inquérito sobre a realidade das colónias queimadas em 2017 em Portugal

Recebi ontem no meu e-mail esta solicitação do Francisco Rogão para responder a este inquérito. Já o fiz porque me arderam algumas colmeias num dos meus apiários. Tomo a liberdade de colocar aqui o pedido do Francisco assim como o link para o inquérito.

“Bom dia

Caros colegas afectados pelos incêndios (ou quem tenha conhecimento efectivo dos que foram afectados), com o intuito de se ter uma ideia da quantidade de colónias ardidas este ano e fazer chegar esta informação às entidades responsáveis pelo sector, tomo a iniciativa de solicitar que preencham o inquérito que se segue. PF partilhem

Preencha aqui

 Cumprimentos

Francisco Rogão”

 

Apelo ao seu preenchimento por parte dos companheiros a quem arderam colmeias. Assim daremos a conhecer a quem de direito a real dimensão do quanto o sector apícola foi afectado pelos incêndios neste ano. Os resultados recolhidos por este inquérito serão certamente uma ajuda para os nossos representantes (FNAP, Associações e Cooperativas Apícolas) poderem apelar, junto dos organismos oficiais responsáveis, às ajudas ao sector, assim como fazerem parte dos grupos de trabalho que irão surgir no âmbito das prometidas reformas da nossa floresta. Acerca deste ponto remeto ainda para o conteúdo do post do João Tomé, no seu blog Vale do Rosmaninho (aqui), sublinhando esta afirmação: “Para isso, será importante no futuro, os apicultores fazerem parte dos grupos de trabalho com intervenção directa no território, apresentando propostas de gestão em complemento das que são apresentadas por outros sectores (ex. exploração florestal, conservação da natureza, etc.), favorecendo desta maneira o equilíbrio e manutenção das colónias de abelhas.

vespa velutina: novo atraente e novo cavalo de tróia

Neste artigo da edição do passado mês do “Campo Galego” são apresentados e descritos um novo atraente para velutinas a utilizar em apiários muito atacados e ainda uma nova forma de produzir cavalos de tróia. O autor do artigo sublinha a elevada selectividade do primeiro e a inocuidade do segundo junto dos outros seres vivos que habitem o meio.

A receita do novo atraente segue em espanhol/castelhano:

La receta para el jarabe de miel es la siguiente:
– Se ponen 2 litros de agua a calentar, y se disuelve en ella cuando esté bien caliente 1/2 kg de miel
– Se deja enfriar totalmente (tiene que estar frío del todo para el siguiente paso)
– Añadir 2 cucharadas de alcohol
– Añadir 1 cucharada de vinagre
– Añadir en cada bote la mezcla anterior, hasta una altura aproximada de 2 centímetros.

O novo cavalo de tróia:

É recomendado utilizar os próprios ninhos da Vespa Velutina como uma armadilha para veicular o insecticida. “Uma vez que o ninho Velutina está desativado; isto é, que o inseticida foi aplicado na entrada e selado, em vez de removê-lo para queimá-lo ou esmagá-lo, podemos usá-lo como uma armadilha “, explica. “Para fazer isso”, ele acrescenta, “cortamos com um cortador/faca uma camada do ninho de velutina, de modo a separar os favos com larvas de vespa asiática. Nós pulverizamos com um inseticida de dupla ação, larvicida e adulticida, e as Velutinas serão atraídas pelo líquido das larvas, ficarão contaminadas,  levarão para o seu ninho o insecticida, que também acabará contaminado“.

Relativamente ao insecticida utilizado é apresentado como inócuo para outros insectos e aves que habitem a zona, é constituído por Alfacipermetrina 3% (p/p) e Diflubenzuron 3% (p/p), sem neonicotinoides, e é utilizado frequentemente para combater piolhos em cães, gatos e galinhas.

… estado de guerra

Ontem fiz entre a Guarda e Coimbra 150 Km com o sol sempre por detrás de nuvens de fumo.

Chego a Coimbra e as imagens e notícias da televisão confirmam e expandem esta vivência: Portugal arde de norte-a-sul, de este-a-oeste.

Tenho 50 anos e não me lembro de uma ano tão negro, tão quente, tão mortal. Estamos em terra queimada, estamos feridos, estamos em estado de guerra.

Fig: Uma parede de fumo negro em Vieira de Leiria, com o pinhal real de Leiria a arder 

Um soco no estômago que tem como causas remotas aquilo que alguns ainda negam: alterações climáticas!

Um soco no estômago que tem como causas próximas aquilo que alguns deveriam investigar: como é que os “tolinhos” e “alcoólicos” se conjugam tão perfeitamente entre si para incendiar o país de lés-a-lés num período de tempo tão curto?

Até parece uma acção perfeitamente planeada, organizada, com uma capacidade operacional regional ou até nacional e por gente que de tolo e de bêbado nada têm. E às vezes o que parece é!

paulonia vs. eucalipto

Num ano terrível para apicultura, com milhares de colmeias ardidas, algumas delas minhas, procuro informação sobre árvores-bombeiro e se possível nectaríferas. A paulonia está a merecer neste momento a minha atenção porque me parece reunir estes dois requisitos.

Fig. 1: Árvore paulonia

Fazendo esta pesquisa acerca da paulonia (paulownia em inglês) encontrei a opinião, citada em baixo, que pode deixar algumas pistas para a reforma florestal que tanto se anseia, tendo como quase certo que algumas sub-espécies desta espécie não são consideradas invasoras pelas autoridades portuguesas competentes (ver lista linkada aqui).

 

O governo e os produtores privados parecem adorar a monocultura. Quase qualquer monocultura seria melhor do que o que existe atualmente. Aposto que eles gostariam de uma árvore que tenha retorno ao fim de 10 anos. O Paulownia precisa de mais umidade do que está disponível naqueles montes, mas aposto que seria bom em áreas mais quentes.

A maioria dos assentamentos precisa lidar com as águas cinzentas. Um sistema de tratamento de águas arrasadas, com base nessas árvores, poderia dar uma grande quantidade de proteção contra incêndio em um curto período de tempo. Um grande anel em torno de cada pequena cidade poderia ser irrigado. Isso satisfaria o desejo de cultivar árvores, com a exclusão de outras coisas, e evitaria a propagação do fogo. A cultura acabada é mais valiosa do que o eucalipto.

A indústria de plantio de eucalipto emprega apenas cerca de 3.000 pessoas. Seu país permitiu que uma vasta área fosse cultivada em mono, em nome da economia de 3.000 trabalhos. Quase qualquer outro sistema florestal, produziria mais empregos. Com celulose e papel, é principalmente plantar, aguardar o número de anos necessário, depois cortá-lo e processá-lo em pasta de papel.

As árvores que são moídas em madeira, criam um grande número de indústrias derivadas. Haveria serrarias, fabricantes de móveis e fabricantes de qualquer coisa que pudesse usar uma forte madeira parecida com Balsa. Se a mesma quantidade de terra fosse coberta com qualquer árvore que precisasse ser moída, ela deveria empregar mais de 3.000 pessoas. Isso é algo que precisa ser abraçado pelo povo e pelo governo. Deixe a indústria do papel morrer. A Escandinávia pode facilmente fornecer papel de celulose e papel higiénico para a Europa.

Com uma árvore de crescimento rápido, com salários mais baixos do que a Escandinávia, Portugal poderia facilmente dar uma certa concorrência ao Ikea. A árvore Paulownia passa por uma variedade de nomes … Paulownia (Paulownia tomentosa).

fonte: https://permies.com/t/59285/Reforesting-Portugal-firefighting-trees

Nota: agradeço ao Nuno Oliveira ter chamado a minha atenção para esta espécie.

os mais visitados

Iniciei há quase um ano este blog sobre apicultura. Publiquei até à data 137 posts. Tem sido um exercício que me serve, entre várias finalidades, para ir fazendo um envelhecimento activo (não estou a caminhar para novo!).

Ontem uma querida amiga especialista em Gerontopsicologia, referia a importância de mantermos actividades que nos estimulem criativamente e do seu impacto positivo a médio-longo termo. Este blog, entre outros objectivos, tem servido este também.

Em baixo deixo a listagem dos 10 posts mais visitados até à data:

A terminar agradeço a todos os companheiros/leitores que me têm estimulado a continuar. As mais de 43 500 visitas ao blog, no primeiro ano de vida, são claramente uma mensagem muito forte.

o ácaro Tropilaelaps ou a arma de destruição massiva de colónias de abelhas

A maioria dos ácaros Tropilaelaps vivem e reproduzem-se dentro da criação, pois podem alcançar um ciclo de vida mais longo, vivendo apenas cerca de três dias na abelha adulta. A característica mais alarmante deste ácaro é a sua taxa de reprodução e ciclo de reprodução. Em 24 horas a contar da eclosão os ácaros entram num novo alvéolo e iniciam novo ciclo reprodutivo, colocando cerca de quatro ovos de cada vez. Um a quatro ácaros são encontrados geralmente num só alvéolo. No entanto, há relatos de ácaros encontrados em quantidades três vezes superiores num só alvéolo! Eles podem ultrapassar rapidamente e em grande número os ácaros  varroa em colónias de abelhas. O período de incubação é de apenas 12 horas e atingem a plena maturidade em apenas seis dias.

Fig. 1: Ácaros Tropilaelaps a parasitarem larvas de abelhas e abelha adulta enferma

Em comparação com o Tropilaelaps, os ácaros da Varroa não são problema. Os danos que provocam em colónias de abelhas é semelhante aos provocados pelo ácaro Varroa, como deformidades de desenvolvimento, infecções e, eventualmente, a morte da colónia mas a uma taxa muito rápida, porque devido à sua alta taxa de reprodução eles multiplicam-se muito mais rapidamente do que o Varroa causando danos muito mais extensos.

Fig.2: Zonas conhecidas de implantação e distribuição do ácaro Tropilaelaps (notar a coincidência com as zonas originais de implantação e distribuição do ácaro varroa)

quando o aethina tumida (pequeno escaravelho da colmeia) entrou em Portugal

O comércio mundial de abelhas e outras mercadorias acelerou a disseminação de “novos” patogeneos, predadores e pragas para outras partes do mundo. A União Europeia está extremamente preocupada com o risco de introdução de ácaros de aethina tumida (pequeno escaravelho da colmeia) e tropilaelaps na Europa. Em setembro de 2004, duas larvas deaethina tumida foram encontradas em gaiolas de rainhas de Apis mellifera ligustica e amas importados do Texas (EUA) para Portugal. Todas as colmeias do apiário e de um outro apiário, a 5 km do primeiro apiário, foram queimadas e a camada superficial do solo foi removido e enterrado mais fundo. Os locais onde as colmeias estavam localizadas foram cobertos com plástico e o solo foi inundado com permetrina.

fontes: Murilhas, 2004; Neumann and Ellis, 2008; Valerio da Silva, 2014

Fig. 1: Em cima o pequeno escaravelho das colmeias adulto. Em baixo as suas larvas a parasitarem um quadro com mel. 

Depois da primeira entrada documentada do aethina tumida em solo português/europeu, prontamente erradicada, no dia 5 de setembro de 2014 foi feita uma nova detecção deste escaravelho, desta vez em território italiano, e continua por erradicar até à data.

Fig. 2: Queima de colmeias em Itália na tentativa de conter e erradicar a peste do pequeno escaravelho das colmeias.

vespa velutina ou vespa asiática: alimentação, iscos e armadilhas

Este conjunto de 3 vídeos dá-nos a conhecer o extraordinário trabalho levado a cabo pelo Sr. Ernesto Astiz no âmbito das sua investigação em torno da alimentação, iscos e armadilhas para as vespas velutinas. Muito obrigado pelos seus ensinamentos!

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Fig. 1: Ernesto Astiz com uma gaiola para velutinas utilizada nas suas experiências

Vespa velutina (parte 1)

Vespa velutina (parte 2)

Vespa velutina (parte 3)

 

Aqui podemos ver o fim!