Feliz Natividade para todos nós!
A nossas mães e pais…
blog de Apicultura
Feliz Natividade para todos nós!
A nossas mães e pais…
Pode ter sido dado um passo importante para o controlo biológico da Vespa Velutina por via da síntese de um composto semelhante à feromona sexual libertada nos vôos de acasalamento pelos indivíduos desta espécie.
“Hoje (8 de Dezembro de 2017), um biólogo da Universidade da Califórnia (UC) em San Diego e seus colegas na Ásia apresentaram uma solução para lutar contra a vespa asiática baseada no instinto do inseto se orientar através de um químico natural (feromona*) libertado durante os vôos de acasalamento. James Nieh da UC San Diego e investigadores da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade Agrícola de Yunnan decifraram a feromona sexual da Vespa velutina. Além disso, eles desenvolveram um método de controle dos machos da vespa asiática atraindo-os para armadilhas iscadas com versões sintetizadas dessa feromona (vídeo em baixo).
Eles testaram com sucesso os principais compostos da feromona sexual da espécie e os resultados mostram que os machos são muito atraídos por eles: “as armadilhas são incrivelmente eficazes, para além das nossas expectativas“, disse Nieh, professor na Divisão das Ciências Biológicas da UC San Diego.
As feromonas são sinais químicos que transmitem informações entre membros da mesma espécie. As feromonas sexuais desempenham um papel fundamental no acasalamento, sobrevivência e manutenção das espécies. No caso dos machos da vespa asiática, que têm visão limitada, as feromonas sexuais são susceptíveis de desempenhar um papel fundamental na atração de longo alcance. A nova pesquisa do Dr. Nieh demonstra uma maneira simples e confiável de monitorar e potencialmente reduzir as populações destes insetos invasores.”
Vídeo: Armadilha com cola anti-vespa velutina com uma banda de papel branco ao centro impregnada com a feromona sexual sintetizada.
fonte: http://mielleriedesgraves.over-blog.com/2017/12/piege-anti-frelon-a-colle-avec-de-la-pheromone-sexuelle-synthetique.html
*feromona: substância segregada por um animal e reconhecida por animais da mesma espécie na comunicação e no reconhecimento. = FEROMÓNIO, FERORMONA (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [consultado em 19-12-2017]).
Ontem, dia 16 de Dezembro, reuniu-se em Castelo Branco um grupo de apicultores profissionais com o intuito de darem os primeiros passos no sentido de fundarem a Associação dos Apicultores Profissionais de Portugal (AAPP).
Justifica-se uma associação que represente e expresse as vontades, os anseios, os interesses de um grupo profissional? Na minha opinião, obviamente que sim. O vazio que até agora existiu é que se torna de difícil compreensão.
Mas o que é ou o que define um apicultor profissional em Portugal? Resposta de difícil consenso dada a relativa diversidade de perfis existente na população de apicultores profissionais no nosso país. Socorrendo-me da definição aqui apresentada no âmbito do Plano Apícola Nacional 2017-2019, os apicultores que detêm um efetivo superior a 150 colmeias consideram-se apicultores profissionais.
Ainda no mesmo Plano, com dados de 2015, ficamos a saber a propósito do sector profissional da apicultura nacional:
A propósito destes números proponho algumas linhas de reflexão e consciencialização acerca de algumas das externalidades* positivas do sector apícola profissional nacional:
*externalidade= traduz uma situação em que a tomada de decisões de produção ou consumo por parte de determinados agentes económicos se reflete na ocorrência de custos ou benefícios para outros agentes que não estiveram envolvidos nessas atividades.
Sim sem dúvida diz-se aqui.
Contudo as abelhas nas explorações apícolas estão a prosperar diz-se aqui, aqui e aqui.
Muitos de nós não desconhecemos que as abelhas estão ameaçadas por poderosos inimigos (varroa, virús, pesticidas, predadores exóticos, …), muitos deles recentes, e que sem a intervenção humana, em particular dos apicultores, o seu declínio seria rápido e a sua extinção quase certa.
Ainda que a célebre citação do Einstein “sem abelhas a humanidade viverá apenas mais quatro anos” nunca lhe tenha saído da boca tanto quanto se sabe, ela no seu exagero alerta para um facto incontornável: as abelhas e outros polinizadores têm um papel determinante na produção em massa e a preços razoáveis de uma série de produtos de origem vegetal que tão valorizados são na nossa dieta.
Pergunto se será exagerado concluir: na actualidade a diversidade e qualidade da nossa dieta está dependente dos polinizadores em geral, das abelhas em particular e dos apicultores em última instância, porque sem eles as abelhas muito provavelmente seriam apenas uma recordação da nossa infância e juventude.
Nos posts anteriores fiz menção a um conceito que importa decompor e explicar dado a sua elevada importância no contexto da escolha do biocida para construir cavalos de tróia na luta contra a vespa asiática/velutina. O conceito em questão é o de larvicida.
O que é um larvicida?
Entre os diversos insecticidas/biocidas que podemos utilizar na preparação dos cavalos de tróia alguns têm um efeito larvicida outros um efeito adulticida. Um insecticida-larvicida é aquele que apresenta uma actividade sobre as larvas dos insectos evitando que estas se desenvolvam e cheguem à fase de pupa. Desta forma o larvicida interrompe o ciclo de vida do insecto uma vez que as larvas não chegam a transformar-se em insectos.
Fig. 1: Ciclo de vida de uma mosca: ovo, larva, pupa, insecto adulto.
Todos os insectos com metamorfose completa (moscas, abelhas, vespas e outros) seguem este mesmo esquema desenvolvimental. Todos passam por uma fase larvar antes de atingirem a fase pupal. Assim um larvicida interrompe a passagem de larva a pupa. Como?
Os insectos desde a sua fase de ovo até à fase adulta realizam uma série de modificações. No final de cada modificação revestem-se de uma capa protectora, o exoesqueleto. Na passagem da fase larvar à fase pupal a quitina é um elemento fundamental à formação do exoesqueleto. Os larvicidas impedem a síntese desta quitina. Sem a deposição da quitina o exoesqueleto não se forma, a larva não termina o seu desenvolvimento, rompe-se assim o ciclo de vida do insecto.
De um ponto de vista teórico (e a teoria deve iluminar a prática) a utilização de cavalos de tróia com larvicidas para diminuir a predação das velutinas parece-me que tem pés para andar, em especial pelo efeito perdurável que tudo indica possa ter. Ao contrário, os biocidas adulticidas, aqueles que matam os insectos adultos, mas com pouco ou nenhum efeito nas larvas, têm um efeito mais rápido mas menos perdurável. Com a utilização exclusiva de adulticidas passadas uma a duas semanas desconfio que iremos ter novas velutinas a massacrarem as nossas abelhas. Como aconteceu no estudo realizado no País Basco.
Entre muitos outros larvicidas destaco o s-methoprene e o pyriproxyfen, uma vez que estão numa marca comercial bem conhecida, o Frontline Plus e o Frontline Gold, conjugados com fipronil, um adulticida.
Este é até agora o único estudo controlado que conheço publicado e que confirma o que vários apicultores portuguese, franceses e espanhóis têm dito acerca dos resultados positivos alcançados com a estratégia de utilização de cavalos de tróia no controlo da predação de apiários pela vespa velutina.
“En agosto y septiembre de 2015, en los colmenares de varias zonas de Gipuzkoa [País Basco], se ha realizado un ensayo piloto controlado empleando cebos cárnicos mezclados con biocida para el control de V. velutina. Los resultados de la prueba piloto han sido muy positivos: los días previos a la prueba, el nivel de infestación de los colmenares por avispas era alto, tanto que las abejas no salían de las colmenas. Después de realizar el primer ensayo, el número de avispas disminuyó hasta niveles bajos o muy bajos y las abejas volvieron al trabajo. Esta situación duró un par de semanas, volviendo después de pasado este tiempo al estado inicial. En la prueba que se hizo en septiembre, la situación de partida era muy parecida y los resultados fueron satisfactorios. Como conclusión parece que un uso controlado y periódico de cebos proteicos mezclados con biocidas autorizados podría servir como medida para disminuir los daños producidos por V. velutina en los colmenares. Asimismo, podría disminuir el número de nidos totales de la temporada siguiente, si este tipo de tratamientos se aplicara de forma estratégica para evitar el desarrollo de las generaciones de machos y de las nuevas reinas fundadoras.” (pgs. 61-62).
fonte: http://www.euskadi.eus/contenidos/documentacion/vespa_velutina/es_def/adjuntos/vespa_velutina.pdf
Três notas acerca do excerto:
Neste post identifiquei uma forma simples e rápida para atrair e apanhar as vespas velutinas, com o intuito de fazer delas os cavalos de troia, que deverão transportar para o seu ninho o biocida que o eliminará/enfraquecerá. Desenhados os procedimentos desta primeira etapa passemos à etapa seguinte que trata da escolha do biocida a utilizar.
2ª etapa: a escolha do biocida
Neste ponto as divergências são muitas, fruto de pontos de vista excessivamente polarizados, nomeadamente entre alguns “verdes” de secretária e alguns apicultores desesperados. Como apicultor importa-me avançar para o que me/nos interessa: como eliminar/diminuir/controlar a pressão predatória das velutinas nos apiários, com o menor impacto ambiental possível, de forma razoavelmente eficaz, rápida e perdurável? Na hora actual, a utilização dos cavalos de tróia parece a muitos de nós a resposta de última linha aos desafios que a circunstância de apiários fortemente predados por velutinas, vindas de ninhos inacessíveis ou não localizados, colocam.
Entre os vários ingredientes disponíveis como biocidas os mais utilizados julgo serem a permetrina e o fipronil, presentes por exemplo em produtos com as marcas comerciais Advantix e Frontline, e ainda insecticidas reguladores de crescimento de insetos (RCI), que apresentam um efeito larvicida ao inibir a formação de quitina (exoesqueleto). Na minha pesquisa pela net encontrei um ingrediente mais, tido como ecológico e orgânico e que alguns apicultores já utilizam na “construção” dos cavalos de tróia: o (e)spinosad(e).
Fig. 1: Um formicida que contem spinosad na sua formulação
Ver mais informação sobre o spinosad em:
Num próximo post terminarei este conjunto de posts onde fui deixando pistas e orientações para a reflexão e construção dos cavalos de troia contra as vespas velutinas. Nesse post proporei procedimentos variados de preparação/construção dos cavalos de troia, alguns dos quais acredito serem capazes de minimizar significativamente alguns riscos subjacentes.
Se desejarem ir avançando trabalho proponho a leitura deste fórum francês e ainda este onde o tema foi largamente discutido.
No post anterior identifiquei dois tipos de atraentes básicos utilizados na preparação das armadilhas para efectuar a captura de vespas asiáticas/velutinas. Basicamente estes iscos devem ter ou uma base açucarada ou uma base proteica. Contudo, há alturas do ano em que os açucarados funcionam melhor que os proteicos e outras alturas em que são os proteicos os mais indicados.
Vejamos o que nos diz a este respeito o especialista Ernesto Astiz:
Ernesto Astiz deixa claro nas suas conclusões o seguinte a este respeito: na altura em que os ninhos de velutinas não têm larvas ou têm poucas larvas as velutinas fundadoras ou obreiras são mais atraídas por iscos açucarados (em geral primavera e final do outono); pelo contrário se os ninhos têm muitas larvas (em geral no período do verão e início do outono) as velutinas obreiras são mais atraídas por iscos proteicos (peixe e carne, por ex.).
Cabe ao apicultor adaptar ao ciclo de vida do ninho da velutina um ou outro tipo de isco para aumentar a eficácia na captura das vespas asiáticas.
Nestes dois vídeos colectados no youtube inicio o desenho de uma sequência de etapas que operacionalizam um processo rápido e seguro para produzir “cavalos de troia” com vista à intoxicação dos ninhos das velutinas não visíveis ou inacessíveis.
1ª etapa: recrutar as vespas.
Os alimentos/líquidos açucarados são muito procurados pelas jovens rainhas/fundadoras.
O peixe fresco é um atraente muito forte, em especial na época em que as vespas operárias procuram proteínas para alimentar as suas larvas.
Estes atraentes colocados em recipientes que não as afoguem/matem podem servir de alfobre para as nossas capturas. Com uma pinça como podemos ver aqui a sua caça é simples e rápida. Temos assim recrutados os soldados para fazermos deles cavalos de troia.
Os incêndios ocorridos neste verão e outono deixaram feridas profundas no interior do nosso país. Largas extensões desse território e muito trabalho ficou em cinzas. Como levantar as pessoas, como erguer a terra?
Para não cair no esquecimento e servir de referente lembremos como foi amparado num passado recente um sector à beira do precipício: o sector bancário.
[A] “estimativa feita em 2015 pelo Banco Central Europeu, que contava 19,5 mil milhões gastos pelo Estado português entre 2008 e 2014, o correspondente a 11,3% do PIB. Já em 2015, o Tribunal de Contas estimava que a mesma despesa, entre 2008 e 2015, rondaria os 14 mil milhões de euros, em injecções de capital e empréstimos. ” *
Assim decidiram os senhores de Portugal. Assim foi utilizado o dinheiro de todos nós. Aqui chegados pergunto: haverá alguma razão para que os territórios arruinados pelos incêndios, maltratados pela seca, descapitalizados pelas regras do comércio internacional, não sejam devidamente amparados?
Julgo que não andarei muito longe de uma previsão justa e correcta se disser que a grande maioria dos portugueses espera que os decisores nos próximos 10 a 20 anos, através do estado, apoiem empenhadamente os esforços necessários para revitalizar o interior do país de norte a sul. Entre outras medidas, deve apoiar devidamente os pequenos produtores florestais enquanto agentes indispensáveis na reforma da floresta que se exige e necessita há muitos anos.
Dou um exemplo singelo: todos nós queremos uma floresta mais racional, mais autóctone, com carvalhos, castanheiros, azinheiras, sobreiros e outros. No entanto os apoios às perdas de produção devem ser equacionados. Mais, devem ser valorizadas as externalidade ou ganhos para todos nós com o plantio deste tipo de árvores. Esta factura está à nossa frente e há que encorajar os nossos representantes a pagá-la.
Ou isto ou nada! Ou tudo continuará na mesma e pior ainda.