vespa velutina: o estado da arte do que sabemos

Como em muitas outras áreas, o estudo e o conhecimento da Vespa velutina nigrithorax (VV) tem vindo a evoluir lentamente. Como disse alguém não é fácil estudar um insecto que se esconde e que apresenta algumas armas defensivas bem conhecidas. Mas o estudo vai-se fazendo e serve esta publicação para sumariar o que se sabe hoje de mais sólido acerca deste insecto.

  • Introdução acidental: aconteceu em França, muito provavelmente em 2004, de apenas uma rainha, fecundada pelo menos por 4 machos;
  • a expansão: tem sido rápida na Europa, facilitada pelo transporte de mercadorias e pelas muitas fontes de alimento disponíveis (outros insectos e também o lixo, em especial nas zonas urbanas e peri-urbanas);
  • o ciclo de vida: cada ninho gera um grande número de operárias; assiste-se à criação de algumas centenas de novas rainhas por ninho; encontram-se machos diploides (estéreis) em fases precoces do ciclo de vida do ninho (consequência da consanguinidade?);
  • o comportamento de caça: caracteriza-se pelo vôo estacionário em frente às colmeias; as VV apresentam elevado grau de fidelidade ao sítio de caça; não se confirma a marcação química/feromonal das colmeias a atacar; há trofaláxis no vespeiro;
  • comportamento defensivo das abelhas: formação de um tapete/barba de abelhas no alvado da colmeia; tentativas tímidas e ineficientes de “shimmering” (comportamento defensivo presente e muito eficiente nas Apis dorsata e cerana); comportamento de pelotamento da VV mas muito ineficiente na Apis melífera europeia;
  • impacto na entomofauna europeia: a presa favoritas das VV são as abelhas melíferas, especialmente em zonas mais urbanizadas; as VV são atraídas pelos odores exalados pelas colónias de abelhas e pelo avistamento das colmeias; em zonas rurais ou florestais a sua dieta é mais diversificada, verificando-se um aumento relativo de insectos díptera e Hymenoptera vespidae consumidos;
  • o contexto global: numa miríade de perigos e factores danosos para a saúde das abelhas melíferas a vespa velutina vem somar-se-lhes e estima-se que em França ela é responsável, no universo de perda de colónias, por 30% dessas perdas;
  • como lutar contra a velutina: das medidas até agora utilizadas, várias delas com efeitos negligenciáveis, a chave está na destruição/perturbação da actividade dos ninhos; mas a grande dificuldade e problema está em encontrá-los cedo o suficiente;
  • raio de acção da VV: caçam sobretudo num raio de 800m do ninho, e até um raio de 5 km; 95% dos voos acontecem entre as 8h00 e as 19h00 e 95% dos voos demoram menos de uma hora;
  • desenvolvimento de novas tecnologias: estão a ser estudados e melhorados um conjunto de equipamentos para encontrar os ninhos, entre eles o radar harmónico que permite acompanhar de forma precisa a trajetória dos insetos, mas apenas em áreas abertas e é um sistema muito complicado e caro; com um tag/transponder leve (sistema passivo) o alcance é de 450m; a radiotelemetria permite a localização do inseto qualquer que seja o tipo de paisagem (árvores, arbustos, morros, edifícios), é portátil e relativamente barato; contudo o tag/transponder é pesado (sistema ativo) e tem um alcance de 800m;
  • o biocontrolo: os predadores naturais presente na Europa não são eficientes para mitigar o suficiente a predação e controlar a expansão das VV (pássaros e parasitas), e experimenta-se a utilização de de fungos patogénicos (Metarhisium robertsii e Beauveria bassiana, Poidatz et al. 2018, 2019), introduzidos no ninho através de uma estratégia “cavalo-de-troia”.

Como todos os sumários este foi curto para tanto conteúdo, e deixou de fora alguns aspectos muito interessantes já conhecidos ou que se começam a conhecer melhor. Esta publicação pretende também desmistificar alguns assuntos em torno deste insecto exótico e predador da entomofauna nativa, especialmente da abelha melífera europeia. Seremos tão mais efectivos na ajuda às nossas abelhas, restante entomofauna nativa, e também na protecção de uma diversidade de produções agrárias, também predadas pelas vespas de patas amarelas, quanto maior e melhor for o nosso conhecimento.

3 comentários em “vespa velutina: o estado da arte do que sabemos”

  1. Sou apicultor tenho 200 colmeias o meu sucesso em conseguir manter o efetivo é; armadilhas seletivas em final de janeiro para capturar fundadoras e depois fazer o cavalo de Tróia logo de
    seguida com os ninhos pequenos.

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