a expressão do impulso sexual nas abelhas

Walter Wright, conhecido apicultor norte-americano, pai da técnica checkerboarding, faleceu há poucos dias atrás. Como forma de o relembrar, aproveito este momento para divulgar as suas ideias, muito próprias, acerca do fenómeno enxameação. Um dos textos mais provocadores (no sentido de provocar a nossa reflexão) que lhe conheço intitula-se Is it Congestion (fonte http://www.beesource.com/point-of-view/walt-wright/is-it-congestion/) e do qual vou traduzir alguns excertos.

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Walter Wright

“A mentalidade desculpadora é a minha frase para classificar a teoria de que a enxameação é “causada” pelo congestionamento, e de que a grande aglomeração de abelhas limita a distribuição da feromona da rainha. A limitação da distribuição da feromona da rainha é considerada como o ponto de partida na criação de realeiras.  A intenção deste artigo é mostrar que esta teoria da “congestão do ninho” não resiste a uma análise atenta.

Temos visto colónias de enxames que não estão muito congestionadas de abelhas e que enxameiam e, inversamente, colónias muito congestionadas que não enxameiam.  O congestionamento do ninho surge de duas formas. Uma através de uma grande aglomeração de abelha, que é o que associamos frequentemente ao termo. Um segundo tipo de congestionamento é provocado pelo armazenamento de reservas, pólen e mel, no espaço que tinha sido anteriormente usado para a criação. O néctar é usado para reduzir a área disponível para a criação antes de se iniciar a construção de realeiras. Se o néctar não abunda no campo, a colónia, por vezes, usa o pólen para iniciar a redução da câmara de criação.

Existem dois tipos principais de enxames gerados na estação da primavera. O enxame reprodutivo, que é anterior e menor do que o enxame derivado da superlotação de abelhas. Para se construir uma população de abelhas a um nível intolerável demora-se um pouco mais e o enxame é geralmente maior. A literatura não faz distinção entre estes dois tipos de enxames, o que leva a uma confusão quanto à “causa” de ambos. No entanto, as causas são diferentes para cada um deles.

As abelhas não precisam de uma desculpa para se reproduzirem através do único método que têm disponível. A sua motivação para se reproduzirem será tão intenso quanto o impulso sexual entre mamíferos. Duvido que alguém, lendo este artigo, considerou alguma vez ser necessário fabricar uma desculpa, uma razão, ou uma “causa” para seu desejo sexual. Por que temos de inventar uma justificação para o processo reprodutivo da abelha do mel?

Os passos para a enxameação reprodutiva fazem parte de um processo deliberadamente controlado pelas abelhas. A partir do fim do inverno, o acúmulo da população tem uma finalidade específica: a divisão por enxameação reprodutiva. Controles naturais das próprias abelhas e integrados no processo evitam a superpopulação, como a redução da área de criação pelo armazenamento de néctar, que serve vários propósitos, e um deles é evitar a sobrepopulação. Se há uma “causa” para a enxameação de reprodução, a causa é o impulso da colónia para se reproduzir.

Os enxames causados pela superlotação de abelhas também ocorrem. Eles são criados pela intromissão do apicultor. O apicultor que deliberadamente interfere no processo controlado da reprodução pode causar superlotação. Por exemplo, invertendo os corpos da colmeia de forma periódica, o apicultor mantém quase duas caixas cheias de criação. Ele adiciona mais espaço para as abelhas geradas por esta enorme quantidade de criação. Contudo as abelhas foram privados de seu controle natural de redução da área de criação. Vemos a enxameação por superlotação como um mecanismo de defesa para proteger a sobrevivência da colónia existente.

Em resumo, com estes dois tipos de congestionamento e estes dois tipos de enxameação, a teoria da “enxameação por congestão”, avançada na literatura, não se aplica a todas as circunstâncias. Podemos dizer com segurança que a enxameação por superlotação é “causada” pelo congestionamento, mas a origem está no mau maneio do apicultor. Ela termina aí.

Nenhum tipo de congestionamento está na “causa” da enxameação reprodutiva. Precisamos  de reconhecer que enxameiam simplesmente pelo que é: um esforço deliberado para perpetuar a espécie. Sem outras desculpas.

Os traços de sobrevivência discutidos desviam-se consideravelmente da sabedoria convencional. Eles são o resultado das minhas observações pessoais. É da natureza humana rejeitar qualquer conceito que difere do que nós pensamos e que julgamos ser verdadeiro. A aceitação do que vejo acontecer numa colmeia será difícil, se não impossível, para alguns, com uma forte convicção do contrário.”

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Gostava de saber se me pode esclarecer umas dúvidas em relação à renovação que faz dos quadros de ninho.
Quando começa a fazer essa renovação logo em Fevereiro e prolonga-se por quanto tempo? Ou a renovação é feita o mais rápido possível? Tira 3Q por ninho, que serão aqueles mais antigos com ceras mais escuras certo? E que ainda não tenham criação da rainha, logo terão que estar mais nas laterais da colmeia certo? Nos quadros que pretende renovar mas que ainda tenham mel e pólen também os tira? E que faz com eles?” João Oliveira

Procurando responder às questões do João Oliveira, começo pela primeira.

A renovação dos quadros de cera nos ninhos é uma das tarefas mais importantes do apicultor. Para que o seu trabalho seja efetivo necessita de ter em atenção dois pré-requisitos fundamentais: o timing em que deve fazê-lo e a qualidade da cera laminada.

Relativamente ao timing, a colocação dos primeiros quadros de cera laminada no ninho varia de zona para zona e de ano para ano. Devemos olhar para as colmeias e observar o que as abelhas nos dizem. A cera nova branca é o sinal. Quando as abelhas começam a fazer cera nova nos rebordos dos quadros e /ou nas pranchetas está na altura de iniciarmos a renovação de quadros de cera no ninho.

 

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Fig. 1 — Cera branca nas colmeias

Em geral este período de produção de ceras novas está associado aos seguintes factores:

  • fluxo razoável a bom de néctar;
  • temperaturas máximas acima dos 16-18º C e abaixo dos 26-28ºC;
  • bons níveis de humidade no ar atmosférico;
  • expansão assinalável da criação no ninho/rainha vigorosa.

Nos meus apiários na beira alta começo a renovar as ceras nos ninhos entre meados de março e meados de maio. Na beira litoral começo a renovar a cera, em regra, a partir de meados de janeiro, sendo que aqui os timings são mais oscilantes.

Relativamente à segunda parte da primeira questão “por quanto tempo” são também as abelhas a responder. Por norma nos apiários da beira alta as abelhas puxam muito bem a cera nos meses primaveris, até à entrada de junho, e isto nos apiários localizados nas terras mais baixas. Nos apiários localizados nas terras mais altas puxam muito bem a cera a partir de meados de maio e até finais de julho. Nos apiários da beira litoral a partir do início de abril praticamente deixam de puxar a cera.

Na minha opinião as abelhas deixam de puxar a cera quando os factores atrás referidos deixam de coexistir. Dito de outra forma, cada factor per si não é suficiente para estimular a produção de cera nova.

João as restantes questões não ficaram esquecidas.

efeitos colaterais adversos de alguns acaricidas

Para dar substância a uma afirmação em que escrevi “os tratamentos orgânicos não serão os bons assim como os tratamentos sintéticos não serão os maus. Todos os tratamentos, sintéticos ou orgânicos, são bons desde que cumpram o objectivo da sua utilização…” importa conhecer os vários ângulos desta problemática em torno dos acaricidas utilizados na apicultura.

O apicultor deve ser capaz de fazer informada e conscientemente as suas opções, deve evitar opções maniqueístas, e maximizar a oportunidade de utilizar um leque alargado de possibilidades para tratar as suas colmeias. Neste momento o que sabemos seguramente é que todas as opções têm efeitos colaterais, uns são dum tipo, outros são de outro. Não há opções ideais, quando muito apenas há boas opções.

“Os tratamentos contra a varroa utilizam-se generalizadamente em toda a UE e nos EUA para controlar esta praga nas abelhas. Como parte da avaliação de tais tratamentos são determinados os seus efeitos em colónias de abelhas. O timol é o óleo essencial mais tóxico usado no controle varroa, com uma DL50 do óleo aplicado diretamente sobre larvas de 150 μg/abelha e em adultos 210 μg/ abelha, ao passo que a toxicidade de mentol para larvas foi 383 μg/abelha e em adultos 524 μg/abelha (Gashout et al. 2009). Relativamente ao apiguard (acaricida com uma base de timol) foram observados efeitos como uma elevada mortalidade em larvas jovens (0-3 dias de idade) em colónias tratadas, com sobrevivência de 74-87%, comparada com 90- 95% verificada nos controles (Mattila et al. 2000). No entanto, estes níveis de mortalidade da criação não resultaram em relatos generalizados de menor sobrevivência das colónias após o uso o que sugere que existem capacidade nas colónias para compensar essas perdas na criação. Duff e Frugala (1992) avaliaram os efeitos do mentol e fluvalinato em colónias sem de ácaros para determinar impactos sobre a criação, aceitação rainha, sobrevivência da rainha e produtividade da colónia. A toxicidade da tau-fluvalinato em larvas é de 192 μg/ abelha e toxicidade para as abelhas obreiras adultas é 194 μg/ abelha (Gashout et al 2009). A área ocupada pela criação nas colónias tratadas com mentol era significativamente mais baixa, e foi observada um efeito de repelência na zona de tratamento. Embora a aceitação e sobrevivência de rainhas não tenham sido significativamente diferentes a perda de rainhas só ocorreu nas colónias tratadas (22% em colónias tratadas com o fluvalinato e 33% em colónias tratadas com mentol). A perda de rainhas tinha sido documentada pelos autores num estudo anterior com mentol. Westcott e Winston (1999) investigaram os efeitos dos acaricidas fluvalinato e ácido fórmico no crescimento da população, a longevidade das obreiras e a atividade de forrageamento. Acerca do ácido fórmico, amplamente usado no controlo da varroa,  é bem conhecido os seus efeitos associados a elevados níveis de mortalidade da criação. Eles demonstraram que o ácido fórmico diminuiu a área da criação operculada em 25%, comparado com o controle, e causou alguma perda da criação, enquanto esses efeitos não foram observado com o fluvalinato.”

Fonte: http://fera.co.uk/news/resources/documents/chem-reportPS2367.pdf

Notas:

  1. o fluvalinato ou o tau-fluvalinato é o princípio activo presente no Apistan.
  2. DL50 é a dose necessária de uma dada substância ou tipo de radiação para matar 50% de uma população em teste.
  3. μg (micro-grama) é um milhão de vezes menor que 1 grama.

 

quantas lâminas de cera vou necessitar

Um dos erros frequentes dos apicultores, sobretudo dos menos experientes, é não fazerem uma previsão e aquisição atempada de material e equipamentos necessários ter mais à mão. Quando a velocidade das diversas operações no apiário passa do ponto morto, ou de uma primeira velocidade, para a 5ª ou 6ª velocidade, e muitas vezes em menos de três semanas (o que acontece habitualmente no final do inverno/início da primavera), ter o material e os equipamentos preparados ou disponíveis, traz um ganho de tempo assinalável na prontidão da resposta e na execução da mesma. Importa ter sempre presente que todo o apicultor que deseja ser efetivo no seu maneio deve estar uma meia-alça à frente das abelhas.

Vem isto a propósito de uma chamada que o meu fornecedor habitual de cera me fez nesta manhã, a pedir-me que fizesse a reserva de cera laminada para as minhas necessidades de 2016. A cera laminada é um produto de primeiríssima necessidade para o exercício de uma série de operações apícolas da maior importância.

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Fig. 1 — Cera laminada pronta a colocar em quadros de colmeia

Importa-me agora, no entanto, mais que descrever e qualificar  a utilização de cera laminada nova, quantificar as suas necessidades. Esta quantificação permite-nos adquirir a cera laminada, presumivelmente necessária, em tempo útil. Apresento os meus cálculos, e mais importante a forma de os fazer. Assim, todos os que os entenderem como adequados, poderão ajustá-los à sua dimensão apícola.  Naturalmente, não me arrogando dono da verdade, estou humildemente disposto a que, através dos comentários que acharem por bem fazer, melhorar e rectificar o que haja a rectificar nestes cálculos.

1.Partindo do meu cenário com 500 colmeias, vou identificando as etapas e os factores dos meus cálculos. Inicio pelo cálculo das necessidades de cera laminada para os ninhos das 500 colmeias:

1.1. — renovar em média 3 quadros do ninho de cada colmeia: 500 x 3 = 1500. Necessito de ter 1500 lâminas de cera para os ninhos;

1.2. — em média 12 ceras laminadas (quadros Langstroth e Lusitanos) pesam cerca de 1Kg: 1500/12 = 125 Kg. Necessito de 125 kg de cera laminada para suprir as necessidades de cera nos ninhos das minhas colmeias.

  1. Cálculo das necessidades de cera laminada para as meia-alças meleiras, tendo em conta que tenho cerca de 300 meias-alças armazenadas com cera puxada:

2.1 — colocar em média 1,5 meia-alças por colmeia e por fluxo de néctar: 750 meia-alças a que subtraio as 300, resulta que vou ter que laminar 450 meia-alças;

2.2. — estimo necessitar de laminar cerca de 200 meias-alças Langstroth. Cada meia-alça leva 8,5 quadros (algumas meias-alças são de 9 quadros e outras são de 8). Necessito laminar 200 x 8,5 = 1700 quadros de meia-alça Langstroth. Em média 24 lâminas de meia-alça Langstroth pesam cerca de 0,9 Kg. Para suprir as minhas necessidades de cera laminada para as minhas meia-alças Langstroth necessito de cerca de 65 Kgs de cera (1700/24 x 0,9 = 63,75 Kgs);

2.3. — Estimo necessitar de laminar cerca de 250 meias-alças Lusitana. Cada meia-alça leva 8,5 quadros (algumas meias-alças são de 9 quadros e outras são de 8). Necessito laminar 250 x 8,5 = 2125 quadros de meia-alça Lusitana. Em média 24 lâminas de meia-alça Lusitana pesam cerca de 0,75 Kg. Para suprir as minhas necessidades de cera laminada para as minhas meia-alças Lusitana necessito de cerca de 65 Kgs de cera (2125/24 x 0,75 = 66,40 Kgs).

No fim destes cálculos quero realçar o óbvio: são cálculos aproximados, são os da minha realidade e são feitos tendo em conta o peso específico das lâminas de cera que vou adquirir. Em relação a este último ponto, nunca é de mais enfatizar, que dependendo do fabricante/moldador de cera, o número de lâminas por Kg pode variar um pouco.

A terminar desejo a todos que consigam adquirir cera de qualidade, que sendo de qualidade ajuda o trabalho das nossas abelhas.

ciclo reprodutivo do ácaro varroa nos alvéolos de obreira (versão simplificada)

1) Ovo posto pela rainha no fundo do alvéolo 

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O alvéolo está aberto.

2) 8 dias depois de o ovo ter sido posto (5º dia do estádio larvar) 

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Uma varroa fêmea fecundada entra no alvéolo 15 horas antes deste ser operculado.

3) 9 dias depois de o ovo ter sido posto

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O alvéolo é operculado, a varroa fêmea fecundada fica fechada no interior e alimenta-se da hemolinfa da larva.

4) 11 dias depois de o ovo ter sido posto

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A varroa fêmea põe um ovos a cada 30 horas: o primeiro é de um macho e os seguintes são de fêmeas.

5) 20 dias depois de o ovo ter sido posto

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A varroa mãe continua a por ovos a cada 30 horas. Logo que atingem a maturidade sexual (5 a 6 dias) as varroa filhas são fecundadas pelo macho no interior do alvéolo.

6) 21 dias depois de o ovo ter sido posto

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A jovem abelha sai do opérculo carregando 2 varroas fecundadas. As varroas fêmeas imaturas e a varroa macho morrem no interior do opérculo.

tratamentos

Abro esta nova categoria intitulada tratamentos. A que tratamentos me estou a referir?

Sabemos que, no nosso país, os tratamentos que estamos autorizados a aplicar nas nossas colmeias são acaricidas, com vista a controlar os níveis do ácaro varroa. Por exemplo nos EUA, China e outros países, é permitido e até aconselhado o uso de antibióticos no tratamento da loque americana ou da loque europeia.  Como por cá não são permitidos tratamentos para as outras doenças das abelhas, esta categoria será dedicada quase inevitavelmente aos acaricidas.

Ao apicultor de hoje, como disse anteriormente, é tão importante conhecer a biologia da varroa como a biologia da abelha melífera. No seguimento deste raciocínio é igualmente fundamental estar bem fornecido de informação clara, credível e válida acerca dos vários tratamentos disponíveis. Importa que cada um de nós  esteja especialmente bem informado dos acaricidas que fazem parte da lista dos tratamentos homologados pela DGAV, onde se agrupam 4 acaricidas de natureza sintética e 5 de natureza orgânica. Uma lista muito equilibrada, que satisfaz as diversas opções dos apicultores e garante, ao mesmo tempo, a possibilidade de fazer a rotação de princípios activos sempre que o desejar ou necessitar.

Este blog pretende fazer uma abordagem actual, eclética e fundamentada dos diversos assuntos relacionados com as abelhas, assim como da relação que o homem tem com elas no exercício das suas actividades apícolas. Também nesta categoria os princípios não poderiam ser outros. Aqui não haverá, da minha parte, lugar para categorizações ideológicas, e frequentemente mal fundamentadas, dos tratamentos: os tratamentos orgânicos não serão os bons assim como os tratamentos sintéticos não serão os maus. Todos os tratamentos, sintéticos ou orgânicos, são bons desde que cumpram o objectivo da sua utilização: manter as varroas em níveis toleráveis, sem impacto económico significativo no desenrolar da actividade apícola e que, ao mesmo tempo, garantam produtos da colmeia dentro das normas estabelecidas pelos especialistas do comité europeu de produtos médico-veterinários.

Decorrendo desta perspectiva também não considero que haja mel bom e mel menos bom, mais sendo esta classificação feita com base nos tratamentos utilizados. Todo o mel puro é bom até prova em contrário. Para se fazer essa prova, existem análises credíveis feitas por laboratórios credenciados aos lotes de um determinado ano e da produção de um determinado apicultor. Todas as classificações do mel que não sejam suportadas por estas análises são especulações, ingénuas a maioria, com agendas ocultas algumas outras.

Lembro, a terminar, que os apicultores ligados a uma associação apícola podem em geral (julgo que há algumas excepções) aceder aos acarícidas homologados com preços fortemente co-financiados. Não nos devemos esquecer ainda que o tratamento da varroose é obrigatória no nosso país. Apelo a todos os que me lerem que tratem atempada e eficazmente a varroa para que não percam as suas colmeias e não contribuam para a infestação dos apiários vizinhos.

efeito do número e distribuição dos enxertos de criação de rainhas na qualidade e quantidade de rainhas criadas nas colmeias criadeiras

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Fig. 1 — Quadro preparado para 63 enxertos no total, com três barras de 21 cúpulas cada uma

“O efeito do número enxertos com larvas introduzidas (15, 24, 48, 66), do nível da barra de suporte das cúpulas (barra superior, barra do meio, barra inferior) e da posição das cúpulas com larvas no quadro com os enxertos (no meio ou na periferia) na percentagem das realeiras seladas e no nascimento de rainhas, no seu tempo de desenvolvimento, e no peso das rainhas recém-nascidas, foram observados durante as estações da primavera e do verão.

Os resultados indicam que a percentagem de realeiras seladas foi afectada pelo número de enxertos introduzido, mas não pelo nível da barra no quadro ou pela posição das cúpulas no quadro com os enxertos, durante as duas estações. A percentagem de rainhas nascidas na primavera foi afectada de forma significativa pelos três factores, mas no verão apenas foi verificado impacto em função do número do enxertos introduzidos. Também, quer o tempo de desenvolvimento quer o peso das rainhas recém-nascidas foi afectado pelos três factores.

A qualidade das rainhas, baseada no peso das mesmas, foi também avaliado. Na primavera quando foram introduzidas 15 cúpulas com enxertos só apareceram rainhas pesadas (190-200mg), mas a percentagem destas rainhas pesadas foi mais baixa quando foram introduzidas 24 ou 48 cúpulas com enxertos, e estas rainhas pesadas desapareceram completamente com a introdução de 66 cúpulas de enxertos. As rainhas que nasceram em cúpulas localizadas no travessão do meio e no meio de cada um dos travessões apresentaram uma frequência maior de rainhas mais pesadas quando comparadas com aquelas criadas no travessão superior ou inferior e localizadas na periferia dos travessões.”

fonte: http://www.jas.org.pl/Quality-and-quantity-of-honeybee-queens-as-affected-by-the-number-and-distribution-of-queen-cells-within-queen-rearing-colonies,0,249.html

Nota: ver posts relacionados aqui e aqui

categoria desdobramentos porquê

O objectivo desta nova categoria é dar aos leitores do blog informação acerca desta componente tão importante da atividade apícola. Os desdobramentos são uma ferramenta crucial para todo o apicultor que pretenda tornar-se auto suficiente, quer para aquele que através da criação de novas colónias visa aumentar o seu efectivo apícola, quer para aquele que através da substituição de colónias perdidas procura manter um número estável das mesmas de ano para ano.  Muitos dos métodos que aqui serão descritos não estão projetados para a criação de rainhas em grande escala. Na opinião de Gilles Fert, todos os apicultores que não necessitam de produzir mais de 200 rainhas por ano, podem/devem adoptar estes métodos simples, mais orgânicos, com menos necessidade mão de obra, menor necessidade de equipamento especializado e menos exigentes do ponto de vista da calendarização das atividades. Seguramente, e aceitando esta baliza das 200 rainhas/ano proposta por este experimentado criador de rainhas, este é o cenário que enquadra as necessidades de uma larga maioria dos apicultores portugueses.

A minha intenção não passa tanto por fornecer receitas acabadas per si para efectuar os desdobramentos, que são muitas e diversificadas. Procurarei dar um enfoque enquadrador dos princípios subjacentes nos quais os métodos e técnicas dos desdobramentos assentam. A biologia da abelha, ao nível individual, e os comportamentos sociais das abelhas, ao nível colectivo, serão as pedras basilares que nos permitirão explicar, compreender, atuar e até inovar. Por forma a que as nossas intervenções alcancem o sucesso pretendido, de acordo com os objectivos e capacidades de cada um. Se os princípios forem compreendidos, os apicultores podem adaptar os detalhes para os fazer coincidir e ajustar a uma ampla gama de situações, entre as quais destaco: os recursos (as colónias que estão disponíveis), o montante do aumento/recuperação necessário, a época do ano e os equipamentos disponíveis. Também deve ser levado em conta o grau de controle/prevenção da enxameação, um prémio a juntar à necessidade de efetuar os desdobramentos.  A minha experiência tem demonstrado que a utilização de métodos de desdobramentos que são muito semelhantes ao comportamento natural de uma colónia de abelhas tem muitas vantagens práticas, e com taxas de sucesso muito gratificantes.

Não quero deixar de ligar também esta prática de auto sustentabilidade ao efeito benéfico, na minha opinião, de produzirmos rainhas mais adaptadas ao local e em condições sanitárias mais controladas. O resultado de introduções de raças não-nativas provoca um certo grau de “mestiçagem” (introgressão genética) nas abelhas adaptadas localmente. Se esta condição tende a persistir ao longo de várias gerações, pode significar que os genes envolvidos conferiram algumas vantagens adaptativas. Contudo, muitas vezes esta vantagem não ocorre: estes cruzamentos perturbam e introduzem no “pool” genético características não-adaptativas, provocadas pela dispersão de zângãos não autóctones, criando ondulações genéticas, que podem significar um passo atrás no tempo. Naturalmente estas ondulações genéticas não adaptativas serão resolvidas pela seleção natural, mas demoram o seu tempo e têm os seus custos, que como sabemos não ficam a só a cargo do próprio mas também dos apicultores vizinhos. Por outro lado, e do ponto de vista sanitário, sabemos que as viroses não são todas iguais no que respeita à sua virulência. Os desdobramentos de abelhas locais funcionam como uma barreira à introdução de estirpes de vírus mais virulentos, que poderão ser veiculados pelas rainhas e abelhas amas aquando das importações das mesmas.

Sem querer cair no demagógico e estafado slogan “o que é nacional é bom” não quero também deixar-me iludir-me pelas promessas “o que é estrangeiro é melhor”. Outros pensarão de forma diferente, e terão os seus argumentos. Melhorar o que é nosso é a minha proposta de fundo.

pobres rainhas de emergência

Entre os apicultores está mais ou menos generalizada  a opinião de que as rainhas de emergência são rainhas de qualidade inferior, portanto a evitar. Associada a esta opinião, e decorrendo em grande medida da mesma, acredita-se que o translarve, ou a criação de rainhas pelo método Doolittle, produz rainhas de qualidade superior. Uma das razões mais vezes lida e ouvida, que dá suporte a esta ideia, é a de que o translarve é feito com larvas com a idade adequada: larvas com não mais que 48 h de idade. Por contraste, afirma-se que as rainhas de emergência são produzidas a partir de larvas com várias idades, podendo até ultrapassar as 72 horas de idade. Será mesmo assim ou não passará de uma ideia feita? Fazendo a pergunta de uma outra forma: até que ponto estas ideias são confirmadas por estudos controlados, com métodos bem definidos, replicáveis e com avaliações mais finamente calibradas?

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Fig. 1 — Quadros com cúpulas preparados para efectuar o translarve

Numa experiência em que 8 colónias foram orfanadas por forma a construírem realeiras de emergências constatou-se que:

  • as abelhas iniciaram a construção da maioria das realeiras até 24h depois da orfanação ocorrer e nenhuma realeira foi construída após 3 dias a contar do dia da orfanação;
  • foram criadas realeiras a partir de todas as idade de ovos (1, 2 e 3 dias) e de larvas com não mais de dois dias a contar do dia da orfanação;
  • a maioria das rainhas foram criadas a partir de indivíduos que eram ovos  no dia da orfanação (69,2%) e cerca de metade destes eram ovos de 48-72 horas de idade (34,1 %);
  • 37,0% das realeiras construídas em torno de ovos  com 0-24 h de idade e mais do que metade (61,1%) das realeiras começadas em torno de larvas de 24-48 h de idade foram destruídas pelas abelhas antes das rainhas nascerem;
  • rainhas criadas a partir de ovos com 48-72 h eram significativamente mais pesadas do que rainhas criadas a partir de larvas com 0-24 h ou larvas de 24-48 h de idade;
  • rainhas criadas a partir de ovos de 48-72 h de idade tinham o tórax significativamente maior do que as rainhas criadas a partir de ovos com 24-48 h idade ou a partir de larvas de 0-24 h de idade;
  • finalmente, não se verificou nenhuma relação significativa entre o peso da rainha e o número de ovaríolos.

Fonte consultada: Worker regulation of emergency queen rearing in honey bee colonies and the resultant variation in queen quality

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Fig. 2 — Quadro com várias realeiras de emergência

Podemos concluir, com alguma segurança, que as rainhas de emergência, por regra, têm o mesmo número de ovaríolos (condição crítica para o seu bom desempenho) e produzem colónias com o mesmo nível de desempenho, ou melhor, que as rainhas criadas com o método de translarve. Tudo o que é necessário para produzir rainhas de emergência bem desenvolvidas é que a colónia em que estas são criadas disponha de recursos adequados de abelhas, particularmente abelhas novas em boa quantidade, ovos e larvas de todas as idades e boas reservas alimentares. Nestas condições, as abelhas criam rainhas tão bem ou até melhor que qualquer bom criador de rainhas que utiliza o método de translarve.

factores causadores das perdas invernais de colónias de abelhas

 

Os factores causadores das perdas invernais são múltiplos. Importa ao apicultor estar consciente dos mesmos, para compreender os riscos e, sobretudo, para tomar ações preventivas com o objectivo de os minimizar ou até eliminar. Passemos à sua identificação:

1­ — Níveis do ácaro da varroa: taxas elevadas de infestação estão associados às perdas invernais, de acordo com inquéritos/avaliações de larga escala levados a cabo na Europa e EUA (1);

2 — Infecções causadas por vírus: o vírus das asas deformadas, o vírus da paralisia aguda israelita e o vírus da paralisia aguda, transmitidos pela varroa, estão entre os mais comuns (2);

3 — O tipo genético da colónia: colónias lideradas por rainhas locais (no nosso caso rainhas do ecotipo iberiensis) sobrevivem em média mais 83 dias que colónias lideradas por rainhas de ecotipos/raças estrangeiras (3);

4 — A dimensão da colónia e suas reservas: colónias maiores utilizam as suas reservas de alimento mais eficientemente, isto é, o consumo per capita é menor em colónias maiores que o verificado em colónias menores (4);

5 — Exposição das abelhas a pesticidas: os pesticidas estão associados a efeitos sub-letais perniciosos, nomeadamente redução da longevidade, disfunção das funções imunitárias, aprendizagem e memória, orientação e coordenação motora (5).

 

  • (1) Le Conte Y, Ellis M, Ritter W: Varroa mites and honey bee health: can Varroa explain part of the colony losses? Apidologie 2010, 41:353-363.
  • (2)Genersch E, Ohe W, Kaatz H, Schroeder A, Otten C, Bu ̈ chler R, Berg S, Ritter W, Mu ̈ hlen W, Gisder S et al.: The German bee monitoring project: a long term study to understand periodically high winter losses of honey bee colonies. Apidologie 2010, 41:332-352.
  • (3) Buchler R, Costa C, Hatjina F, Andonov S, Meixner MD, Le
 Conte Y, Uzunov A, Berg S, Bienkowska M, Bouga M et al.: The influence of genetic origin and its interaction with environmental effects on the survival of Apis mellifera L. colonies in Europe. J Apic Res 2014, 53:205-214.
  • (4)Free JB, Racey PA: The effect of the size of honeybee colonies on food consumption, brood rearing and the longevity of the bees during winter. Ent Exp Appl 1968, 11:241-249.
  • (5) Desneux N, Decourtye A, Delpuech JM: The sublethal effects of pesticides on beneficial arthropods. Annu Rev Entomol 2007, 52:81-106.