Nos últimos anos a opção de alimentar as colónias nas épocas de escassez com substitutos de pólen fornecidos em alimentadores externos colectivos tem vindo a recolher adeptos entre os apicultores. As abelhas aparentemente gostam desta alternativa alimentar, carregando afanosamente grandes quantidades do substituto para a colmeia. Mas como vimos aqui este comportamento, por si só, não é um indicador fiável da qualidade do alimento. Mais, alguns apicultores profissionais relatam que têm assistido ao colapso de colónias no inverno e associam este facto a esta estratégia de alimentação. Ora é sobre esta questão em particular que Randy Oliver se debruça no início desta conversa publicada no YT anteontem.
Randy Oliver, apicultor desde a sua juventude, biólogo e entomólogo, é provavelmente a voz mais influente no meio daqueles que procuram um conhecimento objectivo sobre estes insectos polinizadores.
É precisamente sobre a necessidade de uma maior objectividade nas afirmações que se fazem a respeito das abelhas que Randy inicia a conversa. Para ele muitas vezes a internet e a comunicação social abordam a apicultura de uma forma “nonsense”/absurda e não de uma forma objectiva, baseada na evidência científica e na experiência controlada.
Refere que neste momento está a conduzir dois ensaios controlados, um sobre o desenvolvimento de abelhas resistentes — programa que já mereceu duas publicações neste blog, aqui e aqui — e um outro sobre os efeitos da alimentação com substitutos de pólen, que iniciou há sete meses e está agora a terminar.
Uma tirada engraçada, mas muito séria como o são as coisas engraçadas, é Randy afirmar que se algum apicultor não disser de quando em quando que não sabe, o melhor a fazer é ouvir essa pessoa com “um grão de sal”/com algum cepticismo, porque há muita coisa que objectivamente desconhecemos.
Sobre os ensaios com suplementação proteica no outono as conclusões preliminares que tirou foram:
- quando o substituto de pólen seco é fornecido em alimentadores externos colectivos as abelhas recolhem-no em grande quantidade e armazenam-no, fermentam-no e fazem pão-de-abelha a partir dele;
- quando o substituto pólen é fornecida na forma de bifes as abelhas não armazenam nem uma grama;
- a colecta e armazenamento do substituo de pólen seco fornecido em alimentadores externos varia muito de colónia para colónia;
- em situação de escassez de pólen natural no outono e quando alimentadas com substitutos de pólen o melhor teste para avaliar o impacto da suplementação passa por verificar se as abelhas produzem mais geleia real para alimentar as larvas; segundo ele, as abelhas param a produção geleia real se a proteína de substituição fornecida não tiver os ingredientes que lhes permitam produzir geleia real com qualidade;
- verificaram-se efeitos adversos nas abelhas alimentadas em laboratório (em Tucson) com pão-de-abelha feito a partir dos substitutos de pólen; estes dados necessitam de ser replicados com novos ensaios, na sua opinião;
- estes efeitos adversos nas abelhas alimentadas com pão-de-abelha feito a partir dos substitutos de pólen confirmam a experiência negativa observada por vários apicultores profissionais que testemunharam colónias a colapsar no inverno depois de alimentadas com grandes quantidades de substituo de pólen seco fornecido em alimentadores externos colectivos.
Foi o que retirei nos primeiros dez minutos desta conversa de Randy Oliver. Espero que a tradução tenha sido fiel, mas caso encontrem alguma falha/erro importante agradeço desde já que me alertem.