outono de 2022: o estado sanitário das minhas colónias a 600 m de altitude

Hoje, por volta das 10h00, entrei no meu apiário a 600m de altitude onde estão estacionadas 29 colónias do modelo Langstroth.

Por volta das 14h00 estava de saída do apiário depois de uma análise aprofundada colónia a colónia, quadro a quadro. Terei levantado cerca de 250 quadros com a intenção de observar:

  • abelhas e suas asas;
  • criação e seu padrão;
  • reservas de mel e pólen;
  • número de quadros cobertos com abelhas;
  • número de quadros com criação;
  • localização do enxame no interior da caixa.

Antes de descrever o que consegui observar no interior das caixas, verifiquei a ausência de velutinas. Nestas 4 horas que permaneci no apiário não vi uma! O ano passado assisti a uma pressão baixa das velutinas neste apiário. Este ano não as vi sequer. Felizmente a progressão das colónias das velutinas não tem sido constante nem crescente neste local. Neste caso o problema maior da pressão das velutinas, a paralisia de voos de forrageamento, não se verifica.

Como coloquei hoje as réguas de entrada consegue ver-se melhor as cargas trazidas do campo enquanto as abelhas atinam com esta redução da entrada.

Sobre as observações no interior das colmeias, verifiquei que os enxames ocupavam em geral 6 a 7 quadros, com 4 a 5 quadros de criação, em geral centrado no lado nordeste colmeia (o lado mais fresco da colmeia).

Este outono muito primaveril, a presença de pólen no campo e a possibilidade do seu forrageamento, incentiva a postura da rainha. Este nível de criação, mais intensa que o normal para a época, permite a reprodução das varroas presentes e o crescimento da sua população. Tendo em conta estes considerandos decidi efectuar o quarto tratamento deste ano.

As reservas de pólen, pão de abelha recém ensilado estava em bons níveis, com um a dois quadros bem fornecido de pólen de cor predominantemente amarela (julgo que de tágueda). No caso do mel fiz a equalização das reservas entre colónias, tirando um ou dois quadros das que tinham mais para os dar às que tinham menos.

A criação era em geral compacta e ocupava áreas significativas de 4 a 5 quadros. Não vi larvas distorcidas e opérculos furados pelas abelhas — a este propósito dizer que as varroas não perfuram os opérculos para saírem dos alvéolos; os pequenos buracos que por vezes observamos são feitos pelas abelhas, no âmbito do seu comportamento de higienização do ninho, para sinalizarem e retirarem larvas/pupas doentes ou mortas.

Nos cerca de 250 quadros analisados não observei mais que 3 ou 4 abelhas com asas deformadas, um excelente indicador que os níveis de infestação pela varroa está abaixo do limiar em que provoca danos observáveis e importantes nas colónias.

Em alguns casos desoperculei algumas larvas para validar estas observações. O que observei nas larvas, de zângão sobretudo, confirmam as minhas impressões resultantes das observações anteriores. Estas observações são guiadas por um conhecimento aprofundado na minha prática e nas muitas leituras levadas a cabo acerca dos sintomas visíveis quando na presença de uma taxa de infestação mais ou menos elevada.

Em conclusão, o medicamento Amicel que escolhi para o tratamento deste verão foi o mais eficaz dos escolhidos nestes últimos três anos. Neste apiário eliminei apenas uma colónia, por problemas com a rainha e não observei colónias enfraquecidas por varroose ou pelo síndrome PMS. Umas colónias mais populosas do que outras, mas todas saudáveis do que me foi possível observar.

Nota: ver aqui o estado sanitário das minhas colónias a 900m de altitude.

outono de 2022: primeira inspecção, com foco na avaliação da eficácia do Amicel

Com os ouriços a balançar nos castanheiros, levei a cabo a primeira inspecção de outono no meu apiário a 900m de altitude.

O foco desta inspecção esteve na avaliação da eficácia do Amicel, o acaricida que utilizei para o tratamento de verão (ver aqui as razões desta opção; aqui os procedimentos principais para levar a cabo a sua preparação).

Neste apiário as colónias estão saudáveis, o que me diz que o Amicel cumpriu os objectivos pretendidos: diminuir a taxa de infestação de varroa abaixo do limiar em que não provoca dano à colónia ou não deixar crescer essa taxa acima do limiar em que provoca dano à colónia.

Em baixo deixo o foto-filme que ilustra as observações que fui fazendo hoje no apiário.

Criação compacta e saudável. Abelhas vivazes e que vendem saúde.
Pão de abelha recém ensilado. Alimento crítico para o bem-estar e longevidade desta coorte de abelhas que tem de viver 5 a 6 meses por estas paragens.
Larvas a nadarem em geleia real. Mais um aspecto que me importa focar nesta altura do ano.

Colónias bem povoadas. Pedaço de cartão, uma reminiscência da tira de Amicel.

Nota: Em breve conto dar conta da avaliação da eficácia do Amicel nos dois apiários que tenho instalados a 600m de altura, apiários por norma mais complicados no que concerne ao controlo da varroose no final de verão/início de outono.

eficácia de harpas elétricas na redução da pressão de predação de Vespa velutina e consequências para o desenvolvimento de colónias de abelhas

Recentemente publicado, este estudo levado a cabo na Galiza vem confirmar os resultados que diversos apicultores encontram com a utilização de harpas eléctricas em apiários fortemente pressionados pela Vespa velutina. Realça ainda a importância das medidas de protecção que diminuem a paralisia dos voos de forrageamento. Finalmente, dizer que não se conhecendo uma medida super-eficaz, é da utilização atempada, correcta e diversificada de algumas delas que se retira os melhores resultados (ver outras medidas mencionadas neste blog e nesta categoria “predadores e inimigos”).

Foco: Avaliámos a pressão de predação e comparámos o desempenho da colónia de abelhas, o peso corporal das operárias e a sobrevivência no inverno para colónias protegidas versus desprotegidas em 36 colmeias experimentais em três apiários.”

Resultados: As harpas elétricas protegeram as abelhas, reduzindo a pressão de predação e, portanto, mitigando a paralisia de forrageamento. Consequentemente, a atividade de forrageamento, colecta de pólen, produção de cria e peso corporal de operárias foram maiores em colónias protegidas que por sua vez apresentaram maior sobrevivência de inverno do que aquelas que não foram protegidas, especialmente em locais com níveis intermédios a altos de predação.”

Detalhes do estudo

“As harpas elétricas foram colocadas perpendicularmente às entradas das colmeias, entre duas colmeias contíguas (a). Estes dispositivos foram colocados nos apiários 1 mês antes das primeiras observações. Durante a primeira semana as harpas foram desligadas para permitir que as abelhas se habituassem à sua presença. A armadilha consiste numa armação com fios verticais paralelos conectados alternadamente aos pólos positivo e negativo de um circuito elétrico. O modelo aqui utilizado possui uma modificação para minimizar as capturas acessórias. As vespas voadoras recebem um choque elétrico sempre que tocam dois fios consecutivos (b), paralisando-as por alguns segundos e caindo numa gaiola em baixo com paredes de malha que permitem a fuga de insetos menores. Em seguida, as vespas rastejam dentro da gaiola até cair numa garrafa coletora.”

Sistema de proteção: seis colmeias colocadas em linha, separadas de 20 a 30 cm cada, protegidas com cinco harpas elétricas (a). Ao caçar abelhas na frente das colmeias, as vespas voam entre fios eletrificados que as paralisam (b). Depois caem numa gaiola da qual insetos menores escapam enquanto vespas caem numa garrafa de coleta.

Atividade de forrageamento: O número de forrageiras foi afetado pela pressão de caça e mês em questão. A paralisia forrageira registada nas colmeias desprotegidas no local de maior predação (Gondomar) iniciou-se em agosto e manteve-se durante todo o estudo apesar da diminuição da predação observada em setembro. A paralisia de forrageamento ocorreu principalmente em colónias de abelhas que sofreram taxas de caça superiores a 0,8 vespas/colmeia/10 min . No local com maior pressão predatória, as colónias protegidas apresentaram maiores tamanhos populacionais dentro da colmeia do que as não protegidas durante agosto e setembro, precisamente quando estas colónias apresentaram paralisia. Observámos operárias de todas as idades permanecendo dentro da colmeia em colónias paralisadas. Além do forrageamento, outros comportamentos comuns, como coleta de resinas para produção de própolis ou atividades higiénicas, como voos higiénicos, remoção de indivíduos doentes ou cadáveres, também foram interrompidos.”

Recursos armazenados: Colmeias desprotegidas apresentaram menor colecta de pólen. Os depósitos de pólen e mel não foram significativamente afetados pela predação de V. velutina.”

Desenvolvimento da colónia: A quantidade de cria e a atividade de forrageamento foram significativamente afetadas pela pressão de predação e pelo mês em questão. A quantidade de cria apresentou níveis mais baixos nas colmeias desprotegidas do que nas colmeias protegidas no apiário com maior pressão das V. veluitnas.”

Peso das abelhas: As operárias de colmeias desprotegidas eram 6,7% mais leves do que as de colmeias protegidas.”

Sobrevivência: A sobrevivência no inverno foi de 77,8% para colónias protegidas e 55,6% para colónias desprotegidas. A sobrevivência de colónias desprotegidas foi menor nos locais com pressão de caça intermédia e alta (Fig. 5). A sobrevivência das colónias de abelhas foi ligada à pressão geral de caça e à interação entre pressão de caça e peso das abelhas, mas não apenas ao peso das abelhas.”

Sobrevivência de inverno de colónias de abelhas em três apiários, com pressão elevada, média e baixa, (desprotegidas e protegidas com harpas elétricas).

Conclusões

“Os dados revelaram que, além da predação, fatores temporais também desempenharam papéis importantes na quantidade de recursos disponíveis na colmeia e na sobrevivência da colónia. A redução na colecta de pólen coincidiu com a paralisia de forrageamento em colónias desprotegidas e provavelmente está relacionada com a baixa quantidade de cria observada durante os últimos meses do estudo. Estes resultados suportam a ideia da paralisia de forrageamento como a principal razão para os processos de enfraquecimento e subsequente colapso que afetam as colónias sob ataque de vespas. Nossas evidências sugerem que em apiários com baixas taxas de predação (menos de 1 vespa/colmeia/10 min), as abelhas foram mais capazes de lidar com o predador e o uso de harpas elétricas é de menor utilidade. No entanto, em locais onde a estação de floração é mais curta e o inverno é mais longo e com temperaturas mais baixas (como em Oia, o local de maior altitude do nosso estudo), taxas intermédia de predação levam a uma menor sobrevivência de colónias em colmeias protegidas e particularmente em colónias desprotegidas (ver gráfico em cima).

O menor peso corporal das operárias em colónias desprotegidas fornece novas evidências do stresse fisiológico que as abelhas sofrem sob esta nova ameaça. O pólen é um recurso de capital relevância para as abelhas, pois é uma importante fonte de proteínas, lipídios, vitaminas e outros nutrientes, necessários para a produção de geleia real, com a qual as larvas são alimentadas. Além disso, a qualidade e a diversidade do pólen influenciam as abelhas. Sabe-se que a saúde e a longevidade e a qualidade do pólen afetam o peso das larvas e das abelhas. Assim, a escassez de nutrientes durante a criação das larvas é um mecanismo plausível que está por trás das operárias mais leves. Além disso, a menor quantidade de criação observada em colmeias desprotegidas no final do estudo sugere que o número de operárias para hibernar é menor do que em colónias protegidas. Assim, nossos resultados revelaram que, além do baixo armazenamento de recursos alimentares, dois fatores estão por trás das mortes no inverno de colónias de abelhas desprotegidas: uma deficiência nos níveis nutricionais de adultos invernantes e um número reduzido de operárias.

Além disso, fornecemos evidências de que o estado fisiológico das operárias das abelhas é afetado pela predação de vespas. Portanto, incentivamos os apicultores a facilitar o acesso das abelhas a diversos recursos florais e de água doce, contribuindo assim para diminuir seu stresse fisiológico e falhas no regresso à colmeia. Por isso, quando as colónias sofrem de paralisia de forrageamento é recomendável a suplementação de uma dieta diversificada e rica em todos os nutrientes necessários. Isso deve ser fornecido não apenas durante o inverno para evitar a fome de colónias fracas, mas também no outono, quando as operárias que vão suportar o inverno estão em fase larval.

A instalação de harpas elétricas representa um importante investimento económico inicial para os apicultores que depende do número de harpas e seu preço comercial. Isto, por sua vez, está relacionado ao número e localização das colmeias. Tem sido sugerido um racional de uma harpa a cada duas ou três colmeias, o que provavelmente é inviável para grandes apiários. Além disso, é necessário tempo para manter um sistema funcional. Os apiários precisam ser adaptados frequentemente, e sugere-se formar linhas com distância reduzida entre as colmeias para diminuir a distância das entradas das colmeias à harpa, para obter um maior efeito protetor. Contudo, observámos que em apiários colocados em locais com alta abundância de V. velutina, com uma linha compacta de colmeias (20–30 cm de separação entre elas) e uma harpa entre duas colmeias consecutivas, a redução da pressão de caça foi significativa, mas ainda não suficiente para atingir uma predação nula. Portanto, em áreas altamente invadidas, este método de controle deve ser implantado em conjunto com medidas adicionais, como detecção e destruição de ninhos de V. velutina no entorno dos apiários, a fim de reduzir o número de vespas caçadoras e suas consequências prejudiciais à colónia de abelhas, desempenho e sobrevivência.”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ps.7132

ajudas à renovação do efectivo apícola… em França

Em França, país com uma realidade apícola próxima da nossa, em particular no que respeita a médias de produção e às dificuldades decorrentes do actual contexto meteorológico, os decisores atrevem-se a cometer a “heresia” de dar ajudas forfetárias e a fundo perdido aos apicultores que desejam efectuar a renovação do efectivo apícola.

Que me desculpem alguns campeões da apicultura portuguesa, que desdenham desta tipologia de ajudas, vir aqui falar novamente do “bizarro” caso francês… A razão é simples: pretendo comparar o que é razoavelmente comparável.

Não comparo com os EUA, onde os serviços de polinização dos amendoais são pagos a +200€/colónia; não comparo com o Canadá onde são habituais médias de +100kg/colónia nos campos de canola; não comparo com a Nova Zelândia onde mercado paga o mel de manuka a +400 €/kg; não comparo com a China onde o mel é maturado em fábricas; … comparo com França, com uma realidade próxima, onde os apicultores não desdenham destas ajudas, agradecem-nas e utilizam-nas.

Programa francês de ajuda à renovação do efectivo apícola, com recursos comunitários e nacionais

Ajuda forfetária para compras realizadas entre 01/08/2021 e 31/12/2022

Colmeias novas vazias: 20€
Núcleos novos vazios: 13€
Nucléolos: 8€
Enxames: 40€
Enxames Bio certificados: € 55
Pacotes de abelhas sem rainha: 32€
Rainhas: 8€

fonte: https://www.franceagrimer.fr/Autres-filieres/Apiculture/Accompagner/Dispositifs-par-filiere/Programme-apicole-europeen-PAE-2020-2022/Repeuplement-du-Cheptel

bem-hajam e mais umas coisas

A propósito desta publicação no mural do FB, o meu bem-haja aos que, das mais diversas formas, manifestaram a sua solidariedade e conforto.

Pretendi com esta publicação:

1) chamar a atenção para que num incêndio como este da Serra da Estrela a onda de morte não se resume às florestas e matos. Muita fauna e entomofauna, doméstica e selvagem, morre num primeiro momento ou fica com a sua vida muito dificultada e em perigo nos próximos tempos;

2) ilustrar o que se terá passado em dezenas ou centenas de apiários espalhados pela Serra por via do que se passou no meu;

3) antecipar que a ajuda que o estado possa vir a dar a todos os apicultores que perdem colónias nos incêndios, se a vier a dar, deve ir além do habitual fornecimento de alimento.

Deixo algumas notas justas:

Nota 1: agradeço a todos aqueles que se prontificaram de forma franca a doar-me enxames. Na minha opinião essa ajuda será melhor direccionada a outros companheiros que terão perdido uma parcela maior do seu efectivo.

Nota 2: não sendo especialista em ordenamento florestal, pergunto se este não seria um desastre anunciado. Com tanto combustível no território, com tanta continuidade de floresta e matos, estava escrito por toda a Serra que o incêndio seria gigantesco se a intervenção inicial de combate falhasse, como veio a falhar.

Nota 3: não sendo perito em conservação de parques naturais, pergunto como pode a conservação fazer-se ao arrepio dos interesses sociais e económicos da população lá residente.

Nota 4: como pode o representante da Protecção Civil pretender defender-se com uma análise Macro do que se passou neste incêndio? A análise Macro que possa querer fazer é evidente para todos: o incêndio que começou no extremo Sul da Serra, terminou no extremo Norte da mesma. Mais Serra houvesse mais Serra arderia.

vespa velutina: anestesia de um ninho com recurso a algodão embebido em gasolina

Neste vídeo, Fred Soulat, descreve os procedimentos para levar a cabo a destruição de um ninho primário de vespas asiáticas em 01-08-2022 por introdução na entrada do ninho de algodão embebido em gasolina.


“Os vapores anestesiam as vespas, só resta colocá-las no congelador para matá-las…” diz este apicultor francês.

a invasão da Austrália pela varroa: o ponto de vista de Randy Oliver

Tenho conversado diariamente com um dos dois apicultores cujas operações estão infestadas, assim como outros do setor.
Até agora, mais de 1000 de suas colónias foram sacrificadas, com muitas outras com planos para serem queimadas. Como se pode imaginar, isto é muito difícil para os apicultores, que também foram impedidos de vender os seus enormes stoks de mel armazenados.

O Departamento de Indústrias Primárias (DIP) australiano parece estar a fazer um bom trabalho de “rastreamento de contatos” (links epidemiológicos) e, até agora, todas as detecções estavam ligadas a estas duas operações. A questão-chave é definir o perímetro até onde os ácaros se afastaram destas colónias infestadas. Meu próprio rastreamento de abelhas marcadas indica que há uma deriva considerável de abelhas de colmeia em colmeia para pelo menos 800m, e algumas para 1500m. Sem mencionar que uma abelha carregando um ácaro pode forragear a distâncias de vários quilómetros de distância de sua colmeia e talvez até esbarrar com outra abelha não infestada numa flor.

As perguntas óbvias são se os ácaros saíram da zona de contenção ou se estabeleceram na população silvestre de abelhas. Se ainda estiverem limitados a uma pequena zona, há uma chance viável de erradicação. A preocupação é que atualmente é inverno na Austrália, e algumas das colmeias infestadas tinham contagens de ácaros já muito altas sendo óbvio que tiveram varroa desde pelo menos o início do verão passado. Isso teria dado tempo para uma deriva considerável, talvez para o setor de hobistas em Newcastle.

Aqueles de nós que viveram as invasões de ácaros da traqueia e varroa entendem a futilidade da erradicação se um ácaro já estiver bem estabelecido. A prole de mesmo uma única fêmea de ácaro pode-se espalhar de forma relativamente rápida por um continente, especialmente se auxiliada por transporte inadvertido por humanos.

Para uma melhor triagem de detecção, o DIP acaba de receber uma grande remessa de estrados sanitários dos EUA (que deixei claro que são mais eficazes na detecção de infestações baixas do que as lavagens com álcool). Eles também estão a trabalhar para obter tratamentos de colónias registrados no país. Nos últimos dias, conversei com um fornecedor na América do Norte, cujo telefone tocava sem parar com pedidos de casas de suprimentos de apicultura australianas.

Quando me pediram há vários anos pelo Departamento recomendações para seus planos de incursão, afirmei que se eles não estivessem dispostos a tomar medidas fortes — incluindo o uso de iscas de fipronil para matar colónias silvestres* — suas chances de erradicação seriam zero.
Embora só tenha tido comunicação indireta com o DIP durante esta incursão, estou encorajado que eles estejam de fato se preparando utilizar estas iscas.

Os apicultores profissionais do país estão bem cientes de que a possibilidade de erradicação completa é pequena, mas é claro que a agência, com base na falta de detecções fora da zona de contenção, sente que ainda tem uma chance de lutar.

Uma vez que os apicultores em breve terão de começar a deslocar as colónias para polinizar os pomares de amendoeiras, será necessário impor restrições à circulação, para evitar a dispersão da varroa pelo país. Todos sabemos que basta um único apicultor para estragar tudo num continente inteiro, então vamos cruzar os dedos para que ninguém o faça!

Os apicultores australianos gostam de ter seu mel e cera de abelha livres de acaricidas. Foram feitas sugestões para o tratamento de todas as colmeias que vão para a polinização de amêndoas com tiras de Apivar. É claro que é um retrocesso, já que os apicultores não querem resíduos nos seus produtos de colmeia.

Uma grande dúvida é se a linhagem de ácaros da incursão é resistente a algum acaricida, por isso estão a ser realizados testes. Se os ácaros introduzidos são sensíveis ao amitraz, isso pode ser uma consideração que vale a pena, já que tal tratamento em minha própria operação sem amitraz realmente elimina completamente todos os ácaros de uma colónia.

Se houver algum apicultor australiano que leia isto, aqui estão algumas sugestões:

  • Mantenha a cabeça fria. O DPI parece estar bem informado e fazendo um bom trabalho. Eu elogio-os por tentarem agir com transparência e manterem o público informado. Os apicultores podem ajudá-los cooperando plenamente, especialmente porque haverá agentes não familiarizados com as abelhas.
    Como a maioria dos apicultores australianos não estão familiarizados com os ácaros, eles devem ver fotos de ácaros em lavagens com álcool ou em estrados sanitários, para treinar o seu olhar a reconhecê-los. Eles são difíceis de serem vistos por olhos destreinados, e você não quer perder nenhum!

  • Lavagens com álcool ou shakes de açúcar de 300 abelhas podem não identificar uma infestação leve. Uma contagem com estrados sanitários, usando ácido fórmico, amitraz de libertação rápida ou até mesmo açúcar em pó numa colónia inteira, terá menos falsos negativos.
  • Falando como alguém que realiza milhares de lavagens de ácaros, a melhor recuperação é com álcool a 90% ou detergente Dawn Ultra** (que preferimos, pois oferece mais fácil recuperação, é barato e não inflamável). Eu recomendo usar Dawn em vez de álcool. Requer muito pouca agitação e muito menos trabalho por parte do apicultor.
  • Embora a possibilidade de erradicação desta incursão de varroa seja pequena, ainda é possível e vale a pena fazer o esforço.
  • Os apicultores que são obrigados a sacrificar suas colónias serão compensados*** e devem considerar o sacrifício como um esforço heróico para salvar sua indústria. A Austrália inevitavelmente será infestada pela varroa, mas quanto mais tempo puderem evitá-la melhor para os apicultores. Vamos todos torcer pelo sucesso nesta contenção e erradicação desta incursão!” — Randy Oliver

* Ainda penso que teria sucedido com a expansão da Vespa velutina se os franceses em 2005 tivessem utilizado medidas mais radicais — fipronil, ou inibidores ou reguladores do crescimento da quitina e outros insecticidas em iscos proteicos, colocados massivamente em 2005 e na região de Bordéus.

** Dawn Ultra é um detergente de louça. Desconheço se esta marca em particular é comercializada em Portugal.

*** Espero que o DIP australiano seja conhecedor do caso canadiano no que diz respeito à compensação dos apicultores. No Canadá como as compensações dadas aos apicultores para a eliminação de colónias, aquando das primeiras deteções de varroa naquele país, eram baixas teve como efeito alguns apicultores não declarem a presença de varroa nas suas colónias. O desfecho desta “avareza” é o conhecido.

tratamento da varroose neste verão

Entre as 6h00 e as 7h15 de hoje andei ocupado a colocar o medicamento acaricida que escolhi para o verão deste ano, isto nas colónias Lusitanas do apiário a 600 m onde concluí a cresta anteontem.

Para este tratamento de verão estou a utilizar pela primeira vez o Amicel, decisão que referi em março nesta publicação. Espero, com a mudança das tiras de plástico do Apivar para as tiras de cartão do Amicel, obter resultados melhores nesta época do ano em que o crescimento das taxas de infestação nas abelhas adultas e na criação de abelhas é rapidíssimo — por via da diminuição da população de abelhas e criação, em particular a de zângãos.

Deixo em baixo o foto-filme dos principais procedimentos de preparação e aplicação do Amicel, que ilustram alguns cuidados que considero relevantes para seguir com o maior rigor possível o protocolo definido pelo fabricante.

O recipiente com 1 l de acaricida; as tiras de cartão; a seringa doseadora.
10 ml de solução a aplicar por tira de cartão. Esta dose contém 250 mg de amitraz, metade da quantidade de amitraz presente em cada tira de Apivar.
De acordo com o protocolo do fabricante preparei as tiras cerca de 12 horas antes de as aplicar nas colmeias. Nestas 12 horas estiveram sobre esta rede metálica para escorrer algum excesso de líquido — obrigado Pires Veiga pelas redes de metal.
O protocolo define a colocação de uma tira por colónia durante 12 dias e após este período colocar uma segunda tira. O fabricante pretende que o tratamento cubra um período de 24 dias, para abranger também o tempo de criação dos zângãos.
A tira de cartão com o acaricida foi dobrada a meio sobre o travessão superior do quadro central do ninho. Os acaricidas de contacto, como este e outros, querem-se bem centrados no ninho em contacto muito próximo com as zonas onde há criação.

mel de Portugal: uma razão para o escolher

No mercado português existe mel de diversas nacionalidades à disposição do consumidor. Sendo este o contexto, encontro diversas razões para o consumidor preferir mel produzido em Portugal. Esta publicação serve o propósito de enfatizar esta ideia básica: a opção por mel português contribui de forma decisiva para a preservação do número de colónias de abelhas no nosso país, já a opção por mel de outras nacionalidades não soma esta virtualidade. Não esqueço que o aspecto económico é decisivo para continuar a ver abelhas domésticas nos nossos campos. Sabendo que os apicultores profissionais em Portugal detêm cerca de 50% das colónias e que estes tenderão a preservar as suas abelhas enquanto a actividade for razoavelmente rentável, a decisão de consumo dos portugueses por mel do nosso país é um factor relevante para a sustentabilidade económica da actividade.

E que importa ao consumidor não apicultor que as abelhas domésticas continuem a voar por aqui e por ali, poisando nas plantas que o rodeiam?

Momento da extracção de mel português. Este mel tem associado um valor inestimável: melhorou o território português.

O mel produzido em Portugal provém de colónias de abelhas que no seu labor acabam por polinizar as plantas, os arbustos e as árvores de nossos campos. Este serviço ecossistémico é de importância crítica para a produção de sementes de muitas espécies vegetais. A reprodução e manutenção destas espécies são uma peça chave na preservação da qualidade dos solos e na retenção da água das chuvas nos diversos territórios do país que habitamos. Facilmente concluímos que abelhas são um elo da cadeia que combate a erosão e o empobrecimento dos solos e ajudam a água a infiltrar-se na terra, não se perdendo no mar.

Este aspecto deve ser tido em conta pelo consumidor: ao comprar mel português está não só a comprar um alimento de grande qualidade mas também a contribuir para a melhoria ou preservação da qualidade do ambiente próximo que o rodeia.

minimizando riscos do trabalho apícola

Assim como outros apicultores procuro o mais possível evitar os riscos habituais desta profissão ou, não sendo possível, tento minimizá-los. Entre outros cuidados, raramente sou picado e muito raramente me cai carga nos caminhos de acesso aos apiários.

Nesta publicação vou focar-me noutras medidas que visam minimizar os riscos nesta altura da época apícola. Uma destas medidas é planear o dia por forma a trabalhar no apiário com temperaturas inferiores a 25ºC. Hoje por exemplo, entre as 8h00 e as 10h30, estive ocupado a inspeccionar cerca de 80 colónias com o objectivo de identificar quais as que estavam a pedir mais uma meia-alça. Acabei por colocar mais 37. Por volta das 10h30 a temperatura estava a chegar aos 25ºC, isto a 900 m de altitude, e foi a hora em que iniciei o regresso a casa com o trabalho concluído.

Imagem parcial do apiário a 900 m.
Meia-alça praticamente cheia e…
… colocação de mais uma meia-alça.

Antes, no dia de hoje e por volta das 6h00, entrei no apiário das Lusitanas a 600 m de altitude para efectuar a cresta dos sobreninhos ali presentes. E a este respeito, aproveito para referir o segundo cuidado para minimizar riscos. Na cresta destes sobreninhos divido os quadros por várias caixas. A intenção é não ter de levantar mais de 15 kgs. Com 12 anos de apicultura a tempo inteiro, até agora não tenho problemas cervicais ou lombares. Assim espero continuar, tendo este e outros cuidados!

Na altura da cresta destes sobreninhos a máxima é dividir para vencer. Afinal é de apicultura mobilista que se trata.