o ácaro Tropilaelaps ou a arma de destruição massiva de colónias de abelhas

A maioria dos ácaros Tropilaelaps vivem e reproduzem-se dentro da criação, pois podem alcançar um ciclo de vida mais longo, vivendo apenas cerca de três dias na abelha adulta. A característica mais alarmante deste ácaro é a sua taxa de reprodução e ciclo de reprodução. Em 24 horas a contar da eclosão os ácaros entram num novo alvéolo e iniciam novo ciclo reprodutivo, colocando cerca de quatro ovos de cada vez. Um a quatro ácaros são encontrados geralmente num só alvéolo. No entanto, há relatos de ácaros encontrados em quantidades três vezes superiores num só alvéolo! Eles podem ultrapassar rapidamente e em grande número os ácaros  varroa em colónias de abelhas. O período de incubação é de apenas 12 horas e atingem a plena maturidade em apenas seis dias.

Fig. 1: Ácaros Tropilaelaps a parasitarem larvas de abelhas e abelha adulta enferma

Em comparação com o Tropilaelaps, os ácaros da Varroa não são problema. Os danos que provocam em colónias de abelhas é semelhante aos provocados pelo ácaro Varroa, como deformidades de desenvolvimento, infecções e, eventualmente, a morte da colónia mas a uma taxa muito rápida, porque devido à sua alta taxa de reprodução eles multiplicam-se muito mais rapidamente do que o Varroa causando danos muito mais extensos.

Fig.2: Zonas conhecidas de implantação e distribuição do ácaro Tropilaelaps (notar a coincidência com as zonas originais de implantação e distribuição do ácaro varroa)

quando o aethina tumida (pequeno escaravelho da colmeia) entrou em Portugal

O comércio mundial de abelhas e outras mercadorias acelerou a disseminação de “novos” patogeneos, predadores e pragas para outras partes do mundo. A União Europeia está extremamente preocupada com o risco de introdução de ácaros de aethina tumida (pequeno escaravelho da colmeia) e tropilaelaps na Europa. Em setembro de 2004, duas larvas deaethina tumida foram encontradas em gaiolas de rainhas de Apis mellifera ligustica e amas importados do Texas (EUA) para Portugal. Todas as colmeias do apiário e de um outro apiário, a 5 km do primeiro apiário, foram queimadas e a camada superficial do solo foi removido e enterrado mais fundo. Os locais onde as colmeias estavam localizadas foram cobertos com plástico e o solo foi inundado com permetrina.

fontes: Murilhas, 2004; Neumann and Ellis, 2008; Valerio da Silva, 2014

Fig. 1: Em cima o pequeno escaravelho das colmeias adulto. Em baixo as suas larvas a parasitarem um quadro com mel. 

Depois da primeira entrada documentada do aethina tumida em solo português/europeu, prontamente erradicada, no dia 5 de setembro de 2014 foi feita uma nova detecção deste escaravelho, desta vez em território italiano, e continua por erradicar até à data.

Fig. 2: Queima de colmeias em Itália na tentativa de conter e erradicar a peste do pequeno escaravelho das colmeias.

apis mellifera iberiensis ou a melhor abelha para a península ibérica

A Península Ibérica é povoada naturalmente por uma subespécie de abelhas designado cientificamente apis mellifera iberiensis. É um hibrido natural com linhagem M e A.  Foi este ecotipo que o grande ecossistema peninsular ibérico foi seleccionando e apurando ao longo de milhões de anos.

No entanto este longo e eficaz mecanismo de selecção natural é posto em causa sempre que um de nós decide introduzir linhas exóticas no nosso território (ver aqui). O principal argumento apresentado pelos apicultores que importam outras raças (a ligustica e a cárnica são as preferidas) é o de procuram linhas mais homogéneas e/ou produtivas e gentis. Esta quimera rapidamente se desmonta.

Qualquer apicultor minimamente informado sabe que no território nacional manter linhas exóticas homogéneas obriga a uma de duas coisas: inseminação instrumental ou compra regular de rainhas no estrangeiro. É verdade que se fala da possibilidade de desenvolver zonas de acasalamento dedicadas a estas linhas exóticas mas dada a orografia continental e a elevada densidade de colmeias por Km quadrado, no nosso país essa ideia não passará das boas intenções. Voltando à inseminação instrumental, esta é uma via que requer equipamentos caros e muito sofisticados, a juntar a um conjunto competências muito evoluídas por parte do apicultor-inseminador, só ao alcance de muito poucos. A outra via, a compra regular de rainhas exóticas no estrangeiro, é uma solução que torna o apicultor dependente do criador de rainhas, e sobretudo é uma prática com imensos riscos sanitários, aumentando enormemente a possibilidade de se  introduzirem doenças e/ou patogéneos novos, como já aconteceu no passado com o ácaro varroa e o fungo nosema ceranae, e no futuro poderá vir a acontecer com o  Aethina tumida (pequeno escaravelho da colmeia)  presente em território italiano e o ácaro Tropilaelaps, tão ou mais perigoso que o ácaro varroa. A culminar, a questão do transporte aéreo de rainhas e seu efeito negativo na viabilidade espermática das mesmas poderá dar graves amargos de boca aos inocentes compradores (tema a abordar num post futuro).

Outra das razões mais frequentemente referidas para a compra de linhas exóticas passa pela crença de que serão mais produtivas e menos enxameadoras. Crenças também facilmente desmontáveis. Estudos recentes mostram que as linhas nativas tendem a ser mais produtivas que as linhas exóticas (ver aqui). Mas mesmo que estes estudos não viessem confirmar aquilo  que muitos de nós sabem, os dados das produções espanholas e portuguesas rapidamente demonstram que a nossa abelha ibérica não só produz como produz de forma muito satisfatória. O país com a produção mais elevada de mel na UE é Espanha. Pergunto como será possível um país ser simultaneamente o maior produtor de mel da UE e um dos maiores produtores do mundo com uma abelha pouco produtiva e enxameadora?  Poderá argumentar-se que tal se deve ao maior número de colónias em Espanha. Vejamos então a produção média por colmeia e os dados são elucidativos: Portugal apresentou em 2010 um produção média de 23 Kg por colmeia; Itália com as ligusticas, por alguns intituladas fábricas de fazer mel, ficou atrás com 19 Kg por colmeia; a Áustria, terra das cárnicas e dos grandes mestres apicultores, apresenta apenas 16 Kg. Nós, com uma abelha menosprezada por alguns, estamos à frente de duas raças tão cobiçadas pelos apaixonados das linhas exóticas.

Relativamente à doçura das abelhas das linhas exóticas este é um traço com grande heritabilidade e os inevitáveis cruzamentos com a abelha nativa depressa diluirão esse traço, podendo suceder gerações com comportamentos tão ou mais defensivos que os das nossas abelhas nativas  (falo por experiência pessoal).

Só me apraz uma conclusão: se alguns de nós não conseguem que a abelha ibérica produza, antes de a por em causa faria um grande favor a si próprio se começasse por se por em causa a si e ao seu maneio incompetente.

Num próximo post abordarei outro ângulo desta problemática associado ao impacto negativo que esta prática de importar linhas exóticas tem nos apiários ao redor. Se importar linhas exóticas é um tiro no pé do próprio é também uma facada nas costas do vizinho.

A terminar uma nota de esperança nesta época festiva: estou convencido que a nossa abelha por cá continuará muito depois de termos partido, e seguramente a fazer as alegrias de muitos futuros apicultores… e sem linhas exóticas. É claro para onde as tendências estão a avançar nos meios mais esclarecidos: para a preservação dos ecotipos locais e a proibição de introdução de linhas exóticas, como já acontece na Catalunha e noutras regiões da Europa (ver aqui). As autoridades portuguesas, ou porque estão mal aconselhadas ou porque desconhecem esta problemática, mais tarde ou mais cedo proibirão a importação de linhas exóticas a bem da apicultura nacional.

VSH (Varroa Sensitive Hygiene): o vídeo

Este pequeno vídeo capta abelhas com o traço VSH (Varroa Sensitive Hygiene), combatendo o ácaro varroa. Estas abelhas VSH conseguem detectar o ácaro varroa nos alvéolos ainda operculados. Estas abelhas localizam as pupas infestadas, removem o opérculo de cera, removem as pupas (que serão comidas). Esta atividade interrompe a reprodução do ácaro, mantendo o parasita num nível tolerável para a colónia. Fonte do vídeo: USDA ARS Baton Rouge Honey Bee Lab. Publicado a 13 de dezembro de 2016

um sistema de registo dos apiários, precisa-se…

Se tivesse que escolher um equipamento que ilustre a velha regra 20% das causas produzem  80% dos efeitos sem qualquer dúvida e sem a mais pequena hesitação escolheria o sistema de recolha de dados e de registo que utilizo. Quando iniciei o meu projecto apícola, foi das primeiras questões/problemas que me coloquei. A verdade é que a felicidade que tive na opção que fiz há cerca de 7 anos foi tanta que ainda hoje o mantenho praticamente inalterado nas suas linhas mestras. Serviu-me para as 50 colónias com que iniciei a minha actividade de apicultor profissional e mostrou-se adequado ao longo destes anos de crescimento da minha operação apícola.

Não me devo enganar muito se afirmar que um número considerável dos apicultores não mantém um registo adequado dos aspectos gerais dos seus apiários e dos aspectos particulares de cada colónia nesses apiários. Informações gerais, abrangentes e plurianuais da gestão/maneio dos apiários a juntar a informações mais detalhadas de cada uma das colónias são tão cruciais como os registos financeiros (aquisições e vendas, grosso modo) para maximizar a eficiência do maneio de qualquer empreendimento apícola do mais pequeno ao maior, com maioria de razão se pensarmos nos empreendimentos de natureza profissional.

Uma visita a muitos apiários geralmente revela colónias marcadas por paus, pedras ou outros materiais prontamente disponíveis colocados nos telhados de cada colónia. O arranjo específico desses materiais pode indicar tudo, desde o estatuto da rainha até à necessidade de uma colónia ser alimentada. Dois problemas surgem com este tipo de manutenção de registos. É de curto alcance: uma vez que o estatuto da colónia mude e os materiais sejam rearranjados, a informação anterior é perdida. O sistema também é exclusivo para cada operador, tornando-o não transferível e não-traduzível para outros, como por exemplo empregados/ajudantes a tempo parcial.

Somente se os registos forem escritos terão algum valor histórico. Este é um ponto importante, ainda que colocá-los no papel/computador leve o seu tempo. Infelizmente, não há substituto. Manter registos é tão necessário quanto visitar os apiários para o apicultor que quer ter mais do que uma ideia superficial do estatuto atual das suas colónias. Talvez o maior problema com a manutenção de registo seja decidir quais informações e dados recolher e registar. O grande volume de dados potenciais que podem ser coletados é surpreendente. O apicultor deve escolher cuidadosamente o que é mais importante com base na sua experiência e nos seus objectivos. Os objectivos ajudam a criar registos focados no que é importante, a experiência ajuda a discernir quais os dados que importa registar e quais ignorar.

abelhas estrangeiras: um tiro no pé?

A COLOSS (http://www.coloss.org/), uma associação em rede de investigadores europeus, foi criada para estudar as causas de perdas de colónias de abelhas. Dentro desta rede, um grupo de trabalho dedicado à Criação Sustentável de Abelhas, (http://www.beebreeding.net/) concentra-se na área “Diversidade Genética e Vitalidade”. Desde há muito que parece existir uma interação entre o genótipo (herança genética) e o meio ambiente, com impacto na vitalidade das colónias. Na Europa têm-se verificado algumas variações importantes nas perdas de colónias em diferentes regiões/países. A principal hipótese avançada foi que a saúde das colónias de abelhas não pode ser entendida sem considerar a variabilidade genética das populações de abelhas e sua adaptação a fatores locais como o clima, a vegetação e doenças prevalecentes.

Nos últimos anos foi elaborado um abrangente plano de pesquisa em torno das interações genótipo-ambiente nas abelhas a uma escala europeia. Os resultados deste grupo de experimentos deu origem a seis artigos já publicados. Eles revelam a existência de interações significativas entre a origem genética das abelhas e o meio ambiente. Um total de 621 colónias de 16 origens genéticas diferentes foram colocadas em 21 apiários, em 11 países europeus diferentes e geridos por 15 parceiros de pesquisa. Cada local abrigava um conjunto de colónias de origem local (nativas), juntamente com pelo menos dois conjuntos de colónias de origem não-local, menos adaptadas às condições ambientais. As colónias foram criadas no final do verão de 2009 e foram avaliadas de acordo com um protocolo padrão utilizado por todos os parceiros. Nenhum tratamento químico contra ácaros ou doenças foi realizado para permitir a expressão de fatores de tolerância. Além de parâmetros como a hibernação e o desenvolvimento das colónias, foi dada atenção a parâmetros de vitalidade, como o nível de infestação de ácaros, comportamento e a ocorrência de outras doenças.

As conclusões deste extenso experimento de campo confirmou a maior vitalidade das abelhas locais em comparação com as estirpes não-locais. Estes resultados indicam que é possível uma apicultura mais sustentável utilizando abelhas e rainhas das populações locais. Estas interações genótipo-ambiente nunca antes tinham sido provadas numa escala tão grande. Estas conclusões podem surpreender alguns apicultores que acreditam que rainhas compradas de fontes fora de sua própria região são de alguma forma “melhores” do que as abelhas que já têm nos seus próprios apiários.

Existem agora evidências crescentes dos efeitos adversos do comércio internacional de abelhas, que levaram num passado mais ou menos recentes à propagação de novas pragas e doenças como o ácaro varroa e o nosema ceranae. A equipa de investigadores está esperançada que as provas fornecidas nestes artigos inspirem apicultores e cientistas a explorar e apreciar o valor das abelhas criadas localmente e a desenvolver e apoiar programas de melhoramento dos ecotipos/raças locais. As importações que podem resultar na introdução de novas pragas e agentes patogénicos, apresentam outros perigos como a inevitável perturbação da integridade genética das populações locais. A disseminação de genes importados na população local é provável, e o aumento da diversidade genética não é necessária e universalmente benéfica. Uma vez que genes mal adaptados serão selecionados/eliminados através da elevada mortalidade/menor longevidades das abelhas, esse processo a curto prazo pode contribuir para a perda de colónias, e a longo prazo, revela-se insustentável.

Fonte: http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.3896/IBRA.1.53.2.01

abelhas na beira à saída do outono 2016

Nos passados dias 7 e 8 fiz mais uma passagem por todas as minhas colónias da Beira Alta para renovar a alimentação com fondant (pasta de açúcar) em todas as que necessitavam.

Nas cerca de 600 colmeias encontrei 3 colónias mortas. Em duas delas não encontrei abelhas no interior da colmeia e numa terceira fui encontrar umas 100 abelhas mortas agarradas a um quadro com reservas.  Em duas destas colmeias encontrei um ou dois quadros com uns  20 a 40 alvéolos com criação operculada. Em duas delas havia uma quantidade significativa de reservas de mel. Em casa analisei o histórico destas 3 colónias e constatei que em duas a infestação pelo ácaro da varroa atingiu patamares elevados: abelhas com asas deformadas e abdomens atrofiados, criação operculada com um padrão “salpicado”, abelhas prestes a nascer mortas e com a língua estirada. Estas duas colónias tinham uma população muito reduzida à entrada de outubro, com menos de um quadro de abelhas. Já esperava que não passassem os primeiros dias/noites de temperaturas mais baixas. Da 3ª colónia não possuo um registo detalhado dos últimos 3 meses, o que me indica que não vi nada de suspeito durante este período. Recordo no entanto que no início de outubro vi um pequeno enxame num arbusto a cerca de 5m dessa colmeia. Estranhei a saída tão tardia deste enxame. Agora coloco a hipótese desta enxameação tardia ter ocorrido nesta colmeia.

No final desta volta de dois dias a avaliar o peso das colónias e a alimentá-las fico muito satisfeito com o que encontrei:

  • mortalidade pelo efeito da varroose à saída do outono está abaixo dos 0,5%. E este ano não foi nada fácil controlar esta praga (ver aqui e aqui);
  • a mortalidade pelo efeito da fome até à data é de 0%;
  • não vi sinais de ascosferiose nem de diarreia nas rampas de vôo e/ou paredes das colmeias;
  • não vi sinais de ratos que se pudessem ter instalado no interior das colmeias (todas as colmeias têm réguas de entrada);
  • não encontrei tectos ou telhados de colmeias tombados (os quilos de pedras em cima mostram-se muito eficazes contra os ventos que se fazem sentir em alguns apiários);
  • havia um bom movimento de abelhas (no primeiro dia estava acima dos 12ºC) na entrada das colmeias, com algumas abelhas a transportarem pólen de um amarelo pálido e outro alaranjado;
  • o consumo do fondant (colocado por cima da prancheta junto ao óculo da mesma) diminuiu nestas duas últimas semanas o que me permitiu baixar o seu gasto para cerca de 250 kg nesta passagem.

fazer rainhas de qualidade utilizando o formão/raspador

Como?

Esta técnica foi cunhada com o acrónimo OTS (on the spot) e foi inicialmente divulgada por Mel Disselkoen, apicultor norte-americano.

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Fig. 1 : Mel Disselkoen

Numa colmeia previamente orfanizada, vamos procurar em dois ou três quadros larvas com menos de 36 horas de vida. O mais provável é encontrar estas larvas em zonas adjacentes às zonas com ovos.

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Fig 2: Ovos (Eggs), larvas com menos de 36 h (just right) e larvas com mais de   36 h (too old)

Nas zonas onde encontrarmos estas larvas com menos de 36 h vamos esmagar com o formão os alvéolos logo por baixo como podemos ver exemplificado neste vídeo (a partir dos 4’40”).

Este simples gesto permite que a construção de alvéolos reais se faça o mais possível na vertical, como acontece naturalmente com os alvéolos reais de enxameação ou de substituição (supersedure).

Mel Disselkoen propõe que se realize o OTS  em duas a quatro zonas por quadro e em dois ou três quadros. Tudo dependerá do que cada um de nós pretender.

Se pretender fazer alguma selecção genética recomendo que utilize um quadro com larvas de uma colmeia que aprecie.

Desde há dois anos que utilizo esta técnica e estou satisfeito com a qualidade geral das rainhas que tenho obtido.

Fica assim apresentada uma técnica que requer do apicultor apenas duas coisas: um formão/raspador e uma razoável acuidade visual.

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que colónias alimentar no outono/inverno

Que colónias alimentar no outono/inverno? Esta é uma questão que nos interpela todos os anos à entrada do outono/inverno.

Em princípio devemos alimentar todas as colónias que apresentem um nível de reservas de mel baixo. Como decidir se o nível de reservas é baixo. Neste post indicámos que o consumo de mel pode variar de acordo com o número de abelhas presentes na colónia. Tomemos como referência o consumo de 2,7 Kg de mel  durante um mês. Se considerarmos que nos meses de Outubro a Janeiro as abelhas pouco ou nenhum néctar fazem entrar na colmeia (esta é a realidade nos meus apiários na Beira Alta), então durante estes 4 meses consumirão 10-11 Kg de mel das sua reservas. Nos meus apiários julgo que consumirão menos porque as baixas temperaturas, mais ou menos habituais por aqueles lados, levam-nas a formar o cacho invernal e portanto a diminuir as suas necessidades energéticas. Mas vamos manter aquele valor como referência, porque neste caso mais vale pecar por excesso. Sendo assim necessito que as colmeias me apresentem pelo menos 4 quadros Langstroth ou Lusitana no ninho bem cheios de mel (que deverão somar 10 a 12 Kg de mel) para ficar tranquilo acerca do seu adequado nível de reservas para passarem estes 4 meses.

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Fig. 1: Quadro cheio de mel maduro em toda a sua superfície

Como avaliar o nível de reservas? A maior parte dos apicultores faz uma pesagem das colónias para verificar o nível de reservas. A forma mais expedita de o fazer é levantar a parte detrás da colmeia. Este tipo de avaliação permite ter uma noção grosseira do nível de reservas de uma colmeia. Há quem faça uma pesagem mais rigorosa recorrendo a uma balança ou dinamómetro (ver aqui uma forma de pesagem das colmeias).

Como calcular o peso real das reservas de mel? Sabendo o peso da colmeia vazia com quadros (há variações dependendo sobretudo do modelo em questão assim como da madeira utilizada na sua construção), sabendo que o peso aproximado das abelhas, numa colónia a invernar, não deverá passar muito os 1,5 kg (7 000 abelhas pesam cerca de 1 Kg e ocupam 3 a 4 quadros do modelo Langstroth) e se adicionarmos mais 2 a 3 Kg para o peso da cera nos 10 quadros, e subtraindo estas parcelas ao peso total, a diferença deverá representar o mel e pólen armazenado no interior da mesma. Retirando o peso do pólen armazenado temos finalmente um valor muito aproximado do peso das reservas de mel. Se estas forem superiores a 12 Kg e nos meus apiários da Beira Alta fico bastante tranquilo.

No papel é fácil. E no campo? Contudo se no papel esta avaliação até é muito simples no campo tudo se complica. A primeira dificuldade passa por pesar com algum rigor cada colmeia. A balança tipo dinamómetro é utilizada para este fim por alguns apicultores, como já vimos. No entanto outros equipamentos são utilizados (ver aqui).  A segunda dificuldade, e na minha opinião a maior, é fazer uma estimativa aproximada do peso do pólen numa colónia estabelecida para o descontar e finalmente alcançarmos um número confiável do peso que as reservas de mel têm.

Dois caminhos, qual escolher? No ano passado para eliminar esta angústia acabei por alimentar todas as 400 colmeias que invernaram nos apiários da Beira Alta (ver aqui). Decidi pecar por excesso e pagar a factura, literalmente. Este ano estou a fazer uma abordagem um pouco diferente. No final de Outubro e nos primeiros dias de Novembro, dei uma volta às 600 colmeias que tenho a invernar, abri-as e fiz uma observação rápida dos 4 quadros laterais (2 de cada lado) para a avaliar o mel efectivamente armazenado. Para isso levantei os quadros mais laterais. Com base nestas observações classifiquei as colónias em quatro categorias: fracas, médias, médias mais, e fortes. Destas quatro categorias estou a alimentar as colónias incluídas nas 3 primeiras.

As minhas observações dizem-me para não confiar numa observação “por cima” dos travessões dos quadros, porque alguns destes tendo uma pequena abobada de mel, que nos podem induzir em erro quando observados “por cima”, apresentam efectivamente a maior parte da sua superfície vazia ou preenchida com pólen.

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Fig. 2: Visão habitual de uma colmeia vista “por cima”

Se estes quadros estiverem vazios o método que eu utilizo, levantar ligeiramente a colmeia pela parte detrás, dá-me uma ideia que esta colmeia está a necessitar de alimento suplementar. Contudo se estes quadros estiverem carregados de pólen podem iludir-me, levando-me a sobrestimar a quantidade de mel armazenado.

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Fig. 3: Quadro em que a maior área está ocupada com pólen

Com a abordagem que estou a utilizar este ano espero que o custo por colmeia com a alimentação suplementar desça cerca de 1/3, e que no final a minha despesa global com 600 colmeias a invernar não ultrapasse a despesa que o ano passado tive ao invernar um pouco mais que 450 colmeias. Mas como prognósticos só no fim vamos ver como corre este ano.

alvéolos reais: como os interpretar

Para o apicultor que se está a iniciar na apicultura a correcta interpretação do que dizem os alvéolos reais, em especial na época de enxameação, é crucial para o seu entendimento do que se está a passar na colónia, o que o qualifica para uma intervenção mais adequada e ajustada à realidade da mesma.

Quando vir no fundo dos quadros vários alvéolos reais muito provavelmente a colónia está para enxamear ou já enxameou.fig-0611-600x450

No período da enxameação o apicultor deve verificar com uma frequência semanal se as abelhas estão a criar alvéolos reais no fundo dos quadros, em particular nas colónias que tenham atingido ou passado os 6 quadros com áreas extensas de criação. Inclinar num ângulo de 45º o corpo do ninho em relação ao estrado e dar uma espreitadela ao fundo dos quadros pode trazer um bom retorno ao apicultor.

Contudo nem sempre os alvéolos reais de enxameação surgem (só) no fundo dos quadros.

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Às vezes surgem nas zonas laterais dos quadros, especialmente se houver depressões ou irregularidades nas superfícies laterais destes. Contudo, em regra, quando as abelhas criam alvéolos reais nestas zonas dos quadros também os criam no fundo dos quadros. Portanto a inspecção ao fundo dos quadros continua a dar boas garantias, mesmo nestas circunstâncias, de uma boa interpretação.

Quando vir no seio de uma zona de criação um a quatro alvéolos reais, e não encontrar mais, muito provavelmente está numa situação de supersedure/substituição de rainha eminente.

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Nesta situação as abelhas irão substituir a velha rainha por uma nova. Estes alvéolos reais não devem ser destruídos para não pôr em causa a sucessão da velha rainha.

Quando encontrar alguns alvéolos reais construídos nas zonas periféricas da zona de criação e se eles se formam a partir dos alvéolos de obreira (alvéolos reais de emergência) muito provavelmente estará na presença de uma colónia que ficou subitamente orfã e que está a tentar criar a sua próxima rainha. Não deve destruir estes alvéolos reais se não tem planos ou possibilidades de fornecer alvéolos reais ou uma rainha a esta colónia.

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Em regra nos períodos de crescimento pujante das colónias, períodos de um bom fluxo de pólen e néctar, encontram-se com frequência vários cálices reais. Não indicam necessariamente que a colónia se prepara para enxamear nas próximas semanas, mas deve manter no radar estas colónias e inspecioná-las semanalmente.

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Se estes cálices se apresentarem com geleia real e com uma larva em cada um deles o processo de criação de novas rainhas foi iniciado.

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A terminar uma nota: um abelha ocupa uma área no quadro equivalente a cerca de 3 alvéolos. Sendo assim um quadro cheio de criação fechada fornecerá abelhas suficientes para cobrir  cerca de 3 quadros. Compreendemos melhor com estes números como uma colónia fica, num espaço de no máximo 12 dias, subitamente cheia de abelhas, às vezes demasiado cheia para o espaço que o apicultor lhes dá.