Este outono disse “nada” aos costumes…
Desde 2009, ano em que comecei a trabalhar com as abelhas, não me recordo de um outono como o de 2015. Na Beira Alta, os meses de Outubro, Novembro e Dezembro (com vários dias ensolarados com temperaturas entre os 18º- 22ºC e muitos outros a rondarem os 15º-17ºC) tiveram as suas consequências. Permitiram, por um lado, que as rainhas não parassem a postura e, por outro, que as abelhas não formassem o habitual cacho invernal. Estes dois acontecimentos simultâneos tiveram consequências que importam serem consideradas e avaliadas pelos apicultores locais, já que se traduziram no aumento significativo do consumo de reservas.
Nunca como este ano senti as colmeias tão leves em meados de Novembro. Nesta zona de país, ou melhor nas zonas desta zona do país onde tenho os apiários, o pasto das abelhas é escasso ou até inexistente. Ainda que em anos anteriores tenha evitado o mais possível a alimentação artificial, este outono-inverno não tive qualquer dúvida da sua necessidade para manter o risco dentro de limites que me são confortáveis. Alimentei praticamente todas as minhas colmeias ali situadas com uma média de 1Kg de fondant (alimento pastoso sólido) de 15 em 15 dias nos últimos 2 meses. Na primeira ronda de colocação do fondant ainda procedi à avaliação do peso das colmeias e alimentei só as mais leves. Nas outras rondas subsequentes decidi alimentar a eito. Torna a operação muito mais rápida. Por outro lado, os pesados quadros cheios com pólen podem resultar em avaliações erradas acerca do mel presente na colmeia. Finalmente, sendo algumas destas reservas formadas por mel da melada da azinheira, a alimentação artificial irá diminuir o seu consumo. Segundo alguns, mais conhecedores, é aconselhável esta opção, dado o elevado teor de cinzas e fibras presentes nos méis de melada, susceptíveis de provocar diarreia, que poderão originar nosemoses se as abelhas tiverem que defecar no interior da colmeia.
Até ao dia de ontem, nas cerca de 400 colmeias alimentadas pela 4ª vez, o resultado é muito satisfatório: todas as colmeias estão vivas… com as colónias em 2 apiários a iniciarem a expansão e nos restantes a deixarem-me a impressão que mantêm sensivelmente a mesma população desde há 2 meses. A maioria das colmeias apresenta entre 6 e 8 travessões superiores dos quadros cobertos de abelhas.
Já as cerca de 80 colmeias que tenho no litoral centro é como se estivessem noutro planeta. Expandiram-se a olhos vistos em Novembro e Dezembro. O néctar do eucalipto, o pólen do tojo e do eucalipto entraram a bom ritmo nas colmeias. O ritmo de postura das rainhas foi muito estimulado, obrigando-me à expansão dos ninhos, sempre feita com quadros de cera puxada. As colmeias mais fortes chegaram aos 6 a 7 quadros de cria densa. Por outro lado, as abelhas armazenaram boa quantidade de néctar nos sobreninhos, que fui colocando na justa medida em que elas iam pedindo. O mês de Janeiro, chuvoso, ventoso e mais frio, ditou as suas leis, e as colónias mais fortes pararam a sua progressão, havendo um ou outro caso de regressão. Janeiro fez regressar a esta zona a habitual figura da “colmeia-acordeão”, que ora se estende para logo de seguida se encolher.
Contudo algumas colónias continuaram num modo de expansão e crescimento, em especial os núcleos tardios. Cerca de 1/3 dos 40 núcleos tardios foram, até à data, passados para colmeias. Para tal, a ajuda desde meados de Novembro do fondant não deve ser menosprezada. Os outros 2/3 estão a evoluir bem, com a excepção de 2 casos.
Este outono atípico levou-me a recorrer, como nunca tinha feito até aqui, ao fondant. Se esta opção me permitir salvar 15 colmeias de uma eventual morte por falta de reservas, as contas ficam quites com o que já investi em 1500 Kg de fondant. Mais, como as reservas de mel não foram tão desgastadas, na primavera as abelhas começarão a encher as meia-alças mais cedo. Em suma, estou a passar de uma abordagem mais ideológica, em que evitava a alimentação artificial, para uma abordagem mais pragmática, mais ajustada aos meus objectivos empresariais. Como dizia um apicultor norte-americano, com uma operação de 5000 colmeias, o sucesso apícola na invernagem depende de três coisas simples: colónias suficientemente populosas, bem alimentadas e saudáveis. Não há que complicar o que pode ser simples.