concluir? Menos colmeias não significa necessariamente menos produção e menos rendimento. E agora é aqui que me encontro, depois de quase ter abandonado a apicultura, como um adolescente, apaixonado de novo — “Não adianta represar um rio, mais tarde ou mais cedo ele volta ao seu percurso original“.

a apicultura enquanto arte

Talvez por estar no ramo, encontro na apicultura uma dimensão artística que me passa despercebida noutros ramos da agro-pecuária. Que me perdoem alguns se estiver a ser injusto e precipitado, mas fazer a apicultura é diferente de semear batatas. Uma alma poética poderá vir a ser apicultor, dificilmente será um produtor de batatas. Ninguém é melhor que ninguém, apenas são diferentes as suas naturezas.

A apicultura enquanto expressão de beleza.

Enquanto homem que vive a sua vida em várias dimensões, os leitores mais atentos já terão dado conta da minha especial preferência por uma forma de arte: a música. Sempre me acompanhou, desde que me lembro.

Era ainda um jovem e fundei uma empresa promotora de concertos. Juntamente com a minha mulher e o meu amigo Gonçalo Barros fundámos a NAO — Novas Audições Objectivas — que trouxe a Portugal (Coimbra, Lisboa, Porto, Almada e Montemor-o-Velho) bandas estrangeiras acompanhadas frequentemente de bandas nacionais na primeira parte. Talvez entre os leitores deste blog se encontre alguém que tenha visto algum concerto promovido pela NAO — o mundo é pequeno, não é?

Sejam poetas sendo apicultores!

as filhas temporãs ou as rainhas de enxameação

Nesta publicação descrevi a enxertia de mestreiros em duas colónias-núcleo no passado dia 17 de abril. Anteontem verifiquei que andava uma rainha em postura em cada uma delas.

A sequência de acontecimentos: no dia 02-04 eliminei a rainha deste núcleo; a 5 introduzi uma rainha virgem; como não deu resultado a 15 re-introduzo outra virgem; a 17 introduzo mestreiro enxertado porque verifiquei que a rainha estava morta dentro da gaiola. Basicamente procurei dar resposta aos déficites existentes com os recursos disponíveis no momento.

Ontem, um desses núcleos foi passado para uma caixa-colmeia.

O núcleo…
A rainha…
A postura e a criação aberta…
Da caixa-núcleo para a caixa-colmeia.

Em conclusão e remetendo para o conteúdo da publicação da hiper-ligação em cima, as abelhas guardaram e defenderam mestreiros com rainhas viáveis das intenções destrutivas das diversas rainhas virgens nascidas horas ou até dias antes.

Estas rainhas enxertadas provêm de mestreiros de enxameação! Óptimo, são as rainhas melhor alimentadas e melhor criadas de todas as que podemos deitar a mão — muito provavelmente têm um número de ovaríalos acima da média. Óptimo, porque este ano vão fazer crescer a sua família a um ritmo tal que provavelmente me vão dar uma ou duas meias-alça no castanheiro. Óptimo, porque no próximo ano antevejo que estas rainhas arranquem precocemente e me ajudem a equalizar outras colónias que se foram mais abaixo durante o inverno e/ou apresentem um arranque mais lento e tardio. Óptimo, serão colónias ideais para trabalhar com ninho e sobreninho logo em março, e colónias que dedicarei aos desdobramentos pela técnica Doolittle relativamente cedo, em meados de março — estes desdobramentos não multiplicarão a sua herança genética, apenas aproveitará a sua produção, abelhas e quadros com criação. Aproveito sem rebuço, e com este sentido estratégico, algumas rainhas provenientes de mestreiros de enxameação. Há quem lhe chame linhas enxameadoras, eu prefiro chamar-lhe linhas precoces.

Nota: nesta publicação não estou a falar de colónias que apresentam mestreiros de enxameação com meia-dúzia de quadros mal preenchidos de abelhas e /ou que enxameiam duas vezes no mesmo ano. Aos anos que não vejo colónias dessas nos meus apiários. Nesta publicação falo de colónias que sobreviveram saudavelmente ao inverno, saem dele mais desenvolvidas que a média, e são uma fonte temporã do recurso mais precisoso da apicultura à saída do inverno no meu território: abelhas.

ozono: um tratamento eficaz da varroose?

Em 2015, no Beesource, o inventor de um equipamento de tratamento da varroose por meio do ozono, Luigi Conelli, publicou esta afirmação: “

O “ozonador ” do Sr. Luigi Conelli. Um ozonador amarelo-ferrari com um preço de Ferrari!

Concluímos nossos testes usando ozono em abelhas. Os resultados são muito interessantes. Aplicando 20 minutos de ozono nas colmeias, quando todas as abelhas estão dentro, observámos como resultado a morte de todas as varroa dentro das colónias por um longo período, mais de 21 dias. Todos os estádios de varroas caíram mortas depois de algumas horas.
Observámos colónias sem varroa, loque europeia, loque americana, Nosema sp. ect.
(Luigi Conelli, Beesource, 13-07-2015)

Fez também afirmações peremptórias que o dito tratamento ao mesmo tempo que era eficaz na eliminação das bactérias nocivas, preservava vivas as bactérias benéficas presentes na colmeia!!! Achei, como outros companheiros do Beesource, que este tipo de afirmações extraordinárias requeriam provas igualmente extraordinárias. Tanto quanto é do meu conhecimento o Sr. Conelli nunca as apresentou, e acabei por me desinteressar, esquecer e continuar a tratar a varroose como sempre o fiz, “dentro da caixa”!

Contudo, recentemente num grupo de apicultura português, surgiu de novo a indagação sobre esta técnica. Lembrei-me das afirmações do inventor em 2015, estranhando que de lá para cá quer a técnica quer o equipamento tenham caído no quase completo anonimato — que em Itália e noutras partes do mundo os apicultores não tenham testemunhado massivamente a sua satisfação — e procurei informação em língua inglesa sobre esta técnica para o tratamento da varroose, não fosse dar-se o caso de que entre 2015 e a actualidade tenha merecido a atenção de alguma equipa de investigação independente. Não encontrei nada no Google Scholar, o sítio onde estão acessíveis uma grande quantidade de estudos científicos — e para um equipamento tão “super-hiper” achei no mínimo isto muito bizarro! Ontem lembrei-me de pesquisar em língua italiana, uma vez que o inventor é italiano. Terá sido feito algum teste, com o devido controle, no país do inventor? E sim, esse teste foi feito em 2015, por uma equipa de investigadores do Istituto Zooprofilattico Sperimentale del Lazio e della Toscana “M. Aleandri”  e do Istituto Superiore di Sanità. Sobre a eficácia na eliminação das bactérias de loque europeia os resultados são decepcionantes. Sobre a eficácia na eliminação dos esporos da loque americana idem aspas. Contudo o que mais me interessou foi saber sobre o efeito acaricida da aplicação do ozono durante 20 minutos em colónias de abelhas. Em baixo deixo a tradução de um excerto publicado na revista Apitalia em fevereiro de 2016, com os resultados obtidos.

“Cinco colmeias sem criação foram tratadas com ozono, aplicando-o diretamente na colmeia durante 20 minutos e seguindo as instruções do fabricante do instrumento utilizado.
Algumas colmeias usadas como controle não foram tratadas. Para avaliar a eficácia acaricida do ozono, foi realizado um tratamento 14 dias após a administração do ozono, com Apibioxal e Apivar. A eficácia acaricida obtida com o tratamento com ozono foi igual a 4,9% ± 0,8%, enquanto a queda natural encontrada no grupo controle não tratado foi igual a 4,8% ± 0,7%. A diferença de eficácia entre o grupo tratado com ozono e o grupo de controle não foi estatisticamente significativa.

A força das colmeias observadas, as populações de abelhas adultas dos dois grupos experimentais e de controlo, foi avaliada no dia do tratamento e no final do período estimado para testar a eficácia do ozono (igual a 14 dias) segundo o método descrito por Delaplane et al., 2013.

No grupo tratado com ozono houve uma redução maior na quantidade de abelhas adultas do que no grupo controle, embora não significativa. A mortalidade aguda de abelhas foi avaliada pelo cálculo do número de abelhas mortas que caíram nos dias seguintes ao tratamento, colocando recipientes especiais, chamados cestos em gaiola, colocados à frente das colmeias. Não foi encontrado nenhum fenómeno agudo de mortalidade devido ao tratamento.
A mortalidade das abelhas rainha também foi avaliada no final do período de tratamento. Não se verificou a mortalidade de rainhas, tanto no grupo tratado quanto no grupo controle.
” (fonte Apitalia, 2/2016, https://www.izslt.it/apicoltura/wp-content/uploads/sites/4/2018/06/5.-Applicazione-dellozono-in-apicoltura-risultati-preliminari.pdf)

Em conclusão, ao contrário do que eu temia este tratamento, nas doses e na duração preconizada pelo inventor, não matas as abelhas, o que já é bom… tirando o facto que também não mata as varroas.

uma breve conversa: o que aprendo e ouço aos melhores apicultores norte-americanos

Paul Hosticka

Eu não dou a mínima para o que faz alguém que perde mais de 30% de suas colónias.Paul Hosticka

Nesta era de sensacionalismo, concordo plenamente! Especialmente ignoro aqueles que parecem nunca aprender a melhorar.
Aqui na Califórnia, existem apicultores que cumprem os seus contratos de polinização de amendoeiras de forma confiável ano após ano. Se cometerem um erro e perderem colónias, eles entendem o porquê, e deitam as culpas apenas a si mesmos.
Copie o sucesso — há muitos apicultores bem-sucedidos por aí,
silenciosamente mantendo colmeias saudáveis e ganhando dinheiro.
Randy Oliver, Grass Valley, CA
530 277 4450
ScientificBeekeeping.com

in Bee-L (01-05-2021)

Nota: uma força muito grande ao Randy, neste momento difícil da sua vida. Que supere rápida e totalmente o grande desafio de saúde que tem pela frente.