os mais visitados em 2017

Quase a terminar o segundo ano de existência deste blog, faço novamente um pequeno balanço. Neste ano publiquei 74 posts (211 no total dos dois anos). Entre outras finalidades, este blog tem-me servido para ir armazenando informação, articular a mesma e definir algumas propostas de fundo para a gestão das minhas famílias de abelhas.

Em baixo deixo a listagem dos 10 posts mais visitados até à data:

A terminar agradeço a todos os companheiros/leitores que me têm estimulado a continuar desde o primeiro momento. Durante este segundo ano tive cerca do dobro de visitas que as atingidas durante o primeiro ano. Pessoalmente leio estes números como um incentivo a continuar. Não quero terminar sem antes desejar a todos um ano apícola bem mais doce que o anterior.

Nota: aos interessados encontram aqui os posts mais visitados durante o primeiro ano.

invernar colónias de abelhas: oscilações no ambiente interno das colmeias e seus efeitos

Neste vídeo Rudi Peters, apicultor norte-americano, apresenta um conjunto de dados e conclusões acerca dos efeitos de certas opções para invernar colónias de abelhas. O autor aborda o efeito negativo das oscilações no ambiente interno da colmeia, a vantagem de ter colmeias com bom isolamento e as desvantagens de entradas superiores na colmeia. Sendo dados de uma realidade climatérica diferente da nossa, com abelhas de outro ecotipo, as conclusões aqui apresentadas, ainda assim, podem fazer sentido para alguns de nós que invernam colmeias em zonas com oscilações frequentes de temperatura, como é o meu caso.

Aspectos que destaco:

  •  as colónias que melhor conseguem manter a estabilidade/consistência das condições do seu meio ambiente interno têm mais hipótese de sobreviver;
  • nas zonas com muitas oscilações de temperatura durante o dia  as abelhas têm maior dificuldade na manutenção da estabilidade/consistência das condições do seu meio ambiente interno;
  • cachos de abelhas que se expandem por efeito de algum calor exterior (efeito termogénico dos raios de sol) podem perder um número apreciável de abelhas se estas ficarem subitamente isoladas do cacho principal por um brusco abaixamento da temperatura;
  • com oscilações de temperaturas diurnas superiores a 10º (Celsius? ou Fahrenheit? não fica claro para mim) as abelhas podem começar a morrer nas zonas das camadas exteriores por isolamento;
  • colmeias melhor isoladas diminuem a frequência de oscilações de temperatura no ambiente interior;
  • o apicultor pode minimizar este fenómeno melhorando o isolamento das colmeias, em especial nas suas zonas superiores (tecto e pranchetas no nosso caso);
  • por outro lado um melhor isolamento diminui a condensação do vapor de água no interior da colmeia;
  • a causa de mortalidade de colónias é a condensação (gotas de águas) não a humidade (vapor de água);
  • colmeias com entradas superiores obrigam as abelhas a mais trabalho e a um consumo de energia maior que as colmeias só com entrada inferior;
  • colmeias com apenas entrada inferior apresentam maior humidade mas baixa condensação se estiverem bem isoladas no topo;
  • colmeias sem entrada superior e bem isoladas apresentam mais 3 a 4 quadros com criação à entrada da primavera;
  • no início do inverno as colmeias com entrada superior consomem mais (maior necessidade de energia para manterem o clima interno estável);
  • no final do inverno as colmeias com apenas entrada inferior consomem mais porque têm mais criação que as colmeias com entrada superior;
  • as colmeias de Rudi Peter têm uma entrada inferior com 5cm de largura; têm estrado com rede mas fechado; não estão directamente no chão (diz que é um apicultor e não um produtor de cogumelos);
  • Rudi Peters tira o isolamento quando os dias começam a aquecer para que o calor do sol (efeito termogénico) contribua para o aquecimento do ambiente interno e estimule o aumento de postura da rainha.

Como conclusão geral retiro que não é o frio e/ou a humidade que colocam as abelhas em perigo no período da invernagem. O verdadeiro inimigo está nas oscilações bruscas de temperatura no ambiente interno da colmeia que originam dois fenómenos com impacto negativo: o isolamento de abelhas e o consequente coma térmico; a condensação do vapor de água existente no interior da colmeia em contacto com superfícies frias. Colmeias melhor isoladas ajudam as nossas abelhas e para o conseguir o apicultor tem aos seu dispor alguma variedade de equipamentos no mercado de produtos apícolas. Cabe a cada um fazer as escolhas.

eu faço assim: criação de abelhas rainha

Por José Marques:

Peço que abra, a todos os seguidores, um portal ” EU FAÇO ASSIM” :
– Selecçiono uma colmeia do apiário. Retiro a rainha, um quadro com criação tapada e outro de provisões, completo com quadros vazios e levo este núcleo para outro ponto do apiário. Fica a parte restante da colmeia ( quatro ou cinco quadros de criação, um ou dois quadros de provisões e quadros vazios. As duas colónias são alimentadas com xarope de água e açucar.
– Passados 10 dias faço, nas restantes colmeias do apiário, tantos núcleos de dois quadros (+ um quadro com células), quantos os quadros com células da colmeia selecçionada que tiver, em geral três a cinco.
Nota: Podem cortar-se as células e formar mais núcleos com três quadros das colmeias do apiário
Os núcleos formados ficam nos locais das colmeias e estas são deslocadas para outros pontos do apiário.
Todas as colónias são alimentadas.
O processo é satisfatório e espero que gostem.

eu faço assim: propósito desta categoria temática

Nesta nova categoria do blogue abelhas à beira, e seguindo a boa sugestão do José Marques,  pretendo criar um espaço dedicado à partilha de conhecimentos, técnicas, ideias, questões e dúvidas, entre outros aspectos, que os seguidores e leitores deste blog desejem partilhar.

A partilha de conhecimentos não nos tira nada, muito pelo contrário. A velha e estafada ideia que “o segredo é a alma do negócio” faz cada vez menos sentido na aldeia global em que todos vivemos. Desde já o meu agradecimento a todos os que no passado partilharam generosamente o que sabiam e àqueles que no futuro o vierem a fazer.

comparação da qualidade em rainhas locais e rainhas importadas

Nesta palestra a Patrícia Wolf-Veiga, investigadora e microbióloga brasileira, a trabalhar no Canadá no National Bee Diagnostic Center, apresenta os dados de uma investigação conduzida durante 2014 e 2015 em torno da comparação da qualidade de rainhas importadas dos EUA com a qualidade de rainhas produzidas localmente . Um tema que me tem interessado e continua a interessar.

Aspectos que destaco:

  • fizeram a contagem e analisaram a viabilidade de espermatozoides e testaram a presença de organismos patogénicos (agentes que podem provocar uma doença) causadores de nosemose assim como virús diversos;
  • compararam também o desempenho das obreiras filhas de rainhas importadas e filhas de rainhas locais;
  • uma rainha bem fecundada deve conter no mínimo 3 milhões de espermatozoides na sua espermateca;
  • no que respeita à qualidade das rainhas constata-se uma maior variação nas rainhas importadas, isto é, a probabilidade de se adquirir rainhas de má qualidade é maior no lote de rainhas importadas que no lote de rainhas locais;
  • em algumas rainhas importadas apenas 20% dos espermatozoides estavam vivos (possível explicação aqui);
  • o desempenho de colónias lideradas por rainhas com mais baixa viabilidade espermática, menor número de espermatozoides ou com maior carga viral é pior;
  • em algumas das abelhas amas que acompanhavam a rainha foram encontrados mais de 100 milhões de esporos de nosema ceranae por abelha (uma colónia de abelhas com 10 milhões de esporos por abelha tende a colapsar durante o inverno, para termos uma noção dos valores que estão em causa);
  • rainhas importadas apresentam uma carga viral superior.

Como diz a Patrícia Wolf-Veiga as rainhas importadas podem trazer alguns “presentes” envenenados. Estas rainhas podem funcionar como cavalos de troia para a entrada em território nacional de uma diversidade de virus desconhecidos ou mal conhecidos (na palestra é feita referência a um que eu desconheço).

mortalidade de colónias de abelhas nos EUA: que relação com o maneio

Esta palestra dada por Dennis van Engelsdorp, entomólogo e Director do Projecto “Bee Informed Partnership”, dá-nos a conhecer um conjunto de dados e correlações entre opções de maneio e sobrevivência vs. mortalidade de colónias de abelhas. Estes dados foram recolhidos por inquérito aos apicultores dos EUA e ao longo dos últimos anos. Dennis van Engelsdorp apresenta um conjunto de fenómenos que se têm repetido ao longo destes anos em circunstâncias semelhantes. No seu entender esta repetição ajuda a definir tendências e, em última instância, a estabelecer algumas relações fortes e fiáveis entre a sobrevivência ou a morte de uma colónia de abelhas e o maneio levado a cabo pelo apicultor. Não esquecendo que “para cada problema complexo existe uma resposta que é clara, simples… e errada.”

Pontos que destaco:

  • maior perda de colónias durante a primavera e verão que no outono/inverno no último ano inquirido;
  • por ano os apicultores profissionais perdem menos colmeias (cerca de 20%) que os apicultores não-profissionais nos EUA (cerca de 45%);
  • cerca de 60% dos apicultores nos EUA não realiza tratamentos contra a varroa (a maior parte são apicultores não-profissionais);
  • 3 ácaros por 100 abelhas adultas justificam o início do tratamento (ver também aqui);
  • tratar com 5 ácaros por 100 abelhas pode ser tarde demais para algumas colónias (ver também aqui);
  • os ácaros são vectores de transmissão horizontal de virús entre abelhas, aspecto que se julga estar a aumentar a sua virulência;
  • tipicamente atingem-se picos de infestação nos meses de setembro e outubro;
  • apesar dos tratamentos terem sido efectuados nas colmeias, a infestação pode subir enormemente no mês de setembro/outubro devido à transferência de varroas de colónias de apiários vizinhos que estão a colapsar com varroose;
  •  o amitraz,  fórmico e o oxálico são os produtos mais eficazes no controlo dos ácaros;
  • quem alimenta com açucar ou pasta de açucar perde menos colónias do que quem não alimenta;
  • quem alimenta com quadros com mel provenientes das colmeias colapsadas perde mais colónias do que quem não o faz;
  • alimentar com proteínas no outono ou na primavera é uma boa prática;
  • mudar mais de 50% dos quadros do ninho por ano tem um impacto negativo nas colónias;
  • mudar 1 ou 2 quadros do ninho por ano é melhor do que não mudar nenhum;
  • colónias iniciadas partir de pacotes de abelhas apresentam a pior taxa de sobrevivência;
  •  colónias iniciadas por divisão/desdobramento de colónias existentes apresentam a melhor taxa de sobrevivência;
  • quem substituiu as rainhas no ano anterior apresenta menor taxa de mortalidade do que quem não o fez.

Vários dos aspectos destacados nesta apresentação já foram abordados neste blogue. Ainda que a realidade portuguesa seja em parte diferente da norte-americana, muitas das conclusões e pontos destacados têm servido e continuarão a servir-me de orientação no meu maneio. E o resultado tem sido muito positivo até agora (ver aqui e aqui)

a criação de rainhas e as propostas formativas: algumas questões

Nos livros de referência acerca de criação de rainhas, descobrimos rapidamente que há mais de uma maneira de criarmos as nossas próprias rainhas. Entre as mais conhecidas estão o Método Miller e o Método Doolittle ou translarve de larvas (grafting). Foco-me neste último, o método de criação de rainhas por translarve, porque me parece que é o mais ensinado pelos formadores nos cursos de curta duração sobre criação de rainhas.

Para que o método do translarve seja levado a cabo deparamo-nos com a necessidade de recorrer a uma parafernália de objectos e múltiplas etapas: desde cúpulas, agulhas de enxertia/translarve, barras de enxertia, enxertia simples, dupla enxertia… Temos ainda colónias iniciadoras com rainha, colónias iniciadoras sem rainha, colónias acabadoras, incubadoras de rainhas, gaiolas de rainhas,  recolha de amas, engaiolamento de rainhas e amas, preparar o candy para as gaiolas, núcleos de fecundação das mais diversas dimensões, e mais coisas ainda pelo meio.

Para o apicultor com apenas algumas colmeias, a informação a assimilar em pouco tempo pode ser avassaladora, assim como o investimento a fazer em material dedicado. Para o apicultor com centenas de colónias, torna-se incomportável do ponto de vista do equipamento e do trabalho envolvido. Isso não quer dizer que este método não funciona ou é ineficiente, porque funciona bem o suficiente para nele se basear uma indústria de criação de rainhas.

A primeira questão que me surge: será o método de criação de rainhas por translarve o mais indicado para se ensinar, e sobretudo praticar, em cursos de curta duração, onde a população-alvo maioritariamente se constitui de pequenos apicultores e/ou jovens que se estão a iniciar na apicultura? Responderia que sim se todos eles estivessem a dar os primeiros passos para no futuro serem criadores de rainhas. Mas será realisticamente esse o caso?

O método Doolittle é o método mais utilizado pelos criadores profissionais de rainhas. Para ter certeza de que as rainhas produzidas a partir deste método são as melhores possível estes criadores experimentados fazem enxertos com larvas o mais jovens possível (12 a 24 h de idade). Estas larvas são do tamanho desta virgula “,” e podem ser facilmente danificadas no processo de enxertia.  É uma operação delicada que exige excelente visão e mãos treinadas.

Segunda questão: em cursos de curta duração há tempo e oportunidade para que todos os formandos façam enxertos, treinem a mão, errem e voltem a repetir o processo até que o gesto técnico esteja minimamente apreendido e dominado? Se sim voltarão ao seu apiário e realizarão os primeiros translarves com algum sucesso e continuarão motivados. Caso contrário muitos deixarão de utilizar a técnica por desmotivação. Neste caso todo o tempo e dinheiro despendido por eles e/ou estado pouco ou nenhum retorno terá.

Para se alcançar a excelência na produção de rainhas pelo método de translarve as cúpulas devem estar preparadas com geléia real ou mesmo ser efectuado o duplo enxerto de larvas. Procura-se que a larva esteja constantemente em contato com a alimento vital que torna a larva numa rainha de qualidade. A alimentação adequada das jovens abelhas amas com grandes quantidades de néctar e pólen assegurará que as larvas da rainha em desenvolvimento serão alimentadas copiosamente e que as rainhas virgens estarão em excelentes condições na altura da eclosão. Se a cúpula da rainha não estiver devidamente preparada com geléia real, todo o esforço colocado na criação de rainhas de qualidade será desperdiçado. O Dr. C. L. Farrar declarou no seu artigo Production Management of Honey Bee Colonies que “qualquer interrupção na nutrição larvar é prejudicial quando se sabe que a larva de uma rainha deve aumentar cerca de 1.500 vezes o seu peso entre incubação e conclusão da alimentação 5 dias depois. Não basta que uma rainha ponha ovos férteis; ela deve estar completamente desenvolvida se for uma boa rainha, uma rainha capaz de construir e manter uma colónia na sua força total“.

Terceira questão: quantos formandos depois de um curso de curta duração poderão enxertar sem interromper por mais tempo que o desejável a nutrição larvar? Se poucos ou nenhum, sugiro que sejam informados pelos formadores no final do curso para as lacunas críticas que a sua aprendizagem ainda apresenta.

O método de criação de rainhas por translarve é na opinião de Gilles Fert, conceituado criador de rainhas, um método adequado aos apicultores que se focam na criação de rainhas na ordem das várias centenas ou milhares. Ele avança inclusivamente com um número bastante preciso: para os apicultores que desejem criar mais de 200 rainhas/ano justifica-se a utilização deste método. Para os que não pretendem atingir esse número aconselha a utilização de outros métodos.

A última questão: estes cursos de curta duração, maioritariamente frequentados por apicultores que não irão necessitar de criar rainhas em grande número têm em devida conta o perfil de saída dos formandos, as suas reais necessidades actuais e futuras?

Fig. 1: Capa do livro de Gilles Fert L’élevage des reines, com tradução portuguesa. 

Apêndice: No contexto actual de desenvolvimento da apicultura nacional já temos vários criadores profissionais de rainhas que procuram responder às necessidades do mercado. Se, ainda assim, as necessidades de rainhas ultrapassam a sua capacidade de resposta então justifica-se a montagem de cursos de média-longa duração para futuros criadores de rainhas. Destes cursos sairão criadores de rainhas devidamente qualificados e motivados para satisfazer as lacunas no lado da oferta. Nestes casos, e só nestes casos, justifica-se a aprendizagem e o treino de criação de rainhas pelo método aqui abordado.