Sei da minha experiência, assim como da experiência partilhada por outros companheiros de lides, que uma das principais causas do insucesso na introdução de rainhas em desdobramentos decorre da presença de mestreiros nos quadros do núcleo aquando da libertação da rainha da gaiola. Para evitar o mais possível que as abelhas puxem mestreiros a partir das larvas e ovos presentes nos quadros do desdobramento passei a proceder da forma que passo a descrever, isto sempre que os timings se ajustavam e o permitiam.
A partir de 2017/2018 passei a utilizar a técnica Doolittle sempre que necessitava produzir núcleos para introduzir rainhas virgens (a maioria) ou fecundadas (a minoria) em gaiola. Para tal elegia várias colónias muito fortes do apiário. A seleção destas colónias começava a ser feita em finais de fevereiro/início de março.
O passo seguinte passa por colocar-lhes um sobreninho com quadros puxados vazios.
Em geral, passadas uma a duas semanas a rainha inicia a postura em vários destes quadros no sobreninho. Nessa altura confino a rainha ao ninho por via de uma excluidora de rainhas.
Coloco os quadros com abelhas e criação no sobreninho.
A colónia permanece nesta condição durante 5 a 9 dias antes de as utilizar para fazer os desdobramentos pela técnica Doolittle.
Ao tirar os quadros para os núcleos inspeccionava-os com cuidado com vista a eliminar todos os mestreiros que as abelhas pudessem ter puxado nessa condição de semi-orfanação. Nem sempre puxam mestreiros no estado de semi-orfanação, mas não é absolutamente certo que não os puxem. Por outro lado e como introduzia a rainha em gaiola fechada durante 48 a 72 h garantia sem qualquer dúvida que todas as larvas presentes nos quadros já teriam 7 ou mais dias. Nesta condição, as abelhas do núcleo não tinham matéria prima para puxarem mestreiros, isto é larvas com menos de três de dias de idade. Assim, a propensão para aceitarem aquela rainha estranha que vai emergir de uma gaiola de plástico, uma rainha que não criaram, aumenta. Neste contexto, a aceitação da rainha é a única alternativa de que dispõem para não ficarem irremediavelmente órfãs e condenadas enquanto enxame.
Ainda que confrontadas com este contexto artificial criados pelo homem nos últimos 100 anos, as abelhas apresentam uma plasticidade comportamental admirável para darem a volta a esta situação concreta e específica para a qual a evolução de milhões de anos as não preparou. Tiro o chapéu!