“[…] apresentamos evidências empíricas da comparação entre agricultura orgânica e agricultura convencional no que diz respeito aos respectivos impactos ambientais. Apesar de o público ter uma forte percepção que a agricultura orgânica produz melhores resultados ambientais, nós mostramos que a agricultura convencional apresenta frequentemente melhores resultados ambientais nomeadamente na utilização de menor área de terra, emissões de gases de estufa e poluição dos lençóis de água. Há, contudo, alguns contextos onde a agricultura orgânica pode ser mais indicada.[…]
Os impactos aqui quantificados não avaliam uma pressão ecológica importante [dos dois sistemas de agricultura]: a biodiversidade. Comparações mais definitivas dos impactos relativos a cada um destes dois sistemas de agricultura continuam a faltar. A biodiversidade é afectada por vários factores de natureza agrícola, incluindo a aplicação de pesticidas […] Os sistemas de agricultura orgânica também afectam a biodiversidade, talvez de uma forma menos dramática por área cultivada, devido a uma menor utilização de fertilizantes e pesticidas. Contudo a avaliação das áreas de cultivo mostra que os sistemas de agricultura orgânica necessitam de muito mais terra que a agricultura convencional. Este aspecto divide as opiniões acerca de como preservar melhor a biodiversidade: devemos cultivar de forma intensiva numa área mais pequena (compreendendo que a biodiversidade será severamente afectada nesta área), ou devemos fazer uma agricultura orgânica, afectando a biodiversidade (talvez menos severamente) numa área muito mais alargada. Não há um consenso claro acerca da melhor forma de abordar este problema.[…]
Isto leva-nos a três conclusões-chave acerca do debate em torno da agricultura orgânica-convencional:
- A percepção generalizada que a comida orgânica é melhor por natureza, ou que é uma forma ideal de reduzir o impacto ambiental é claramente uma concepção errada. De acordo com várias padrões de medida, a agricultura orgânica causa mais danos ao ambiente global que a agricultura convencional.
- O debate entre os defensores da agricultura orgânica e os defensores da agricultura intensiva é muitas vezes desnecessariamente polarizado. Há situações onde um sistema é melhor que o outro e vice-versa. Se tivesse que aconselhar em que situações escolher um ou o outro, eu diria que os legumes e os frutos devem ser orgânicos, mas todos os outro produtos devem ter origem não-orgânica (cereais, vegetais, produtos lácteos, ovos e carne).
- O debate orgânico vs. convencional oculta frequentemente outros aspectos das opções alimentares que têm um grande impacto no ambiente. Se se procura reduzir o impacto ambiental da nossa dieta, o que comemos pode ter uma influência maior que a questão como é produzida. A diferença relativa na área de terra utilizada e o impacto dos gases de estufa entre os sistemas de agricultura orgânicos e os sistemas de agricultura convencionais é, em regra, menor que o dobro, favorável aos sistemas convencionais. Comparando estes dados com as diferenças relativas dos impactos entre diferente tipos de comida, concluímos que […] a diferença entre a área agrícola usada e os gases com efeito de estufa produzidos por unidade de proteína […] pode ser superior a 100 vezes, a favor dos sistemas agrícolas convencionais. Se a sua maior preocupação é saber se as batatas que acompanham o seu bife foram produzidos de forma orgânica ou convencional, a sua atenção não está devidamente focada nas decisões que podem ter maior impacto no ambiente.[…] (Focar a decisão no que comer, acrescento eu).
Do ponto de vista da saúde do consumidor, muitos consideram a comida orgânica mais segura devido à menor exposição aos pesticidas. […] Um estudo, que agregou dados de três investigações realizadas nos EUA, concluiu que os alimentos orgânicos tinham cerca de um terço de resíduos de pesticidas se comparados com os produzidos convencionalmente. Estes resultados não surpreendem, considerando que o uso de pesticidas é mais elevado nos sistemas convencionais de agricultura. Contudo a questão mais importante é: devemos estar preocupados com o impacto dos resíduos de pesticidas na nossa saúde? A Organização Mundial da Saúde conjuntamente com a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) definiram níveis individuais “seguros” de ingestão de pesticidas, onde o consumo máximo diário dos mesmos foram estabelecidos, de forma a que a exposição dos consumidores a cada um deles não tenha efeitos carcinogénicos na sua saúde. Os governos e suas agências alimentares utilizam estes valores de ingestão aceitáveis e estabeleceram os Limites Máximos de Resíduos (LMR). Estes LMR são fiscalizados para assegurar que os alimentos estão abaixo de tais valores. […] Os autores procuraram numa base de dados da USDA os resultados nacionais (EUA) entre 2000 e 2008. Foi verificado que a exposição a pesticidas por parte dos consumidores de produtos originários da agricultura convencional foi muito abaixo dos limites máximos definidos. A maioria dos produtos avaliados (75%) apresentavam 0.01% dos respectivos LMR. Este valor significa que o nível de resíduos eram um milhão de vezes mais baixo que os LMR definidos.”
fonte: https://ourworldindata.org/is-organic-agriculture-better-for-the-environment
Acho que há neste post muito alimento para o pensamento, mas já ficaria satisfeito se ele contribuísse de alguma forma para uma análise e discussão menos polarizada, menos emocional, com menos à prioris de cada um dos lados dos apologistas de um ou outro sistema. Em Portugal, assim como noutros países, estes temas discutem-se de forma muito sectária, com uma atitude de capelinha, que nos torna míopes e que pouco contribui para o devido aprofundamento de questões vitais, complexas e matizadas nesta época da nossa História.
Notas:
- Já me referi aqui ao LMR para o amitraz no mel, para que eu e eventualmente mais alguns de nós, evitemos a tendência para sermos mais papistas que o papa.
- Estes são os resíduos que mais me preocupam no momento; os resíduos químicos deixados na minha louça, onde como todos os dias, pelos detergentes que utilizo durante a lavagem. Que atenção têm merecido da nossa parte?
Olá Eduardo
“é a agricultura orgânica (biológica) melhor para o ambiente (e saúde) do que a agricultura convencional ?”
– Resposta: É
A agricultura, chamada convencional, nasceu depois da 2ª guerra mundial (1939-1945), com o uso crescente de adubos químicos e pesticidas. Trouxe um aumento da produção de alimentos, que tem acompanhado o aumento exponencial da população mundial.
Poluiu grandes áreas em todos os países, agora difíceis de descontaminar.
Para piorar, os acréscimos de alimentos começaram a não acompanhar o acréscimo da população.
Antes só se usavam estrumes por isso a agricultura era toda biológica.
Foi a agricultura convencional que aumentou a quantidade de alimentos e fez descer os preços.
Colocar o problema de forma maniqueísta é lançar poeira nos olhos dos leitores. A pergunta qual usar esta “ou” aquela, não faz sentido porque estamos condenados a usar esta “e” aquela.
Só quem nunca viu o crescimento exponencial da curva de aumento da população mundial é que pode ter dúvidas.
Os dois processos agrícolas (convencional e biológico) são indispensáveis à sobrevivência da humanidade. Os dois têm custos e benefícios diferentes. Os produtos biológicos são mais caros (menor produção para a mesma área) e mais saudáveis. A poluição da agricultura biológica é microbiana e a da agricultura convencional é química (adubos e pesticidas). Ambas libertam gases de estufa ( CO2 , N2 …),” na Natureza nada se perde nem nada se cria, tudo se transforma”.
Quanto aos riscos para a saúde lembremos que os limites dos níveis tóxicos estabelecidos não são certificados de saúde. Há sempre riscos inerentes abaixo e acima, menores ou maiores.
Quanto à análise das conclusões, deixemos à sensatez dos apicultores, muitos são agricultores e todos são pessoas, a avaliação.
Saudações