o efeito do favo com alvéolos de zangão sobre a produção de mel numa colónia de abelhas do mel

Apresento em baixo o resumo/sumário de um estudo levado a cabo por um dos mais prestigiados investigadores norte-americanos na área da apicultura, e refiro-me ao Dr. Thomas Seeley.

Mais do que a questão acerca do impacto negativo na produção de mel da criação intensiva de zângãos, importa-me neste momento sublinhar um outro aspecto que resulta da sua investigação: uma colónia com favos/quadros de criação intensiva de zângãos aparenta produzir mais zângãos do que os produzidos por colónias que não são providas com este tipo de favos/quadros. Estes dados de Thomas Seeley confirmam o que eu tenho visto em colmeias em que coloco um quadro iscado na posição 2 ou 9 para a produção intensiva de zângãos: observo uma quantidade de zângãos muito superior nestas colónias quando comparo este número com o de colónias sem estes quadros “especiais” para a criação intensiva de zângãos. Com base nestes dados estou convicto que a tese de que as abelhas conhecem e e não ultrapassam um determinado número de zângãos a criar deverá ser substituída pela ideia que o número de criação de zângão é alterado quando se introduz na colmeia quadros com a finalidade de promoverem a criação de zângãos, ou seja, um pretenso determinismo genético é facilmente manipulado com a introdução de quadros “especiais” que  promovem a criação de zângãos.

“Resumo: Este estudo examinou o impacto sobre a produção de mel de uma colónia ao provê-la com uma quantidade natural (20%) de favos com alvéolos de zangão. Durante 3 verões, no período de meados de maio a finais de agosto, eu medi os ganhos de peso de 10 colónias, 5 com favo de zângão e 5 sem ele. As colónias com favo de zangão ganharam apenas 25,2 kg ± 16,0 kg de peso (mel) enquanto aquelas que não provi de favos com alvéolos de zangão ganharam 48,8 kg ± 14,8 kg de peso.

As colónias com favo de zângão também apresentavam uma maior taxa média de voos de zângão** e uma menor incidência de construção de favo de zângão. A menor produção de mel de colónias com favo de zângão aparentemente surge, pelo menos em parte, porque os favos com alvéolos de zângão promove a criação de zângãos e manutenção de zângãos é cara. Eu sugiro que o fornecimento de favos com alvéolos de zângão, como parte de um programa de controle da Varroa destructor, sem pesticidas, pode ainda ser desejável uma vez que eliminando a criação zangão para matar os ácaros pode eliminar grande parte do efeito negativo do favo com alvéolo de zangão na produção de mel.”

fonte: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00891902/document

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Fig. 1: Quadro de meia-alça que quando introduzido no ninho funciona como quadro de criação intensiva de zângãos

 

** Segundo as medições levadas a cabo por Seeley, a taxa média de saída de zângãos das colmeias foi 4-13 vezes maior nas colónias com favo/quadro com alvéolos de zângãos do que em colónias sem favo/quadro com alvéolos de zângãos.

2 comentários em “o efeito do favo com alvéolos de zangão sobre a produção de mel numa colónia de abelhas do mel”

  1. Eduardo,
    Colocar um quadro com alvéolo de zangão estampado é bastante diferente de colocar um quadro para que elas decidam puxar o que quiserem nele.
    Ao colocar cera moldada em 5,7mm nós obrigamos a que a raínha faça cerca de 4500 zangãos (ninho Lusitano). Ao colocar cera de meia alça na posição 2 essa proporção reduz-se a 2250 zangãos. Por outro lado diminui a quantidade de cera deformada na parte central do ninho, aumentando bastante a eficiência na cria de obreira.
    O 3º aspecto prende-se com a atempada mudança desse quadro para a zona central do ninho, após a 2a remoção. Aí, puxarão preferencialmente obreira na metade em falta e portanto apenas 2 a 3 ciclos de zangão foram criados.
    É a desproporção em excesso de 18 – 20 % do total de alvéolo de zangão que causa a diminuição de produtividade, bem como o aumento dessa proporção de forma desmesurada. Quando se tem os 6Q centrais apenas com cria de obreira, o meio quadro de zangão evita fortemente a deformação da cera de obreira para acomodação de zangão.

  2. Olá Afonso
    Estamos de acordo. Colocar um quadro para a criação intensiva de zângãos pode resultar muito bem pelas razões que tu descreves e que eu também tenho observado. Colocar vários quadros iscados para poupar cera confiando que as abelhas apenas vão puxar alvéolos de zângão em um deles é uma realidade que eu não tenho confirmado. No meu caso as colmeias fortes puxaram alvéolos de zângão em vários quadros iscados. Em algumas destas colmeias via quase tanto zângãos como abelhas. É esta utilização “massiva” de quadros iscados que eu desaconselho, em especial em colónias fortes e/ou com rainhas com um ou mais anos de vida.

    Ainda há poucos dias verifiquei, em 2 das várias colmeias que dividi verticalmente, que na caixa onde deixei a rainha mãe, e que perdeu muitas abelhas para a caixa orfanizada, com apenas 4 a 5 quadros de abelhas, que a puxada de alvéolos nos quadros iscados era de zângão. Nestes dois casos nem a redução significativa de abelhas as estava a impedir de construir favo de zângão. Mais, numa das caixas orfanizadas, e talvez por estar muito forte, estavam também a puxar a cera com alvéolo de zângão num dos quadros. Esta situação deixou-me muito surpreendido: primeiro uma colmeia orfanizada não tem grande tendência a puxar cera, segundo surpresa a puxada era de favo de zângão. Mas como ainda só estou no início do processo vou aguardar mais para diante para avaliar melhor e com mais dados.

    Relativamente à experiência do Dr. Seeley ele utilizou quadros com alvéolo de zângão é verdade. No entanto a sua experiência levanta questões difíceis de conciliar com a teoria muito difundida em alguns círculos de apicultura orgânica de que as abelhas só criam um número baixo de zângãos, chegando a afirmar que elas não produzem mais zângãos além dos que necessitam. Nem o estudo de Seeley dá suporte a esta teoria nem as minhas observações pessoais, assim como as de outros companheiros que têm intervido.

    Pergunto se esta teoria não se pode assemelhar aquela que poderia dizer que não há qualquer inconveniente em ingerir a gordura que muito bem desejarmos porque as nossas células só absorverão a que necessitarem e nem mais um grama. A realidade parece ser outra: o contexto molda e manipula a genética/instinto tanto ao nível das nossas células/organismo como ao nível do superorganismo enxame de abelhas. Se a estas lhe dermos quadros com alvéolos de zângão ou quadros iscados elas irão produzir muitos mais zângãos que os produzidos numa colmeia dita “normal”. Dizer que os quadros iscados não promove a criação de zângãos é algo que não posso acompanhar com base nas minhas observações e nas observações realizadas por outros. Tomara eu que não fosse assim.
    Um abraço!

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