No livro de sumários da Apimondia 2023, que aconteceu recentemente no Chile, podemos encontrar na pg. 133 o sumário do artigo Requeening queenright honey bee colonies with queen cells in honey supers, e que traduzo em baixo:
“Sumário: Os apicultores canadianos substituem anualmente um subconjunto de suas abelhas rainhas, no entanto, o processo de introdução de uma nova rainha numa colónia de abelhas não tem garantia de sucesso. Apesar do consenso de que é mais eficaz introduzir rainhas em colónias sem rainha, alguns apicultores profissionais introduzem alvéolos reais na alça meleira em colónias com rainha.
Testámos a taxa de sucesso desta prática introduzindo alvéolos reais em 100 colónias com rainha no sul de Alberta durante um fluxo de mel. A maternidade dos zângãos descendentes resultantes foi determinada usando DNA mitocondrial para identificar as rainhas em postura.
Nossos resultados mostram que as novas rainhas substituíram com sucesso a rainha original em apenas 6% das colónias, sugerindo que a prática não resulta na aquisição de liderança pela nova rainha na maioria das colónias. Além disso, nossos resultados mostram que a substituição por rainhas filhas é mais comum (13%) do que a substituição de novas rainhas ao introduzir alvéolos reais em colónias durante um fluxo de mel.“
Esta técnica de substituição de rainhas de forma massiva e com pouca mão de obra foi-me sugerida em tempos no ano de 2012/2013 por um conhecido técnico apícola nacional. Porque não confiei no sucesso da mesma nunca a utilizei. Boa intuição!
No artigo de revisão Varroa destructor infestation levels in Africanized honey bee colonies in Brazil from 1977 when first detected to 2020, publicado este ano na revista Apidologie, é apresentada a dinâmica dos níveis de infestação por Varroa destructor em abelhas africanizadas no Brasil nos últimos 45 anos e são elencados os factores que mais vezes são sugeridos pela comunidade científica para explicar o baixo dano nas colónias de abelhas africanizadas no país. Deixo em baixo a tradução do sumário do artigo desejando que a apicultura brasileira assim continue nos próximos 45 anos.
Sumário: Os objetivos deste artigo de revisão foram examinar a dinâmica dos níveis de infestação por Varroa destructor em abelhas africanizadas (AHB) no Brasil, desde que esse ácaro parasita foi detectado pela primeira vez em 1977. Dados de artigos de pesquisa publicados, resumos de conferências, resumos de congressos dados obtidos de pesquisadores académicos e inéditos, foram incluídos. Embora as infestações por ácaros tenham variado significativamente ao longo dos anos, não houve indicações de que a varroa tenha impactado negativamente a apicultura brasileira. Os níveis médios de infestação permaneceram em torno de 4,5 ácaros por 100 abelhas adultas, com uma mediana de 3,8, durante os últimos 45 anos. As taxas de infestação de abelhas adultas e de crias operárias foram semelhantes, embora com alguma variação geográfica, incluindo uma tendência para infestações mais elevadas nas regiões do sul do país. Vários pesquisadores sugeriram que os baixos níveis de infestação podem ser uma consequência do clima tropical e subtropical, da hibridização das abelhas, dos comportamentos higiénicos e catação (grooming), dos fatores genéticos das abelhas e dos ácaros, do baixo stresse nutricional, das práticas de maneio, do baixo stresse migratório e das condições ambientais. A ausência de necessidade de tratamento químico das infestações por varroa facilita o maneio do apiário e favorece a apicultura orgânica em todo o país. No entanto, embora as colónias de AHB e a apicultura no Brasil prosperem sem a necessidade de medidas de tratamento, mais pesquisas devem ser realizadas para avaliar melhor o impacto que as baixas infestações por ácaros Varroa têm na saúde e produtividade das colónias de AHB.”
A empresa Vita Bee Health, maior empresa mundial de produtos sanitários para abelhas melíferas, está a lançar no mercado um novo acaricida de libertação lenta de ácido oxálico veiculado através de tiras de fibra, com a marca VarroxSan.
Segundo a empresa: “VarroxSan utiliza uma tira de fibra resistente, evitando ou retardando a remoção pelas abelhas, permitindo que o produto funcione bem em todas as condições e garantindo uma elevada eficácia com uma dose relativamente baixa de ingrediente ativo. Nosso sistema de impregnação exclusivo garante que cada tira contenha uma quantidade idêntica de ingrediente ativo, proporcionando sempre uma dose confiável e consistente.
Através de uma série de estudos realizados por laboratórios independentes e institutos de investigação, em diversas condições geográficas e climáticas, o VarroxSan alcançou uma eficácia média de 96,80%.
O ácido oxálico di-hidratado é um acaricida de contato letal para os ácaros varroa em contato físico com ele. O modo de ação ainda não é compreendido totalmente, mas sabe-se que o baixo pH desempenha um papel fundamental.” (fonte: https://www.vita-europe.com/beehealth/products/varroxsan-varroa-control/)
Respondendo à questão do título, vindo de quem vem, Vita Bee Health, será muito provável que este novo acaricida venha a ser homologado na Europa. Vamos ver a que preços!
Economic Costs of the Invasive Asian Hornet on Honey Bees é um artigo que vai ser publicado no próximo novembro, na revista Science of The Total Environment. É um artigo muito elucidativo e enfático sobre o impacto económico que a Vespa velutina tem sobre a apicultura francesa nos dias de hoje.
O estudo procurou dar uma resposta precisa, com base em dados de grande escala e técnicas de modelagem, aos custos económicos da predação da V. velutina sobre as abelhas melíferas em França, através de estimativas relativas a estes três pontos: (i) o risco de mortalidade das colónias de abelhas relacionado com as vespas, (ii) o custo económico da perda de colónias para os apicultores e (iii) o impacto económico da substituição de colónias em comparação com as receitas do mel às escalas regional e nacional.
As conclusões são: “Estimamos uma densidade global de 1,07 ninhos de vespas asiáticas/km2 na França, com base no registro de campo de 1.260 ninhos em uma área pesquisada de 28.348 km2. No entanto, esta densidade de predadores estava espalhada de forma heterogénea por todo o país, bem como a distribuição das colónias de abelhas geridas. No geral, este risco de mortalidade de colónias de abelhas relacionado com vespas pode atingir até 29,2% das colónias dos apicultores à escala nacional todos os anos num cenário de elevada predação. Este custo nacional poderá atingir 30,8 milhões de euros por ano devido à perda de colónias, o que representa para os apicultores um impacto económico da substituição de colónias de 26,6% das receitas do mel.“
Esta publicação visa colocar o “problema velutina” na exacta magnitude do mesmo: é um problema enorme para a apicultura dos países onde já está instalada e sê-lo-á naqueles onde se vier a instalar num futuro próximo — segundo alguns estudos a V. velutina será capaz de colonizar uma grande diversidade de habitats na Europa e regiões de fronteira, dos países nórdicos até às zonas costeiras do norte de África.
Se… tivesse colmeias no litoral centro como as trataria em 2024? Vou utilizar alguns dados do terreno obtidos no acompanhamento que fiz conjuntamente com o Marcelo às suas colmeias e apresentar algumas simulações feitas no simulador do Randy Oliver parametrizado por mim para o ciclo de desenvolvimento de colónias no litoral centro.
Se por hipótese começar o ano de 2024 nas minhas colmeias com uma população de 2109 varroas, o seu controlo ao longo do ano será muito difícil e arriscado. Mesmo com 4 tratamentos eficazes (80%-90%) e muito eficazes (95% ou acima) as minhas colmeias ultrapassariam os limiares de dano económico — mais de 15 varroas por 300 abelhas, como se pode ver na simulação em baixo.
Como vemos da simulação em cima os quatro tratamentos, nas condições simuladas, são suficientes para evitar o colapso das colónias, mas não são suficientes para evitar o prejuízo económico na sequência de se terem atingido taxas de infestação demasiado altas — acima das 15 varroas por 300 abelhas. Chegado aqui, entre a espada e a parede, decidi simular adicionando um quinto tratamento. Vejamos em baixo o resultado:
Começar o ano de 2024 com 211 varroas em lugar das mais de duas mil é um aspecto crítico para ter a população abaixo dos limiares de dano económico, com as colónias em pleno estado de saúde e com o máximo potencial produtivo ao longo de todo o ano como me mostra a simulação seguinte:
Como vemos a introdução do quinto tratamento nas condições simuladas muda o jogo a nosso favor: permite entrar num circulo virtuoso e atingir o final do ano com um número de varroas inferior a 200 que me permitirá olhar para o ano seguinte com mais tranquilidade no que respeita ao controlo da varroose.
E se… decidisse voltar aos dois tratamentos anuais, tratando quando a varroa atinge os 3% de taxa de infestação?
Pois, qualquer semelhança com a realidade…
Notas: 1) não vou esquecer que são apenas simulações, não é a realidade. Mas é uma ferramenta mais que me ajudará a reflectir e até a planear de forma mais informada.
2) Será altura de se mudar o paradigma do PAN atribuir uma comparticipação para apenas dois medicamentos, que em muitos casos serão insuficientes para um efectivo controlo da varroose ao longo do ano. Só os meus dois cêntimos para a conversa!
Nesta publicação descrevo o caso dos tratamentos e monitorização de infestação que o meu amigo Marcelo Murta levou a cabo nas suas colmeias.
Da monitorização feita a 19 de julho obteve taxas de infestação a rondar os 8%, isto é 24 varroas por cada 300 abelhas. Utilizando o simulador do Randy Oliver para obter 24 varroas nessa data foi necessário partir do pressuposto de que as colónias entraram no ano com uma população de 180 varroas (simulei este valor porque não possuo dados reais da taxa de infestação anteriores a esta data; ver quadrícula “mite population”, no fundo à esquerda ).
Como descrito na publicação, o Marcelo fez um tratamento em finais de Julho para fazer baixar a taxa de infestação. No último dia de agosto fez uma segunda monitorização da taxa de infestação e os valores encontrados andavam em torno de 1% (3 varroas em 300 abelhas).
Como vemos da simulação em cima, mesmo com a elevada eficácia do tratamento de finais de julho, de outubro em diante o simulador apresenta valores superiores a 15 ácaros (ver valores azul no interior dos pequenos quadrados brancos), valor a partir do qual se observa um declínio no desempenho da colónia, em geral (Randy Oliver).
Em boa hora o Marcelo optou por fazer, nesse último dia de agosto, o quarto tratamento do ano, recorrendo ao ácido oxálico gotejado. De acordo com Randy Oliver é expectável este tratamento atingir uma eficácia entre 80%-95%, quando as colónias não apresentam criação operculada. Fiz mais uma simulação para contemplar este tratamento, como podem ver em baixo.
Sei que é intenção do Marcelo, fazer um 5º tratamento antes de finalizar o ano, até porque provavelmente terá uma taxa de infestação superior uma vez que não se verifica um ligeiro aumento de criação no outono, típico de um clima temperado do interior do país, mas um aumento de criação pronunciado, o típico no litoral norte e centro.
Finalizando com a questão do título, a resposta é que neste caso e neste ano muito provavelmente 4 tratamentos será curto para o Marcelo atingir as suas expectativas. E cada caso é uma boa fonte de reflexão, desde que não se façam generalizações apressadas. A partir deste não vamos concluir que de norte a sul e de este a oeste do nosso país sejam necessários os mesmos tratamentos e nas mesmas datas. Se for para generalizar apenas isto: 12 dias depois de cada tratamento monitorizem a sua eficácia e utilizem este ou outro bom simulador que vos ajude a tomar decisões informadas. Bom combate!
Simulador do Randy aqui: https://scientificbeekeeping.com/randys-varroa-model/
Nos três primeiros vídeos um apicultor galego apresenta-nos a sua experiência e conclusões dos efeitos alcançados com a utilização de cavalos de troia num ninho localizado no interior de uma habitação nos últimos dias de agosto.
O apicultor conclui que os troianos com fipronil não têm capacidade de eliminar os ninhos. No final confessa que esperava que os troianos com fipronil seria o suficiente para eliminar os ninhos. Neste ponto pergunto se as expectativas deste apicultor são realistas, isto é, podemos esperar realisticamente que libertar 175 troianos num ambiente com 6 ninhos activos os elimine por completo?
Nesta publicação, com dois anos, observou-se que cada velutina distribui o alimento por oito 8-10 irmãs. Sustentando e informado por estes dados escrevi: “Proposta quantitativa para a preparação de Cavalos de Tróia: Operando com esta média de distribuição de alimento por cada operária V. velutina, e sabendo que no pico de desenvolvimento dos ninhos existem cerca de 2000 a 4000 indivíduos adultos presentes, teremos que preparar entre 50 e 100 vespas se pretendemos eliminar 25% da população do ninho, entre 100 e 200 se o objectivo é eliminar 5o% da população do ninho, entre 200 e 400 se o objectivo é eliminar 100% da população do ninho.“
A terminar pergunto se as expectativas deste apicultor são realistas, isto é, podemos esperar realisticamente que libertar 175 troianos num ambiente com 6 ninhos activos os elimine por completo? Será que num ninho com 60 cm de altura, em excelentes condições de abrigo e em finais de agosto, não seria de esperar encontrar mais do que 1500 adultos e 150 larvas e uma a duas dezenas de futuras fundadoras? É de descartar um efeito letal dos troianos em parte da população adulta e larvas que explique estes números baixos? Será possível que todas as diminuições de predação que se relatam após a libertação dos troianos se devam à coincidência de acontecerem precisamente na altura de diminuição de criação?
Na minha opinião não encontro nos três primeiros vídeos evidências que os cavalos de troia não produzam efeito nenhum sobre os ninhos; encontro contudo aspectos que me fortalecem a convicção de que é necessário enviar uma grande quantidade de troianos para eliminar por completo um ninho, como já era minha convicção há dois anos atrás. Na minha opinião, a questão que cada um terá que responder para si, caso acredite nos efeitos desta técnica, é se o procedimento de besuntar o abdómen ou o tórax das velutinas será o mais prático para enviar o número suficiente de velutinas para que causem um grande dano no ninho ou ninhos envolventes aos nossos apiários.
No documento “Precios miel — campaña 2022/2023”, publicado em julho de 2023, encontramos, entre outros, os valores médios a que têm sido comercializados a granel os méis de meladas e multiflorais em Espanha até há uns poucos meses atrás. Desejando que de lá para cá os valores médios tenham subido, transcrevo em baixo o primeiro parágrafo do documento e apresento dois dos quadros lá constantes com a evolução dos preços nas últimas 3 campanhas.
“Respecto a, en primer lugar, las MIELES A GRANEL, en la primera que se analiz, la miel de mielada, se constata un inicio tranquilo de campaña, ya que se mantienen los precios en 4,33 €/Kg hasta prácticamente la mitad de la misma. A partir de septiembre, los precios muestran altibajos, de tal forma que los picos mínimo y máximo se encuentran en este período (los meses de septiembre y octubre registran el pico máximo ―4,22 €/Kg―, si bien, en el mes de febrero, alcanzando el final de la campaña, se registra el mínimo ―4,14 €/Kg―). Todo lo anterior se traduce en una variación del -3,42 % en el precio de la miel de mielada, si comparamos los dos puntos inicial y final de la campaña. Por su parte, la miel variedad multifloral muestra un comportamiento distinto, pues sus precios van en un aumento, ligero pero constante, hasta el mes de octubre, donde se registra un precio máximo de la campaña de 3,93 €/Kg, para terminar la campaña en un descenso, también ligero pero constante, anotando precisamente su precio mínimo al cierre de la misma (3,41 €/Kg). En este caso, la variación porcentual del precio de la miel multifloral a granel de la campaña 2022/2023 es del -3,76 %.”
A V. velutina, assim como as suas primas, a V. crabro e a V. orientalis, são vistas frequentemente sobre as flores.
O que procuram? Prioritariamente o néctar, para darem resposta à elevada quantidade de energia que os seus voos exigem. Como caçadores oportunistas que são não dizem que não à possibilidade de caçar um insecto ou outro mais distraído que tenha o azar de estar no local errado e à hora errada.
Contudo, se a procura dos néctares responde a essa necessidade primária ela é também essencial para responder a necessidades sociais destas espécies. Neste artigo, Continuous exchange of nectar nutrients in an Oriental hornet colony, (2022), podemos apreender alguns detalhes do processo de troca contínua, em loop, dos nutrientes açucarados num ninho de V. orientalis — a probabilidade de se passar o mesmo com a V. velutina é grande.
“A troca de nutrientes entre indivíduos adultos em insetos sociais é bidirecional, ou seja, podem ser doadores e receptores do mesmo tipo de alimento ou nutriente. […] Nas vespas sociais, as secreções larvais constituem um dos principais recursos alimentares dos adultos. As larvas de vespas são alimentadas com presas (artrópodes ou carne) coletadas pelos adultos e, em troca, as larvas devolvem aos adultos os produtos da degradação proteica na forma de uma secreção contendo carboidratos simples e aminoácidos livres (resultantes da gliconeogénese e da quebra de proteínas, respectivamente). […] Sugere-se que esta troca recíproca e unilateral de nutrientes (isto é, proteínas versus carboidratos e aminoácidos livres) e a consequente co-dependência nutricional entre adultos e larvas seja a chave para o estabelecimento da sociabilidade em Vespidae.
Apesar das vespas sociais serem ferozes caçadoras de insetos, os adultos também são frequentemente observados alimentando-se de néctar floral de uma variedade de espécies de plantas diferentes. A vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax), por exemplo, foi observada alimentando-se de néctar floral de 27 espécies de plantas. Este consumo de néctar, no entanto, tem sido frequentemente caracterizado simplesmente como um comportamento oportunista, uma vez que a visita às flores também pode estar associada à caça de presas. As operárias adultas são voadoras fortes com uma taxa metabólica extremamente alta e alimentam seu metabolismo com uma dieta rica em carboidratos e aminoácidos livres encontrados no néctar e nas secreções larvais. Estas dietas ricas em carboidratos também podem proteger os músculos de vôo do stresse oxidativo derivado do alto desempenho aeróbico. A composição de macronutrientes das secreções larvais é análoga ao néctar das plantas visitadas pelas vespidae, embora geralmente seja mais rico em concentração e diversidade de aminoácidos. Ao contrário das operárias, as larvas necessitam de alimentos ricos em aminoácidos para sintetizar as proteínas necessárias ao seu desenvolvimento e são sustentadas por uma dieta altamente proteica. Como as larvas são alimentadas com presas e as secreções larvais são mais nutritivas para os adultos do que o néctar, por que razão as vespas também se alimentam de néctar floral?
[…] Também investigamos a importância do néctar para a sobrevivência da colónia. Nossos resultados revelam um papel importante do néctar na nutrição das vespas. Mostramos que os nutrientes do néctar são trocados num ciclo contínuo entre todas as diferentes fases da vida dos membros da colónia, desafiando o conhecimento predominante neste campo até o momento.”
Notas para levar para casa:
mesmo na designada fase proteica, os vespões adultos continuam a procurar fontes açucaradas;
a presença destes vespões nas flores explica-se pela procura de néctares e não exclusivamente por ali poder emboscar e caçar insectos;
se as larvas são alimentadas predominantemente com proteínas, os vespões adultos também lhes entregam nutrientes açucarados;
uma parte destes nutrientes açucarados, enriquecidos com aminoácidos, retornam aos indivíduos adultos através do consumo que fazem das secreções que as larvas produzem.
Na minha opinião estamos a atravessar, de há uns anos para cá, uma época de mudanças importantes no combate à varroa. Estas mudanças advém de dois aspectos documentados: existência de populações de varroas resistentes ao amitraz na Europa e a colonização e disseminação de uma estirpe mais virulenta de vírus no nosso continente. A juntar a estes dois factos junto um terceiro, que resulta da minha especulação e de outros apicultores informados: ao utilizarmos massivamente acaricidas que matam exclusivamente varroas na fase de dispersão (fase forética), fomos seleccionando as varroas com períodos mais curtos de dispersão, aquelas que mais adaptadas estavam para sobreviver à mecânica da maior parte dos acaricidas sintéticos e orgânicos que temos vindo a utilizar.
Nestes tempos de mudança e aumento de complexidade conheço basicamente três tipos de resposta dos apicultores para o controle da varroa:
1) os que acreditam que as mudanças biológicas e comportamentais das varroas e vírus não existem, que tudo é uma conspiração, que as varroas e os vírus continuam a ser os mesmos de sempre, apicultores cheios das certezas típicas da ignorância, e que vão falhar desastrosamente e silenciosamente, sem nunca assumirem que falharam nas suas opções e sem perceberem porque falharam;
2) os que percebendo as mudanças e que as soluções antigas estão a falhar querem mudar a sua estratégia, mas desejam alternativas milagrosas e estão apenas disponíveis para utilizar “receitas do tipo limão”, baratas e hiper-simples de utilizar. Parece-me que nunca lhes ocorreu pensar que se fosse assim tão simples já todos utilizaríamos essas “balas de prata”. Também estes, com a suas ilusões, vão falhar;
3) aqueles que estão conscientes das mudanças e que vão enriquecer as suas qualificações de combate e o seu arsenal de acaricidas. Estes assumem a necessidade de continuar a aprender e procuram conhecer o melhor possível o inimigo, as suas forças e fragilidades, e a sua evolução. Ao mesmo tempo procuram conhecer mais profundamente o potencial e as limitações dos chamados acaricidas suaves (orgânicos) e de medidas culturais (interrupção da criação, entre outras), para as introduzir numa estratégia mais inteligente e efectiva. Estes têm as melhores probabilidades de manter a varroose “at bay”.
Especulando, acho que nos dois primeiros grupos encontramos 80% dos apicultores europeus e 20% deles enquadro-os no terceiro grupo.
Para os apicultores do terceiro grupo sugiro lerem este bom artigo de revisão sobre a evolução da varroa, vírus e vantagens e limitações da utilização dos acaricidas suaves, publicado em 2021: Varroa destructor from the Laboratory to the Field: Control, Biocontrol and IPM Perspectives—A Review. Mais adiante conto fazer traduções de alguns excertos, para os que têm mais dificuldades com o inglês.