recuperação de uma colónia orfã/zanganeira

No dia de hoje, entre a selecção e preparação de 12 colmeias langstroth para entregar a um cliente nos próximos dias, alimentação de algumas colónias, reajustamento das tiras de apivar em 67 delas, preparação das colónias com sobreninho para a colocação da grelha excluidora de rainhas nos próximos dias, expansão do ninhos, ainda sobrou um pouco de tempo para iniciar a acção de recuperação de uma colónia que ficou orfã/zanganeira durante o inverno. Entre diversas formas de proceder para concretizar esta recuperação ganhei um gosto especial por esta que descrevo em baixo, pela sua simplicidade e eficiência, não por ser a melhor. Também nesta situação, como em quase todas as outras que me vão surgindo no dia-a-dia da apicultura, tenho a convicção que dificilmente encontrarei uma forma de agir que eu possa designar “a melhor…”, … fico até arrepiado quando ouço um apicultor dizer que esta ou aquela forma de fazer é “a melhor forma de…”.

Colónia que foi identificada como estando orfã/zanganeira há cerca de dois meses atrás. Merece o meu esforço de a apoiar a ultrapassar esta disfunção pelo elevado número de abelhas que apresenta.
Quadro com criação predominantemente operculada que esta colónia orfã recebeu. Este quadro oferece a esta colónia abelhas jovens e ajuda a equilibrar etariamente a sua população. Este procedimento será repetido uma vez mais esta semana, dentro de 3 a 4 dias. Na próxima semana o procedimento será repetido uma a duas vezes mais. Posteriormente será introduzida uma rainha virgem ou será permitido que a colónia crie a sua rainha.
Colónia doadora que tinha sete quadros com criação e que ficou conformada à regra “não mais que 6“.

para que não morram na praia

Com a menor taxa de mortalidade de inverno desde que me dediquei em exclusividade à apicultura (2,7% de colónias mortas ou disfuncionais até à data), não posso esquecer que os perigos do final de inverno estão mais do que nunca presentes nos meus apiários neste final de fevereiro—entrada de março, e de um momento para o outro podem fazer subir a taxa de mortalidade para percentagens acima dos 30%. A descrição do principal perigo nestas datas é fácil de compreender e felizmente a solução está ao meu alcance, como ao alcance de todos julgo eu.

Como já referi a entrada generosa de pólen, assim como a varroose devidamente controlada, são os gatilhos indispensáveis para que o turnover de abelhas de inverno para abelhas de verão se faça a um bom ritmo nos meses de fevereiro e março, nos meus apiários.
Nesta altura uma parte importante das minhas colónias apresenta quadros com criação operculada semelhantes aos que vemos em cima. Da criação operculada às abelhas emergidas (nascidas) vai pouco mais que uma semana e meia. As abelhas emergidas de cada um destes quadros serão as suficientes para cobrirem um novo quadro (são necessárias cerca de 2 mil abelhas para cobrirem um quadro langstroth).
O consumo energético das colónias neste período de intensa expansão aumenta de forma muito significativa quando comparado com o período anterior de dormência (entre novembro e janeiro nas minha zona). Há apicultores que afirmam que por cada quadro com criação é gasto um quadro com mel.
Na semana passada esta colónia tinha 4 quadros com criação operculada (reparar na posição das tiras acaricidas).
A mesma colmeia, esta semana apresenta 5 quadros com criação operculada (ver ajustamento que fiz das tiras acaricidas).
As reservas de mel vão sendo consumidas a bom ritmo…
… assim como o alimento suplementar fornecido em forma de pasta/fondant.
Sabendo por experiência que 1 Kg de fondant pode ser consumido em menos que meia-dúzia de dias numa colónia em franca expansão, e havendo previsões de tempo muito chuvoso na próxima semana para esta zona, a minha decisão foi jogar pelo seguro, suplementando com 2,5 kgs de fondant. Não me perguntem como o aprendi, mas há uns anos atrás concluí que entre finais de fevereiro e meados de abril, e no que diz respeito a suplementação de hidratos de carbono, mais vale “pecar” por excesso que por defeito.

Fica explicitado o perigo e apresentada a solução que encontrei para evitar sentir o sabor amargo de ver uma bela colónia de abelhas a morrer na praia. Que enorme desperdício quando tal acontece! E tão evitável!

um método favorável à biodiversidade para mitigar o impacto das vespas asiáticas invasoras nas abelhas europeias

Este estudo, recentemente publicado (2019), avaliou o efeito das redes de protecção de entradas de colmeias sobre dois comportamentos das abelhas melíferas quando pressionadas pela presença intensa de vespões asiáticos: o retorno das abelhas forrageiras à colmeia e a intensidade do comportamento de forrageamento. Tenho uma ideia que estas redes são ainda pouco utilizada pelos apicultores portugueses, contudo também esta como outras ferramentas não deve ser desprezada, mais ainda quando os resultados de um estudo controlado são positivos.

“O vespão asiático é um predador de abelhas na Europa Ocidental. O risco associado ao vespão asiático na mortalidade de colónias de abelhas motivou o desenvolvimento de métodos de controle biológico e físico nos últimos anos. Embora a relação custo-benefício tenha sido estabelecida para a maioria desses métodos de controle, ainda não está claro se esses métodos podem reduzir os efeitos prejudiciais do vespão asiático nas abelhas europeias. Neste estudo, investigámos os benefícios potenciais de um método de controle favorável à biodiversidade, a “protecção da entrada da colmeia” (beehive muzzle) . Observámos a atividade de voo das abelhas e o comportamento de predação das vespas asiáticas à entrada da colmeia em 22 pares de colónias de abelhas, cada uma com uma colónia equipada com “protecção da entrada da colmeia” e uma colónia controle sem “protecção da entrada da colmeia”, em França. Medimos a FR (falha no retorno das abelhas devido à predação de vespas por abelhas) e PF (paralisia de forrageamento: paragem da atividade de voo em colmeias devido às vespas pairando em frente da entrada) e estimámos a probabilidade de mortalidade das colónias usando uma abordagem de modelagem mecanicista. A “protecção da entrada da colmeia” não reduziu a FR associada à vespa, mas reduziu drasticamente a PF. Além disso, a “protecção da entrada da colmeia” aumentou a probabilidade de sobrevivência de colónias stressadas por vespas até 51% em contexto de alta abundância de vespas asiáticas com base em simulações teóricas. Esses resultados sugerem que a instalação de “protecção da entrada da colmeia” pode atenuar o efeito prejudicial do vespão asiático nas abelhas europeias. Esta técnica de baixo custo não leva a nenhum impacto ambiental e, portanto, pode ser recomendada aos apicultores como um método eficaz de controle da vespa asiática, favorável à biodiversidade.”

Locais onde se realizaram as medições/comparações e tipo de “protecção da entrada da colmeia” utilizado no estudo (a malha da rede utilizada é de 6×6 mm).

fonte: https://www.researchgate.net/publication/335490838_A_biodiversity-friendly_method_to_mitigate_the_invasive_Asian_hornet’s_impact_on_European_honey_bees

foto filme das colónias à saida do inverno 2019-2020

À semelhança do que fiz aqui apresento um conjunto de fotografias que pretende ilustrar o estado geral actual das minhas colmeias Langstroth nos apiários do distrito da Guarda. Aproveito também para testemunhar o respeito pelo calendário dos tratamentos para a varroose que me auto-impus e, finalmente, o benefício que encontro nas colmeias-armazéns/com sobreninho não só durante o período primavera-verão mas também no período outono-inverno.

Colmeias com 6 a 8 quadros de abelhas que se dispersam por 8 a 10 quadros do ninho quando as temperaturas atingem os 15ºC.
Quadro ilustrativo de uma postura adequada, ausência de sinais de varroose e entrada de pólen, os mais importantes gatilhos para a realização do turnover de abelhas de inverno para abelhas de primavera.

Para colocar as tiras de Apivar no local que entende ser o mais adequado identifico os quadros com criação e centro estes quadros o mais possível na caixa. Neste caso e pela disposição das tiras sei que esta colónia tem um mínimo de 4 quadros com criação e um máximo de 5 quadros com criação. Numa próxima visita, a realizar num prazo máximo de 15 dias, esta disposição das tiras vai-me permitir avaliar o quanto a zona de criação se expandiu e avaliar a qualidade da rainha.
Uma das cerca de 30 colmeias que passaram o inverno da Beira Alta com sobreninho.
A completar um ciclo de criação, o que indica que mesmo com o sobreninho colocado as abelhas conseguiram manter as temperaturas nesta zona entre os 35-36ºC nos últimos 21 dias. Mais uma evidência que as abelhas não aquecem o espaço vazio da colmeia, aquecem-se a si e à sua criação.
Quadros com mel que estavam armazenados nas colmeias armazém e que agora são utilizados para reforçar as reservas de colmeias a necessitar de hidratos de carbono. Sim o fondant pode ser o único recurso disponível para evitar a morte por fome, mas melhor será se conseguirmos alimentar também com mel em quadro. O mel tem micro-nutrientes que permite criar abelhas mais longevas e saudáveis.

bombas de ácaros ou engodos para pilhagem? Os papéis da deriva e pilhagem na transmissão de ácaros Varroa de colónias de abelhas a colapsar para colónias vizinhas

Thomas Seeley e David Peck publicaram recentemente, em 2019, os resultados da sua investigação em torno do efeito da deriva de abelhas e da pilhagem de colónias na transmissão de ácaros Varroa entre colónias muito parasitadas e colónias pouco parasitadas. Em baixo deixo a tradução do sumário e de alguns excertos desta publicação.

“Quando as colónias de abelhas colapsam devido à alta infestação de ácaros Varroa, as colónias vizinhas costumam sofrer aumentos nas populações de ácaros. Colónias em colapso, muitas vezes chamadas de “bombas de ácaros”, parecem passar seus ácaros para colónias vizinhas. Isso pode acontecer por obreiras infestadas de ácaros das colónias em colapso entrarem nas colónias vizinhas ou por obreiras livres de ácaros das colónias vizinhas pilharem as colónias em colapso, ou ambos***. Para estudar a transmissão de ácaros entre colónias, posicionámos seis colónias de abelhas de cor preta quase livres de ácaros em torno de um aglomerado de três colónias de abelhas de cor amarela carregadas de ácaros. Em seguida, monitorámos o movimento das abelhas entre as colónias de abelhas negras e amarelas antes, durante e após o colapso induzido por ácaros das colónias de abelhas amarelas. Durante a experiência, monitorámos o nível de ácaros de cada colónia. Descobrimos que um grande número de ácaros se espalhou para as colónias de abelhas negras (em colmeias próximas e distantes**) quando as colónias de abelhas amarelas colapsaram devido a altas infestações por ácaros e se tornaram alvos de pilhagem pelas colónias de abelhas negras. Concluímos que “engodos para a pilhagem*” é um termo mais adequado do que “bombas de ácaros*” para descrever colónias que sucumbem a altas cargas de ácaros e os veiculam para as colónias vizinhas.”

*” [O] fenómeno da “bomba dos ácaros”, visa descrever os ácaros que são lançados como “estilhaços” para colónias vizinhas, através da deriva de obreiras e zângãos infestados da colónia moribunda. Foi sugerido que essa deriva pode até ser uma manipulação do comportamento das abelhas pelos próprios ácaros. Outra explicação possível para o aumento da população de ácaros nas colónias vizinhas das colónias em colapso é que estas são “engodos para a pilhagem” [“robber lures”] e que são as abelhas assaltantes saudáveis, não as abelhas das colónias a colapsar que dispersam os ácaros.”

**”[Thomas Seeley] havia anteriormente presumido que a pilhagem era improvável entre colónias que vivem na natureza devido ao amplo espaçamento das colónias florestais/selvagens, mas recentemente verificámos que abelhas de colónias florestais/selvagens muito espaçadas, descobrem e pilham rapidamente os favos de mel não protegidos de colónias no seu raio de acção mais distante. Assim, a pilhagem pode ser comum mesmo entre colónias situadas a grandes distâncias.”

***”Nosso objetivo era determinar se a deriva, pilhagem ou uma combinação dos dois explica melhor a transmissão dos ácaros de colónias moribundas devido à infestação por ácaros para colónias saudáveis e quase sem ácaros****. Se a deriva é o mecanismo principal, prevemos aumentos graduais nos níveis de ácaros foréticos nas colónias saudáveis próximas, à medida que obreiras e zângãos infestados entram nessas colónias a taxas mais ou menos constantes. Se a pilhagem é o principal mecanismo de transmissão dos ácaros de colónias moribundas, prevemos aumentos repentinos nos níveis de ácaros foréticos nas colónias saudáveis, coincidindo com o início da pilhagem.”

**** “Nossas descobertas confirmam que colónias fortemente infestadas de ácaros apresentam um sério risco de transmitir seus ácaros para colónias próximas. Nossos dados também revelam que a terminologia coloquial para essas colónias – “bombas de ácaros” – não descreve com precisão os mecanismos de transmissão de ácaros intercoloniais que observámos neste estudo. Não vimos nenhuma “explosão” repentina de abelhas que carregam ácaros de colónias doentes para cada uma das colónias saudáveis ​​por meio de obreiras originárias das colónias fortemente infestadas. De fato, descobrimos que poucos ácaros passaram das colónias fortemente infestadas (CFI) para as colónias pouco infestadas (CPI) através de deriva de obreiras (principalmente para colónias próximas) ou deriva de zângãos (quase exclusivamente para colónias próximas) . Somente quando as CFIs ficaram tão enfraquecidos que se tornaram alvos irresistíveis de pilhagem os ácaros passaram em grande número das CFIs para as CPIs. Sugerimos, portanto, que “engodos para a pilhagem” é um termo mais adequado do que “bombas de ácaros” para descrever as colónias fontes de ácaros, especialmente em contextos em que colónias fracas são prontamente roubadas por colmeias vizinhas. A distinção entre “bombas de ácaros” e “engodos para a pilhagem” é importante para entender a virulência ideal dos ácaros e os vírus por eles veiculados. Se a doença de um hospedeiro aumentar as oportunidades de propagação do parasita, o parasita deverá evoluir com maior virulência. Em nosso estudo, descobrimos que os ácaros se espalham para as colónias vizinhas principalmente pela pilhagem de colónias muito doentes (em colapso). É possível que a seleção natural tenha favorecido, e continuará a favorecer, estirpes de ácaros, e vírus transmitidos por ácaros, que enfraquecem severamente as defesas de suas colónias hospedeiras para torná-las alvos atraentes para as abelhas pilhadoras originárias de colónias até ao momento saudáveis.”

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0218392

Nota pessoal: em parte este artigo reforça em mim uma convicção que já tinha, retirada da observação das minhas colmeias, que as abelhas de colónias muito infestadas não “fogem” subitamente e em massa da sua colmeia/caixa. Infelizmente tive a oportunidade de ver colónias nos meus apiários bastante infestadas que iam perdendo abelhas gradualmente, o que explico por morte natural, morte por doença, morte na defesa da colmeia e por alguma deriva. Um abandono súbito e massivo de abelhas por causa da infestação da varroa nunca me apercebi dele.

alimentar ou não alimentar

[Na Austrália] Ensaios em quatro apiários testando várias estratégias de alimentação suplementar foram conduzidos durante os períodos de inverno de 2003 e 2004.

O objetivo do estudo de 2003 foi verificar se colónias de abelhas com alimentação suplementar aumentariam a sua população durante o período de inverno, com o objetivo de fortalecer prematuramente as colónias antes do início da floração das amendoeiras, em meados de agosto. Ao grupo experimental de colónias foram fornecidos suplementos alimentares (xarope de açúcar, pólen ou uma combinação de xarope de açúcar e pólen) durante o período de inverno e, em contraste, o grupo de controle não foi suplementado.

Neste estudo de 2003, houve diferenças significativas entre os apiários, mas as diferenças não dependeram da suplementação alimentar, e sim da flora local. Não se verificaram diferença significativa nos níveis de proteína bruta nas pupas entre as colónias suplementadas e as colónias não suplementadas. Na medição de outubro, não se verificou um benefício claro sobre aumento da população de abelhas com qualquer uma das práticas alimentares testadas. Além disso, o estudo forneceu evidências de que o fornecimento de suplementos a uma colónia durante o período de inverno pode ter aumentado os níveis de nosema em abelhas adultas.

O objetivo do estudo de 2004 foi avaliar a evolução de população de abelhas em colónias num local com um bom um fluxo de néctar (mugga ironbark,
Eucalyptus sideroxylon) mas deficiente em pólen. No grupo experimental foram usados suplementos de pólen com diversas composições, enquanto que o grupo de controle não foi suplementado.

Os resultados do estudo de 2004 forneceram evidências de que todas as três diferentes preparações de alimentação suplementar tiveram algum benefício. O tipo suplementação com mais benefício foi o pólen que surge em primeiro, seguido pela a mistura de farinha de soja / pólen / levedura e em último farinha de soja. Mesmo assim, as colónias de controle (não suplementadas) produziram mais mel num apiário, portanto, o benefício não foi uniforme nos dois apiários.

Notas de rodapé:

  • A farinha de soja, por si só, como suplemento, era muito mais atraente para as abelhas nos alimentadores colectivos do que quando colocadas em bandejas sob as tampas de cada colmeia.
  • O pólen enquanto suplemento alimentar deve ser de origem muito segura do ponto de vista higiénico ou em alternativa ter garantias que foi irradiado. O pólen de fontes desconhecidas pode ser veículo de esporos de loque americana.
  • Os alimentadores colectivos podem ser veículos de diversas patologias das abelhas.
  • A alimentação suplementar é importante/imprescindível quando usada para evitar a fome.

fonte: https://extensionaus.com.au/professionalbeekeepers/to-feed-or-not-to-fee/#comment-6

Reflexão: mais um caso que confirma o velho e sábio adágio que a apicultura é local. Neste caso verificou-se que os impactos da suplementação alimentar são contingentes do local. A apicultura moderna é contexto, contexto, contexto. Cabe ao apicultor avaliar esse contexto, e até fazer testes, para melhor discernir da necessidade de fazer esta ou qualquer outra opção no âmbito da nutrição dos seus enxames.

novas tecnologias na apicultura

Muitos apicultores já experimentaram inúmeras vezes o quão árduo é acompanhar devidamente as colónias de abelhas nos seus apiários ao longo do ano. Abrir colmeia após colmeia debaixo de um sol abrasador enfiado num fato quase hermético faz do maneio apícola uma tarefa mutíssimo extenuante. No outro extremo do calendário, nos dias frios, ventosos e chuvosos o acompanhamento das colónias para avaliar a necessidade de as suprir com alimentação suplementar, entre outras tarefas, acresce a exigência de o apicultor estar presente quando as suas abelhas mais precisam dele, nos dias de tempo feio.

Ao longo das últimas décadas tem-se assistido ao surgimento de novas máquinas e tecnologias que reduziram o esforço e aumentaram a rapidez das tarefas efectuadas nas salas de extracção. Observar uma fotografia de uma sala de extracção de há 30 ou 40 anos atrás com as salas de hoje é bem ilustrativa do que digo. Muitos equipamentos surgiram neste domínio. Já no campo, tirando os veículos para transporte de material e transumância, tudo se mantém muito semelhante ao que era há 100 anos atrás. Lembro-me bem como era esse trabalho no campo quando há cerca de 45 anos comecei a ajudar o meu pai em tarefas simples no seu apiário de Langstroth e Reversíveis. Muito pouco mudou de lá para cá, aí no campo!

Ora actualmente projectos como o B-GOOD “Giving Beekeeping Guidance by Computational Assisted Decision Making” visam testar e aperfeiçoar um conjunto de dispositivos de monitorização remota de colónias de abelhas, como acontece já noutros sectores produtivos da agricultura, com o objectivo de fornecer dados críticos e fidedignos em tempo real que auxiliem os apicultores nas decisões e operações de maneio. Estes dispositivos diminuirão de forma significativa o tempo, os custos e sobretudo o desgaste pessoal que ainda hoje está associado ao trabalho de campo nos apiários.

Em Portugal, no âmbito doB-GOOD estão a ser testados estes dispositivos num apiário de 10 colmeias situado no Douro. Os enxames foram por mim fornecidos o que me liga afectivamente a este projecto. Aos investigadores espero e desejo as melhores felicidades e que alcancem os resultados pretendidos, pois o trabalho de campo há muito que pede e precisa este tipo de instrumentos.

varroas mais resistentes ao amitraz no outono que na primavera?

Inside The Hive TV: entrevista ao Dr. Frank Rinkevich investigador de abelhas do USDA em Baton Rouge, em 27 de setembro de 2019.

Como apicultor que utiliza frequentemente o Apivar procuro com alguma frequência dados acerca do mesmo e acerca do amitraz, o princípio activo presente nestas tiras. Entre outros dados os que mais me importam para o meu maneio são o timing/altura para efectuar os tratamentos com apivar, sabendo que o mesmo é um acaricida de libertação lenta, que deve permanecer nas colmeias entre 10 a 12 semanas e que perde grande parte da sua eficácia quando a taxa de infestação ultrapassa os 3%.

Neste vídeo confirmo que os casos estudados de resistência dos ácaros ao amitraz continua a ser pontual, talvez porque o amitraz actua ao nível de vários receptores nervosos e não apenas um e talvez porque o amitraz contamina pouco as cera (é não-lipofílico), ao contrário do que se verifica com outros acaricidas sintéticos.

Contudo o que achei mais surpreendente neste vídeo foi o que o investigador Frank Rinkevich refere a partir do minuto 22 e 35 segundos na resposta à questão: os ácaros são mais ou menos resistentes em diferentes meses do ano?

Os dados recolhidos e apresentados indicam que os ácaros testados nos meses de outubro e novembro de 2018 são menos susceptíveis/sensíveis, isto é são mais resistentes ao amitraz que os ácaros recolhidos no mesmo apiário (Baton Rouge) nos meses de abril e maio do ano seguinte. Dados de grande interesse na minha opinião que merecem ser revisitados através de mais investigação.

Confirmando-se os resultados será interessante, seguidamente, procurar esclarecer as razões para tal acontecer com o amitraz e sobretudo verificar se o mesmo fenómeno se verifica com outros acaricidas. Aos meus olhos o que se vier a concluir será de extrema importância para as decisões de maneio que todos temos de tomar para manter as nossas colónias vivas e, o mais possível, saudáveis.

vespa velutina: cavalos de troia segundo Ernesto Astiz

Neste vídeo em baixo vemos e ouvimos Ernesto Astiz, afamado especialista espanhol no estudo desta espécie invasora, identificar três pontos-chave da estratégia para controlo da vespa velutina: (i) captura de velutinas fundadoras na primeira fase do seu ciclo de vida; (ii) utilização de cavalos de troia na fase de maior predação, para eliminar ou fragilizar ninhos não identificados; (iii) autorização/indicação pelas autoridades competentes de princípios activos eficazes para utilização na “fabricação” de cavalos de troia. O produto e o princípio activo proposto por Ernesto Astiz coincide com o que já havia mencionado aqui há dois anos atrás.