acaricidas / varroacidas: uma classificação

Podemos classificar os varroacidas das mais diversas maneiras. Já os classificámos de lentos e rápidos. Neste post vamos classificá-los de acordo com as vias utilizadas para atingirem os ácaros da varroa. Este esforço de classificação ajuda-nos a arrumar a informação disponível acerca dos mesmos e, sobretudo, a compreender as semelhanças e diferenças básicas entre eles, a planear a sua utilização, a selecioná-los  de acordo com as suas características.

Os varroacidas podem ser classificados em 3 grandes famílias de acordo com as vias principais que utilizam para atingir os ácaros:

  • por contato — estes acaricidas actuam por contato direto com o ácaro ou indiretamente através de seu hospedeiro (a abelha) que transfere para o ácaro o princípio activo que se impregnou no seu corpo ao tocar nas tiras acaricidas;
  • por evaporação — os acaricidas desta família libertam-se do seu veículo por evaporação e o ácaro é atingido pela exposição a uma dose letal presente na atmosfera interna da colmeia;
  • sistémicos — são acaricidas inicialmente ingeridos pelas abelhas que vão afectar os ácaros da varroa quando estes posteriormente ingerem a hemolinfa e/ou tecidos gordos das abelhas.

Das 3 vias, a de contato é a que apresenta, na maioria dos casos, mais fiabilidade. As abelhas, em geral, contactam frequentemente com as tiras varroacidas impregando-se com o princípio activo, o que permite disseminá-lo pela colónia. A eficácia desta classe de varroacidas está muito pouco dependente das temperaturas externas. Por outro lado, os acaricidas de contacto têm um período de actuação prolongado o que aumenta significativamente a sua eficácia mesmo em colónias com cria presente. Finalmente os limiares entre as doses letais para os ácaros e as doses letais para as abelhas estão muito distantes (na ordem das 1000 vezes, isto é, a dose letal para os ácaros é cerca de um milésimo da dose que mata as abelhas), diminuindo bastante o risco de sobredosagem.

No nosso país os acaricidas de contacto homologados são o Apivar, o Apitraz, o Apistan e o Bayvarol.

Fig. 1: Apivar: embalagem e tiras

Os varroacidas à base de timol (Apiguard, Apivarlife e Thymovar) são mistos no que respeita à via pela qual atingem os ácaros: atingem-nos por evaporação mas também por contacto. Por ex. quando se utiliza o Apiguard é um bom sinal se a maior parte ou todo o gel que contém o timol tiver sido removido da bandeja no final de cada período de tratamento de 2 semanas. Neste caso as abelhas carregam os pequenos pedaços de gel através da colmeia e a fricção/contacto com outras abelhas contribui para espalhar o composto o que aumenta a sua eficácia. Contrariamente à percepção de alguns, a margem de segurança de dosagem para o timol é baixa (abaixo de 10: 1), por isso é necessário seguir estritamente as instruções do fabricante de forma a evitar uma possível sobredosagem.

Fig. 2: Bandeja com um varroacida à base de timol colocado numa colmeia

O ácido oxálico é simultaneamente um varroacida sistémico e de contato. Não se sabe exactamente o seu tempo de vida, segundo uns permanece ativo por apenas algumas horas, outros referem um máximo de um a dois dias. Por esta razão só mata as varroas foréticas e muitos recomendam a utilização do ácido oxálico só nas épocas do ano em que as colónia não têm cria ou apresentam muito pouca cria. O perigo de sobredosagem é elevado, daí as concentrações terem de ser cuidadosamente medidas, especialmente se não é aplicado por sublimação.

Fig. 3: Aplicação de ácido oxálico através do gotejamento

O ácido fórmico é um tratamento que funciona completamente por evaporação. Esta característica confere-lhe uma vantagem sobre todos os outros tratamentos atrás referidos: sendo uma molécula pequena penetra os poros dos opérculos da cria fechada e mata os ácaros dentro dos opérculos. A sua maior desvantagem é que pequenos desvios na concentração torna-o mortal para as abelhas. Se a concentração é muito baixa não mata os ácaros nos alvéolos, neste caso só as varroas foréticas serão eliminadas baixando muito a sua eficácia. No outro extremo, se a concentração de vapores for muito alta pode matar uma parte importante da cria, abelhas adultas e a própria rainha. Se a perda de cria não é demasiado grave, a perda da rainha em certas alturas do ano é desastroso para a sobrevivência da colónia. Por outro lado o ácido fórmico é muito dependente da temperatura externa e da ventilação para atingir a concentração óptima na atmosfera na colmeia, o que aumenta ainda mais a variabilidade nos resultados do tratamento.

Fig. 4: Aplicação de de duas tiras de MAQS, tratamento formulado com ácido fórmico

resíduos de metabolitos de amitraz no mel e uma pergunta

O LMR (Limite Máximo de Resíduos)

A legislação em vigor na Europa define  200µg/kg  como o LMR  para o amitraz e seus metabolitos no mel. Notamos que os especialistas estabelecem os LMR dos resíduos nos alimentos com limites abaixo daqueles que poderão representar um risco para a saúde. Esta é uma medida de precaução que muito estimamos e compreendemos.

O estudo

Neste estudo independente (http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0067007) recentemente publicado, os investigadores decidiram baixar os limite de detecção (LOD) e limite de quantificação (LOQ) para testarem os resíduos de amitraz e seus metabolitos no mel de colmeias tratadas com Apivar. De uma forma simples “apertaram a malha” no seu estudo.

Para os metabolitos do amitraz (compostos que resultam da degradação natural do amitraz) os investigadores encontraram as seguintes quantidades  (ver Tabela 3; Amitraz II):

  • valor máximo: 116,1 ng* / gr;
  • valor médio: 10,21 ng / gr;
  • mediana: 2,30 ng / gr.

*Nota: ng significa nanograma

Convertendo os valores

  • 1 gr= 1 000 000 000 ng;
  • 1 micrograma [µg] = 1 000 ng

Voltando aos valores encontrados pelo estudo e convertendo para as unidades µg/Kg temos:

  1. valor máximo: 0,1161 µg / gr = 116,1 µg/Kg
  2. valor médio: 0,01021 µg / gr = 10,21 µg/Kg
  3. mediana: 0,0023µg / gr = 2,3 µg/Kg

A interpretação dos valores

Os consumidores que consumissem a amostra de mel com a quantidade máxima de resíduos (1) teriam que consumir mais de 1,5 kg de mel por dia para se aproximar do LMR definido.

No entanto, se fizermos os cálculos para os valores médios (2), esses mesmos consumidores teriam que consumir mais de 18 kg de mel por dia para se aproximar do LMR definido.

Em metade das amostras recolhidas (3), o consumo teria que ser um pouco maior do que 80 kg de mel por dia para se aproximar do LMR definido. A mediana deste estudo diz-nos que metade das amostras recolhidas estavam abaixo de 2,30ng/gr.

A pergunta

Que análises fizeram, que cálculos efectuaram, que estudos consultaram todos aqueles que de boca cheia, peito inchado e do alto do púlpito da sua sapiência, clamam que não tratam as abelhas com Apivar para não contaminarem o mel com tóxicos/químicos prejudiciais à saúde humana?

2016 um ano catastrófico para a produção de mel em França

Paris, 22 de setembro de 2016 (AFP) – A produção de mel em França experimentou em 2016 “um novo ano catastrófico”, com cerca de 9 000 toneladas colhidas, abaixo das 10 000 toneladas de 2014, é já considerado como “o pior ano da apicultura francesa”, anunciou quinta-feira a UNAF (Union Nationale de l’Apiculture Française).  Relatam reduções que variam de 60% a  80%, dependendo das regiões. A UNAF escreveu ao Ministro da Agricultura para o “reconhecimento das zonas mais afectados e pediu uma ajuda excepcional para estes apicultores”. Esta organização “está alarmada com a situação que muitas explorações apícolas enfrentam com uma falta sem precedentes de mel, que põe em risco a sua sobrevivência económica”.  

A produção de mel tem vindo a diminuir ao longo dos últimos 20 anos, ainda que em 2015 se tenha experimentado uma pequena recuperação, com a produção estimada entre as 15 000 e 17 000 toneladas. De acordo com UNAF, 2015 foi um “ano normal” depois de três anos desastrosos.  Em 2016, “as condições meteorológicas altamente imprevisíveis com fortes chuvas na primavera, seguido por um longo período de seca e os fortes ventos vindos do norte não permitiu que as abelhas fizessem a colheita de forma adequada”, diz a UNAF. “Em todas as regiões, particularmente nas principais regiões produtoras como Provence, Alpes, Côte d’Azur, Rhone-Alpes, Midi-Pyrénées e Languedoc-Roussillon …, as colheitas desceram 60% a 80% “ acrescenta.  

Segundo a organização, “em muitas áreas”, as colónias de abelhas estão “em grande sofrimento e muitos apicultores estão preocupados e questionam-se se as suas abelhas passarão o inverno.” A UNAF também culpa a a predação da Vespa Velutina que “ainda é muito forte e enfraquece as colónias.”  As colónias de abelhas têm sofrido durante estes últimos anos uma alta taxa de mortalidade atribuída aos parasitas, à Vespa Velutina e ao uso de pesticidas, especialmente insecticidas da classe dos neonicotinóides segundo os responsáveis da UNAF.

Neste momento não possuo dados relativos à produção de mel em Portugal e em Espanha para o ano de 2016. Em Portugal julgo que a produção variou muito de região para região, sendo as zonas litorais norte e centro as mais afectada pelo inverno e início da primavera muito chuvosos. Estas zonas, muito dependentes das colheitas que as abelhas fazem no eucalipto, têm na chuva e no frio dos meses de Novembro a Fevereiro obstáculos importantes à colheita do néctar. Já no interior do país a colheita nas zonas das meladas foi também muito afectada pelas ondas de calor sentidas em Julho e Agosto. No meu caso particular o ano de 2016 foi um bom ano, tendo-se revelado o ano com a melhor média de quilos colhidos por colmeia e com os valores globais mais altos até à data.

Vamos esperar que 2017 seja um ano de boas produções e que o mercado faça justiça ao sector apícola, pagando preços dignos pelo mel de qualidade com origem nos nossos países. Sei que o meu orçamento vai ser gerido de forma prudente e que, provavelmente, vou adiar por mais um ano a compra de uma linha de extração automática. No nosso país 1 kg de mel enfrascado vende-se 2 e 3 vezes mais barato que nos mercados mais evoluídos do centro da Europa e estamos restringidos a enfrascar até 650 Kg do mel. Tenho certo também que me espera mais um ano de muito trabalho!

Um novo ano de 2017 com boas produções e preços justos para o mel de qualidade por nós produzido é o meu desejo para todos.

o efeito de diferentes varroacidas na acidez das reservas de mel de inverno e nas reservas de mel da primavera e verão

Este estudo de 2012 ajuda-nos a avaliar um outro ângulo em torno do impacto dos tratamentos com ácidos orgânicos nas nossas abelhas.

Resumo: O objetivo do estudo foi avaliar o efeito de varroacidas selecionados sobre o pH (grau de acidez) nas reservas de mel de inverno, nas reservas de mel da primavera e nas reservas de mel de verão de colónias de abelhas. Com este objectivo estabeleceram-se cinco grupos experimentais, cada um constituído por cinco colónias. O grupo controle foi composto por colónias que não foram tratados contra a varrose. Os outros grupos foram tratados com ácido oxálico, ácido fórmico,  Apivarol (tratamento à base de amitraz) e Bee Vital Hive Clean. A acidez das reservas de mel foi determinada. […] Verificou-se que o ácido oxálico reduz significativamente o pH das reservas de mel de inverno (grupo de controle: pH = 3,65; grupo tratado com ácido oxálico: pH = 3,29) assim como no mel da primavera (controlo pH = 3,87, grupo tratado com ácido oxálico: pH = 3,73). O ácido fórmico diminuiu significativamente o pH do mel de verão (grupo de controlo: pH = 3,73; grupo tratado com ácido fórmico: pH  = 3,56). O Apivarol e o Bee Vital Hive Clean não exibiram qualquer impacto significativo sobre o pH nas reservas de mel de inverno, nas reservas de mel da primavera e nas reservas de mel de verão.

CONCLUSÃO: Até agora, acerca dos ácidos orgânicos considerados eficazes no tratamento da varroose, tem sido dito que não afetam a qualidade do mel. Contudo, os ácidos orgânicos estudados (ácido oxálico e ácido fórmico)apresentam um impacto a longo prazo sobre as colónias de abelhas, porque diminuem o pH do mel até 7 meses após a sua aplicação.

Fonte: http://wydawnictwo.up.lublin.pl/annales/Zootechnica/2012/1/annales_2012(1)_zoot_art_02.pdf

fundamentos de uma apicultura produtiva segundo C. L. Farrar

Clarence L. Farrar, foi um entomólogo norte-americano, que fez muitas e relevantes análises e reflexões em torno dos factores determinantes da produtividade em colmeias. Deixo em baixo alguns dos dados por ele observados e algumas das linhas do seu pensamento.

As boas rainhas raramente colocam mais de 1.600 ovos por dia. São necessários vinte dias para que a criação amadureça. As abelhas adultas vivem de 4 a 6 semanas durante a estação ativa, e a sua longevidade é grandemente influenciada pela intensidade da criação existente no ninho. As abelhas de pequenas colónias, que criam uma quantidade proporcionalmente grande de abelhas novas, têm vidas mais curtas do que as abelhas de colónias mais populosas. A quantidade de novas abelhas a nascer é influenciada pela capacidade de colocação de ovos da rainha, pela população adulta da colónia, pelo fornecimento de pólen e mel, e pelo espaço disponível no ninho para a postura da rainha.

Uma colónia populosa produz mais criação do que uma colónia pequena, contudo apresenta uma proporção mais elevada de abelhas disponíveis para recolher o pólen e o néctar. A produção por abelha  é consideravelmente maior em colónias mais fortes do que em colónias menores, uma vez que proporcionalmente menos abelhas estão envolvidas nos cuidados a prestar à criação. Durante uma melada de 2 semanas, uma colónia com 60.000 abelhas produzirá 50% mais mel do que quatro pequenas colónias, cada uma com 15.000 abelhas (ver aqui a célebre regra de Farrar bem explicada) . Sob um fluxo mais longo, as quatro pequenas colónias aumentarão em população, reduzindo assim a diferença de rendimento entre uma colónia forte e as quatro pequenas colónias. Não há nenhuma vantagem, contudo, em manter colónias pequenas apenas porque sua eficiência de armazenamento aumenta. É melhor gerir o apiário para ter todas as colónias direccionadas à produção na eficiência máxima durante todo o fluxo.

No meu caso particular encontro na equalização uma ferramenta muito útil para fazer a gestão do apiário no sentido que Farrar preconiza.

um inverno quente é bom para as abelhas?

As abelhas, em geral, invernam melhor quando a temperatura exterior mantém o cacho invernal tranquilo e a consumir muito pouco mel. Muitos consideram que a temperatura ideal se situa entre -1ºC e  +5ºC. Os apicultores canadianos, sabendo isto, mantêm as temperaturas nos armazéns onde albergam as suas colmeias em torno dos 5ºC.  Embora as abelhas não hibernem como os ursos, elas aglomeram-se em camadas, produzem calor, comem e esperam por dias mais quentes. Acima dos 5ºC as abelhas consomem mais. Estranhamente ou não, com temperaturas abaixo de -1ºC as abelhas necessitam de gerar mais calor, acabando também por consumir mais.

Outro aspecto a considerar, neste equilíbrio entre temperaturas externas e consumo, é o número de abelhas que a colónia tem. Uma colónia mais densamente povoada está apta a gerar e fornecer o calor necessário durante os picos mais extremos de frio. Uma grande colónia pode gerar mais calor com menos consumo de mel. As colónias mais fortes também mudam o local do cacho e expandem-no mais vezes do que as colónias mais fracas. Todos já encontrámos colónias pequenas que morreram durante inverno e com abundância de mel logo ali ao lado. Isto acontece porque estas colónias não conseguem manter a temperatura no cacho que lhes permita deslocarem-se para o quadro ao lado cheio de mel. Neste caso, o inverno não matou a colónia, mas porventura um verão demasiado seco, ou acaricidas colocados demasiado tarde, portanto uma deficiente gestão do apicultor que durante o fim do verão e outono não lhes deu o suporte que elas necessitavam, por exemplo alimentando-as. A minha opção pelo tipo de alimento a colocar, tem nos últimos dois anos ido para o fondant, também conhecido por pasta de açúcar, que começo a aplicar no final do verão (Setembro) até ao início da primavera seguinte em todas as colmeias mais leves.

Fig. 1: O fondant colocado no local do óculo da prancheta permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão acima dos 10-12ºC.

Fig. 2: O fondant colocado directamente sobre os quadros permite às abelhas alimentarem-se facilmente sempre que as temperaturas exteriores estão abaixo dos 10ºC.

prevenção da enxameação em colónias de abelhas: uma visão mais global e integrada

Como escrevi aqui a enxameação está, geralmente, associada a este conjunto de factores:

  • dimensão da colónia;
  • congestionamento do ninho;
  • distribuição desequilibrada da idade das obreiras;
  • transferência reduzida das feromonas da rainha.

As medidas abaixo elencadas destinam-se a evitar o mais possível que surjam os alveólos reais de enxameação . Estamos a fazer neste caso prevenção da enxameação. Quando o apicultor intervém já na presença destes alveólos reais está a fazer controlo da enxameação.

A primeira medida que devemos considerar na prevenção da enxameação implica um ajuste das nossas expectativas. Ponderar se todas as medidas que tomamos no intuito  de atingir um nível de enxameação igual a zero são benéficas no médio e longo-prazo e se não comportarão riscos demasiado elevados. Aceitar que a enxameação é o mecanismo de reprodução deste insecto e que temos de aprender a viver com ele naturalmente. Ao mesmo tempo fazer todo o possível para que a enxamear enxameiem no momento em que nos for menos prejudicial e o façam para as nossas caixas/colmeias (desdobramentos ou outras medidas de controlo da enxameação).

A segunda medida passa por possuir um registo dos nossos apiários, construído ao longo dos anos, que identifique os períodos de enxameação e florações que habitualmente lhes estão associadas (naturalmente a consulta de fontes externas fidedignas deve ser tomada também em consideração). Este registo deve apoiar-nos ainda na selecção das matriarcas e sua descendência, que ao longo dos anos têm mostrado tendências mais baixas para enxamear, associadas a alta produtividade e bom estado sanitário.

A terceira medida inclui ter o material que habitualmente utilizamos na prevenção da enxameação pronto a ser utilizado num muito curto espaço de tempo (por ex. a cera).

A quarta medida é ter disponibilidade e vontade para fazer inspecções regulares às colónias durante o período de enxameação, que em regra se prolonga por 30 a 45 dias, não mais, e fazer um maneio competente (aqui e aqui entre outros).

Assumidos estes pré-requisitos e acreditando que em boa medida é possível prevenir a enxameação, porque muitos outros apicultores, tão bons e melhores que nós, o têm vindo a fazer ao longo dos mais de 100 anos de apicultura moderna, detalhemos agora um pouco mais algumas intervenções a realizar e o seu racional.

  • A manipulação do espaço superior ao ninho de forma a que permita espaço para o armazenamento de néctar é uma medida absolutamente essencial. Se tiver alças ou meia-alças meleiras com a cera já puxada, devem ser estas as primeiras a ser colocadas. Em zonas e alturas de fluxos muito intensos é recomendável colocar mais alças/meias-alças do que as necessárias e de uma só vez. Esta medida permitirá às abelhas espalhar o néctar por uma área maior e desidratá-lo mais rapidamente, drenando mais abelhas para o exterior e diminuindo o congestionamento do ninho.
  • As colónias devem receber o máximo de luz solar no período invernal, e terem sombra à tarde nos dias mais quentes de verão. Árvores de folha caduca podem servir muito bem este fim. A mais fácil termorregulação das colónias nos dias mais quentes descongestiona o ninho e liberta abelhas para outras actividades. As entradas das colmeias devem estar orientadas para receberem o sol da manhã (nascente) em zonas mais quentes, ou o do meio-dia (sul) em zonas mais frias. As colmeias pintadas de branco são úteis na regulação da temperatura, mas mais visíveis na mancha vegetativa envolvente o que pode potenciar os roubos.
  • Deve haver ventilação suficiente. As entradas de inverno devem ser removidas no início dos primeiros fluxo de néctar e/ou pólen sempre que as abelhas estejam activas e em número suficiente para defenderem a entrada da colmeia. As alças sobre o ninho podem apresentar uma pequena abertura para ajudar a ventilação. Os óculos das pranchetas devem estar abertos para permitir uma melhor convecção do ar quente. Podem também utilizar-se estrados com rede, sobretudo em apiários menos arejados. No nosso país há que avaliar se este tipo de estrado não aumenta a atracção/predação feita pelas velutinas devido ao odor a mel e criação exalado através deste tipo de estrados.
  • A renovação das rainhas ajuda na prevenção da enxameação. As rainha novas produzem mais feromona mandibular e mantém a colónia mais coesa. A dispersão por toda a colónia da feromona mandibular da rainha suprime tanto a supersedure da rainha como a enxameação (Winston et al., 1989). Esta renovação deve ser feita preferencialmente com rainhas de ecotipos locais e que provenham de colónias com um histórico de enxameação baixo. As rainhas do mesmo ecotipo são mais facilmente aceites pelas abelhas que rainhas exóticas. Devemos também ter em atenção que rainhas de raças exóticas, importadas do estrangeiro, podem veicular novas doenças ou parasitas, desarranjar a integridade genética do nosso efectivo e dos efectivos dos apicultores vizinhos. Estas rainhas importadas poderão ainda apresentar baixa qualidade devido aos constrangimentos sofridos durante o transporte aéreo e/ou rodoviário.

morte de colónias de abelhas ligada à baixa viabilidade espermática nas rainhas e análise de potenciais fatores causais

A saúde da rainha está intimamente ligada ao desempenho das colónias de abelhas, uma vez que uma única rainha é normalmente responsável por toda a criação na colónia. Nos Estados Unidos, nos últimos anos, as rainhas têm falhado a um ritmo elevado, com 50% ou mais de rainhas substituídas nos primeiros 6 meses, quando historicamente uma rainha se mantém prolífica durante o primeiro e segundo ano de vida. Esta alta taxa de falha das rainhas coincide com a alta taxa de mortalidade das colónias nos EUA, alguns anos superando os 50%. No presente estudo, investigou-se se a viabilidade espermática em rainhas dos EUA desempenha um papel nas perdas de colónias. Observou-se uma ampla variação na viabilidade espermática nos quatro grupos de rainhas retiradas de colónias classificadas pelos apicultores em duas categorias: colónias de boa saúde e colónias a falhar.

As rainhas removidas de colónias com boa saúde apresentaram uma média alta de viabilidade espermática (cerca de 85% dos indivíduos), enquanto aquelas consideradas deficientes ou com má saúde apresentaram uma média significativamente menor (apenas cerca de 50% dos indivíduos). A baixa viabilidade espermática foi correlacionada positivamente com o desempenho da colónia. Para investigar a fonte de baixa viabilidade dos espermatozóides, rainhas de seis criadores de rainha foram avaliadas tendo sido documentada ​​uma grande variação na viabilidade espermática (faixa entre 60-90%). Esta variabilidade pode ter origem nos zangãos com que as rainhas acasalam ou nas temperaturas extremas que as rainhas estão expostas durante a expedição (habitualmente por avião). O papel da temperatura de expedição como possível explicação para a baixa viabilidade espermática foi analisada. Foi documentado que durante a expedição as rainhas são expostas a picos de temperatura (de 8ºC até 40°C) e estes picos podem matar 50% ou mais do esperma armazenado na espermateca das rainha. A viabilidade esperada dos espermatozóides está claramente ligada ao desempenho das colónias e os dados laboratoriais e de campo fornecem evidências de que as temperaturas extremas a que estão sujeitas durante o transporte são um potencial factor causal da baixa viabilidade espermática num número significativo de rainhas.

fonte: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0147220

P.S.: Os apicultores portugueses ao fazerem encomendas de rainhas estrangeiras, que habitualmente transitam durante horas/dias em aviões e/ou transportes rodoviários correm os riscos acima referidos? Não será demasiado audacioso pensar que a realidade europeia não deverá diferir em nada da realiadade norte-americana.

variação na produção de mel por colmeias de abelhas africanizadas em função da época de introdução de rainhas jovens

Como forma de retribuir a simpatia que os apicultores brasileiros têm demonstrado através do elevado número de consultas ao meu blog deixo este resumo de um estudo realizado no Brasil e recentemente publicado.

RESUMO:

O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de mel por colmeia e as taxas de postura de ovos das rainhas produzidas nos anos de 2007, 2008 e 2010. Foram utilizadas 30 colônias iniciadas com uma rainha/colônia por estação climática, durante os três anos. A cada ano, iniciou-se em: janeiro (verão), abril (outono), julho (inverno) e outubro (primavera) e encerrouse doze meses depois, nos mesmos períodos referentes a cada estação dos anos posteriores. As melgueiras foram pesadas antes e depois da centrifugação para avaliar a quantidade do mel estocado. As colônias com rainhas introduzidas durante o outono e o inverno nos três anos produziram 57,2±6,0kg e 60,7±7,5kg de mel, respectivamente, no primeiro ano de atividade de produção após a introdução das rainhas nas colônias iniciais, valores significativamente superiores aos obtidos para as colônias com rainhas introduzidas no verão (39,3±7,6kg) e na primavera (41,8±3,7kg). As taxas de postura de ovos das rainhas foram mais altas na primavera e no verão (98,2±3,9% e 88,4±7%, respectivamente), indicando maior fluxo de alimento (floradas) nessas épocas, quando comparadas às médias do outono e inverno (30,3±8,1% e 24,5±7,2%, respectivamente). Constatou-se que é economicamente viável produzir rainhas e introduzir em colônias iniciais de Apis mellifera africanizada durante o outono e inverno. Além da produção de mel das colônias iniciadas nesses períodos ser superior, elas terão maior estabilidade populacional em épocas de escassez de floradas.

fonte: http://www.scielo.br/pdf/cr/v46n5/1678-4596-cr-0103_8478cr20151126.pdf

Aproveito a oportunidade para perguntar aos companheiros brasileiros se a varroa já é um problema grande no Brasil. Um abraço a todos e a melhor sorte para esta safra.