Hoje, entrei num dos meus apiários a 600 m de altitude mesmo em cima das 7h30, e tinha na agenda fazer 4 tarefas: 1) fazer a última inspecção a meia-dúzia de núcleos para entregar a um cliente; 2) colocar quadros com criação a emergir em núcleos com rainha em postura desde há uma semana para os “acelerar” e produzirem este ano no castanheiro; 3) avaliar a infestação por varroa através do corte da criação de zângãos em 10% das colónias do apiário — neste caso em três colónias; 4) transferir meia-dúzia de colónias para os 900 m de altitude. Por volta das 12h30 estava a chegar a casa para almoçar. Agora no período pós-almoço faço este descanso activo escrevendo estas linhas.
Sobre o a tarefa 1) acho que o meu cliente vai ficar satisfeito. O padrão de postura das rainhas é este que o quadro da foto em baixo ilustra.
Sobre as tarefas 2) e 4) não há fotos para as ilustrar. Mas garanto que foram realizadas ; )!
O que mais me importa nesta publicação é ilustrar a tarefa 3): avaliar a infestação por varroa através do corte da criação de zângãos em 10% das colónias do apiário — neste caso em três colónias. Relativamente a este tipo de avaliação devo deixar três notas: é menos fidedigno que o teste da lavagem de abelhas adultas segundo os especialistas; enquanto na lavagem de abelhas adultas o limiar de infestação a recomendar um tratamento imediato é de 3% em regra, já o limiar de infestação por varroa avaliado na criação de zângãos a partir do qual se recomenda um tratamento imediato é de 15%; a avaliação de apenas 10% das colónias nos apiários deve ser feita nas colónias mais fortes e em zonas do apiário susceptíveis de receberem mais abelhas da deriva, isto é nas extremidades dos assentos.
Tendo tudo isto em consideração deixo em baixo o foto-filme do procedimento numa das colónias que representa o realizado também nas outras duas.
Uma das colónias mais fortes do apiário: mais abelhas, mais altura, mais armazenamento, mais criação, … mais varroa!
E como fazer a desmontagem deste gigante sem partir as “molas”? Primeiro etapa, tecto voltado para cima e colocado em cima de uma das caixas ao lado para evitar/minimizar o esmagamento de abelhas. Há cerca de dois anos vi um especialista em apicultura colocar meias-alças de chapão em cima da superfície lisa do tecto da colmeia vizinha… fiquei arrepiado!
Tirar a meia-alça, ainda vazia. Vergonhosamente fácil!
Tirar os quadros necessários do sobreninho para este ficar com um peso razoável, antes de o mobilizar. Afinal é de apicultura mobilista que se trata meus amigos e amigas. Os quadros são móveis, não há necessidade de pegar em tudo de uma só vez. Não estou a treinar para o campeonato mundial de alterofilismo!
E depois da carga em cima ter sido tirada, no ninho e na posição 9 tenho estes quadros de criação intensiva de zângãos. É a este quadro que eu pretendo chegar…
… para cortar os opérculos da criação de zângão…
… e a sacudir em cima de uma superfície plana e contrastante — um tecto por exemplo. A olho parece-me que a taxa de infestação é inferior a 2-3%, muito aquém do limiar de 15% que recomenda um tratamento imediato. Ok, mais tranquilo… até daqui mais ou menos um mês.
O quadro voltou ao local original. Interessa-me ter estes zângãos das colónias mais fortes nas redondezas.
Na publicação do passado dia 19 de abril mencionei a utilização de uma mescla de técnicas para, entre outros objectivos, levar a cabo o controlo da enxameação numa das colónias do apiário. Nesta colónia, a da foto em baixo, tirada a 19 de abril, passam hoje 23 dias — tempo para se ter cumprido um ciclo completo da criação de obreiras.
Colónia do modelo Langstroth submetida a uma mescla de técnicas: rainha foi confinada ao ninho e este submetido parcialmente à técnica “cura radical da enxameação”.
Hoje na inspecção às colónias do apiário, iniciada por volta das 7h30 e terminada por volta das 11h30, voltei a esta colónia, uma das sete ali estacionadas que apresentam a configuração ninho+sobreninho com a excluidora de rainhas a confinar a rainha no ninho desde o passado dia 19 de abril.
Vista parcial do apiário.
Os principais eventos: a 3 de março coloquei o sobreninho; a 19 de abril terei visto alguns cálices reais com ovos e procedi a uma versão mais leve da “cura radical da enxameação”; sacudi as abelhas para o ninho; a rainha terá também caído para o ninho? sim caiu, confirmado a 24 de de abril.
O passado recente deste colónia está relatado. Vamos agora ao seu presente. Como referi em cima, hoje inspeccionei todas as colónias deste apiário, coloquei mais 7 meias-alças e dois sobreninhos. Das 21 colónias em produção neste apiário estimo vir a colher um mínimo de 400 kgs de mel e um máximo de 600 kgs, tudo dependendo da meteorologia nas próximas 4 semanas. Sobre esta colónia em particular, que representa muito bem 6 das 7 colónias nesta configuração, as fotos ajudam a fazer a descrição.
Nesta foto estão as peças constituintes daquilo em que esta colmeia se tornou desde o dia 3 de março até ao dia de hoje. O ninho, a excluidora, o sobreninho e a meia-alça.
Ninho desbloqueado. Foto do quadro 9. Os restantes são semelhantes.
Foto do quadro 10. Esta colónia hoje tinha criação nos 10 quadros Langstroth.
Coloquei uma cera laminada no ninho, não porque este estivesse bloqueado, mas porque precisei de tirar um quadro com criação para uma das várias colónias onde introduzi rainha em gaiola e para acelerar o seu desenvolvimento (ver aqui).
Inspeccionado o ninho, sem ter observado sinais de qualquer impulso enxameatório, poderei concluir que a utilização da técnica “cura radical da enxameação” surtiu efeito nesta colónia? Em duas outras colónias, noutro apiário, o resultado da utilização desta técnica não foi o pretendido (ver aqui no primeiro parágrafo). Neste caso, foi a técnica a causar o efeito desejado? Para mim é impossível concluir definitivamente por um sim ou por um não relativamente à técnica e a uma eventual relação de causa-efeito. Como convivo bem com a ausência de conclusões definitivas, convivo bem com questões em aberto, vou continuar a experimentar e a observar.
No sobreninho por cima da excluidora, o “desastre” era este:
Quadros com as dimensões do ninho praticamente cheios de néctar/mel novo. Ano após ano, é este o resultado final na grande maioria das colónias com esta configuração. Nada de novo debaixo do céu, portanto.
Nas restantes 6 colónias com a configuração igual à desta (relembro, ninho+excluidora+sobreninho) em 5 encontrei praticamente o mesmo: ninho bastante desbloqueado; ausência de sinais de impulso para enxamearem; rainha a dominar o ninho, reclamando aquele espaço para si, não se deixando bloquear por mel e pão-de-abelha; sobreninhos com os 10 quadros praticamente cheios de néctar a uma semana de se iniciar a sua operculação, comunidades produtivas e estabilizadas aos meus olhos.
Sobre este sobreninho adicionei hoje uma meia-alça. A ver se a enchem! Estou optimista, o rosmaninho ainda está a dar alguma coisa, vem a silva e os cardos mais adiante e ainda algum castanheiro lá para a terceira semana de junho.
Voltando ao título e para concluir: uma vez mais nas minhas colónias, no meu território, com as minhas abelhas e com o meu maneio habitual 6 em 7 colónias cheias de abelhas que nem um ovo cheio, não apresentaram indícios de “febre” de enxameação. Na sétima, vi alguns mestreiros, 4 ou 5. Enxameação ou substituição? Vi a rainha, já delgada, e inclino-me para enxameação. Vou deixar seguir em frente para tirar a limpo.
Assim sendo, e porque esta observação de hoje se correlaciona positivamente com as observações deste ano efectuadas noutros apiários e com as observações realizadas em anos anteriores, a questão para mim deve ser formulada nesta forma: a grelha excluidora de rainhas: um equipamento que ajuda na prevenção e/ou controlo da enxameação? e não na forma habitual: a grelha excluidora promove a enxameação?
Sobre Demaree e sua proposta para controlar a enxameação sem aumentar o efectivo escrevi várias vezes, por exemplo aqui e aqui.
Ontem voltei a utilizar a técnica na colónia da qual apresento as fotos.
Ontem, 10 de maio esta colónia foi sujeita à técnica Demaree.
Tendo encontrado mestreiros abertos decidi iniciar o controlo da enxameação com esta solução, por forma a não aumentar o meu efectivo.
Localizei a rainha no quadro que coloquei na posição 9. Todos os restantes espaços do ninho foram preenchidos com quadros com cera laminada.
Após os procedimentos tenho, no plano inferior, ninho com rainha confinada por grelha excluidora e, no plano superior, sobreninho com os restantes 9 quadros que transferi do ninho e mais um de cera laminada.
Hoje dia 11, passadas menos de 24 horas sobre este maneio, por volta das 12h30 — com 6 horas de trabalho já realizadas, porque cedo é que se anda melhor — decidi satisfazer uma curiosidade. Como estava o ninho? O que tinha ocorrido neste período de menos de 24 horas? As fotos que tirei falam por si.
O ninho hoje, passadas cerca de 22 horas sobre o procedimento.
O quadro 8, adjacente ao quadro onde encontrei a rainha ontem.
Os alvéolos foram puxados a cerca de 2/3 da altura e a rainha tinha lá iniciado a oviposição.
Nesta publicação descrevi o que observei nas duas colónias que submeti à técnica “cura radical da enxameação“. Hoje voltei a inspeccionar estas duas colónias e observo que apesar de terem sido submetidas duas vezes à técnica ainda assim enxamearam.
Num outro apiário, a 900 m de altitude, procedi hoje ao confinamento de rainhas no ninho de várias colónias estabelecidas em colmeias do modelo Lusitana e que desde há 3-4 semanas se encontram na configuração ninho+sobreninho. Em baixo fica o foto-filme com alguns detalhes deste procedimento.
Colmeia do modelo Lusitana na configuração ninho + sobreninho.
Vista do sobreninho hoje logo após a abertura da colmeia. No passado dia 18 de abril verifiquei que a rainha tinha iniciado postura no sobreninho.
Rainha completamente negra sobre o amarelo de cera nova.
Rainha é colocada no quadro em que andava na posição 7.
Transfiro mais 6 quadros do sobreninho para o ninho. Os 6 quadros que transfiro para o ninho estavam muito desbloqueados repletos de ovos e larvas…
… ou com criação operculada em mais de 80% da sua área e com abóbadas de mel reduzidas. Neste apiário o primeiro fluxo principal de néctar está para começar nos próximos 10 dias. Nesta altura não é necessário abóbadas de mel a ocuparem 30% ou mais da superfície dos quadros no ninho. Os quadros mais bloqueados com mel/néctar e pão de abelha foram transferidos para o sobreninho.
Vista do ninho depois da transferência de quadros.
Todos os passos anteriores foram executados para colocar este equipamento sobre o ninho.
Vista da colónia após o maneio.
Anotação do maneio hoje, 10 de maio: colocação da excluidora de rainhas com a rainha na caixa inferior.
Tanto quanto é do meu conhecimento, o MAQS é o único medicamento homologado que a DGAV autoriza para utilização em colónias a colherem néctar para posterior consumo humano. O MAQS é um medicamento relativamente pouco conhecido no nosso país e é baseado no ácido fórmico. Já os medicamentos baseados no ácido oxalico não estão autorizados pela DGAV para serem utilizados durante o período de colecta de néctar para posterior consumo humano.
Em baixo deixo a tradução de um excerto de um artigo de Bogdanov, frequentemente citado quando a questão no título desta publicação surge.
Acerca da alteração do sabor do mel pela utilização do ácido fórmico: “De acordo com os padrões de mel existentes, nenhuma substância pode ser adicionada ao mel que altere o seu sabor natural. O limiar de sabor para ácido fórmico adicionado ao mel foi determinado para méis de flores de sabor suave e situa-se em cerca de 300 mg/kg (Capolongo et al., 1996; Bogdanov et al., 1999a). Para méis de sabor mais forte, como melada e mel de castanheiro, fica entre 600 e 800 mg/kg (Capolongo et al., 1996; Bogdanov et al., 1999a). Os resíduos no ano seguinte após tratamentos normais com ácido fórmico no outono são muito inferiores a esses limites, portanto não há risco de alteração do sabor do mel devido ao aumento da concentração de ácido fórmico. No entanto, de acordo com nossos resultados, quando os tratamentos de emergência com ácido fórmico são realizados na primavera, os resíduos de ácido fórmico no mel de verão podem estar próximos do limiar gustativo desse ácido. Portanto, este tipo de tratamento deve ser evitado. […] Os tratamentos com ácido oxálico não provocam resíduos de ácido oxálico, pelo que não existe absolutamente nenhum perigo de alteração do sabor do mel devido aos tratamentos com ácido oxálico.“
Fórmula do ácido fórmico
Fórmula do ácido oxálico
Acerca dos limites máximos de resíduos no mel: “Num regulamento da UE, o ácido fórmico e componentes de óleos essenciais como timol e mentol são definidos como substâncias GRAS (Generally Recognised As Safe), portanto, não é necessário fixar um LMR (Regulamento da UE 2796, 1995). O ácido oxálico é um constituinte natural da maioria dos vegetais e seu conteúdo situa-se entre 300 e 17.000 mg/kg, sendo o teor mais alto o da salsa (Agricultural Handbook, 1984). Assim, a maioria dos vegetais contém quantidades muito maiores de ácido oxálico do que o mel. Considerando a pequena ingestão diária de mel, sua contribuição para a ingestão diária total de ácido oxálico é insignificante. Do ponto de vista nutricional, o ácido oxálico, assim como o ácido fórmico, também deve ter status GRAS. Além disso, não são esperados resíduos significativos após tratamentos com ácido oxálico.“
Este artigo fundamental de Bogdanov leva-me a perguntar: porque razão o MAQS, ácido fórmico, está homologado para poder ser utilizado em colónias a colherem néctar para posterior consumo humano e os medicamentos com ácido oxálico não estão? Julgo que tal se deve à qualidade/conteúdo dos dossiers técnicos que acompanham o processo de pedido de homologação submetido à DGAV pelas empresas que os comercializam.
Entre os medicamentos atualmente disponíveis, podem ser definidas três categorias em termos de velocidade e duração de ação. Dependendo das necessidades e do contexto, o apicultor pode favorecer o uso de um medicamento de uma categoria ou de outra, ou usá-los sucessivamente (mas nunca simultaneamente).
Medicamentos com efeito rápido e curto, chamado de efeito “flash” Apibioxal®, Oxybee®, varromed® (administrado em 1 aplicação na primavera e inverno)
Estes medicamentos têm a propriedade de eliminar um grande número de ácaros Varroa muito rapidamente (em poucos dias) e, portanto, diminuir a pressão parasitária muito rapidamente, mas sua duração de ação é inferior a uma semana e apenas os ácaros Varroa foréticos [na fase de dispersão] desse período são afetados. Estes medicamentos não fornecem proteção contra o risco de reinfestação. Com efeito, passado um período de apenas alguns dias após a sua aplicação, não protegem contra a re-infestação de origem externa (principalmente por deriva e pilhagem), nem limitam a reprodução de ácaros varroa residuais. Com excepção do período de inverno em que este risco é muito baixo, esta pode ser considerado uma desvantagem e deve ser tido em conta se não houver um controlo colectivo concertado, ou se a vizinhança apícola constituir um perigo, com apiários tratados tardiamente, incorrectamente ou não tratados. Para ApiBioxal® e Oxybee®, sendo o ácido oxálico a única substância ativa, recomenda-se usá-los apenas na ausência de criação, pois a eficácia do ácido oxálico é bastante reduzida quando a criação está presente e sob os opérculos e, portanto, preservada da ação acaricida do ácido oxálico. Para o VarroMed®, o uso numa aplicação única só é recomendado no inverno e na ausência de cria ou na primavera se as quedas induzidas não forem significativas. (Ver RCM – Resumo das Características do Medicamento).
Medicamentos de ação rápida com duração média (menos de 4 semanas) Formic Pro®, maqS®, varromed® (administrado em 3 aplicações na primavera ou no verão)
Estes medicamentos permitirão que a pressão do parasita diminua rapidamente e terão uma ação mais prolongada que os da categoria anterior devido a uma libertação gradual do princípio ativo por vários dias (caso do Formic Pro® e MAQS®), ou porque o tratamento é feito em 3 aplicações (caso de VarroMed® na primavera ou no verão dependendo do nível de infestação).
NB: o apicultor deve ter cuidado ao utilizar VarroMed® (que contém, além do ácido fórmico, ácido oxálico em concentrações bastante elevadas) quando o tratamento envolve várias aplicações. Após experiências com vários tratamentos realizados com ácido oxálico, pesquisadores (Charrière e Imdorf, 2000) indicaram que as aplicações repetidas por gotejamento devem ser evitadas, pois não são bem toleradas pelas abelhas. Publicações (Hatjina, 2005; Bethany et al., 2019) também relatam os efeitos nocivos na criação aberta do ácido oxálico aplicado por gotejamento. Além disso, na primavera, a colmeia é povoada por abelhas de vida curta, e de acordo com um estudo (Martin et al., 2000) o ácido oxálico é mais tóxico para elas do que para as abelhas de vida longa (inverno) provavelmente por terem menor capacidade de desintoxicação.
Medicamentos de ação prolongada Apiguard®, Apilife var®, Apistan®, Apitraz®, Apivar®, bayvarol®, Polyvar Yellow®, thymovar®, varromed® (administrado em 5 aplicações no verão)
Estes medicamentos agem mais ou menos rapidamente, mas todas têm uma duração de ação superior a 4 semanas. Esta ação prolongada resulta quer de um tratamento em várias aplicações (VarroMed® no verão com 5 aplicações), quer do efeito de uma forma galénica que permite a libertação gradual da substância ativa após uma única aplicação (medicamentos em forma de tiras: Apivar®, Apitraz®, Apistan®, Polyvar Yellow®), ou mesmo um tratamento com várias aplicações e uma libertação gradual da substância activa (medicamentos à base de timol: Apiguard®, Apilife Var®, Thymovar®).
Agem apenas sobre os ácaros varroa foréticos [na fase de dispersão], e o fato desta ação durar várias semanas deve permitir eliminar os ácaros varroa à medida que emergem durante a emergência das abelhas e/ou são introduzidos com as deriva/pilhagem de abelhas de outras colónias. São, portanto, a priori, os mais adequados para garantir a proteção contra a reinfestação. Devido a esta característica e à duração do tratamento, estes medicamentos são utilizados principalmente no tratamento de verão, após a última colheita. Quando há muita criação nas colónias e uma grande população de ácaros varroa, a ação lenta de algumas destes medicamentos pode resultar na persistência da pressão parasitária nociva, além de não permitir a produção de abelhas de inverno bem constituídas, se elas sofreram os efeitos do parasitação e viroses associadas.
Importância da cinética/velocidade de ação de um tratamento anti-varroa. Curvas teóricas da evolução do número de ácaros varroa numa colónia consoante o tratamento aplicado, com uma eficácia de 95%, tenha um efeito rápido e breve (A) ou um efeito lento e prolongado (B).
Esta publicação apresenta os resultados da monitorização da eficácia do tratamento da varroose em 5 colónias localizadas no mesmo apiário (FNOSAD, 2019). O gráfico em baixo ilustra os resultados obtidos acerca da diminuição da população de varroa durante o tratamento aplicado.
Pode notar-se que num mesmo apiário, a infestação e a eficácia do tratamento podem variar muito de uma colmeia para outra.
Para a colmeia R1, apesar de uma infestação inicial muito forte, a eficácia é satisfatória.
Para R2 e R3, ambos com infestação entre 4.000 e 5.000 ácaros varroa, a eficácia é muito diferente, ótima para R2 e insuficiente para R3.
Para R4 e R5, que têm níveis de infestação bastante semelhantes, a eficácia é muito insuficiente para R4 e um pouco abaixo do limite de 95% para R5.
Para além do caso de R2 (com uma percentagem de eficácia > 99%), o número de ácaros varroa residuais é, em todas as colmeias, demasiado elevado (de 113 a 651), apesar da eficácia por vezes satisfatória do tratamento (caso de R1 com um percentual de eficiência de 98% mas 168 varroa residuais).
Notas:
O número total de ácaros varroa (ponto de partida das curvas) corresponde a todos os parasitas contados ao longo do seguimento, ou seja, durante o tratamento de teste e depois dos dois tratamentos de controlo. As quedas de ácaros varroa atribuídas à ação do medicamento teste são contadas até 9 dias após o término do tratamento (fim das curvas).
de acordo com os técnicos da FNOSAD o limiar máximo de varroas residuais, as varroas que sobrevivem ao tratamento, não deve ultrapassar o limiar de 50 no caso dos tratamentos de final de verão/outono.
Reflexão: Desde há muito que reflicto sobre esta realidade, a falta de consistência nos resultados obtidos com um determinado medicamento aplicado na mesma altura, com os mesmos procedimentos e em colónias situadas no mesmo apiário. Neste gráfico que apresento em cima como explicar que a colmeia R1, com cerca 9 mil varroas, apresente no final do tratamento 168 varroas residuais e a colmeia R4, com pouco mais de 2 mil varroas, no final do tratamento apresente 651 varroas? Que razão está subjacente a tão grande variabilidade na eficácia do tratamento? Posso tentar adivinhar algumas razões: por exemplo existirem no apiário população de ácaros com diferentes níveis de resistência ao princípio activo utilizado. Aceitando esta resposta pergunto: porque razão não será toda a população de varroas de um apiário igualmente resistente, sabendo que serão estas que se reproduzirão e acabarão por colonizar de forma rápida todas as colónias presentes no apiário?
Nesta publicação apresento os principais sinais clínicos observáveis numa colónia fatalmente afetada por varroose.
Na criação:
padrão de cria operculada em mosaico/salpicada;
presença de ácaros varroa (fêmeas fundadoras e descendentes);
opérculos perfurados com um pequeno orifício;
alvéolos desoperculados revelando pupas mortas ou ainda vivas;
cadáveres larvais de cor castanho claro a castanho mais escuro;
cadáveres dissecados de larvas e/ou pupas;
abelhas mortas e/ou pupas com asas deformadas sob o opérculo no interior dos alvéolos;
canibalismo;
abelhas mortas ao emergir dos alvéolos (só a cabeça emerge, com a língua esticada).
Nas abelhas:
abelhas com asas deformadas (é pouco rigoroso falar em asas roídas porque nestas abelhas nada lhes roeu as asas);
abelhas com abdómenes atrofiados, mais ou menos descoloridos;
presença de ácaros varroa sobre as abelhas.
Nas colónias:
colmeias encontradas totalmente vazias, ou com pouquíssimas abelhas mortas à frente e no interior das colmeias, em alguns casos com pequenos aglomerados de abelhas mortas, às vezes em torno da rainha no topo dos quadros;
presença de mel e pão de abelha em quantidades apreciáveis.
Após a morte das colónias:
Encontramos um quadro clínico característico mostrando um lento despovoamento da colónia: as colmeias estão vazias de suas abelhas apesar da presença de reservas. É possível ver pontos brancos no interior dos alvéolos de cria que revelam a presença pregressa do parasita: são as fezes de ácaros Varroa formadas por cristais de guanina. Além disso, muitas vezes, cadáveres de ácaros varroa são visíveis no chão da colmeia.
A eficácia geral dos acaricidas é função de diversos factores. Entre outros:
a concentração do composto envolvido;
o período do tratamento;
o ambiente interno da colónia;
o ambiente externo à colónia;
a rapidez e extensão da evaporação dentro da colónia, para alguns compostos voláteis;
a temperatura ambiente durante a aplicação do tratamento, para alguns compostos;
a quantidade de abelhas presente na colónia, para alguns compostos e galénicas — colónias com maior população tendem a favorecer a dispersão do produto e, consequentemente, alcançar maior eficácia;
a quantidade de criação presente no ninho;
a gravidade da infestação;
a galénica utilizada para veicular o composto acaricida;
o tipo de colmeia;
…
Vem a propósito este estudo de campo realizado há poucos anos em Espanha Field efficacy of acaricides against Varroa destructor, cujas conclusões são lapidares: “… a eficácia do tratamento depende do apiário onde é aplicado. Além disso, a variabilidade de eficácia detectada entre colmeias no mesmo apiário representa um desafio na identificação dos fatores que são significativos.“
Para levar para casa:
não assumir que se um acaricida foi eficaz na primavera também o será no outono;
não assumir que se um acaricida foi eficaz no meu apiário nº 1 também o será no meu apiário nº2;
não assumir que se o acaricida foi efectivo em 10 colmeias do meu apiário — as que monitorei — também foi efectivo nas restantes 20 colmeias assentes nesse mesmo apiário — as que não monitorei.
Ainda acerca deste caso, com um pouco de tempo disponível decidi fazer alguma investigação. Neste artigo “Absence of nepotism toward imprisoned young queens during swarming in the honey bee” encontrei uma parte da resposta. Não relativamente às razões mas relativamente aos mecanismos/comportamentos utilizados pelas abelhas para atrasarem/aprisionarem as rainhas virgens nos seus casulos para lá dos habituais 16 dias de maturação desde o ovo até ao estádio de insecto adulto. Deixo em baixo a tradução de um pequeno excerto deste artigo que me parece elucidativo.
“Todos os estudos sobre a influência das operárias na seleção de novas rainhas focaram-se nas interações entre operárias e rainhas imaturas (Châline et al., 2003; Noonan, 1986; Page et al., 1989; Schneider e DeGrandi-Hoffman, 2002; Visscher , 1998) ou entre operárias e rainhas adultas que já saíram de suas realeiras (Gilley, 2001, 2003; Tarpy e Fletcher, 1998). No entanto, algumas rainhas adultas permanecem nos seus casulos de rainhas por mais tempo, até uma semana após os 16 dias da sua maturação (Bruinsma et al., 1981; Fletcher, 1978; Grooters, 1987) antes de emergirem. Durante este tempo, as operárias agrupam-se em cada realeira aprisionando a rainha adulta e alimentam-na através de fendas na ponta do casulo (Figura 1c), que são vedadas novamente. As abelhas vibram sobre os casulos da rainha e impedem que as rainhas saiam reparando as aberturas nas realeiras. As operárias às vezes até pressionam a cabeça contra a ponta da realeira para evitar que a rainha saia enquanto outras operárias a fecham (Fletcher, 1978). Elas também protegem as rainhas impedindo agressivamente o acesso às rainhas que já emergiram (Gilley, 2001).”
Fotografias da configuração experimental e dos comportamentos das operárias em relação a rainhas adultas confinadas em suas realeiras. (a) Montagem experimental com a tampa modificada na caixa de criação principal da colónia à qual está anexada a caixa de observação de três quadros modificada com as realeiras acessíveis através de uma abertura. (b) Realeiras com rainhas presas às barras de madeira na caixa de observação prontas para serem instaladas na colónia de teste. (c) Operária alimentando uma rainha através de uma abertura na realeira. A língua da rainha é visível. (d) Cela da rainha equipada com o aparato de estrela para evitar a saída da rainha. O pedaço de acetato é visível no final da seta. As aberturas feitas pela rainha confinada tentando emergir podem ser vistas, e a operária à direita está no processo de fechá-las.
Nota: há mais de um século Doolittle afirmava coisas muito próximas (ver aqui). É admirável a sua competência observacional.