construir uma colónia de abelhas produtiva

O princípio de uma colónia produtiva é bem conhecido: só uma colónia com uma população numerosa está em condições de acumular um excedente apreciável de mel para o apicultor (Lei de Farrar).

A preparação de uma colónia produtiva inicia-se verdadeiramente na cresta do ano anterior. Se a cresta for excessiva a colónia dificilmente ultrapassará o período invernal sem ajuda de alimentação suplementar. Caso consiga, muito provavelmente, surgirá à entrada da primavera com uma pequena população, estando em causa a sua produtividade. Terá uma população aquém do necessário para produzir um excedente de mel para o apicultor e todo o néctar entrado na colónia será utilizado para suprir o seu próprio crescimento.  Sabemos que um quadro de criação consome, em média, um quadro de mel. Há colónias que não sobem à primeira meia-alça por esta simples razão: estão a crescer no ninho.

Analisemos agora alguns números e dois cenários que poderão servir de referência para o maneio do apicultor com o objectivo de preparar colmeias produtivas.

Cenário 1) Há colónias que nas 2-3 últimas semanas do inverno apresentam 4-6 quadros de criação e 8-10 quadros de abelhas no ninho. Estas colónias com um enorme  potencial de se tornarem uma colónia muito populosa, acima dos 50 000-60 000 indivíduos,  reúnem as condições para acumular um excedente de 25-35 Kg de mel para o apicultor (Lei de Farrar). Estes valores representam uma produção média que, no patamar inferior, está ao nível da média nacional e que, no patamar superior, está acima da mesma. Estimulante mas não irrealista!

Para concretizar este cenário a colónia deve ter condições para que, 20-30 dias antes do fluxo principal de néctar, apresente 6-8 quadros de criação no ninho. Nestas colmeias que saem fortes do inverno, o apicultor deve estar atento aos possíveis bloqueios do ninho que poderão impedir o seu normal crescimento e/ou suscitar a enxameação. A minha sugestão central para o maneio do ninho em colónias deste tipo passa pelo fornecimento atempado de quadros de cera puxados e/ou laminados que desbloqueiem o ninho, o abram e o expandam. Nestas colónias coloco um quadro numa das extremidades da câmara de criação (geralmente opto pelo lado mais quente da colmeia) com um intervalo de cerca de 7-10 dias, de acordo com o que vou observando. Não devemos descurar também a necessidade de ir aumentando verticalmente o espaço nestas colónias, colocando atempadamente alças ou meias-alças meleiras.

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Fig. 1 — Colónias produtivas 

Cenário 2) Há casos, contudo, de colónias que saem do inverno com uma população bastante mais reduzida. Estou a pensar no caso de colónias que chegam a 20-30 dias de uma floração importante com 3-4 quadros de abelhas. Estas colónias, com populações de 6 000 a 10 000 indivíduos, necessitam de cerca de 4 ciclos de criação para atingirem a população necessária para que se tornem produtivas. Deixadas ao seu destino, sem a nossa intervenção, são colónias que demorariam 80-90 dias a atingir a massa critica necessária para trabalhar adequadamente a floração em questão. Facilmente se conclui que, deixando tudo nas mão da natureza, a floração principal estaria terminada ou a terminar quando a colónia atingisse as condições de a trabalhar em força.

A equalização de colónias é a chave para estes casos. No dia -30 (30 dias antes da floração que nos interessa) coloco um quadro com criação operculada nestas colónias. São mais 4000-5000 jovens abelhas que nascerão durante os próximos 12 dias (lembro que um quadro Langstroth tem 7000-7200 alvéolos). No dia -20 coloco mais 2 quadros com criação (recebem mais 8000 a 10 000 abelhas). No dia -10 coloco mais 3 quadros com criação. No final presenteei esta colónia com 6 quadros com criação operculada (24 000-30 000 abelhas). Estas acções graduais dão-me boas garantias de atingir a almejada população de 50 000-60 000 abelhas (as que lhes ofereci  adicionadas às abelhas que a própria colmeia foi criando) à entrada do fluxo de néctar que me interessa. No caso estou a pensar no fluxo do néctar rosmaninho, que inicia a floração em meados de abril, nos locais onde estão situados os meus apiários.

varroa: a fase forética

No ciclo de vida do ácaro varroa distinguem-se duas grandes fases: a fase reprodutiva e a fase forética. A primeira passa-se no interior do alvéolo operculado, a segunda no exterior dos alvéolos alojadas sobre as abelhas adultas. É desta segunda fase que agora vamos tratar.

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Fig. 1 — Varroa forética sobre o abdómen de uma abelha

Durante a fase de forética, os ácaros servem-se das abelhas adultas e dos zângãos para serem transportados quer dentro quer fora da colmeia. Nesta fase alimentam-se da hemolinfa (sangue) das abelhas. O estágio forético dura cerca de 5-11 dias, período este em que os ácaros não se reproduzem. Nos períodos em que a colónia de abelhas não tem criação (geralmente coincidentes com períodos de escassez), os ácaros são obrigados a permanecer nesta fase forética, que pode ir de poucas semanas até 5-6 meses, dependendo do clima.

Os ácaros mudam de hospedeiros (saltam de uma abelha para outra) muitas vezes e isso contribui para a transmissão de vários vírus, de uma abelha infectada para uma outra saudável por via das feridas que aqueles abrem na quitina das abelhas. Os ácaros experimentam uma maior mortalidade durante a fase forética, porque cometem erros, como cair no tabuleiro sanitário se ele existir, porque são mordidos pelas obreiras (grooming), ou simplesmente morrem devido à idade avançada. A “queda natural” dos ácaros num tabuleiro sanitário reflete uma combinação de todos estes factores. No entanto, é bom dizer que o total dos ácaros caídos não chega sequer a 20% da população total. Portanto, a utilização de um fundo sanitário não é suficiente para evitar o uso de produtos acaricidas para o controle da varroa.

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Fig. 2 — Imagem de duas abelhas: a abelha da esquerda apresenta um aspecto saudável; a abelha da direita apresenta sinais evidentes da acção de dois vírus, o virús das asas deformadas e o virús da paralisia aguda (abelha sem pêlos, muito negra e com aspecto geral oleoso) transmitidos muito provavelmente pelo ácaro varroa 

A fase forética é importante para os ácaros dado que é nesta fase que se transferem entre colónias, por ação da deriva das abelhas e zângãos, ou pela pilhagem de uma colónia moribunda por via de uma forte infestação de ácaros. Nesta última situação, poderá estar a ocorrer uma selecção dos ácaros (e também os virus) com alta virulência. Enquanto que numa floresta natural, os ácaros que matam uma colónia também morrerão com o seu hospedeiro (devido à baixa probabilidade desta ser encontrada por uma colónia vizinha), num apiário o comportamento de pilhagem, assegura o sucesso da transferência de ácaros da colónia moribunda para uma outra, onde o ciclo se reiniciará novamente. Um outro mecanismo de provável transmissão horizontal, ainda não devidamente confirmado, pode acontecer aquando da queda das varroas em flores, transportadas por abelhas forrageiras. Estas varroas podem acabar por se hospedar na próxima abelha forrageira que visite essa flor.

Porquê a fase forética? Os cientistas ficaram intrigados a respeito da razão de os ácaros terem de passar por uma fase forética, onde experimentam uma alta taxa de mortalidade. Em condições de laboratório, a varroa pode reproduzir-se com sucesso sem uma fase forética. Nestas condições laboratoriais, os ácaros que foram transferidos imediatamente após o nascimento da abelha para outra célula de cria recém-operculada conseguiram reproduzir-se até sete ciclos. No entanto num estudo realizado em condições naturais verificou-se que os ácaros que não experimentam a fase forética têm uma fertilidade mais baixa, especialmente em comparação com aqueles que se hospedam e alimentam em abelhas jovens. Aparentemente os ácaros preferem esta abelhas nutrizes não só por causa de sua proximidade com larvas (sabemos que estas abelhas inspecionam e alimentam frequentemente as larvas), mas também porque são abelhas que fornecem aos ácaros uma alimentação (hemolinfa) mais adequada para a sua futura reprodução. Descobriu-se que os ácaros alimentados artificialmente pela hemolinfa de abelhas desta faixa etária têm um maior número de descendentes, seguido por aqueles alimentados pela hemolinfa de forrageiras, e que aqueles que apresentaram o menor número de descendentes foram alimentados com a hemolinfa das abelhas recém-nascidas.

Em conformidade com os resultados desta investigação mais convencido fico que a paragem da postura é uma ferramenta de grande utilidade no controle da varroa. Esta paragem pode ser natural (condições de escassez, enxameação, ou outras) ou pode ser provocada pelo próprio apicultor (engaiolamento da rainha, desdobramentos, enxame nú, e outros). Conto voltar a este assunto em breve.

fonte: http://articles.extension.org/pages/65450/varroa-mite-reproductive-biology

como tratar contra a varroa?

Entre muitas questões no mundo complexo da apicultura esta é das mais importantes e recorrentes nos dias de hoje: como tratar contra a varroa?

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Fig. 1 — Imagem ampliada do ácaro varroa destructor

Para a resposta à questão não há regras universais (que sejam válidas para todos os locais) e intemporais (que sejam válidas para todas as épocas). Como bons princípios, utilize um acaricida que é adequado às suas condições locais e ao momento em que pretende utilizá-lo, utilize-o de acordo com as instruções do fabricante e mantenha registos dos tratamentos que realiza (marca, lote, data de início e término do tratamento bem como resultado obtido).

Tendo em consideração os acaricidas homologados em Portugal para o controle da varroa, vale a pena ter em conta alguns aspetos bem estudados e consensuais na comunidade apícola internacional, a saber:

  • Evite o uso de acaricidas à base de piretróides (Apistan e Bayvarol, são as marcas homologadas em Portugal) se há alguma evidência credível de resistência aos seus princípios ativos nas suas colmeias ou em colmeias vizinhas.

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Fig. 2 — Jovem abelha com a língua estirada que morreu no momento do nascimento por causa da varroa 

  • Evite usar os acaricidas com formulações baseadas no timol (Apiguard, Thymovar e Apilife Var, são as marcas homologadas em Portugal), se as temperaturas, durante cerca de um mês, estiverem frequentemente abaixo dos 15ºC ou acima dos 30ºC.  Para que estes acaricidas funcionem de forma eficaz, a temperatura ideal situa-se entre os 15ºC e os 30ºC. Se usados com temperaturas abaixo dos 15ºC, muitos ácaros não serão atingidos; se utilizados acima dos 30ºC, as abelhas poderão abandonar a colmeia.

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Fig. 3 — Imagem de uma colónia que, por causa das baixas temperaturas, não contacta o suficiente com o tratamento à base de timol ali colocado 

  • Evite o gotejamento de ácido oxálico/Api-Bioxal se tem criação (operculada ou não) na colónia. O ácido oxálico é tóxico para a criação não operculada e, por outro lado, os ácaros na criação operculada vão escapar ilesos (cerca de 90% da população de ácaros encontra-se na criação operculada). Evite a vaporização/sublimação do ácido oxálico se a colónia tiver criação operculada ou se não estiver preparado para repetir rigorosamente o tratamento três a quatro vezes, com intervalos de cinco dias, para apanhar as varroas foréticas e as varroa emergentes.

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Fig. 4 — Imagem das varroas que se multiplicam debaixo dos opérculos na criação operculada

  • Esteja ciente de que alguns acaricidas, como o ácido fórmico ou o timol, podem inibir a postura da rainha e podem aumentar a mortalidade das jovens larvas em cerca de 25% (caso do ácido fórmico presente no MAQS, que é a marca homologada em Portugal). Evite estes ingredientes quando é crucial que a colónia aumente o número de abelhas novas para a sua sobrevivência, cenário que se aplica especialmente ao período outono-inverno, durante o qual as colónias dependem do nascimento destas abelhas para chegarem em boas condições à primavera seguinte.

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Fig. 5 — Quadro com criação em mosaico, sinal de  uma elevada mortalidade de larvas 

  • Não reduza as doses de tratamento ou o seu tempo de aplicação, pois que os tratamentos parciais são só parcialmente eficazes. Este procedimento errado é também uma ótima maneira de selecionar para as varroas resistentes. Coloque os tratamentos exatamente como o fabricante preconiza, mesmo que isso signifique um pouco mais de trabalho e mais alguma demora. Se eliminarmos uma porção baixa de varroas tal irá obrigar-nos a tratar em épocas menos convenientes mais adiante e, pior, irá contribuir para que haja cada vez mais abelhas doentes. Será mais ou menos como se nós tivéssemos um ácaro do tamanho de um gato nas nossas costas a sugar-nos uma parte do nosso sangue todos os dias. Estas varroas vão continuar a ferir as abelhas, a alimentar-se da sua hemolinfa e a transmitir virús muito perniciosos entre elas.

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Fig. 6 — Abelhas doentes por causa das varroas que se alimentam da sua hemolinfa dia após dia

Pelo exposto, não compreendo e também não acredito na vantagem de se fazerem tratamentos que só eliminam as varroas foréticas. Julgo que servirá para melhor compreensão a seguinte imagem: quando pretendo desinfetar as mãos, devo lavar bem as duas e não apenas uma.

Actualização: na altura em que este post foi escrito ainda não se tinha verificado/confirmado que o ácaro varroa se alimenta predominantemente do orgão corpo gordo. Neste momento, decorrente desta descoberta, e pela importância do corpo gordo (orgão equivalente ao nosso fígado) no mecanismo imunitário, na desintoxicação, e outras funções… em suma na vitalidade global das abelhas, entende-se que os ácaros na sua fase “forética” são mais prejudiciais do que se supunha.

apicultura numa pequena escala: aspectos de um sistema de maneio

Sabemos que o crescimento de uma colónia de abelhas e o seu bem-estar estão dependentes de um conjunto de aspectos centrais, nos quais se destacam:

  • bom estado sanitário da colónia (especial atenção ao controlo da varroa);
  • rainha prolífera;
  • capacidade das abelhas nutrizes manterem as temperaturas adequadas ​​na câmara de criação e alimentarem adequadamente as larvas;
  • disponibilidade de néctar (ou mel durante o período de escassez) e pólen no exterior;
  • existência de espaço na colmeia para a expansão do ninho e para o armazenamento do néctar.

Reunidas estas condições não há razão para a colónia não aumentar a sua população e, como consequência, fazer a colheita que o apicultor deseja, salvaguardando o campo/pasto no exterior e boas condições atmosféricas que permitam o forrageio. Sobre estas últimas nada podemos fazer, sobre as primeiras podemos agir, através de um sistema de maneio que nos permita alcançar a melhor produção possível. É sobre este sistema de maneio, numa apicultura de pequena escala, que vamos refletir e apontar algumas diretrizes.

Qualquer sistema de maneio tem como objectivo apoiar e/ou melhorar os factores acima enunciados. O nível de sofisticação de uma operação de apicultura determina a extensão em que as operações de maneio afetam estes factores.

Aspectos da apicultura de grande escala como a utilização de rainhas geneticamente selecionadas, a alimentação artificial com xaropes, pastas e pólen ou seus substitutos, a deslocação de colónias para seguir os fluxos de néctar não estão facilmente disponíveis para a maioria dos apicultores de pequena dimensão. Muitas vezes, para empreendimentos apícolas de pequena escala, estas opções ou são impraticáveis do ponto de vista logístico ou são geradoras de custos indesejáveis. Para os pequenos apicultores, os sistemas de maneio devem ser mais simples e orgânicos e os que não necessitem de investimentos elevados. Ora, para estes apicultores, o seu trabalho, as horas que dedicam num fim-de-semana e/ou ao fim do dia às suas abelhas, são geralmente o investimento mais barato.

Sobre o maneio em pequena escala, importa traçar algumas directrizes muito simples para a época do ano que estamos a passar: a viragem do inverno para a primavera.

Nesta altura o apicultor pode ser o pior inimigo das suas abelhas, se não acautelou uma quantidade suficiente de reservas de mel no ninho. Este aspecto, que não implica trabalho extra ao apicultor, é muitas vezes desprezado pelo apicultor, e pode trazer dissabores, em especial nestes dois meses de fevereiro e março que estamos a atravessar.

Nesta altura do ano as rainhas começam a aumentar gradualmente a sua postura, com a entrada de algum néctar e pólen do exterior, aumentando significativamente as necessidades nutricionais da colónia. Se esta tem ainda mel e pólen armazenados, estão em boas condições para fazerem face a alguns dias de chuva e/ou frio, habituais nesta altura do ano. Caso estejam no limite das suas reservas (especialmente as de mel) a morte da colónia por fome pode chegar rapidamente de um dia para o outro. Ainda que a tentação de crestar muito ou todo o mel existente na colónia seja grande, o apicultor que o não faz está a investir no futuro da sua colónia.

No meu caso, sabendo que desde o início de agosto até finais de março (8 meses) pouco ou nenhum néctar significativo entra na colmeia, sabendo que uma colónia média consome em média neste período 1-1,5kg de mel/mês, necessito deixar 8-12 Kg de mel para garantir os níveis mínimos de reservas. Um quadro do ninho de uma colmeia Langstroth ou de uma colmeia Lusitana cheio de mel ronda os 2,5-3kg de mel. Necessito de 3 a 4 quadros bem cheios de mel no ninho para garantir as condições mínimas de sobrevivência no inverno. Este é o mínimo, mas um pouco mais é desejável, sobretudo para uma colónia que entra no outono muito bem povoada e com a varroa bem controlada. Sugiro mais uma meia-alça com 4 a 5 quadros bem cheios de mel.

Tudo parte do objectivo para que temos as abelhas. Para um apicultor de pequena dimensão, não andarei muito longe da verdade se disser que, sobretudo, pretende desfrutar do prazer que lhe dá ter abelhas, aprender com elas, ter umas horas por semana dedicadas à sua observação e maneio. Uma das formas mais simples e mais económicas de manter esta fruição ao longo de anos e anos, passa por deixar reservas suficientes para que elas renasçam saudáveis e vigorosas à entrada de cada primavera.

Vespa asiática de patas amarelas (V. velutina nigrithorax): ciclo de vida

Nota prévia: Estes dados são de uma região francesa (Aquitaine). Poderá ser necessário fazer alguns ajustamentos na sazonalidade e intensidade de comportamentos para a realidade portuguesa acerca dos aspectos abaixo descritos. Desconheço se há algum estudo deste tipo feito na nossa terra. Contudo, os dados desta região francesa, ajudam-nos a compreender melhor o ciclo de vida deste indesejado e exótico predador por terras lusas.

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Fig. 1 — Exemplar de uma V. velutina nigrithorax (as patas amarelas são um elemento distintivo em relação às V. crabro)

  • Período de postura: A emergência do período de hibernação das fundadoras da V. velutina vai do período de fevereiro a maio. A construção do ninho primário e os primeiros ciclos de postura ocorrem durante este período. Sabemos que a atividade das fêmeas fundadoras depende da temperatura ambiente. A antecipação dos dias de calor podem levar ao aparecimento precoce de alguma atividade, mas a fundação de uma nova colónia está dependente de alimentos em quantidades adequadas que a rainha fundadora possa encontrar. Nesta fase inicial da vida da nova colónia há uma preferência destes insectos por carbo-hidratos, daí que se aconselhe que as armadilhas para a captura das vespas fundadoras sejam elaboradas com uma base açucarada.

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Fig. 2 — Preparação de armadilhas para caçar as V. velutinas

  •  A invernagem: Em geral, para passar o inverno, as rainhas jovens já fecundadas escondem-se num lugar protegido (troncos podres, aterros, pilhas de madeira, buracos nas paredes, etc…).
  • Uma fundadora por ninho e por ano: A fundadora é, originalmente, apenas uma por colónia e por ano. Ela morre depois de um ano e são os seus descendentes (fêmeas fecundadas) que, no ano seguinte, se tornam as fundadoras de novos ninhos. Na primavera, cada fundadora constrói um novo ninho e desenvolve uma nova colónia que pode chegar a atingir 1800 indivíduos no final do verão.

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Fig.  3 — Exemplar de um ninho de uma colónia de V. velutinas

  • Modo de fecundação: Em geral, o acasalamento é realizado em vôo e prossegue no solo. A fecundação das fêmeas fundadoras da próxima geração tem lugar no final do verão ou no início do outono. As feromonas sexuais produzidas pela fêmea parecem estar envolvidos na atracção dos machos.
  • Composição da dieta alimentar: A componente proteica da dieta da V. velutina é composto por 80% de abelhas, quando em áreas urbanas e 45 a 50% nas zonas rurais. O resto da dieta é composta de lagartas, borboletas, moscas, libélulas e outros insetos. No final da temporada, as V. velutinas são especialmente atraídas por fruta madura (fazem estragos assinaláveis, por exemplo, em vinhas). A sua dieta depende do alimento disponível, do estágio de desenvolvimento da colónia e uma possível concorrência com outros predadores.

Os hidratos de carbono (açucares) e as proteínas são necessários ao desenvolvimento das colónias destes vespões. Os hidratos de carbono necessários para suprir os gasto de energia dos adultos estão sempre presentes na sua dieta. As proteína são necessárias para a criação da sua prole. E, infelizmente para as abelhas e para nós apicultores, uma das principais fontes de proteína desta praga de vespões são as abelhas.

Nota: Julgo que está a chegar a altura do ano para iniciar a caça das vespas fundadoras.  Neste momento sugiro armadilhas com um atraente açucarado . Espero que em breve surjam métodos de combate a esta praga mais efectivos que os actuais. Deposito uma grande esperança no aperfeiçoamento dos cavalos de tróia, uma estratégia que poderá levar a melhores resultados que os até agora alcançados.

o espaço abelha: o que nos dizem as abelhas naturalmente

Quando um enxame de abelhas enxameia e ocupa um buraco numa árvore, numa parede, etc., a primeira tarefa a que se dedica é à construção de um conjunto de favos. Independentemente do local onde os constroem, o espaçamento dos favos apresenta uma grande regularidade: 30 a 32 milímetros entre os centros dos mesmos. Somente nos favos nos lados de fora do ninho surge um espaçamento ligeiramente maior, mas estes são usados ​​quase exclusivamente para o armazenamento de mel ou para a criação de zângãos.

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Fig. 1 — Medição da distância entre os centros de dois favos de abelhas

Os favos que que as abelhas constroem em condições naturais raramente são planos. Os favos são muitas vezes curvados em arcos graciosos e apresentam uniões entre si, o que lhes dá integridade estrutural, para que possam suportar o peso do mel e resistam às altas temperaturas nos dias quentes de verão.

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No que respeita à sua utilização, os favos num ninho natural são multiuso e a postura da rainha surge quase em qualquer lugar, com a possível excepção dos favos externos. Os alvéolos onde antes houve criação são, habitualmente, ocupados com néctar, impedindo a rainha de aí fazer postura imediatamente a seguir, obrigando-a a procurar outros alvéolos. Isto significa que a rainha está constantemente a ser reconduzida para um outro favo, componente importante do comportamento higiénico da colónia.

Por que é que os favos naturais apresentam um espaçamento de 30-32mm entre os seus centros? As medições dos alvéolos preparados para a postura da rainha mostram que eles apresentam 11-12mm de profundidade. As medições mais detalhadas revelam que a profundidade não é uniforme e que a relação entre a largura/profundidade é aproximadamente de 1 / 2 — os alvéolos de diâmetro mais pequeno são alvéolos menos profundos, os alvéolos com um diâmetro maior são mais profundos.

Qual é a razão desta relação? Como sabemos, o alvéolo fica plenamente ocupado nos estágios finais de desenvolvimento da criação e estas são as proporções que se adequam exatamente ao seu ocupante — a pupa ou abelha pré-emergente. Alvéolos com diâmetros menores produzem abelhas mais pequenas. Em conclusão, é a relação largura/profundidade, e não somente a profundidade, que determina se a abelha é um pouco maior ou um pouco menor.

Assumindo que a profundidade média dos alvéolos é de 11,5 milímetros, a largura do favo, com ambos os lados preparados para receber criação, é de 23 milímetros (2 x 11,5 = 23). Se subtrairmos ao espaçamento entre favos (32 mm) estes 23 mm, resulta um espaço excedente de 9 milímetros entre as suas faces opostas (32-23 = 9). Estes 9 mm não acontecem por acaso (Deus não joga aos dados, dizia frequentemente Einstein).  O espaço de 9 mm é exatamente a distância adequada para que as abelhas sejam capazes de trabalhar nas faces opostas de dois favos, de costas umas para as outras, apenas com um ligeiro roçar de asas.

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Ilustração 1 — Duas abelhas de costas uma para a outra a trabalharem nas faces opostas de dois favos

Isto significa que as abelhas nutrizes se podem mover livremente nas duas faces do favo, sem se atropelarem mutuamente, aumentando a eficácia dos seus esforços nos cuidados que prestam à criação. Este espaço de 9 milímetros também é importante para a termorregulação. Esta distância permite que, com apenas duas camadas de abelhas entre os favos, o espaço entre eles fique quase totalmente preenchido e aquecido. Como sabemos em ambientes ou épocas mais frias as abelhas são chamadas a ocupar o espaço entre-favos, onde geram calor e retardam o fluxo convectivo do ar. Um espaçamento entre-favos maior exige mais abelhas ­— mais de duas camadas — para manter a criação quente. Como sabemos as colónias de abelhas são altamente sensíveis a este aspeto. Se aumentarmos o espaço entre favos muito provavelmente será produzida menos criação, particularmente durante o crescimento primaveril da colónia, o que implicará menos abelhas forrageiras disponíveis para os primeiros fluxos de néctar. Este é um aspecto com um grande impacto prático, nomeadamente no que respeita à opção por colocar 9, 10 ou 11 quadros no ninho de uma colmeia (tema a que voltaremos num futuro próximo).

Quando os favos de criação (ou partes deles) são utilizados para o armazenamento de mel no fim do verão (na preparação para o inverno), os alvéolos são estirados com maior profundidade restando um único espaço abelha entre eles (5-6 mm). O mesmo acontece nas alças meleiras. Antes destes alvéolos poderem ser reutilizados para a criação, na primavera seguinte, eles têm de ser aparados para uma profundidade correcta. Nesta época do ano podemos descortinar este comportamento, quando nos apercebemos dos fragmentos de cera sob os pisos em malha de rede ou à entrada da colmeia.

o estatuto de rainha única e o efeito da sua mensagem química (feromona mandibular da rainha) na supressão da criação de novas rainhas e na enxameação

Muitas sociedades de insetos são monogínicas, o que significa que uma única rainha (fêmea fecundada) está presente em cada colónia. Em sociedades pequenas e primitivas a manutenção da dominância de uma determinada rainha é conseguido através da luta e competição física entre elas; em contraste, em grandes colónias monogínicas este tipo domínio não é possível e evoluíram para um sistema mais eficiente de manutenção da dominância de uma só rainha que se baseia em sinais feromonais.

Sabemos que a remoção da rainha de uma colónia de A. Melífera provoca nas abelhas operárias um comportamento específico: constroem alvéolos especiais (realeiras ou mestreiros) para a criação de novas rainhas (Winston, 1992), mas a forma exacta como tudo isto acontece ainda é desconhecida em parte.

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Fig.1 — Realeira operculada em primeiro plano e cálice real num segundo plano

A criação de novas rainhas numa colónia tem dois objectivos principais: a reprodução da colónia através enxameação ou a substituição da rainha quando está velha ou fraca (este fenómeno é conhecido como supersedure), ou morre por algum motivo apícola ou patológico (emergência).

A dispersão por toda a colónia da feromona mandibular da rainha (FMR) suprime tanto a supersedure da rainha como a enxameação (Winston et al., 1989). Vários estudos foram efectuados para nos elucidar acerca dos mecanismos de dispersão da FMR no seio da colónia e sua transferência entre as obreiras. Em 1991 Naumann et al. identificou o grupo de obreiras amas da rainha como as primeiras intervenientes na transferência da feromona da rainha para as outras obreiras. A auto-limpeza (grooming) é o meio através do qual a feromona é transferida das peças bucais e da cabeça para o abdómen das obreiras (Naumann, 1991). A distribuição da FMR parece ser influenciada pelo tamanho da colónia, uma vez que as obreiras na periferia de colónias populosas obtêm uma menor quantidade de feromona do que em ninhos menos populosos (Naumann et al., 1993). Isso explica a razão da enxameação em colónias populosas: o sinal da feromona que comunica “a rainha está presente” tende a diminuir quando a colónia cresce porque a dispersão da feromona é reduzida. As obreiras apercebendo-se de uma menor quantidade de feromona, iniciam a construção de realeiras e a colónia dá inicio ao processo de enxameação e reprodução. Quando a rainha morre ou é removida, o sinal da feromona desaparece completamente e as obreiras são rapidamente estimulados a criar novas rainhas.

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Fig. 2 — Rainha e suas amas

O papel da FMR na supressão do comportamento de criação de novas rainha foi confirmada por vários estudos que mostraram que a administração de FMR sintético em colónias órfãs (ou seja, colónias, sem uma rainha) suprime a produção de realeiras (Pettis et al., 1995), se a administração ocorrer no prazo de 24 horas a partir de perda de rainha. Verificou-se ainda que se e a FMR sintética for aplicada 4 dias após a perda de rainha não é observado nenhum efeito, indicando que a FMR inibe o início da criação das rainhas mas não produz efeitos na maturação de realeiras já estabelecidas (Melathopolous et al., 1996).

Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK200983/

tabuleiro simples para desdobramento/divisão de uma colónia de abelhas

Este tabuleiro é usado pelos apicultores para dividir uma colónia em duas partes, uma inferior e outra superior, que funcionarão de forma independente.

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Fig. 1 — Tabuleiro simples para divisão de uma colónia de abelhas

Este equipamento é utilizados na apicultura desde o final do século 19 e há muitos modelos diferentes. O objectivo básico deste tabuleiro é o de nos permitir isolar uma colónia em duas partes, de modo a que as abelhas não passem de um piso para o outro. Esta característica essencial significa que o tabuleiro tem de incorporar uma entrada própria, que é feita no seu lado superior. A regra usual do espaço abelha deve ser observado tanto no lado inferior como no lado superior do tabuleiro, sendo recomendado que as molduras do mesmo garantam 9mm de espaço entre o plano do tabuleiro e os planos formados pelas duas caixas da colmeia. Para que as abelhas tenham maior facilidade de circulação, pode dar-se um espaço extra, e aumentar até 15 milímetros a altura da moldura no lado superior do tabuleiro. No centro do mesmo deve ser feito um orifício quadrado com 8-10cm de lado que deverá ser tapado de ambos o lados com uma rede com uma malha não superior a 3mm. Este buraco permite dois ganhos fundamentais: por um lado permite que calor gerado pelas abelhas no piso inferior ascenda ao piso superior; por outro lado mantém um odor comum em toda a colmeia o que facilita a reunião do enxame, se necessário for. O tabuleiro de Snelgrove (com suas 8 entradas controláveis) é provavelmente o tabuleiro de divisão mais avançado que conhecemos, mas para um propósito mais simples, como o nosso neste momento, uma única entrada e um só orifício de ventilação é tudo o que é necessário.

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Fig. 2 — Pormenor da entrada no tabuleiro de desdobramentos  (neste caso foram realizadas duas entradas nos dois lados do tabuleiro)

Podemos fazer este tabuleiro a partir de  prancheta normal com algumas modificações muito simples, ou fazê-lo de raiz, desde que esteja de  acordo com as características referidas.

A utilização deste tabuleiro de desdobramentos tem as seguintes vantagens:

  • Para efectuarmos o desdobramento não é necessário um novo assento, ou mais espaço nos assentos existentes;
  • Economiza vários equipamentos, como os estrados e os telhados que são os da colmeia original;
  • O andar superior da divisão é aquecido pelo andar debaixo e, portanto, pode conter menos abelhas;
  • Facilita a re-combinação da colónia, se necessário.

A desvantagem de usar este tipo de tabuleiro é a relativa dificuldade que levanta  à inspecção do andar inferior da colmeia, que não pode ser efectuada sem remover o andar de cima.

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Fig. 3 — Colónia de abelhas dividida por um tabuleiro de desdobramentos

Contudo, na prática o controle da enxameação pode ser mais espaçado dado que dividimos a colónia, o que significa que a parte inferior requer pouca atenção durante 4-6 semanas, desde que tenha espaço suficiente para armazenar o mel. Para este efeito podemos adicionar uma ou mais alças meleiras, no momento da divisão, por debaixo do tabuleiro de desdobramentos.

desdobramento vertical de uma colónia de abelhas

Vou descrever um método simples e orgânico de desdobramento de colmeias que me parece estar ao alcance de todos nós. Nunca o utilizei mas conto passar a utilizá-lo este ano, entre outros métodos, para aumentar o meu efectivo. Fica em baixo a sua descrição para quem desejar experimentá-lo. Se alguém já o experimentou agradeço que nos dê o seu feedback. No final da época dos desdobramentos conto voltar a este tema, com uma avaliação acerca dos seus prós e contras.

O desdobramento vertical descreve a divisão de uma colónia de abelhas em duas — uma fica com a rainha mãe, a outra fica sem rainha, isto é, fica orfã — na mesma colmeia e sob o mesmo teto, com as condições e intenção de permitir que a parte orfã crie uma nova rainha . Se o processo for bem sucedido, acabaremos com duas colónias: a colónia original com a rainha mãe e a nova colónia com a rainha filha. Esta abordagem pode ser utilizada como um meio de prevenção da enxameação, como uma forma de renovar a rainha de uma colónia, ou como um modo fazer duas colónias a partir de uma.

Prancheta modificada

Para efectuar este tipo de desdobramento o apicultor necessita apenas de um equipamento novo, que vou designar “prancheta modificada”.

Para levar a cabo este método, relativamente simples, precisamos de ter uma maneira de dividir a colónia em duas e, ao mesmo tempo, fornecer uma entrada superior à colónia. Há muitas maneiras de fazer isso, como por exemplo através da prancheta multi-entrada de Snelgrove. Neste caso vamos utilizar uma prancheta mais simples, com  uma só entrada, como ilustra a imagem em baixo.

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Fig. 1 — Prancheta modificada

Esta prancheta modificada pode ser feita a partir de uma outra normal, desde que apresente uma moldura dos dois lados com 9-12mm de altura que respeite o “espaço abelha” em ambas as faces. De um lado (o lado “superior “, quando em uso) fazemos uma entrada articulada simples como mostra a imagem . No meio da prancheta vamos abrir um buraco quadrado com 10 cm de lado, tapado de cada um dos lado com uma rede de malha estreita para que as abelhas, e sobretudo a rainha, não a consigam ultrapassar (malha inferior a 3mm). Esta abertura permite que o odor das colónias se funda e, simultaneamente, que o calor se espalhe a partir da caixa inferior para a caixa superior.

Princípio da divisão vertical

A ideia geral é dividir uma colónia forte, saudável e de boa genética em duas e, em simultâneo, manter a sua capacidade produtiva. A colmeia é organizada de modo que a parte superior da divisão, com a rainha mãe, fique relativamente despovoado de abelhas. A maior parte da população deve ficar na parte inferior da colmeia, sem rainha, proporcionando assim as condições ideais para a uma construção de realeiras de emergência de qualidade. Chegado o dia em que as realeiras são seladas/operculadas a colónia é manipulada, uma segunda vez, para transferir as abelhas da parte inferior da colmeia sem rainha,  para a parte superior da colmeia onde se encontra a rainha mãe. Esta manipulação diminui o impulso para a enxameação e não afecta a recolha de néctar que continua sem interrupção se houver um bom fluxo. Tudo isto é conseguido através da manipulação da colónia no sétimo dia após a orfanização. Cerca de 3 semanas mais tarde, e correndo tudo bem, devemos ter uma rainha fecundada no lado orfanizado da colmeia.

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Fig. 2 — Esquema global das duas manipulações a realizar para levar a cabo este desdobramento vertical (dia zero, dia um e dia sete, da esquerda para a direita). 

Legenda do diagrama:

  • A preto: estrado da colmeia
  • A verde: prancheta modificada
  • Listas diagonais a preto: teto ou telhado da colmeia
  • Circulo vermelho: câmara de criação
  • Q: rainha
  • QC: realeiras
  • Seta negra: indica as entradas da colmeia e sua orientação
  • Seta quadrada azul claro: indica o local onde deverão ser colocadas as alças ou meia-alças meleiras
  • Dia zero (à esquerda): podemos efectuar este desdobramento numa colónia só com o ninho, mas também numa colónia com ninho e sobreninho.

A divisão vertical na prática

Só nos interessa criar rainhas a partir de colónias que exibem qualidades desejáveis para nós ​​— bom comportamento higiénico, bom arranque primaveril, boa produção, bom ajustamento da postura às condições locais, bom padrão de postura, baixa propensão para a enxameação, mansidão, entre outros critérios. Destas, eu diria que a higiene, a produção e o ajustamento da postura às condições locais, são características que muito me interessam. A avaliação destas características deve ser feita durante um período prolongado. A elaboração de registos e sua manutenção ao longo de um período alargado de tempo são uma ferramenta crucial para fazer uma melhor seleção das colmeias-mãe, as que mais nos interessam do ponto de vista genético. Como na computação se entra lixo o que sai é lixo. Se a colónia a desdobrar não tem as características desejáveis ​​necessárias existem maneiras de modificar o método descrito abaixo para criar rainhas de melhor genética… mas, neste momento, vamos pressupor que a colmeia a desdobrar apresenta uma genética que nos interessa.

 

Dia 1)

Abrir a colmeia suavemente e, se tiver que fumigar, faça-o com pouco fumo e na horizontal sobre os quadros, não para o interior da colmeia. Como precisa de encontrar a rainha, este maneio aumentará a probabilidade de encontrar a rainha no quadro com ovos do dia.

Encontrada a rainha coloque o quadro onde ela se encontra numa colmeia ou núcleo vazio com a entrada fechada e no centro da caixa, para evitar que ela se perca ou passe para as paredes interiores da mesma.

Se a colónia está instalada numa só caixa (não tem sobreninho) vai precisar de uma segunda caixa e 11 quadros com cera puxada (situação ideal) ou, caso não tenha cera puxada ao seu dispor, utilize quadros com cera moldada.

De seguida reorganiza os quadros nas duas caixas de modo que os quadros com larvas mais velhas e boa parte da criação operculada fiquem na caixa a colocar superiormente, onde colocaremos o quadro com a rainha mãe no centro dos mesmos no espaço que lhe fica reservado, juntamente com um quadro ou dois de provisões, a colocar nas laterais da câmara de criação.

Os quadros com ovos e larvas jovens devem ficar predominantemente na caixa inferior. Esta não é uma ciência exata, mas o princípio que nos orienta é a necessidade de colocarmos criação suficiente na caixa com a rainha mãe para que ela tenha as condições para construir uma nova colónia, e aos mesmo tempo, colocamos ovos em bom número e larvas muito jovens na caixa inferior, a zona orfanizada, para que as abelhas tenham uma boa provisão de ovos e larvas jovens que lhes permitam escolher as melhores à luz dos seus próprios critérios.

A terminar, colocar os quadros com criação no centro da caixa, ladeados por quadros com reservas de pólen e mel e completar a caixa inferior e superior com os novos quadros.

A ideia é criar dois ninhos com criação, um em cima do outro, aproximadamente centrados em relação ao buraco da prancheta modificada, tapado com rede de malha estreita. Coloque a caixa sem rainha sobre o estrado da colmeia original (piso inferior). Coloque a prancheta modificada em cima com a entrada aberta, virada para a direcção oposta ao da entrada original (a entrada da prancheta modificada deve ficar orientada para as costas da colmeia). Coloque a caixa com a rainha mãe em cima da prancheta modificada, em seguida, coloque a prancheta original e o telhado da colmeia.

Deixe a colónia tranquila durante uma semana.

 

O que acontece durante esta semana…

Durante esta semana as abelhas forrageiras saem da caixa do topo e vão entrar através da entrada que lhes é familiar na frente da colônia, e assim aumentam significativamente o número de abelhas na caixa inferior. As abelhas nesta caixa inferior vão perceber rapidamente que estão orfãs e iniciarão a construção das realeiras. A concentração de abelhas na caixa de fundo irá garantir que as larvas nestas realeiras serão bem alimentados e aquecidas. Na caixa superior a rainha mãe, continuará a sua postura de forma ininterrupta.

 

No dia 7

Retira a caixa superior juntamente  com a prancheta modificada para que a rainha não se perca, coloca a caixa superior à parte, roda 180º a caixa inferior de modo a que a entrada no estrado fique agora voltado para as costas da colmeia, em seguida, coloca a caixa superior com a entrada da prancheta modificada agora voltada para a frente da colmeia.

Se desejar inspecionar a colónia, nesta fase deverá encontrar uma rainha feliz em boa postura na caixa superior. Não deverá haver realeiras nesta caixa, a menos que haja alguma coisa errada com a rainha. Encontrará um número relativamente menor de abelhas nesta caixa do topo. Por contraste, a caixa no fundo estará muito mais cheia de abelhas e haverá várias realeiras presentes, umas fechadas outras ainda abertas. Poderá deixá-las a todas… as abelhas vão escolher as melhores oportunamente. Caso não confie na escolha das abelhas poderá destruir as que lhe parecem ter menor qualidade.

 

O que irá acontecer depois do dia 7…

Durante os próximos dias, a caixa inferior vai ficar com menos abelhas que saem pela entrada inferior e regressam para a “frente” da colmeia, onde acabarão por encontrar a entrada superior e reforçarão a caixa superior contendo a rainha em postura. Inicialmente, haverá uma considerável confusão, com centenas de abelhas em torno da entrada inferior original. Por esta razão, deve fazer a manipulação do dia 7 ao início do dia para dar tempo suficiente às abelhas para se reorientarem para a entrada superior. Esta reorientação vai occorer durante um par de dias — não se preocupe por ver muito mais atividade das abelhas em torno das entradas durante este período de tempo.

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Fig. 3 — Abelhas a reorientarem-se para a entrada superior da colmeia após a manipulação do dia 7 (reparar que o apicultor colocou agora a meia-alça meleira no topo da colmeia)

Um determinado número de rainhas virgens deve nascer cerca de 16 dias após a manipulação inicial mas o reduzido números de abelhas actualmente na caixa do fundo irá garantir que a colónia não irá produzir garfos/enxames. Se várias virgens emergirem, ao mesmo tempo, provavelmente vão lutar e ficará apenas uma ou duas, as mais vigorosas e saudáveis. Passados cerca de 5-6 dias , a virgem irá efectuar um ou mais voos de acasalamento, será fecundada e retornará para a caixa inferior onde iniciará a sua postura.

Nesta altura poderá dividir as duas colónias, caso o seu objectivo seja aumentar o efectivo ou, caso não deseje aumentar o efectivo, elimina a velha rainha na caixa superior e reúne as abelhas das duas caixas pacificamente retirando a prancheta modificada.

 

Principais vantagens (em nenhuma ordem particular):

  • não necessitamos de mais espaço horizontal nos nossos assentos;
  • quase nenhum equipamento adicional necessário;
  • a manutenção do odor na colónia permite fazer a reunião das abelhas se for necessário ou o desejarmos;
  • prevenção da enxameação;
  • aumento controlado do nosso efectivo com pouca intervenção;
  • combina a produção de mel com a produção de novas colónias;
  • produção mais natural de rainhas.

As desvantagens:

  • a elevação vertical de caixas é necessário (e podem ser pesadas);
  • se for necessário efectuar alguma inspeção à caixa inferior esta é mais trabalhosa;
  • algumas colónias não criam realeiras na caixa orfanizada.

Inspiração e fonte consultada: http://theapiarist.org/

razões para aprender a fazer desdobramentos/divisões de colónias de abelhas

Desdobrar/dividir uma colónia é uma competência básica que todos os apicultores devem possuir. Contudo, ainda hoje, alguns apicultores dependem exclusivamente dos enxames que apanham para aumentar o número das suas colónias.

Há várias razões para corrigir esta situação, quer ao nível do apicultor individual como ao nível sectorial/nacional. Identifico algumas:

Para o apicultor individual os desdobramentos são a oportunidade para:

  • aumentar o seu número de colónias (e a baixo custo);
  • substituir as perdas ocorridas no inverno;
  • fornecer colónias a outras pessoas — como por exemplo novos apicultores;
  • melhorar as características das suas abelhas — comportamento higiénico e produtividade, entre as mais importante;
  • aumentar o interesse e satisfação com a actividade apícola;
  • aumentar suas habilidades e competências apícolas.

Ao nível sectorial/nacional o desdobramento das melhores colónias justifica-se porque:

  • permite reduzir o número de rainhas que são importados e melhorar as abelhas nacionais localmente adaptadas;
  • a maioria dos problemas atuais na apicultura são o resultado da globalização, isto é, ter abelhas em movimento por todo o mundo;
  • diminui o potencial para introduzir novos problemas no sector apícola nacional, como a introdução de pragas exóticas (por exemplo o escaravelho das colmeias e o Tropilaelaps, ácaro tão ou mais perigoso que a varroa);
  • permite limitar a propagação de novas estirpes de virús com diferentes níveis de patogenicidade.

Ainda que os certificados veterinários tenham que acompanhar as importações legais, estes são uma salvaguarda relativamente limitada. Ainda não há muitos anos, uma importação de rainhas dos EUA, devidamente certificada, introduziu no nosso país o pequeno escaravelho das colmeias (Aethina tumida). Por um princípio de precaução devemos evitar o mais possível a importação de rainhas, ou qualquer outros animais/insectos, de outros países. Será paranóia colocar a possibilidade que aquela bonita rainha que acabámos de importar possa transportar consigo organismos ou microorganismos exóticos do sul de Itália ou do centro da Alemanha?