acompanhamento e serviço técnico em apiário: 2ª sessão

Cerca de duas semanas depois da primeira intervenção no apiário de um companheiro, situado nas proximidades de Coimbra, combinámos para hoje uma nova sessão de trabalho (ver aqui o resumo da intervenção anterior).

No final das 7 horas de trabalho, o apicultor contava com mais 16 novas colónias, resultantes dos desdobramentos efectuados, uns motivados por razões de controlo da enxameação e outros por necessidade de substituir rainhas semi-esgotadas, com um padrão de postura medíocre.

Para além dos desdobramentos procedi também a:

  • avaliação da taxa de infestação em abelhas adultas;
  • inspecção de todos os 32 ninhos das colónias estabelecidas ali instaladas;
  • organização dos ninhos;
  • transporte e instalação de 8 desdobramentos para/num segundo apiário.

De referir que num ano de intensa enxameação, a este companheiro só um enxame lhe fugiu para as árvores. As técnicas de prevenção e também as técnicas de controlo da enxameação que tenho levado a cabo têm sido oportunas e suficientes neste caso, com estas duas visitas intervaladas em cerca de 15 dias.

Em baixo um pequeno foto-filme de alguns momentos do trabalho hoje efectuado.

Colmeia que se preparava para enxamear nos próximos dias. Foi submetida ao controlo de enxameação e não enxameará.
Um dos quadros com uma rainha de colónia em situação de breve enxameação, colocado em caixa nova. Esta continuará a trabalhar em caixa do meu amigo. Confidenciou-me que não gosta de andar a apanhar enxames nos galhos das árvores. Partilhamos esse gosto de não gostar do mesmo!
Medição da taxa de infestação. Bastante baixa hoje, depois de ter estado bastante alta, em resultado de várias medidas correctivas que sugeri ao longo dos últimos 3 meses que acompanho mais regularmente as colónias.
Mias uma carga com 8 desdobramentos, que a juntar aos 24 efectuados nestas duas visitas técnicas permitiu ao companheiro duplicar o seu efectivo.

Para conversar e agendar acompanhamento técnico em apiário podem contactar-me para jejgomes@gmail.com

na prática e no terreno: o controlo da varroose ao longo de mais de 8 meses

Hoje, numa manhã magnífica, fui ao apiário 1 do Marcelo fazer medição da taxa de varroa através dos procedimentos usuais. O primeiro objectivo era medir a taxa de infestação em 50% das colónias estabelecidas presentes nesse apiário; o segundo objectivo passou por recolher dados actuais para apresentar na 1ª edição do workshop Controlo da Varroose, a realizar no próximo dia 20 de abril em Coimbra. Dados do terreno, obtidos de acordo com as melhores práticas hoje disponíveis, que darão robustez à proposta de intervenção que iremos partilhar em Coimbra e Macedo de Cavaleiros.

Prática assente em bons conhecimentos… conduz a boas práticas. E boas práticas associadas a bons conhecimentos permitem a qualquer apicultor manter a Varroose muito controlada, e percebendo os fundamentos que conduzem ao sucesso da sua intervenção será capaz de ajustá-la e melhorá-la de forma contínua.

Voltando ao apiário 1 do meu amigo Marcelo. As boas práticas que temos vindo a utilizar nos últimos 8 meses e meio expressam-se em resultados confiáveis, são medidos frquentemente, e resultados dignos de apresentar. Dignos de apresentar porque mostram no terreno e na prática fundamentada que levamos a cabo que, em colmeias reais e iguais às de todos, é possível quebrar com poucos e bons recursos o crescimento exponencial da população de varroas.

Vejamos os resultados no apiário: desde o início de setembro até à data, com dois tratamentos “soft” efectuados no período, a taxa de infestação média no apiário não ultrapassou 0,3% (os resultados por colónia situaram-se entre 0% e 0,6%.)

Abordagem mais efectiva e prática que esta que estamos a levar a cabo não conheço. É este conhecimento fundamentado e esta prática aplicada e estes resultados que iremos partilhar.

Em baixo algumas fotos do trabalho de hoje.

Duas das colónias testadas.
Abelhas com meia-alça meia de mel/néctar.
Debaixo da excluidora reina a rainha.
Equipamento para medir. Só controlamos o que medimos.
À procura do ácaro.
Confirma-se: 1 ácaro, isto é, 0,3% de infestação. Este tem sido o limiar médio máximo desde há 8,5 meses neste apiário.

corrigir o que há a corrigir, naturalmente

Hoje, numa manhã quente, acompanhei o Marcelo numa visita ao seu apiário 2, nas redondezas de Coimbra.

Uma das tarefas era avaliar o estado de evolução de uma série de núcleos onde introduziu rainhas virgens de criador português em gaiola há cerca de 15 dias atrás.

Lembro-me que há cerca de dois meses atrás em conversa com o Marcelo sobre esta nova vertente da sua apicultura, comercialização de enxames em núcleo, me pedir opinião sobre a utilização de rainhas compradas e introdução em gaiola. Sugeri-lhe, com base na minha experiência, que por uma questão de poupança de tempo e padronização dos timings de entrega dos enxames, achava que sim, que devia comprar rainhas virgens. Em boa hora decidiu adquirir rainhas de criadores portugueses.

Como o disse várias vezes no passado, entendo que as rainhas de criadores são uma proposta comercial válida e que responde às necessidades da comunidade apícola nacional.

Dito isto, nunca me ouvirão dizer que as rainhas criadas naturalmente são por definição de qualidade inferior e a evitar a todo o custo. E não o digo por sofrer de algum bloqueio mental; não o digo porque as minhas observações não me permitem dizê-lo e porque o que a ciências diz hoje sobre o efeito materno nos ovos confirma e reforça o que vi e vejo. Se o que vi em milhares de colmeias minhas e em colmeias de amigos é que, em geral, a qualidade destas rainhas não fica atrás de outras produzidas por outros métodos, vou agora dizer que vejo o que não vejo para agradar a alguns? Felizmente nesta fase da minha vida não tenho que andar a lamber as solas das botas de ninguém e, respeitando o trabalho de todos, não me sinto inibido nem incapaz para apresentar os meus pontos de vista e fundamentá-los como poucos o fazem.

Portanto, deixem-me uma vez mais realçar que as rainhas naturais produzidas no processo de enxameação têm total cabimento numa operação apícola quer pela sua qualidade quer pela sua disponibilidade numa época particular da vida dos enxames, o momento da sua reprodução. E isto nas pequenas operações apícolas, com poucas colmeias, como nas grandes operações (ver o exemplo de Bob Binnie que com uma operação de cerca de 2 mil colónias, não vira a cara para o lado à utilização de mestreiros de enxameação, e sem preconceitos divulga que os utiliza no seu canal de YouTube).

Neste caso em concreto, como o meu amigo encontrou no seu efectivo, de cerca de 20 colónias estabelecidas, 3 em processo de enxameação e com vários mestreiros disponíveis fez o que é natural qualquer apicultor fazer: introduziu um mestreiro em cada um dos núcleos onde as rainhas compradas não tinham sido aceites. Simples, económico e oportuno.

Não vejo polémica nenhuma neste procedimento.

Um mestreiro de enxameação de onde emergiu uma virgem à frente dos nossos olhos.
A virgem, acabada de nascer, e que poderia ser colocada de imediato e directamente em qualquer núcleo orfanado e que teria uma elevadíssima probabilidade de ser aceite. Mas introduzi-la passados 2, 3 ou 4 dias… a história já é diferente.
Mais um exemplo do padrão de postura de uma rainha criada naturalmente

acompanhamento técnico em apiário de Proença-a-Nova

Num campo rodeado de estevas, ontem entre as 9h00 e as 13h00, fiz o acompanhamento técnico em apiário localizado na zona de Proença-a-Nova, do apicultor Luís Martins, acompanhado pelo seu colaborador Joaquim Fonseca.

À entrada do apiário vi uma armadilha para velutinas e aproveitei a oportunidade para dar algumas orientações no sentido de melhorar a sua efectividade.

O apiário era constituído por 10 enxames, 7 dos quais adquiridos recentemente pelo Luís em 5 quadros e colocados em caixa-colmeia. Um destes tinha um mestreiro de substituição e não tinha postura de ovos. Nos outros 6 localizamos a rainha de cada um deles.

A condição destes enxames permitiu-me abordar vários aspectos como:

  • dicas para encontrar rainhas não marcadas;
  • indicadores que permitem estimar a idade das rainhas que vieram com os enxames comprados;
  • qualidade do padrão de postura;
  • reservas presentes;
  • estado nutricional das larvas;
  • população de abelhas presentes;
  • organização dos quadros de cera laminada, dos quadros com criação e quadros com reservas nestes enxames;
  • despistagem de doenças da criação.

Nos outros 3 enxames, o Luís pediu-me para verificar se dois deles estavam orfãos, dado que nas inspecções que tinha feito até à altura não tinha visto nem rainha nem ovos. Confirmei que tinham ovos e larvas recentes e localizei e mostrei as duas rainhas presentes nestes enxames. Avaliei as reservas disponíveis e re-organizei o ninho, explicando e mostrando os critérios que devemos seguir neste maneio.

A última colónia inspeccionada era a única do apiário já estabelecida e madura, sobrevivente do ano passado, com postura no ninho e na meia-alça. A rainha estava marcada a vermelho, andava na meia-alça e constatei que tinha uma asa cortada. Estava bastante povoada e não apresentava sinais de pretender enxamear. Mesmo com rainhas com asa cortada as colónias não perdem o instinto de enxameação. Expliquei por que razão aquela colónia não apresentava sinais de enxameação, para que no futuro possam guiar-se e operar com eficácia na prevenção da enxameação e neste maneio preventivo.

O Luís Martins, a colmeia estabelecida com meia-alça depois de ter sido intervencionada.

O Luís pediu-me para dividir esta colónia e fazer mais dois enxames para chegar a 12 enxames, e assim cumprir os objectivos que delineou para este ano. Expliquei, demonstrei e fiz esses dois enxames.

Núcleo com a rainha-mãe.
Colmeia mãe depois de termos retirado a rainha-mãe e durante o processo de intervenção.

Tive a oportunidade de ensinar e exemplificar os procedimentos para avaliar a taxa de infestação por meio da lavagem de abelhas adultas. Na colónia estabelecida a lavagem de uma amostra de cerca de 300 abelhas adultas com álcool deu uma taxa pouco superior a 0,3% (uma varroa caída).

Num dos enxames comprados e que apresentava um padrão de criação bastante salpicado fizemos também um teste de infestação. A taxa estava nos 0,6%, o que permite concluir que padrão de postura desta colónia não se deve a parasitação por varroa. Apontei outras duas hipóteses, que o resto da temporada ajudará a esclarecer qual delas a mais acertada.

No final da manhã o Luís tinha mais dois enxames no apiário que, com um pouco de sorte e ajuda da metereologia, daqui a cerca de 30-35 dias terão rainhas novas em postura.

Nota: os apicultores que desejem que os acompanhe no apiário podem enviar-me mensagem privada através da caixa de comentários deste blogue ou para o e-mail jejgomes@gmail.com ou ainda através do Messenger da rede social Facebook, para vos contactar e falarmos.

nebulizadores de ácido oxálico: uma opinião fundamentada de Dick Cryberg

Os nebulizadores de ácido oxálico (fogger) são equipamentos relativamente populares para o controlo da varroose. Esta popularidade advém do facto de, em comparação com os sublimadores convencionais, serem em geral mais rápidos e dispensam a utilização de energia eléctrica ou de baterias, pois recorrem a chama alimentada por uma pequena botija de gás propano.

Sobre a real eficácia dos tratamentos aplicados através deste equipamento as opiniões dividem-se (ver, entre outros, o fórum Beesource). Verifica-se da leitura no fórum um padrão: que quem está satisfeito não apresenta números sobre a contagem de varroas em abelhas adultas presentes antes e após o tratamento com o nebulizador. Alguns prometem apresentar esses dados mas, tanto quanto li, ainda não o fizeram até à data. Como nunca utilizei este equipamento não tenho opinião fundada na minha experiência. Assim sendo voltei-me, como habitualmente, para o Mestre dos dados em apicultura, Randy Oliver. Ele como Peter Drucker e outros, onde me incluo, acreditam que só se pode controlar o que se quantifica, que só se pode qualificar o que se mede. E no blogue do Randy encontrei a propósito dos nebulizadores a citação de uma experiência pessoal e controlada levada a cabo pelo apicultor e químico reformado Dick Cryberg, com quem eu tive a oportunidade de conversar há uns anos atrás no Beesource sobre outros assuntos. Randy cita este apicultor, por quem mostra grande respeito, no seu blogue scientific beekeeping. Deixo em baixo a tradução.

Um exemplo de um nebulizador (fogger) utilizado na aplicação de ácido oxálico misturado com água, álcool e/ou glicerina.

“Randy Oliver —Circulam no YouTube recomendações para o uso de um nebulizador térmico para aplicar ácido oxálico. O químico aposentado Dick Cryberg, que é uma pessoa muito perspicaz e cujas observações respeito profundamente, postou o seguinte no Bee-L:
Dick Cryberg — Nebulizei com ácido oxálico a 10% dissolvido em água. Nebulizei dez núcleos uma vez por semana com 0,6 g de ácido oxálico dihidratado durante oito semanas consecutivas neste verão. Eu tinha dez núcleos não tratados lado a lado para controle. O núcleo com taxa mais alta de infestação em abelhas adultas após o tratamento (3%), determinada por lavagem com álcool, foi um núcleo tratado. Não vi claramente nenhuma evidência de que matei um número significativo de ácaros. No geral, os enxames tratados e os controles tiveram contagens de ácaros equivalentes. Todos estavam com um pouco mais de 1% de ácaros no início. O tratamento ocorreu a partir de meados de junho até o final de julho. […] Passei várias horas brincando com o nebulizador para descobrir como administrar uma dose consistente. Tive que fazer um furo na parte superior da alça e empurrar o gatilho totalmente para baixo com uma chave de fenda após cada disparo para obter um volume consistente a cada vez. Também tive que puxar o gatilho o mais rápido possível para obter volumes consistentes. Verifiquei, ao capturar e analisar a névoa, que nem todo o oxálico era nebulizado. Pensei que não estava a nebulizar a quantidade suficiente para impactar a varroa. Também esperei 20 segundos entre os acionamentos do gatilho para permitir a recuperação total do calor na bobina. Mesmo assim, muito do que saiu pelo bico foi líquido que acabou no fundo do núcleo. Achei o processo entediante e não tão rápido, com mais de três minutos por núcleo em cada tratamento. Vi os vídeos do You Tube e vi muita discussão sobre tratamento. Eu sou o primeiro, ao que sei, a fazer contagens de ácaros antes e depois e incluir controles negativos, os núcleos não tratatados, lado a lado. Neste momento vejo todas as afirmações no YouTube como banha da cobra pura, com o valor usual que a banha da cobra normalmente tem, mas estou aberto a provarem que estou errado. Estou um pouco recesoso de utilizar álcool devido à inflamabilidade, embora ninguém tenha relatado um problema de incêndio.
Além disso, o ácido oxálico reagirá muito rapidamente com o álcool formando um éster e o éster descarbonizará muito rapidamente e não matará os ácaros. Se nebulizar com soluções de etanol (álcool etílico), provavelmente precisará preparar uma solução nova pouco antes da nebulização para evitar a inevitável formação de ésteres que ocorrerá durante o armazenamento, mesmo à temperatura ambiente. Esta reacção química não é um problema na solução aquosa, mas precisa ser considerada no álcool ou particularmente na glicerina que alguns estão usando.”

fonte: https://scientificbeekeeping.com/oxalic-dribble-tips/

Nota: esta publicação sobre este equipamento, que não me despertou interesse particular até à data, vem na sequência de um pedido de ajuda de um companheiro apicultor que utilizou o nebulizador com oxálico misturado em álcool e glicerina, 4 vezes com intervalos de 7 dias entre aplicações e que relata que continua a encontrar muita varroa na criação de zângão. Sugeri que na próxima visita às colónias avaliasse a taxa de infestação em abelhas adultas para verificar se de facto está a conseguir baixar a mesma, que estava antes da primeira ronda bastante alta, a 6%.

monitorização da varroa por queda natural: os testes e conclusões de Randy Oliver

A monitorização da queda natural de varroa é uma técnica a que muitos apicultores recorrem para estimarem o grau de infestação nas suas colónias.

Como em todas as técnicas de monitorização, também nesta se levantam questões acerca da sua fiabilidade ou sensibilidade. No excerto que traduzo, Randy Oliver levou a cabo alguns testes empíricos em algumas das suas colónias com o objectivo de testar a fiabilidade desta técnica e confirmou os resultados obtidos por outros investigadores. Assim, apesar da técnica não ser muito confiável, ela é uma ferramenta que ajuda o apicultor a fazer uma radiografia mais próxima da realidade do que a que obtém na monitorização por simples inspecção visual.

Estrado dedicado à monitorização da queda natural de varroas.

“A maioria dos apicultores bem-sucedidos (avaliados pelas altas taxas de sobrevivência das colónias) monitorizam os níveis de ácaros nas suas colmeias.
[…]
A avaliação da queda natural de varroa é um método popular porque não requer a abertura da colmeia ou o maneio das abelhas. Os resultados das comparações de campo da queda natural de ácaros com a população total de ácaros são mistos, com alguns pesquisadores a encontrar uma boa correlação, e outros nem tanto. Meus próprios dados sugerem que a queda natural de ácaros pode subestimar ou superestimar a taxa real de infestação das abelhas na colmeia e variar muito de dia para dia na mesma colmeia.”

“A queda natural de ácaros avaliada no final de julho e início de agosto, em comparação com lavagens com álcool feitas nos mesmos horários. Observe como as contagens da queda natural podem subestimar muito uma infestação grave de ácaros [ver na zona do gráfico circundada a vermelho colónias com taxas de infestação, medidas com lavagem de abelhas adultas, entre 5% e 10% apresentam um número de varroas caídas naturalmente muito baixo].

“Richard Fell também avaliou a queda natural de ácaros ao longo do tempo e concluiu que: Os resultados deste estudo… indicam que os dados de amostragem de ácaros podem ser altamente variáveis. Os números de ácaros em amostras nos tabuleiros podem variar até 250% em apenas duas semanas.

A queda natural dos ácaros é fortemente afetada pela alta taxa de mortalidade dos ácaros imediatamente após emergirem dos alvéolos. As contagens da queda natural também devem ser avaliadas considerando força de cada colónia, uma vez que 25 ácaros caindo de uma colónia de 4 quadros é mais grave do que 25 caindo de uma colónia de 20 quadros. O método requer também olhos afiados para identificar os ácaros no meio do lixo da colmeia, é entediante e requer pelo menos uma viagem de volta ao apiário.”

fronte: https://scientificbeekeeping.com/re-evaluating-varroa-monitoring-part-1/

Nota: o assunto desta publicação é uma nota de rodapé no seio da informação e reflexão que será feita nos diversos workshops sobre o controlo da varroose que irão decorrer em Coimbra e Macedo de Cavaleiros. É, no entanto, uma nota elucidativa das diversas “armadilhas” colocadas no caminho que temos de percorrer para impedir a morte de colónias por varroose, sabendo que temos à disposição um conjunto de ferramentas, que aplicadas de forma informada, com critério e oportunidade, nos permitem alcançar este objectivo.

O Francisco e eu esperamos que a informação e a reflexão em grupo que resultará deste workshop sejam um factor de mudança que permita aos presentes passar a fazer parte dos apicultores bem-sucedidos, com altas taxas de sobrevivência das colónias à varroa.
A segunda edição do workshop em Coimbra, ainda tem algumas vagas disponíveis e tudo aponta para que se realizará na data prevista, dado o ritmo e número de pré-inscrições já registadas.

A concluir, um agradecimento, em particular aos inscritos, pela confiança no nosso trabalho. Votos de uma Boa Páscoa!

acompanhamento e serviço técnico em apiário

Informo os caros leitores apicultores que estou disponível para fazer acompanhamento e serviço técnico em apiário. Os interessados deverão enviar mensagem através deste blogue com o seu contacto telefónico.

Neste âmbito e nesta sexta feira a prometer chuva, fiz o acompanhamento e serviço técnico num apiário na zona de Coimbra de um companheiro apicultor que tem como objectivo prioritário aumentar o seu efectivo.

Após 6 horas de trabalho, este companheiro contava com mais 16 colónias no seu efectivo. Metade destas foram transferidas para outro apiário próximo. Além deste trabalho de multiplicação de enxames houve ainda tempo para avaliar a taxa de infestação por varroa e optimizar/organizar os cerca de 30 ninhos ali assentes.

E enquanto o trabalho ía sendo executado houve naturalmente conversas com vista a orientar e guiar este companheiro na execução destas e de outras tarefas de condução optimizada do apiário.

Foto parcelar do apiário.
8 colónias novas que foram transferidas para outro apiário.

workshop avançado controlo da varroose: 2ª edição

Juntamente com os amigos Marcelo Murta e Nuno Capela, propus um workshop avançado para aquisição de conhecimentos, competências e procedimentos de controlo da varroose, a realizar no próximo dia 2o de abril na cidade de Coimbra. A escolha do tema justifica-se sem dificuldade: podemos ser os apicultores mais competentes nas diversas áreas de condução de enxames de abelhas, mas sendo ineficazes no controlo da varroose não conseguiremos ser sustentáveis, nem economicamente nem motivacionalmente.

Sala de formação, onde irá decorrer a sessão matinal no próximo dia 20 de abril. Na parte da tarde o workshop prosseguirá em apiário, também localizado em Coimbra.

E a incapacidade de controlar a varroose é uma realidade muito transversal. Os frequentes testemunhos de apicultores dentro e fora do país, os resultados epidemiológicos europeus e norte-americanos permitem concluir de forma inequívoca que a varroa e suas sequelas matam um número enorme de colónias de abelhas; a varroa é a principal ameaça à saúde e sobrevivência da abelha melífera europeia, quer em Portugal quer noutras regiões do mundo onde está presente.

O facto mais surpreendente neste quadro de dificuldade generalizada do seu controlo é que alguns apicultores estão a conseguir ser bem sucedidos, mantendo a praga abaixo de limiares estreitos, com baixas taxas de mortalidade e de forma sustentável.

Foi com os melhores que aprendemos e, ao mesmo tempo, foi necessário ultrapassar e esquecer propostas incompletas, vagas ou falhadas de intervenção, que incompreensivelmente ainda são divulgadas e fazem escola em tantas comunidades de apicultores.

Da aplicação nos nossos apiários destas aprendizagens e de uma mão cheia de reflexões pessoais, com algumas adaptações locais, estamos a ser bem sucedidos neste controlo.

Com o objectivo de difundir estas boas práticas e dada a rapidez com que se esgotaram as vagas da primeira edição deste workshop, abrimos uma segunda edição, a realizar no próximo dia 11 de maio em Coimbra. Deixo em baixo o cartaz de sua divulgação.

testagem de taxa de infestação por varroa em abelhas adultas: os nossos procedimentos

Esta publicação serve para identificar e descrever os equipamentos e procedimentos que utilizamos nos apiários para avaliar a taxa de infestação por varroa em abelhas adultas.

De casa são levados um copo de testes, um frasco com cerca de 300 ml de álcool puro ou diluído até 25%, um coador com malha inferior a 1,5mm e uma colher com um volume de 125ml — os equipamentos estão ilustrados nas fotos em baixo.

Copo de testes.
Componentes do copo de testes.
Interior do copo com um receptáculo sobre o qual irão ser despejadas as abelhas da amostra.
Frasco para transportar o álcool, coador e colher para recolher abelhas.

No apiário procuramos recolher amostras de pelo menos 30% das colónias ali assentes. Estas colónias devem ser as mais fortes do apiário. As etapas são as seguintes:

  1. Despejamos os cerca de 300 ml de álcool no copo de testes.
  2. Numa das colónias fortes que pretendemos testar localizamos o quadro onde anda a rainha e colocamo-lo de lado para termos a certeza de que não vamos sacudir a rainha para o copo com álcool.
  3. Sacudimos as abelhas de um ou dois quadros com muita criação aberta para o interior de um telhado. Este procedimento permite que as abelhas mais velhas, que não devem fazer parte da amostra, levantem voo e permaneçam sobretudo as abelhas mais novas, as que devem fazer parte da amostra.
  4. Enchemos a colher, com capacidade de 125 ml. Sabemos que esta colher cheia contém cerca de 300 abelhas.
  5. Despejamos esta colher de abelhas no copo de testes e fechamo-lo. Agitamos o copo com movimentos circulares durante cerca de 1 minuto para que as varroas se soltem das abelhas e caiam no fundo do copo.
  6. Contamos as varroas caídas no fundo do copo e fazemos o registo das varroas caídas nesta colónia.
  7. Coamos o álcool com o coador de malha fina para o limpar de resíduos e varroas e utilizar na testagem seguinte.
Quadro com muita criação aberta de onde foram sacudidas abelhas para amostragem. A rainha não andava neste quadro, andava noutro quadro que obviamente não foi sacudido.
As abelhas foram sacudidas para o telhado. As abelhas mais velhas levantaram voo e são recolhidas as que permanecem até encher a colher — são cerca de 300 abelhas. Imediatamente de seguida são depejadas no interior do copo. As que não foram recolhidas na amostra são devolvidas à colmeia.
Lavagem das abelhas com movimentos circulares durante cerca de 1 minuto.
Verificação e contagem das varroas caídas no fundo do copo. Neste caso para além de uma abelha que acidentalmente caiu no fundo do copo, não encontramos varroas caídas.

Esta testagem é feita com uma regularidade mensal ou bimensal e/ou antes do início de um tratamento e 12 dias após o tratamento concluído. As colónias são tratadas logo que ultrapassem 1%-1,5% de taxa de infestação. O monstro deve ser combatido quando é pequeno, é o nosso lema. Esperar que ele fique gigante diminui a capacidade de o combater no nosso terreno, aumenta o número de tratamentos necessários e diminui a eficácia das nossas armas.

Ainda que outros procedimentos possam ser utilizados, estes são os que levamos a cabo para atingir o objectivo: avaliar a taxa de infestação em abelhas adultas o que nos permite fazer os tratamentos de forma eficiente, oportuna e até proactiva se necessário for. A meta ou objectivo geral é passar 24 meses sem perder uma única colónia para a varroose. Destes 24 meses já passaram 8 meses e o caminho está a fazer-se como previsto. Que outros se entusiasmem e passem a adoptar estas boas práticas.

varroose: a importância crítica de um tratamento proactivo

A noção de tratamento proactivo que Randy Oliver segue e que acompanho é em linhas simples esta: tratar logo que as lavagem de amostras de 300 abelhas adultas fazem soltar uma varroa, o equivalente a uma taxa de infestação pouco superior a 0,3%. Fazer este tratamento proactivo, que não tem um cariz urgente, está muito longe das práticas de 99% dos apicultores. No entanto o facto de não ser urgente não lhe retira importância, pelo contrário reforça-a.

Fazer um tratamento proactivo durante o ano traz dois ganhos evidentes para o apicultor e para as colónias de abelhas: (i) para o apicultor, permite-lhe dilatar no tempo o tratamento seguinte, por exemplo torna possível não tratar durante o fluxo primaveril, o que pode ser muito útil para os mais legalistas uma vez que foi recentemente retirado do mercado o único medicamento que estava homologado para utilizar durante o período de produção de mel para consumo humano, o MAQS; (ii) para as abelhas, mantendo tudo o resto igual, este tratamento proactivo será muito provavelmente a diferença entre a sobrevivência e o colapso da colónia.

Apresento em baixo duas simulações exactamente iguais, excepto o facto que na primeira não foi utilizado um tratamento proactivo na segunda quinzena de janeiro quando caía somente uma varroa, e na segunda simulação foi feito esse tratamento proactivo nessa data.

Nestas duas simulações é claro que este tratamento proactivo não sendo urgente foi de importância decisiva na evolução posterior do crescimento da população de varroas: sem o tratamento proactivo a população de varroas no mês de julho ronda as 10 mil, e a colónia colapsa poucos dias depois; com tratamento proactivo e no mesmo mês a população de varroas ronda as 600. No primeiro caso, sem o tratamento proactivo, adiar o tratamento para evitar fazê-lo durante os fluxos primaveris de néctar foi uma opção mal sucedida. No segundo caso essa mesma opção foi realista, segura e bem sucedida e a justificação está no tratamento proactivo feito em janeiro.

Simulação sem tratamento proactivo. Entrada no ano com uma baixa população de varroas. Na segunda quinzena de março introduzi uma quebra de 50% na população dos ácaros por efeito do corte-de-zangão ou desdobramento. Na segunda quinzena de julho simulo um tratamento com 80% de eficácia, que é demasiado tardio como resulta do simulador, com a colónia a colapsar nos 15 dias seguintes.
Simulação com tratamento proactivo na segunda quinzena de janeiro. Mantendo tudo o resto igual, a importância deste tratamento proactivo é clara quando se pretende dilatar datas entre tratamentos, entre outras razões para evitar fazer tratamentos durante os fluxos primaveris de néctar.