Mais vezes do que se deseja, o apicultor encontra uma colmeia, ainda há poucas semanas pujante, cheia de abelhas e com muito movimento no alvado, sem abelhas. Pode suspeitar que as abelhas desertaram, este é um acontecimento possível, mas raro. Se lhe é colocada a hipótese de tal ter sucedido por causa da varroa, frequentemente, rejeita essa possibilidade, porque não viu varroas nas abelhas… porque a colmeia estava muito forte… porque a varroa não deita abaixo uma colmeia tão forte num espaço de duas ou três semanas.
Mas sim, pode mesmo ter sido a varroa.
No diagnóstico post mortem de uma colmeia sem abelhas, que todos devemos fazer para compreender melhor as causas do sucedido, se encontrarmos uma cenário como o que passarei a descrever, o melhor que temos a fazer é mesmo colocar a varroa como a hipótese primeira na lista das causas possíveis.
- Era uma colónia forte. As colónias fortes têm uma probabilidade maior que as colónias mais fracas de sucumbirem com a varroa, e de sucumbirem de uma forma muito rápida (muitas vezes num período de apenas duas semanas).
- Colapsou à entrada do outono ou inverno. Dependendo das zonas, em regra, as rainhas diminuem a postura nesta altura do ano. Os ácaros que se desenvolveram a um ritmo crescente até aí, com menos criação na colmeia, parasitam por esta altura a quase totalidade das larvas e ninfas. Muitas das novas abelhas não nascem ou nascem fortemente debilitadas pela acção combinada dos ácaros e dos virús por eles transmitidos.
- Deixa muito mel nos quadros. Dada a altura do ano em que estes acontecimentos súbitos surgem, o tempo mais frio dificulta ou até impede a predação por outras abelhas e/ou insectos destas reservas de mel.
- Apresenta alguma criação nos quadros. Estas áreas de criação na grande maioria operculada, sinaliza que a rainha manteve a sua postura regular até cerca de duas a três semanas antes de a colónia colapsar. Este último ciclo de criação já estava condenado. Dada a rapidez com que o colapso ocorre ficam pequenas manchas de criação prestes a nascer, podendo até observar-se algumas abelhas prestes a nascer, com metade do corpo já fora do opérculo e com a língua extirada.
- A rainha não se encontra. As razões podem ser diversas: morreu devido a infecções virais; morreu à fome; morreu pela exposição ao frio, dado que a força de trabalho se foi extinguindo.
Fig. 1 — Criação afectada pela varroa numa colónia com sinais de Sindrome de Parasitação pelo Ácaro da Varroa
Estas situações indesejáveis sucedem a todos os que têm abelhas, mas mais frequentemente àqueles apicultores que tratam à vista, que iniciam os tratamentos quando vêm as abelhas com asas deformadas e/ou varroas em grande número em cima das abelhas; aos apicultores que andam a inventar a roda, com tratamentos mal cozinhados por eles ou por conhecidos; aos apicultores que pura e simplesmente são preguiçosos e negligentes e não monitorizam e não tratam em devido tempo as suas colmeias; aos apicultores que por uma ou outra razão têm abelhas mas ignoram tudo ou quase tudo acerca delas.