reação dos enxames a um generoso fluxo de pólen: o testemunho de um amigo apicultor

Uma das diversas e sempre pertinentes questões que o meu amigo Marcelo Murta me colocou nas nossas muitas conversas foi esta: “Eduardo, como e quando estimulas os teus enxames?” Referi que tinha deixado de utilizar alimentação estimulante há vários anos atrás. Esclareci que o pólen com qualidade e em abundância, que as minhas abelhas colhem no campo e do qual se alimentam a partir de meados de fevereiro, é o único estimulante que conhecem. Para os meus objectivos, esse fluxo vem em boa hora e em quantidade suficiente para estimular os enxames. Esta publicação do Marcelo vem confirmar o que vejo todos os anos nos meus apiários de forma consistente.

Deixo em baixo o texto que o Marcelo teve a amabilidade de escrever para o meu blog. As fotos que acompanham e ilustram o texto são suas.

Meio envolvente.

“Após algumas observações que fui partilhando com o Eduardo nas últimas semanas sobre a minha experiência, fui desafiado pelo mesmo a partilhá-las convosco. 

Ao longo do último ano, anotei as florações existentes num determinado local e, após alguma reflexão, percebi que esse mesmo sítio me iria oferecer maior potencial do que tinha em Coimbra. Potencial este no que toca a localização, exposição solar, intensidade e variedade dos fluxos e pouca vespa asiática (pelo menos por agora). 

No passado dia 19 de Setembro, procedi à transumância de todas as minhas colónias situadas em Coimbra. 75% viajaram para um recanto bastante bonito em Alcobaça e as restantes mudaram de apiário, mas continuam por Coimbra. 

Com um maneio semelhante em todos os enxames, observo que as colmeias de Alcobaça evoluíram estrondosamente num espaço de um mês e meio e que as restantes 25% (Coimbra) estão ainda mais atrasadas e enfraquecidas. Não “culpo” a varroa ou vespa velutina pela situação, mas sim dois fatores extremamente importantes: (1) a existência de um variado e constante fluxo de pólen em Alcobaça desde setembro e (2) a inexistência de um bom e rico fluxo de pólen em Coimbra. 

As fotos que se seguem são referentes aos enxames transumados para Alcobaça.

Na primeira observação, realizada após 3 semanas (10 de outubro), foi possível verificar o forte fluxo de pólen ao longo dos quadros que ia observando. De relembrar que os enxames chegaram com quadros vazios de qualquer reserva de pólen.

Quadro com mel e pão de abelha fresco.

Nesse mesmo dia, também foi visível o impacto deste fluxo constante e variado.

Quadro de criação.
Quadro de criação com uma grande abóbada de mel e pólen. Acredito que nesta descrição o Eduardo colocaria: “estes são os quadros que gosto de ver à entrada e saída do inverno” :).

A 29 de Outubro, a cadência manteve-se, sendo possível de verificar uma forte manifestação do fluxo de néctar uma vez que já era possível sentir os seus doces odores na aproximação ao apiário e, claramente, visível no interior da colmeia, resultado dos poucos mas bons eucaliptos existentes na zona.

O padrão recorrente nos diversos enxames:

Quadro de criação.
Ninho com abelhas.

Após 6 semanas, os enxames transumados em núcleos levaram a primeira meia alça e sobreninho (“colmeia armazém“) para receber o fluxo atual proveniente do eucalipto e de preparo para a entrada do fluxo de medronheiro, que se encontra ativo neste momento.

Colmeia com meia alça.

Não consegui detetar a fonte de pólen nos meses de setembro e outubro. No entanto, havia uma forte predominância da Tágueda, mas sem qualquer visita por parte das abelhas. Verifiquei sim a predominância de abelhas nos figos e no alecrim, que já se via em flor, na altura. Penso que haverá outras florações com maior interesse polinífero que não me são conhecidas (os locais que me ajudem). Ao longo destes dois meses, observei, principalmente, a entrada de pólen laranja, amarelo e um branco amarelado.

Na foto seguinte é visível alguma variedade do pólen armazenado nas últimas semanas. É visível um pólen branco que nos levantou alguma curiosidade sobre a sua possível origem.

Quadro de pólen em tons de laranja, azuis, cinzentos e brancos.

Os enxames de Coimbra encontram-se, à data de 29 de outubro, maioritariamente sem criação e com reservas de pólen praticamente inexistentes.

A foto seguinte representa o padrão: algumas reservas de mel, néctar e uma clara ausência de pólen que se reflete numa interrupção de postura por parte da rainha. “

Quadro de um enxame em Coimbra com abelhas e néctar.

5 comentários em “reação dos enxames a um generoso fluxo de pólen: o testemunho de um amigo apicultor”

  1. Pólen amarelo pode ser o tojo gatinho que começa a floração no fim de Outubro e continua. Pólen branco nesta altura pode ser a nespereira que esta em floração, também existe no inicio de Novembro uma quantidade enorme de flores para serem usadas no cemitérios.

  2. Na zona de Alcobaça diria que a hera e a salsaparrilha são duas das fontes do pólen branco amarelado/amarelo. E elas trabalharam tagueda de certeza nessa altura.

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