Em baixo deixo a tradução do sumário de um estudo que me deixou surpreendido por diversas razões. A primeira razão advém da verificação de plasticidade onde não esperava encontrá-la — plasticidade é inteligência no meu dicionário. A segunda está relacionada com o sentido dessa plasticidade — em sentido contrário ao que eram as minhas hipóteses e crenças implícitas. A terceira razão, a generosidade sub-liminar da Natureza na resposta de compensação adaptada às agruras ambientais.
Título: Plasticidade do tamanho do ovo em Apis mellifera: abelhas rainha alteram o tamanho do ovo em resposta a fatores genéticos e ambientais
Sumário: A evolução social levou a padrões e histórias de vida distintos em insetos sociais, mas muitas características individuais e ao nível da colónia, como o tamanho do ovo, não são suficientemente compreendidas. Assim, uma série de experiências foram realizadas para estudar os efeitos dos genótipos, tamanho da colónia e nutrição da colónia na variação do tamanho dos ovos produzidos por abelhas rainha (Apis mellifera). Rainhas de diferentes linhagens genéticas produziram tamanhos de ovos significativamente diferentes em condições ambientais semelhantes, indicando variação genética permanente para o tamanho do ovo que permite uma mudança evolutiva adaptativa. Investigações posteriores revelaram que os ovos produzidos por rainhas em grandes colónias eram consistentemente menores do que os ovos produzidos em colónias pequenas, e as rainhas ajustaram dinamicamente o tamanho do ovo em relação ao tamanho da colónia. Da mesma forma, as rainhas aumentaram o tamanho dos ovos em resposta à privação de comida*. Estes resultados não são explicados apenas por diferentes números de ovos produzidos nas diferentes circunstâncias, mas, ao invés disso, parecem refletir um ajuste ativo da alocação de recursos pela rainha em resposta às condições da colónia. Como resultado, os ovos maiores experimentaram maior sobrevivência subsequente do que os ovos menores**, sugerindo que as abelhas rainha podem aumentar o tamanho do ovo sob condições desfavoráveis para aumentar a sobrevivência da descendência e para minimizar os custos/riscos da criação com os ovos que não se desenvolvem com sucesso e, assim, conservarem energia ao nível da colónia. A extensa plasticidade e variação genética do tamanho do ovo em abelhas melíferas tem implicações importantes para a compreensão da evolução da história de vida num contexto social e implica que este estágio negligenciado da história de vida nas abelhas pode ter efeitos transgeracionais.
* Rainhas num regime alimentar com restrição de acesso ao pólen modificaram o tamanho dos seus ovos e produziram ovos significativamente maiores do que antes de enfrentar tal restrição nutricional.
** As abelhas filhas de rainhas que produziram ovos grandes, porque estavam em colónias pequenas, sobreviveram significativamente mais do que as abelhas filhas de rainhas que produziram ovos pequenos em colónias maiores. Poderá estar aqui uma razão para o que tenho observado repetidamente ao longo dos anos: as colónias mais atrasadas à saída do inverno depressa apanham as mais adiantadas, como escrevi há uns anos atrás.
Fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jeb.13589
Apêndice: sobre a diferença de peso entre ovos de futuras rainhas e ovos de futuras obreiras ver aqui.