combate à varroose: times are changing

Na minha opinião estamos a atravessar, de há uns anos para cá, uma época de mudanças importantes no combate à varroa. Estas mudanças advém de dois aspectos documentados: existência de populações de varroas resistentes ao amitraz na Europa e a colonização e disseminação de uma estirpe mais virulenta de vírus no nosso continente. A juntar a estes dois factos junto um terceiro, que resulta da minha especulação e de outros apicultores informados: ao utilizarmos massivamente acaricidas que matam exclusivamente varroas na fase de dispersão (fase forética), fomos seleccionando as varroas com períodos mais curtos de dispersão, aquelas que mais adaptadas estavam para sobreviver à mecânica da maior parte dos acaricidas sintéticos e orgânicos que temos vindo a utilizar.

Nestes tempos de mudança e aumento de complexidade conheço basicamente três tipos de resposta dos apicultores para o controle da varroa:

1) os que acreditam que as mudanças biológicas e comportamentais das varroas e vírus não existem, que tudo é uma conspiração, que as varroas e os vírus continuam a ser os mesmos de sempre, apicultores cheios das certezas típicas da ignorância, e que vão falhar desastrosamente e silenciosamente, sem nunca assumirem que falharam nas suas opções e sem perceberem porque falharam;

2) os que percebendo as mudanças e que as soluções antigas estão a falhar querem mudar a sua estratégia, mas desejam alternativas milagrosas e estão apenas disponíveis para utilizar “receitas do tipo limão”, baratas e hiper-simples de utilizar. Parece-me que nunca lhes ocorreu pensar que se fosse assim tão simples já todos utilizaríamos essas “balas de prata”. Também estes, com a suas ilusões, vão falhar;

3) aqueles que estão conscientes das mudanças e que vão enriquecer as suas qualificações de combate e o seu arsenal de acaricidas. Estes assumem a necessidade de continuar a aprender e procuram conhecer o melhor possível o inimigo, as suas forças e fragilidades, e a sua evolução. Ao mesmo tempo procuram conhecer mais profundamente o potencial e as limitações dos chamados acaricidas suaves (orgânicos) e de medidas culturais (interrupção da criação, entre outras), para as introduzir numa estratégia mais inteligente e efectiva. Estes têm as melhores probabilidades de manter a varroose “at bay”.

Especulando, acho que nos dois primeiros grupos encontramos 80% dos apicultores europeus e 20% deles enquadro-os no terceiro grupo.

Para os apicultores do terceiro grupo sugiro lerem este bom artigo de revisão sobre a evolução da varroa, vírus e vantagens e limitações da utilização dos acaricidas suaves, publicado em 2021: Varroa destructor from the Laboratory to the Field: Control, Biocontrol and IPM Perspectives—A Review. Mais adiante conto fazer traduções de alguns excertos, para os que têm mais dificuldades com o inglês.

a conta anual da apicultura: que rentabilidade?

Desde 2009, quando iniciei a minha actividade apícola, até 2023, quando a interrompi, sempre me acompanharam as folhas de Excel, que ía preenchendo sempre que fazia uma compra ou sempre que fazia uma venda. No final do ano apícola, último dia de setembro para mim, fazia o encontro de contas para avaliar o maior ou menor sucesso financeiro alcançado no ano. Como apicultor profissional esta era uma ferramenta indispensável de registo — mais vale um lápis pequeno do que uma grande memória, P. Drucker —, de memória, de análise, de comparação, de previsão, de planeamento e de reflexão.

Vista parcial da minha folha de Excel com as despesas do ano apícola 2015-2016.

Esta publicação vem a propósito do artigo The Economics of Honey Bee (Hymenoptera: Apidae) Management and Overwintering Strategies for Colonies Used to Pollinate Almonds (2019), onde Gloria Degrandi-Hofman, reputada investigadora, e colegas concluem que contas bem feitas a rentabilidade que os apicultores profissionais retiram com o aluguer de colmeias para a polinização das amendoeiras na Califórnia é pouca ou nenhuma. Nas suas palavras “A key finding from our study is that there is little or no profit in renting colonies for almond pollination once summer management and overwintering costs are considered.

Para mim esta conclusão é surpreendente por duas razões: 1) ou os apicultores profissionais norte-americanos não estão a considerar alguns custos (custos esquecidos, ocultos ou difíceis de quantificar) e andam a trocar dinheiro; 2) ou Gloria Degrandi-Hofman e colegas, apesar de terem feito os cálculos com colmeias reais (a amostra foi de 190 colmeias) e no terreno ao longo de 10 meses, tiveram despesas acima da média, em especial no maneio de verão e inverno.

Esta publicação reflecte a complexidade em fazer a “conta” anual na apicultura.

Nota: estou consciente que para alguns apicultores a rentabilidade que tiram da sua apicultura é pouco ou nada importante, para outros é medianamente importante e muito importante e determinante para outros ainda.

medidas de controlo dos inimigos: vespa velutina e varroa

Na passada sexta-feira o Armando Monteiro convidou-me para ir aos seus dois apiários situados nas proximidades de Coimbra. Pretendeu 1) mostrar-me o efeito quase imediato das suas harpas combinado com a utilização de rede na redução da pressão das velutinas sobre as suas colónias de abelhas; 2) ajuda na medição da taxa de infestação por varroa em abelhas adultas.

Relativamente ao ponto 1) e começando pelo princípio, dizer que o Armando teve o cuidado de desligar as harpas cerca de uma hora antes de eu chegar ao seu apiário, para que pudesse ver ao vivo a rapidez da dissuasão das mesmas. Assim, quando cheguei ao apiário estavam 20-30 vespas a pairar nas proximidades das colónias, com as abelhitas paralisadas de medo no interior e entradas das colmeias. Ligadas as harpas observei rapidamente o seu efeito: velutinas “chocadas” de forma dolorosa (a dor tem um efeito aversivo sobre todos os animais) e até letal (muitas delas morriam ou ficavam com as asas queimadas) por aqueles fios. Após 10-15 minutos estarem ligadas, a presença de velutinas reduziu-se para próximo do zero.

O apiário, com harpas colocadas de 7 em 7 colmeias, envoltas numa rede de plástico com uma malha de 13mm, que cai à frente apenas até 20 cm do solo com a intenção de permitir a entrada rápida das abelhas nos voos de homing (voos de regresso a casa). O Armando diz-me que neste sistema as poucas velutinas que entram para o interior desta muralha de rede, quando apanham uma abelha tendem a subir, batem no tecto de rede, e acabam por tentar sair pela lateral… onde chocam literalmente nas harpas.
A rede chega até cerca de 20 cm do chão, para que esteja sensivelmente à altura das rampas de voo, com a intenção de facilitar o voo de saída e entrada das abelhas. A passagem das velutinas por debaixo das harpas está impedido.
Uma das várias velutinas mortas ou incapazes de levantar voo.

Quanto ao ponto 2), depois de nos livrarmos das velutinas estávamos a abrir as colmeias passados cerca de 15 minutos a nossa entrada no apiário. O primeiro passo foi localizar o quadro onde andava a rainha nas colmeias que nos serviram de amostra. Esse quadro era posto de lado por momentos enquanto procedíamos à recolha de abelhas em quadros com criação. Das abelhas recolhidas e lavadas libertaram-se duas varroas, número que dá uma taxa de infestação de 0,6%.

O meu amigo Armando compara a mortalidade de colónias que teve o ano passado por varroose, cerca de 50%, com a mortalidade deste ano, 0%. Quando o questionei sobre o que estava a fazer de diferente este ano, referiu-me que no ano que corre decidiu introduzir um tratamento intermédio. De forma generosa disse-me que este blog o influenciou nesta mudança no regime de tratamentos deste ano.

Nota: 1) nesta publicação relato a experiência do meu amigo Fernando Moreira com as harpas e nesta outra a experiência do meu amigo Marcelo Murta com a monitorização da taxa de infestação por varroa em abelhas adultas.

tenho 500 colmeias, quanto posso esperar receber? ou um incentivo à pequenez

Surgiu num dos grupos de apicultores do FB o lacónico quadro em baixo. Como tudo o que é lacónico, demasiado sintético, abre muito o campo a interpretações. Vou apresentar a minha para o cenário de quem tem 5oo colmeias ou mais registadas na DGAV.

No escalão das primeiras 50 colmeias recebe 8,50€ por cada, isto é, 425€ (50×8,50). No segundo escalão, entre as 51 e as 150 colmeias, recebe 7,50€ por cada, isto é 750€ (100×7,50). No terceiro escalão, entre as 151 e as 250 colmeias, recebe 6€ por cada, isto é 600€ (100×6). No quarto escalão entre as 251 e as 500 colmeias, recebe 3€ por cada, isto é 750€ (250×3). No total pelas 500 colmeias irá receber 2525€ (425+750+600+750). Em média receberá 5,05 € por colmeia. Se tiver 1000 colmeias registadas receberá os mesmos 2525€, o que representa uma média de 2,53€ por colmeia. Se tiver 2000 colmeias receberá os mesmo 2525€, o que representa uma média de 1,26€ por colmeia.

Se a minha interpretação está correcta, a forma como esta medida está desenhada é um elogio e um incentivo à pequenez!

apoios directos aos apicultores: proposta rejeitada. Contrária ao espírito associativo do programa

No documento em baixo, publicado pelo GPP, ficamos a saber que propostas feitas em 2021 no sentido de se preverem apoios directos aos apicultores foram rejeitadas por serem contrárias ao espirito associativo.

Fonte: https://www.gpp.pt/images/PEPAC/ConsultaAlargadaNov21/Relatorio_2_fase_consulta_alargada_PEPAC.pdf
Como se pode ver duas propostas de apoios directos aos apicultores são rejeitadas por serem contrárias ao espírito associativo do programa.

Como já publiquei anteriormente, em França, entre outros países, os apoios directos aos apicultores convivem bem com os apoios de natureza colectiva ou associativa. Por cá a fenomenal capacidade de ler nos astros e nas vísceras de animais do mui nobre GPP, intuiu que os apoios directos aos apicultores degradam o espírito associativo. Eh pá, quero o GPP em França, já, antes que a apicultura francesa se desmorone!

vespa velutina: as velutinas têm as preferências dos gatos?

Em estudos controlados na Nova-Zelândia* e EUA acerca de quais os iscos proteicos que têm a preferência das vespas germânicas concluiu-se que são os enlatados de comida húmida de sardinha para gatos — atenção que não é a sardinha enlatada que compramos para nós!

O meu amigo, Tiago Alves Silva, enviou-me uns pequenos vídeos onde se vê as velutinas em grande actividade junto destes iscos proteicos. Deixo em baixo fotografias ilustrativas.

*Protein bait preferences of wasps (Vespula vulgaris
and V. germanica) at Mt Thomas, Canterbury, New
Zealand (1995).

Desta publicação não devem concluir que é este o melhor isco proteico para a Vespas velutina. Esse teste ainda não foi feito de forma controlada com a V. Velutina, tanto quanto é do meu conhecimento. Para já podemos concluir que também este isco tem uma boa palatabilidade para este animal voraz.

Notas: 1) com o nascimentos das gynes (as novas fundadoras) os iscos proteicos perdem gradualmente o interesse e os iscos líquidos açucarados e fermentados voltam a ter uma boa demanda por parte das futuras fundadoras.

2) Num outro estudo com a V. orientalis, verificaram que entre iscas com carne de vaca, carne de frango, fígado e sardinha, o consumo após duas horas foi 79% para a carne de vaca; 46% para o frango; 47% para o fígado e 16% para a sardinha.

fonte: Acceptance of the oriental wasp Vespa orientalis L. (Hymenoptera: Vespidae) to different baits (2016)

a montanha russa da infestação por varroa em dois apiários de um amigo

A primeira imagem que me ocorre de uma montanha russa são aqueles picos elevados antecedidos e seguidos por vales profundos, isto é uma estrutura com altos e baixos. Esta imagem pode ser aplicada com toda a pertinência às taxas de infestação por varroa em abelhas adultas, avaliadas por lavagem, em dois apiários de um amigo do distrito de Bragança. Uma nota prévia: os dois apiários foram submetidos ao mesmo programa de tratamentos durante o ano e até agora.

Vamos aos dados que me fez chegar: num dos apiários as amostragens realizadas em três das cerca de 50 colónias ali assentes deram resultados de infestação baixos, uma varroa no conjunto das 3 amostras de abelhas — infestação abaixo de 1%.

No outro apiário os dados parecem ser de outro planeta: de 6 amostras feitas, num apiário com uma dimensão semelhante ao anterior, temos uma colónia com 98 varroas em 222 abelhas, isto é uma infestação de 44,1% e, no pólo oposto, uma outra colónia com 1 varroa em 260 abelhas, 0,4% de infestação. As taxas de infestação nas restantes 4 colónias são: 1,8%, 4,8%, 5,7%, 7,8%.

As 98 varroas que sairam das 222 abelhas após a sua lavagem.

Relembro, todas as colónias destes dois apiários receberam o mesmo programa de tratamentos até à data. Por razões que dispensam mais explicações, o meu amigo está a re-tratar todas as colónias deste segundo apiário e aplicar-lhe em simultâneo uma medida de urgência conhecida como “rasca la cria”.

O meu amigo, e bem, fez a avaliação da taxa de infestação no seu segundo apiário, mesmo tendo obtido resultado muito positivos no primeiro. É esta realidade não-linear, rugosa, com altos e baixos que torna o controlo da varroose tão complexo.

vespa velutina: harpas eléctricas, o testemunho de um apicultor amigo

O meu amigo Fernando Moreira, com apiários no extremo norte da Beira Alta, decidiu fabricar harpas eléctricas para reduzir a pressão das V. velutinas sobre as suas colónias. Verificou que a partir de finais de Julho a pressão aumentou a um ponto que paralisava o voo das abelhas. Como é um homem que trabalha a madeira como poucos, decidiu meter mãos à obra e em meados de agosto tinha as harpas feitas e prontas a colocar no terreno.

O Fernando está a colocar as harpas de acordo com as facilidades do próprio terreno, com cerca de 4 colmeias de espaço entre elas.

Observou que passado um dia após a sua colocação quase deixou de ver velutinas nos seus apiários. Põe a hipótese de algum tipo de comunicação que alerta as irmãs para o perigo e que seria um tema interessante para uma publicação neste blog. O desafio está aceite, tenho andado a ler sobre o que se sabe com algum rigor sobre os processos de comunicação na sub-família Vespinae, o grupo taxonómico dos vespões, e para já constato duas coisas: 1) as grandes lacunas de conhecimento rigoroso sobre os processos de comunicação neste grupo de insectos; 2) do que li até agora apenas a V. mandarinia marca com feromonas as colmeias para atrair/recrutar mais irmãs para o massacre que costumam fazer nas colónias de abelhas.

Do que li até agora começo a construir uma hipótese que explica o sucesso das harpas que alguns observam, assim como insucesso ou menor sucesso que outros encontram com a utilização das mesmas. Talvez lhe chame a “hipótese abutre”, a ver vamos para onde me conduzirão as leituras que tenho andando a fazer. A hipótese de uma feromona de alarme ou repelente explicar o abandono dos apiários com a colocação de harpas parece-me, neste momento, pouco sustentável à luz destes aspectos: 1) com as armadilhas em garrafas essas feromonas atraem mais irmãs, não as repelem; 2) essas feromonas são voláteis, provavelmente de curta duração, e não explicam como passados horas/dias continuam a exercer o seu efeito repelente; 3) se são feromonas, como explicar que os apicultores que relatam sucesso com as harpas, deixem de ver quase por completo velutinas; ao contrário, seria caso para ver velutinas a rondar os apiários, a farejar as redondezas das harpas e colmeias, e só depois dessa inspecção inicial fugirem rapidamente porque detectaram uma hipotética feromona de alarme, feromona que persistiu horas ou até dias no local.

“As colmeias que no início de agosto estavam paralisadas, agora trabalham como na primavera (02-09-2023)” palavras de meu amigo Fernando Moreira. Bom combate!

Sobre o efeito das harpas ver os resultados de um estudo controlado aqui.

Notas: 1) dispenso comentários lacónicos do tipo “isto é só negócio”, porque obviamente para mim não o é, nunca vendi harpas, não vendo harpas, e não está no meu horizonte vir a vender harpas; 2) ou comentários do tipo “isto não elimina os ninhos”, porque obviamente que não elimina, o objectivo é defender as colónias de abelhas. Para eliminar ninhos as técnicas são outras. Para erradicar todas as V. velutinas do nosso país não conheço neste momento técnica nenhuma; 3) ou comentários “comigo não funcionou”, porque é óbvio que técnica nenhuma funciona com eficácia igual para todos os que a aplicam. Agradeço comentários detalhados, sejam positivos sejam negativos, mas com pormenores, porque com esses aprendemos. Muito obrigado pela vossa atenção!

ácido oxálico: um vídeo corajoso e honesto de Bob Binnie

Recentemente o apicultor norte-americano Bob Binnie publicou este vídeo sobre a aplicação de ácido oxálico na forma sublimada em núcleos.

Vídeo sobre o tratamento de núcleos com 2 grs. de ácido oxálico sublimado.

O que mais me interessou no vídeo foi o facto de o Bob Binnie referir que aplica 2 grs. de ácido oxálico em núcleos e referir que aplica 4 grs. de ácido oxálico em colónias estabelecidas em colmeias Langstroth com 10 quadros. E do ponto de vista da eficácia está a fazer a opção correcta. No estudo Determining the dose of oxalic acid applied via vaporization needed for the control of the honey bee (Apis mellifera) pest Varroa destructor (2021), Cameron Jack e colegas referem que é essa a dosagem mais eficaz de acordo com as observações controladas que realizaram.

O pequeno problema é que a EPA (a congénere norte-americana da DGAV) definiu que as colónias não devem ser tratadas com mais do que 1 gr. de ácido oxálico quando sublimado.

O grande problema para os apicultores norte-americanos é que este limite estabelecido pela EPA, repito 1 gr. de ácido sublimado por colónia, é pouco ou nada eficaz como demonstrado pelo estudo de Cameron Jack e colegas. Bob Binnie foi honesto e corajoso por vir publicamente dizer como faz e que o “rei vai nú”, arriscando ser perseguido e multado por tal.

litoral centro: avaliação da taxa de infestação por varroa no final de agosto e tratamento

Ontem, acompanhei o Marcelo Murta na realização de duas tarefas nas colónias que tem assentes no seu apiário nas proximidades de Coimbra: 1) avaliação da taxa de infestação por varroa em abelhas adultas; 2) aplicação por gotejamento de ácido oxálico diluído em xarope de açucar.

Como referi nesta publicação, no dia 19 de Julho o Marcelo fez a avaliação da taxa de infestação e deparou-se com 8,14% e 8,4% de infestação em duas colónias (13% das colónias no apiário).

Como é um apicultor munido de um bom arsenal de conhecimentos e forte motivação, sabia que tinha que fazer descer essa taxa para abaixo dos 2% com o objectivo de garantir abelhas saudáveis e ficar tranquilo com os desafios que as suas colónias vão enfrentar no final do verão e na entrada do outono. E com essa motivação iniciou o terceiro tratamento do ano nos últimos dias de julho. Utilizou o Amicel em três rondas, com espaçamento de 12 dias entre as duas primeiras aplicações da tira de Amicel e de 8 dias para a terceira tira.

Ontem, 31 de Agosto, os resultados da medição da actual taxa de infestação nas colónias anteriormente avaliadas em julho são muito positivos: 0,86% e 1,02%.

Avaliação da taxa de infestação em cerca de 300 abelhas adultas através da lavagem em álcool.

Ainda que as taxas de infestação actual não sejam preocupantes, o meu amigo decidiu aproveitar a ausência de criação ou a pouca criação nas suas colónias para as gotejar com ácido oxálico diluído em xarope de açúcar. Como diz o Marcelo não devemos ser reactivos, sim pró-activos. E deste princípio os seus ganhos são evidentes: neste ano e até à altura a mortalidade por varroose é zero.

Aplicação de 5 ml da mistura por cada espaço entre os quadros, segundo uma formulação proposta por Randy Oliver.
Decidiu pela formulação “hot” porque as colónias em Coimbra não vão passar por um período longo sem criação — 60 grs. de ácido + 600 ml de água + 600 grs. de açúcar.*

Entre as diversas trocas de impressões disse-lhe que esta opção me fazia lembrar um apicultor norte-americano com +3000 colónias, que tem como princípio não esperar que a taxa de infestação chegue aos 3%, para ele um limiar já demasiado alto e com riscos de os tratamentos falharem; prefere tratar para ter os níveis de infestação abaixo ou igual a 1%: trata não para fazer descer os níveis de infestação mas para evitar que eles subam; não confia cegamente em nenhum medicamento, acredita neles todos, na sua utilização frequente e diversificada**.

Assim como para a prevenção da enxameação é necessário andar um mês à frente das colónias, também o controlo da varroose nos obriga a estar, não um, mas dois meses à sua frente.

*https://scientificbeekeeping.com/oxalic-acid-treatment-table/

**https://honeybeehealthcoalition.org/wp-content/uploads/2021/06/Commercial_Beekeeping_060621.pdf