O meu amigo Fernando Moreira, com apiários no extremo norte da Beira Alta, decidiu fabricar harpas eléctricas para reduzir a pressão das V. velutinas sobre as suas colónias. Verificou que a partir de finais de Julho a pressão aumentou a um ponto que paralisava o voo das abelhas. Como é um homem que trabalha a madeira como poucos, decidiu meter mãos à obra e em meados de agosto tinha as harpas feitas e prontas a colocar no terreno.
Observou que passado um dia após a sua colocação quase deixou de ver velutinas nos seus apiários. Põe a hipótese de algum tipo de comunicação que alerta as irmãs para o perigo e que seria um tema interessante para uma publicação neste blog. O desafio está aceite, tenho andado a ler sobre o que se sabe com algum rigor sobre os processos de comunicação na sub-família Vespinae, o grupo taxonómico dos vespões, e para já constato duas coisas: 1) as grandes lacunas de conhecimento rigoroso sobre os processos de comunicação neste grupo de insectos; 2) do que li até agora apenas a V. mandarinia marca com feromonas as colmeias para atrair/recrutar mais irmãs para o massacre que costumam fazer nas colónias de abelhas.
Do que li até agora começo a construir uma hipótese que explica o sucesso das harpas que alguns observam, assim como insucesso ou menor sucesso que outros encontram com a utilização das mesmas. Talvez lhe chame a “hipótese abutre”, a ver vamos para onde me conduzirão as leituras que tenho andando a fazer. A hipótese de uma feromona de alarme ou repelente explicar o abandono dos apiários com a colocação de harpas parece-me, neste momento, pouco sustentável à luz destes aspectos: 1) com as armadilhas em garrafas essas feromonas atraem mais irmãs, não as repelem; 2) essas feromonas são voláteis, provavelmente de curta duração, e não explicam como passados horas/dias continuam a exercer o seu efeito repelente; 3) se são feromonas, como explicar que os apicultores que relatam sucesso com as harpas, deixem de ver quase por completo velutinas; ao contrário, seria caso para ver velutinas a rondar os apiários, a farejar as redondezas das harpas e colmeias, e só depois dessa inspecção inicial fugirem rapidamente porque detectaram uma hipotética feromona de alarme, feromona que persistiu horas ou até dias no local.
Sobre o efeito das harpas ver os resultados de um estudo controlado aqui.
Notas: 1) dispenso comentários lacónicos do tipo “isto é só negócio”, porque obviamente para mim não o é, nunca vendi harpas, não vendo harpas, e não está no meu horizonte vir a vender harpas; 2) ou comentários do tipo “isto não elimina os ninhos”, porque obviamente que não elimina, o objectivo é defender as colónias de abelhas. Para eliminar ninhos as técnicas são outras. Para erradicar todas as V. velutinas do nosso país não conheço neste momento técnica nenhuma; 3) ou comentários “comigo não funcionou”, porque é óbvio que técnica nenhuma funciona com eficácia igual para todos os que a aplicam. Agradeço comentários detalhados, sejam positivos sejam negativos, mas com pormenores, porque com esses aprendemos. Muito obrigado pela vossa atenção!
Bom dia,
Uso harpas fabricadas por mim há uns quatro anos, fui substituindo/evoluindo as minhas harpas com o tempo, e com as minhas observações.
Uso as harpas de duas maneiras distintas, em função da disposição que tenho no apiário,
-uma na lateral do apiário tem água com detergente por baixo, onde caem bastantes velutinas e
algumas crabro;
-duas entre as colmeias sem água por baixo, onde as velutinas/crabro batem, são eletrocutadas, mas
não morrem, passado algum tempo voltam a voar.
-tentei uma vez um túnel com rede, com duas harpas nas laterais, mas no meu caso não resultou em
menor predação, dentro da rede as abelhas movimentavam-se melhor, e faziam o arejamento das
colmeias, mas não se habituavam à passagem na rede e eram presa fácil para as velutinas.
Conclusões:
-com as harpas ligadas a pressão diminui bastante, no entanto algumas velutinas aprendem a
contornar as harpas (normalmente as maiores e mais escuras);
-outras começam a fazer a deslocação para as colmeias pela frente, ao invés de se
aproximarem pela lateral e posterior posicionamento na frente das colmeias.
A minha opinião
Não prescindo das harpas, são um complemento importante na minha estratégia de mitigação de predação da velutina.
No entanto, e salvo melhor opinião, terão que ser utilizadas como complemento de medidas preventivas anteriores, nomeadamente a armadilhagem de janeiro/fevereiro em diante.
Não adianta, a meu ver, matar milhares de velutinas nas harpas, se as novas rainhas formadas nos ninhos escaparem e forem aumentar o numero de ninhos ano após ano.
Com os melhores cumprimentos
Obrigado pelo testemunho detalhado, Renato. Achei-o muito interessante, e deixou um pormenor intrigante, acerca das velutinas maiores — provavelmente as da segunda ou terceira geração, por serem melhor alimentadas que as de primeira geração — aparentemente serem mais astutas que as suas irmãs de menor tamanho. Continuação de bom combate. Cumprimentos!
Caro Eduardo, da minha observação pelo que vou lendo, acredito, a única forma de acabar com a vespa velutina será eliminar todos os ninhos, quando digo eliminar digo queimar os ninhos com as vespas, como se fez no inicio.
para isso terá de haver um envolvimento do país no seu todo!
No meu apiário utilizei o isco que comentou num dos seus blogs; de facto as vespas desapareceram, hoje lá andavam elas!
para grandes apicultores reconheço ser uma tarefa muito difícil, além dos iscos que vou utilizando, passo algum tempo apanhar vespas com um camaroeiro, coloco-as num garrafão com baygon e liberto, não consigo avaliar o resultado, imagino que cheguem ao ninho e sempre na expectativa de apanhar fundadoras.
envio-lhe um abraço
Viva, Cristiano! Bem haja pelo seu testemunho. A limitação dos iscos proteicos é não terem um efeito duradouro, em muitos casos relatados. As geração de velutinas que está operculada não é eliminada porque não é alimentada com o petisco. Um pouco como a varroa, que debaixo dos opérculos escapa ao efeito de alguns acaricidas. Bom combate!
Obrigado Eduardo por mais esta excelente publicação!
Concordo com a opinião do Renato, apenas quero acrescentar que o objectivo principal das arpas é o desbloqueamento das colónias.
Também constatei que algumas velutinas contornam as arpas mas mais tarde ou mais cedo elas acabam por cometer um erro e acabam por passar lá, outras passam e não morrem mas penso que serão estas a denunciar o perigo às suas irmãs.
Sem dúvida que este tema ainda tem muitas questões para responder.
Abraço
Obrigado também a ti Fernando. O teu testemunho é o coração desta publicação.
Obrigado por mais um artigo interessante. Relato as minhas experiências após encontrar uma média de 4 a 8 vespas constantes à entrada de 2 colmeias.
1a tentativa apenas com 1 rede plástica em túnel: algumas abelhas tinham alguma dificuldade, batiam na rede e só entravam à 2a ou 3a tentativa. As vespas ficam de fora da rede e em poucos dias perceberam que apanhavam as abelhas facilmente por fora. Alguns dias depois as vespas pousavam na rede e entravam para o interior, continuando o seu banquete tanto por fora como por dentro da rede.
2a tentativa com 1 harpa e túnel de rede: situação semelhante à anterior. Ao fim de uns dias as vespas sabiam que tinham de evitar aquela lateral.
3a tentativa com 2 harpas nas laterais: aparenta funcionar mas ao fim de algum tempo as vespas percebem que podem passar por baixo das harpas e acedem na mesma às colmeias. Algumas são electrocutadas ao chegar ou ao partir. O número de vespas diminui para menos de metade mas não desaparecem.
4a tentativa com a zona inferior das 2 harpas tapadas: quase não há vespas, as colmeias não estão mais bloqueadas. De vez em quando há 1 que acede pela frente (entrada e saída) e tem sucesso. A situação parece estável nesse ponto.
Obrigado José pelo seu testemunho testemunho tão detalhado. Gostaria de clarificar este aspecto: na quarta tentativa, a que até agora se tem mostrado mais efectiva, nas duas colmeias tem duas harpas colocadas lateralmente e com a sua zona inferior tapada, manteve a rede em frente às colmeias ou retirou-a? Obrigado uma vez mais pelo testemunho, que mostra como com a observação atenta se pode ir melhorando a eficácia do nosso combate.
Na 4a tentativa retirei a rede. No período em que lá esteve não creio que tenha ajudado. Era 1 rede plástica com espaçamento de 18mm.
Posso acrescentar também que só umas 2 semanas após a 4a tentativa é que encontrei novamente larvas. A rainha parou a postura até essa altura.