Soube ontem que um apicultor veterano da nossa praça, resolveu destratar-me nas minhas costas chamando-me depreciativamente de apicultor “catedrático”. Não fico admirado que alguns não gostem de mim, vivo bem com o desamor/ódio de alguns. Nunca procurei agradar a ninguém. E apesar disso (ou por isso) agrado a muitos mais. Vamos aos factos.
Sei de fonte muito segura, através das estatísticas do WordPress, o servidor que abriga este blog, que as minhas publicações são vistas, em média, por cerca 10 mil leitores todos os meses (destes, 70% são leitores frequentes). Os leitores atentos já perceberam há muito que não sou de dar receitas. Que não sou de ter certezas. Que procuro sempre circunstanciar as minhas observações aos meus apiários, no seu território. Que tenho uma aversão a proclamar verdades universais e absolutas. Que apenas me atrevo a dizer o que faço, porque o faço, e que resultados obtenho. Alguns leitores, que vão escrevendo no espaço dos comentários, dizem-me que algumas das minhas opções também têm resultado quando as ensaiam nos seus apiários. Alguns mais corajosos, digo eu, têm inclusive dado os seus testemunhos que aqui tenho publicado com muito gosto. É este respeito que tenho conquistado entre os mais novos, mas inclusivamente entre os “mestres” da nossa praça, ainda que não o admitam (nunca o admitirão, eu sei).
Se estas publicações fossem de um arrogantezinho catedrático, que publica um conjunto de tretas sem adesão com a realidade, então 10 mil leitores/mês seriam uns néscios. Mas não, não o são! São pessoas como eu, apaixonados pelas abelhas e com mais dúvidas informadas que com certezas cegas, à procura de um caminho para fazer melhor e com o espírito aberto.
Se sou um “catedrático”, sou um catedrático com muitas dúvidas, que sustenta o que diz e faz no que observa e que, quando não é possível observar, vai e lê o que observam os investigadores em experiências devidamente controladas. Se sou um catedrático é porque tenho aversão a afirmações peremptórias fruto de “achismos”, porque tenho uma atitude de cepticismo informado e sou muito mal-disposto com os vendilhões de ilusões, que não fazem a arte avançar, apenas procuram o lucro com os incautos ao virar de cada esquina. Para estes não tenho complacência, daí não gostarem de mim nem das minhas intervenções.
O mais belo e eterno livro escrito em língua portuguesa, os Lusíadas, termina os seus dez cantos com a palavra “inveja”. Das poucas certezas que tenho, sei que quem me apelida de catedrático sofre do pior mal que acomete frequentemente alguns portugueses, o mal de inveja.
Hoje fiz 300 km de urgência e andei a fazer o meu trabalho, sem o adiar para um dia em que já é tarde demais. Andei a colocar pedras sobre os tectos das colmeias para não levantarem voo com as rajadas de vento que se prevêem nos próximos dias. Hoje, uma vez mais sujei as mãos, transpirei, fiz o que tinha que fazer para conseguir o que poucos conseguem no nosso país: viver exclusivamente das abelhas (e ainda ter algum tempo para outras coisas, como ir escrevendo uma linhas neste blog).
Ah, e sou pouco dado a um outro mal, que me parece demasiado frequente nas nossas gentes, e que o meu querido filho tão certeiramente apelidou de “ofendidismo”. Como não me dou a esses achaques, não vou deixar de publicar e comentar o que desejar e me apetecer. E que outros “catedráticos” apareçam a descrever o seu trabalho no campo e as leituras e os conhecimentos actualizados que vão adquirindo. Que falta fazem!
