o limite máximo de resíduos (LMR): alguns aspectos

Os Limites Máximos de Resíduos (LMRs) fornecem um padrão comercial mensurável que ajuda a garantir que os alimentos produzidos com pesticidas sejam adequados para o nosso consumo.

Os pesticidas só são autorizados para utilização quando as autoridade independentes de avaliação de risco (European Food Safety Authority no caso Europeu) confirmarem que a utilização correcta do pesticida não irá causar problemas de saúde. A definição de LMRs da competência destas autoridades cria uma margem de segurança de pelo menos 100 vezes superior à do nível mínimo de segurança para um resíduo de pesticida. 

As empresas de pesticidas submetem uma ampla variedade de estudos científicos para revisão antes que a EFSA (European Food Safety Authority) defina o LMR. Os dados são utilizados para identificar: 

  • Possíveis efeitos nocivos que o produto químico poderia ter sobre os seres humanos (sua toxicidade crónica e aguda); 
  • A quantidade do produto químico (ou seus metabolitos) que provavelmente permanecerá nos alimentos; 
  • Outras fontes possíveis de exposição ao pesticida (por exemplo, através da utilização em ambiente doméstico ou outros locais).

Todas essas informações são usadas no processo de avaliação de risco. A avaliação de risco inclui considerações sobre:

  • As quantidades e tipos de comida que as pessoas comem (ADI);
  • O consumo de alimentos por bebés e crianças é considerado especificamente;
  • Quão amplamente o pesticida é usado (isto é, quanto da colheita é realmente tratada com o pesticida);
  • Informações sobre química, toxicidade e exposição aguda e crónica.


Finalmente a ciência e a tecnologia permitem ter métodos cada vez mais práticos e fiáveis para detectar e medir os níveis dos resíduos de pesticidas, para que os funcionários reguladores possam garantir que os resíduos estão abaixo do limiar considerado seguro.


como saber se as abelhas foram envenenadas

Uma pilha de abelhas mortas fora da colmeia indica claramente um evento diferente do CCD (Colony Colapse Disorder) ou deserção. Os ácaros podem causar a perda de uma colónia, mas essas abelhas normalmente são encontradas dentro da colmeia no estrado. Uma grande pilha de abelhas fora da colmeia aumenta a probabilidade de envenenamento, mas como ter mais certezas no diagnóstico?

As abelhas reagem de forma diferente a diferentes pesticidas, e a maioria dos herbicidas e fungicidas são menos tóxicos para as abelhas do que os inseticidas. Para o apicultor, o sinal mais óbvio de intoxicação por pesticidas é a presença de um número excepcional de abelhas mortas à frente das colmeias. Os seguintes números foram estabelecidos como diretrizes para avaliar a extensão do envenenamento por pesticidas: 100 abelhas mortas por dia são a taxa de mortalidade normal da colónia; 200-400 abelhas mortas indicam um baixo nível de envenenamento por pesticidas; 500-1000 abelhas mortas indicam um nível médio de envenenamento por pesticidas; mais de 1000 abelhas mortas indicam um alto nível de envenenamento por pesticidas.

Fig.1: Abelhas mortas em grande número à frente da colmeia.

Se tiver ido ao apiário nos últimos dois dias e tiver certeza de que a pilha de abelhas mortas são uma ocorrência recente, provavelmente alguém pulverizou um pesticida nas proximidades e a colónia foi apanhada na pulverização. Numa situação em que se conhece o dia da pulverização com antecedência, feche as colmeias à noite e cubra-as com um lençol ou cobertor molhado para mantê-las frescas em dias quentes. Esta medida contém as abelhas na colmeia durante o tempo de pulverização e fornece uma medida de proteção contra a mesma.

Uma maneira de saber se as abelhas foram envenenadas é examinar algumas das abelhas mortas e ver se a probóscide (língua) está estirada fora das mandíbulas . As abelhas envenenadas geralmente exibem esse sintoma.

Fig.2: Abelha morta por envenenamento com a língua estirada.

A próxima coisa a observar é se o dano está a ocorrer ao nível individual ou ao nível da colmeia. Uma grande pilha de abelhas mortas indica que ocorreu ao nível da colónia num evento único. Alguns insecticidas com efeitos sub-letais matam as abelhas de forma mais gradual dificultando o diagnóstico. Nestes casos as abelhas envenenadas exibem no quadro sinais como tremores, correria desorientada e um comportamento errático irregular.

Existem muitos produtos químicos altamente tóxicos para as abelhas usados nos quintais e hortas. Em baixo está uma pequena lista:

Organofosfatos – acefato, diazinona, malathion e clorpirifos
Piretróides – deltametrina, ciflutrina e lambda-cialotrina
Neonicotinóides – clotianidina, imidaclopride e tiametoxam

Pontos a lembrar
Um único evento pode envenenar e eliminar um grande número de forrageiras, mas uma exposição a longo prazo sub-letal pode ser mais prejudicial para a colónia.
As abelhas envenenadas exibem sinais como tremores, correria desorientada e exibem comportamento errático e irregular.
As abelhas envenenadas normalmente morrem com suas línguas estiradas para fora da mandíbula.
Para evitar envenenamento das abelhas, verifique se utiliza algum dos produtos químicos listados acima.

eliminação de rainhas/linhagens que enxamearam: uma boa prática?

Achei que estas linhas de pensamento do apicultor norte-americano Mike da empresa apícola Bjornapiaries merecem uma tradução e publicação no meu blogue.

Ao longo dos anos, ouvi comentários de que um apicultor deve matar e substituir rapidamente uma rainha que tenha saído com um enxame. O raciocínio sempre foi que, ao manter tal rainha, estamos a criar e perpetuar um “traço de enxameação”. Esta avaliação é equivocada e errada acerca do que realmente acontece dentro da colmeia.

A enxameção é a substituição da rainha enquanto se perpetua a espécie através da sua propagação. Embora a substituição da rainha nem sempre envolva a enxameação, a enxameação envolve sempre a substituição. A rainha é substituída por uma rainha mais jovem.

Ouviremos os apicultores comentando que a enxameação é uma característica que pode ser eliminada nas abelhas, ou pelo menos diminuída, e ao mesmo tempo sugere-se que devemos comprar rainhas que foram seleccionadas para apresentarem enxameação baixa. E, no entanto, não é possível encontrar um criador que comercialize, promova ou anuncie suas rainhas que dê garantias reais na redução das taxas de enxameação. O fato é que quase todos os insetos estão programados ao longo das eras para reproduzir, multiplicar e propagar as suas espécies quase todos os anos. As abelhas não são exceção.

Mesmo tentar criar essa característica nas abelhas poderia ter impactos negativos. Estudos mostraram que as rainhas do primeiro ano produzem mais que rainhas mais velhas. Eles produzem mais cria, mais mel e falham numa taxa mais baixa. Na natureza, as colónias de abelhas selvagens enxameiam quase todos os anos. A natureza coloca suas melhores chances de sobrevivência nas mãos de uma jovem rainha virgem, enquanto expulsa a bem-sucedida rainha mais velha via enxameação, onde, se tal não acontecesse, elas morreriam a um ritmo extremamente alto. Muito poucas enxames que saem para as árvores acumulam o suficiente para sobreviver no primeiro inverno. Se não fossem os apicultores que os apanham e cuidam, os alimentam e os ajudam, estes novos enxames morreriam a uma taxa de cerca de 90%.

Quando um enxame primário é apanhado, sim, recebemos uma rainha mais velha. No entanto, devemos lembrar-nos de algumas coisas. Ela veio de uma colónia que passou com sucesso o inverno. Esta colónia também foi saudável o suficiente para se fortalecer ao ponto de enxamear. Ela não foi substituída devido à saúde ou condição de fraqueza. Ela foi substituída pela enxameação, que permite que a espécie se perpetue, continue por mais um ano e passe adiante sua melhor genética. Pensar que alguns gostariam de sair rapidamente e comprar uma rainha comercial produzida em massa e matar essa rainha do enxame, é apenas louco!

Agora você realmente sabe o que você ganha quando apanha um enxame? Na verdade não. É por isso que você, como apicultor, deve monitorar a nova colónia, certificar-se de que a rainha é o que você quer e substituí-la se se justificar. Mas não a substitua devido a um equívoco e ideia errada que ela vai transmitir algum “traço de enxameação”. A enxameação (e qualquer referência a traços de enxameação) deve ser visto como uma colónia com boa saúde e invernagem bem sucedida.

Pensar que nós, como apicultores, deveríamos estar concentrando os nossos esforços na criação de abelhas que não enxameiam é uma ideia equivocada. È não ter uma compreensão completa dos benefícios do que a enxameação oferece. Pensar que podemos nos intrometer nas forças naturais de propagação e perpetuação das abelhas é apenas outro exemplo de ignorância e arrogância.

Anos atrás, antes dos ácaros varroa, a natureza nos dava um produto maravilhoso (rainhas) que nos permitia manter uma rainha por vários anos sem problemas graves. Com as bactérias, vírus e ácaros de hoje, e outros problemas que estão causando enormes perdas, esses dias de ter rainhas de três ou quatro anos de idade já passaram. É benéfico ter rainhas jovens dentro de cada colmeia. Mas isso não significa matar, possivelmente, a sua melhor genética que vem à sua maneira no último enxame que se apanhou. Eu coloco rainha vindas nos enxames contra as rainhas de produção de criadores no mercado. E não se deixe enganar pelo marketing do criador, sugerindo que eles seleccionam para impulsos de enxameação mais baixos. Eu duvido que seja validado, e eu questionaria qualquer criador disposto a seguir esse caminho.

O enxame controlado através de divisões/desdobramentos oportunos, utilizando realeiras de enxameação, perpetuando sua própria genética e compreendendo os benefícios da enxameação, é benéfico. Não estou sugerindo deixar suas colmeias enxamearem. Eu estou sugerindo que vantagens podem ser obtidas, ao invés de matar rainhas de enxameação e de destruir realeiras de enxameação,  e pensar que você está perpetuando traços negativos. Mantenha a rainha de enxameação, use as realeiras de enxameação e saiba que você está se beneficiando de uma colmeia e genética que foram dignas de enxamear em primeiro lugar.

fonte: http://www.bjornapiaries.com/badbeekeeping.html

5 breves notas acerca deste post:

  • interpretar o que o autor escreve como a apologia de “laissez-faire”/deixa andar acerca da prevenção e controlo da enxameação é, na minha opinião, ter passado ao lado das mensagens centrais do texto;
  • não costumo apanhar enxames nas árvores, contudo na minha experiência de quase 10 anos tenho aproveitado diversas vezes mestreiros de enxameação para dar início a novas famílias. Em geral o resultado da produção de mel nesse ano ou ano seguinte agradam-me o suficiente para continuar a utilizar este procedimento, mas sobretudo agrada-me a vitalidade com que estas colmeias passam o inverno e arrancam no final do mesmo;
  • com base nos registos que vou fazendo verifico frequentemente que existe uma propensão maior para enxamear nas colónias com rainhas no segundo ano de postura, em colónias que se desenvolvem prematuramente no final do inverno, em apiários mais abafados, em colmeias com o chamado ninho infinito, em colmeias congestionadas por abelhas, e por fim e sobretudo pelas condições climatéricas nos momentos pré-fluxo de néctar. Parece-me que a enxameação é despoletado mais do que se refere por aspectos de contexto ou situacionais e não tanto como se julga por factores de natureza hereditária;
  • em 2017 tive uma taxa de tentativa de enxameação/enxameação a rondar os 5% e em 2018 esta mesma taxa esteve entre os 20-25%. Com as mesmas abelhas e com um maneio melhorado. As condicionantes climatéricas explicam em grande medida as diferenças;
  • este ano um conceituado e experimentado apicultor, que me comprou vários enxames, e que tem colónias buckfast junto a casa confessou-me que até essas tinham enxameado.

poluição luminosa é motivo de declínio de insetos

Mudanças climáticas, pesticidas e mudanças no uso da terra por si só não podem explicar totalmente o declínio nas populações de insetos na Alemanha (ver aqui estudo alemão). Os cientistas do Instituto Leibniz de Ecologia de Água Doce e Pesca Interior (IGB) descobriram agora que as regiões que experimentaram um declínio agudo dos insetos voadores também têm altos níveis de poluição luminosa. Muitos estudos têm sugerido que a luz artificial à noite tem impactos negativos sobre os insetos, e os cientistas devem prestar mais atenção a esse fator ao explorar as causas do declínio da população de insetos no futuro.

[…] a equipe liderada pelo pesquisador do IGB, Dr. Maja Grubisic, analisou as localizações das áreas envolvidas no estudo de 2017: áreas que têm um nível de poluição luminosa acima da média. “Metade de todas as espécies de insetos são noturnas. Como tal, elas dependem da escuridão e da luz natural da lua e das estrelas para orientação e movimento ou para escapar aos predadores, e para realizar as suas tarefas noturnas como procurar comida e se reproduzir. A luz artificial nocturna perturba esse comportamento natural e tem um impacto negativo em suas chances de sobrevivência “, explica Maja Grubisic, referindo-se ao ponto de partida de sua investigação.

Os cientistas analisaram todos os estudos recentes sobre os efeitos da luz artificial à noite nos insetos, e descobriram que há fortes evidências que sugerem uma ligação credível entre a poluição luminosa e o declínio nas populações de insetos. Por exemplo, insetos voadores são atraídos por luzes artificiais – e, ao mesmo tempo, são removidos de outros ecossistemas – e morrem de exaustão ou por se tornarem presa fácil. Além disso, linhas de luz ao longo de estradas e/ou ruas impedem que os insetos voadores se espalhem causando uma falta de troca genética dentro das populações de insetos o que pode reduzir sua resistência a outras influências ambientais negativas, que são especialmente pronunciadas em áreas agrárias.

fonte: https://phys.org/news/2018-06-pollution-insect-decline.html

Há cerca de 3 anos atrás verifiquei, numa povoação francesa perto de Lyon, que os candeeiros de iluminação pública noturna eram desligados por volta da meia-noite. Quando indaguei sobre as razões de tal procedimento informaram-me que era uma medida que visava proteger os insectos e aves com hábitos noturnos.

Fig. 1: Mapa da poluição luminosa – Europa. Créditos: Esri / HERE / DeLorme / NGA / USGS

Nota: neste link https://www.galeriadometeorito.com/2016/07/novo-mapa-da-poluicao-luminosa.html é abordada a problemática da poluição luminosa.

as abelhas melíferas (Apis mellifera) nutrizes não consomem pólen com base na sua qualidade nutricional

As abelhas melíferas (Apis mellifera) consomem uma variedade de pólens para responder à maioria de suas necessidades de proteína e lipídos. Trabalhos recentes indicam que as abelhas preferem dietas que refletem a proporção adequada de nutrientes necessários para a sobrevivência e à homeostase. Esta ideia baseia-se no preceito de que as abelhas avaliam a composição nutricional dos alimentos que lhes são fornecidos . Enquanto isto foi evidenciado nos abelhões (bombus sp), os dados actualmente disponíveis para as abelhas melíferas são equívocos. Além disso, há controvérsias sobre se as forrageiras podem avaliar o valor nutricional dos pólens, especialmente porque não o consomem. Neste estudo, focamo-nos nas abelhas nutrizes, que comem a maior parte do pólen que entra na colmeia. Testámos a hipótese de que as abelhas nutrizes preferem dietas com maior valor nutricional. Determinámos primeiro o perfil nutricional dos pólens, o número de plantas disponíveis (riqueza floral) e o grau de crescimento da glândula hipofaríngea provocado por três pólens coletados pelas abelhas. Em seguida, apresentámos às abelhas nutrizes esses mesmos três pólens em testes de escolha emparelhada e medimos o consumo. Para testar se a preferência nutricional era influenciável, também apresentámos às abelhas pólens naturais suplementados com proteínas ou lipidos e dietas líquidas com percentagens proteicas e lipídicas iguais aos pólens naturais. Diferentes pólens provocaram diferentes graus de crescimento da glândula hipofaríngea, mas, apesar dessas diferenças, as abelhas nem sempre preferiram os pólens mais nutritivos. A adição de proteínas e/ou lipidos a pólens menos desejáveis ​​aumentou um pouco a atractividade do pólen, e as abelhas nutrizes não demonstraram uma preferência maior por nenhuma das três dietas líquidas. Concluímos que diferentes pólens fornecem diferentes benefícios nutricionais, mas que as abelhas nutrizes não podem ou não avaliam o valor nutricional do pólen. Isto diz-nos que as abelhas nutrizes podem não conseguir transmitir informações sobre a qualidade do pólen para as abelhas forrageadoras, que regulam os pólens que entram na colmeia.

fonte: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0191050

Em resumo, as abelhas, como nós, nem sempre fazem as escolhas mais acertadas no que respeita à sua dieta. Será de perguntar se os comedouros colectivos de proteína misturados com hidrato de carbono (açúcar) e cheios de abelhas serão o indicador suficiente e inequívoco do valor nutricional da mistura. Ou ao contrário, questionar se uma mistura menos atractiva per si quererá dizer necessariamente que tem menos valor nutricional. Lembro-me rapidamente das couves de Bruxelas e de como o seu elevado valor nutricional não tem correspondência com a pouca vontade que tenho de as consumir.

fórum nacional de apicultura: a manhã

Decidi ir sábado ao Fórum Nacional de Apicultura, que este ano decorreu na bela cidade de Castelo Branco, depois de desafiado na véspera pelo meu amigo e apicultor José Pires Veiga.

Com base na memória do que vivenciei vou arriscar a escrever umas linhas sobre o que retive de mais saliente para mim.

Da sessão solene de abertura ressalvo a perspectiva comum que os diversos oradores comungaram acerca da importância actual e futura do sector agrícola em geral e da apicultura em particular, para o desenvolvimento do território nacional e particularmente das zonas do interior. O reconhecimento deste facto, e nas palavras de um dos oradores, parece no entanto chocar com constrangimentos, mais de natureza legal/normativa que propriamente financeira, que entravam parte dos planos e acções para fazer mais e melhor.

Na sessão da manhã, dedicada ao tema da sustentabilidade futura da apicultura, estabeleceu-se o aquecimento da atmosfera como causador de impactos negativos sobre a flora e polinizadores e os bons serviços ecossistémicos que estes últimos prestam. Nas palavras da ilustríssima oradora, o sector apícola em particular merece o justo reconhecimento de todos, reconhecimento este que deverá materializar-se em apoios de estado mais condizentes com este papel. A necessidade de intervir de forma informada nos solos de áreas ardidas, com vista à potenciação das melhores condições para que a flora nativa germine e se desenvolva em simultâneo com o necessário controlo das infestantes, prendeu a minha atenção na segunda apresentação deste painel.

Fez-se o intervalo onde tive o renovado prazer de voltar a encontrar amigos e conhecidos e trocar palavras, participar na boa disposição e partilhar algumas ideias e anseios com os mais experientes acerca da plasticidade e adaptabilidade da vespa de patas amarelas, também conhecida por asiática. Apesar de diferentes opções quanto ao caminho em concreto a seguir no combate, em comum partilhamos a ideia que se o sector apícola foi aquele que primeiro sofreu com a presença deste insecto, os danos se expandem de forma cada vez mais notável ao sector dos pomaristas e viticultores. Mais preocupante ainda é o achamento de cada vez mais ninhos na malha urbana de cidades e vilas e em locais cada vez mais diversos, o que dificulta a localização dos ninhos e aumenta a probabilidade de o transeunte ser picado.

O painel seguinte de oradores, abordou a realidade da fraude do mel no país vizinho e o caminho que está a ser feito para a validação de uma nova técnica de análise do mesmo (baptizada com a sigla LIBS), com vista a uma mais rápida identificação e despistagem dos méis não conformes assim como a sua origem geográfica. Em simultâneo a legalidade de rotular “mistura de meis UE e não UE”, nas opinião dos dois oradores espanhóis, facilita a concorrência desleal e, mais preocupante, gera perda de confiança dos consumidores em relação à garantia da qualidade do mel em geral.

Resumindo a percepção que tirei das sessões da manhã é que a apicultura é reconhecida por todos como uma actividade indispensável à sustentabilidade do ecossistema sócio-rural, mas que paradoxalmente a sustentabilidade da mesma enfrenta um horizonte negro, consequência das alterações climáticas e destruição pelo fogo de enormes e ricas áreas de pasto. Este cenário adensa-se mais ainda com determinadas práticas comerciais, algumas a coberto de lei, que apesar de identificadas à muito continuam a fazer o seu caminho de forma mais ou menos impune. A cereja no topo desta tempestade quase perfeita tem patas amarelas e entrou na Europa à cerca de 15 anos atrás, vinda do sudoeste asiático. Saí para o almoço com a convicção reforçada que a sustentabilidade da apicultura apresenta níveis de risco e graus de incerteza cada vez maiores. O almoço foi um momento muito agradável, passado com bons amigos e servido de uma conversa animada e enriquecida por pontos de vista nem sempre convergentes que não nos separam, antes nos unem e aumentam o nosso respeito mútuo.

No futuro próximo espero escrever umas linhas sobre as sessões a seguir ao almoço.

a bolha da apicultura está prestes a explodir?

Com a autorização da autora, Rusty Burlew, apicultora e blogger norte-americana, traduzo um post recentemente colocado no seu blogue HoneyBeeSuite. Ainda que não me reveja em tudo o que a autora escreve e, sobretudo, consciente que entre a realidade apícola nacional e a norte-americana existe um oceano de diferenças, este texto aborda aspectos nos quais tenho parado para pensar nos últimos meses, e já reflectidos em posts anteriores, nomeadamente acerca da sustentabilidade das operações apícolas no nosso país.

  • “A bolha da apicultura está prestes a explodir?
    Não se preocupe. Tenho previsto o iminente colapso da apicultura há cerca de oito anos. Até agora, tenho pateticamente errado. Então não perca o sono por isso.

Ainda assim, o fecho repentino das três lojas de apicultura de Brushy Mountain e o desaparecimento de seu site provocaram-me uma sensação desagradável. Sim, eles provavelmente tomaram uma série de decisões de negócios erradas, incluindo a expansão rápida e uma alta relação dívida / lucro. Mas novamente, estou supondo.

Eu também ouvi rumores de que alguns clubes de apicultura estão perdendo membros e a participação nas reuniões está caindo. Não em todos os lugares, lembre-se. Alguns clubes estão melhores do que nunca. Pondere o que digo: estou apenas ouvindo rumores.

  • Ciclos de apicultura
    Isso me surpreende? Absolutamente não. Como muitos interesses e hobbies, a apicultura tem uma história de popularidade que sobe e desce como um termómetro. A crista antes desta foi na década de 70, quando os hippies  –  paz, amor e Volkswagens – decidiram manter as abelhas. De fato, muitos dos actuais “veteranos” começaram na época. É uma peça encantadora da história da apicultura.

A atual bolha da apicultura começou após relatos da imprensa sobre o distúrbio do colapso súbito das colmeias (CCD). Pessoas sem interesse prévio em insetos de repente decidiram salvar o mundo mantendo as abelhas. O atual esforço para ajudar a Mãe Natureza tem muitas semelhanças com os anos 70, e acredito que muitos dos apicultores atuais ficarão com as abelhas como aconteceu com os seus predecessores.

  • Os tempos mudaram
    Para equipar todos estes novos apicultores, centenas de empresários e retalhistas instalaram-se, prontos para ajudar. Actualmente, temos todos os tipos de aparelhos digitais, peças de plástico, ferramentas inteligentes e inúmeros sites. Temos fatos de apicultor feitos de materiais modernos, colmeias de todos os designs concebíveis e alimentadores que não acabam. Você diga o quê e alguém já está fazendo isso.

Mas também temos coisas que eles não tinham na década de 1970 ou em ondas anteriores de apicultura. Temos ácaros varroa, pequenos escaravelhos da colmeia e abundância de vírus, juntamente com piores condições ambientais. A apicultura é mais difícil do que costumava ser e mais cara. Manter-se na apicultura exige um compromisso maior do que apenas comprar uma colmeia e tirar os quadros de mel uma vez por ano.

  • O que é hot e o que não é
    Tulipas, cachorros digitais, rochas… . Tenho que ter isso! Não, brinquedos baratos não são o mesmo que colmeias de abelhas. Os brinquedos, as rochas vêm com dezenas de variações. Então todos nós estamos fazendo as colecções. Então perdemos o interesse. Coisas que deixamos de desejar se  um dia deixam de brilhar, e passamos para o próximo objeto brilhante que capta nosso interesse.

Em contraste, muitas complexidades e ironias associadas à apicultura são consistentes com as rochas de colecção. Por um lado, na base da fileira apícola temos apicultores profissionais. Eles já cá estavam antes da ascensão e estarão aqui depois da queda. Eles são a espinha dorsal da indústria da apicultura e não vão a lugar nenhum. Eu não posso imaginar o que eles acham de todo o alarido e gadgets, mas eles sabem dos ciclos. Eu presumo que muitos apenas encolhem os ombros e dizem: “Isso também passará”.

  • Uma triste ironia
    Mas a grande ironia, o resultado realmente triste da atual bolha da apicultura é que ela não salvou as abelhas. De fato, tudo piorou. O aumento dos apicultores originou-se nos relatos do colapso súbito das colmeias, e você ainda pode encontrar referências atuais ao CCD, embora nenhum caso oficial tenha sido registado nos últimos anos.

Estranhamente, as abelhas nunca estiveram ameaçadas no passado. Na verdade, elas têm uma história de diferentes tipos de colapsos que nunca foram compreendidos ou diagnosticados. Talvez o CCD tenha relação com ácaros, ou talvez não, mas uma coisa é certa: o CCD causou a bolha mas não salvou as abelhas.

Se alguma coisa provocou, foi a propagação de ácaros varroa e os vírus que carregam e que foi intensificada pela bolha da apicultura. Como o número de colmeias cresceu, e cada colmeia foi colocada perto de outra, os caminhos para a transmissão de doenças e parasitas multiplicaram-se geometricamente. Assim como as doenças humanas se movem mais rapidamente em áreas densamente povoadas, as doenças das abelhas podem espalhar-se rapidamente quando muitas colónias habitam um espaço limitado.

  • Em cima de tudo isto
    A coisa que mais me chocou ultimamente foi saber o número de tratamentos usados por alguns ​​para controle de ácaros. Dez anos atrás, muitos apicultores tratavam os ácaros uma vez por ano. Mas como a transmissão de ácaros aumentou devido ao elevado numero de colmeias, o número de tratamentos para os ácaros necessários para manter uma colónia viva aumentou também. Na semana passada, quando algumas pessoas no BEE-L mencionaram tratar 12 ou 14 vezes por ano, fiquei espantada.

Colónias gaseadas com vapor ácido repetidamente ao longo do ano* não é algo que eu esteja interessada em fazer. Se eu tivesse que fazer isso, eu deixaria a apicultura num piscar de olhos. Chame-me  romântica irrealista, mas esse tratamento destrói a imagem que tenho da apicultura. A fresca brisa do campo. Abelhas e flores dançando ao vento. O rico cheiro de néctar e da criação. O doce brilho de mel na torrada.

No entanto, aqueles que têm ácaros e não tratam acabam espalhando doenças e tornam o prognóstico de colónias saudáveis ​​muito sombrio. As abelhas livres de tratamento precisam de se afastar do constante ataque de doenças e parasitas, mas é difícil conseguir suficiente afastamento com tantos apicultores.

Além disso, as abelhas que realmente estão em apuros, as abelhas que realmente precisam da nossa ajuda não são as abelhas importadas, mas as abelhas nativas**. O excessivo número de colónias de abelhas prejudicou a saúde das abelhas nativas devido ao aumento da competição por alimento e transferência de patógenos para o meio ambiente. Até mesmo as abelhas selvagens são encontradas com o vírus da asa deformada.

  • Talvez seja só eu
    Talvez esteja errada sobre a bolha estourar como estive errada tantas vezes antes. Mas se a queda estiver chegando, acho que será melhor para as abelhas, tanto as manejadas quanto  as selvagens. Ninguém tem que deixar a apicultura, também. Um número menor de novas colónias, juntamente com a mortalidade natural, depressa levaria os números das colmeias para um nível mais sustentável.

Estou curiosa para saber se alguém detectou uma alteração ou se estou imaginando uma tendência que não existe. Além disso, eu disse que desistiria se tivesse que tratar 12 vezes por ano. E se você? Você tem um limiar em que a apicultura não faz mais sentido? Ou você continuaria independentemente? Diz-me o que pensas. Obrigado pela tua visão.

Rusty
Suíte Honey Bee”

fonte: https://honeybeesuite.com/is-the-beekeeping-bubble-about-to-burst/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+HoneyBeeSuite+%28Honey+Bee+Suite%29

  • Notas:
  • * Não tenho dúvidas que a autora está a referir-se aos sucessivos e repetidos tratamentos com ácido oxálico sublimado tão em voga entre os apicultores norte-americanos, entre outras razões pelo baixo custo dos mesmos.
  • ** As abelhas melíferas da espécie que temos nas nossas colmeias foram importadas para os EUA durante o processo de colonização daquele território. O território tinha e tem muitas outras espécies de polinizadores, abelhas nativas entre outras.

monitorização da taxa de infestação por varroa: o tabuleiro/cartolina pegajosa

Uma vez mais socorro-me de Randy Oliver para analisar as virtudes e insuficiências do tabuleiro/cartolina pegajosa (stickyboards) e da lavagem de abelhas com álcool/detergente  para monitorizar a taxa de infestação de colónias de abelhas pelo ácaro varroa.

  • “Os tabuleiros/cartolinas pegajosas
    Muitos apicultores usam o tabuleiro/cartolina pegajosa (stickyboards) porque não precisam de abrir a colmeia, o que é uma vantagem. Mas se tem mais de 40 anos, então você tem que lidar com o fato de que é difícil e entediante discriminar os ácaros no meio do lixo da colmeia, e mais ainda manter o total de ácaros contados sem perder alguns ou contar duas vezes os mesmos (Fig. 1). Além disso, a contagem dos ácaros no tabuleiro/cartolina pegajosa deve ser ajustada não só à força da colónia, mas também à época do ano e à quantidade de criação presente para avaliar a maior ou menor proximidade com o limiar para o tratamento .

Fig. 1: Contar ácaros entre o lixo da colmeia no tabuleiro/cartolinas pegajosa é um processo entediante que requer boa visão ou ampliação suplementar. A queda natural do ácaro é um indicador indireto da taxa de infestação do ácaro, uma vez que a contagem é amplamente dependente da quantidade de criação emergente no primeiro dia. Esta parte do tabuleiro/cartolina pegajosa mostra claramente cinco ácaros adultos, um adulto parcialmente escondido por um pedaço de lixo de colmeia e uma concha parcial de ácaro.

Mas o que eu realmente queria saber era o quão consistentemente a queda natural dos ácaro refletia a taxa real de infestação das abelhas adultas na colmeia?

[…] Observei que os níveis de ácaros caídos aumentaram e diminuíram consideravelmente de um dia para o outro, o que foi surpreendente, pois acho que é seguro assumir que a taxa de infestação de ácaros do apiário não varia muito de um dia para o outro. Isso levantou uma questão na minha mente quanto à consistência das contagens para cada colmeia individual, o que me diria o quanto eu poderia confiar numa única contagem. Eu normalizei os dados e obtive o gráfico abaixo (Fig. 2).

Fig. 2: Tabuleiro/cartolina pegajosa com os dados de seis colmeias ao longo do tempo. Note que em qualquer dia em particular, a contagem pode subir ou descer facilmente multiplicado um fator de dois!

Claramente, a queda natural de ácaros é altamente variável de um dia para o outro. Então eu me perguntei se o mesmo se aplicaria a uma lavagem de abelhas com álcool.

  • Queda natural ácaros vs. lavagem com álcool
    Por sorte, eu também havia coletado dados com lavagens com álcool de ½ xícara de abelhas das mesmas colónias, às vezes nos mesmos dias em que obtinha contagens nos tabuleiros/cartolinas pegajosas(fig. 3).

Fig.3: Lavagens com álcool para as mesmas colmeias e nas mesmas datas do gráfico anterior. Observe algumas coisas: a variabilidade reduzida de lavagens com álcool e que as contagens através dos dois métodos para determinar a taxa de infestação de ácaros não correspondem para cada colónia (a cor de cada colmeia é igual nos dois gráficos).

Do ponto de vista prático, a questão mais importante é qual o método que reflete mais de perto a taxa real de infestação na colmeia. Como a lavagem com álcool é uma medida direta do número real de ácaros por 100 abelhas, provavelmente terá maior relevância biológica (e prática). Então vamos comparar os dois para ter um conjunto de dados completo (Fig. 4).

Fig. 4: Comparações da queda natural de ácaros através dos tabuleiros/cartolinas pegajosas e lavagem de álcool de ½ xícara de abelhas no final de julho e início de agosto. O que é alarmante é a contagem da queda natural de ácaros na área sombreada rosa no fundo, na qual a queda de ácaros naturais subestima substancialmente uma taxa de infestação grave na colmeia (mais de 5 ácaros / 100 abelhas). Menos preocupantes eram as contagens nos tabuleiros/cartolinas pegajosas na área azul, o que superestimava o problema.

Como você pode ver acima, os dois métodos de monitorização seguiram a mesma tendência geral – a queda de ácaros naturais tendeu a subir à medida que a taxa real de infestação de ácaros aumentou. O problema é que, numa percentagem razoável dos casos, a queda natural não refletiu o surgimento de uma séria infestação de ácaros (acima dos 5%)!

  • Aplicação prática: perdi a fé na queda natural de ácaros como meio de monitorar a infestação pelos ácaros varroa. É útil quando usado para determinar se um varroacida promove uma queda rápida no seu número, mas não tanto para indicar o nível biologicamente relevante de infestação pelos ácaros. Se alguém usa tabuleiros/cartolinas pegajosas como único método de monitorização, sugiro que faça a contagem ao longo de um largo período de tempo.”

fonte: http://scientificbeekeeping.com/mite-management-update-2013/

perspectivas actuais sobre o sistema imunológico nos insectos e sua vacinação

  • Os componentes do Sistema Imunitário

Nos mamíferos, o sistema imunitário (SI) é composto de dois componentes, um inato e outro adquirido. Ambos reconhecem microrganismos invasores como não-próprios, e ativam respostas para eliminá-los. E nos insectos qual é a arquitectura do seu sistema imunitário? Nos aspectos fundamentais  os mecanismos de resposta do SI nos insectos  é semelhante ao dos mamíferos.

Agentes infecciosos ameaçam qualquer organismo. Portanto, mamíferos e insetos desenvolveram uma complexa rede de células e fatores humorais denominados sistema imunológico capazes de controlar e eliminar patógenos. A imunidade varia entre diferentes grupos de animais, mas sempre contém um sistema imunológico inato que pode agir rápido e freqüentemente eficaz contra uma ampla gama de patógenos distintos (ou seja, vírus, bactérias, fungos e parasitas eucarióticos). Em mamíferos e insetos, a comunicação entre a regulação das células do sistema imunológico é realizada por citocinas que orquestram a defesa contra os invasores. O maior desafio para reconhecer e combater patógenos é o mesmo para qualquer hospedeiro  Em insetos e mamíferos, os patógenos são reconhecidos como não-próprios pelo reconhecimento de padrões moleculares associados aos patógenos. Além disso, receptores similares de reconhecimento de patógenos e vias de sinalização ativam a resposta imune em insetos e mamíferos. ” (in https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18511854)

 

  • A mudança de paradigma e as possibilidades de vacinação dos insectos

Contudo, até há pouco tempo, a comunidade científica não dispunha de evidências robustas que os insectos pudessem construir a componente adquirida/não inata do seu SI. Julgava-se que os insectos apenas dispunham  de um sistema imunitário inato, e por essa razão algumas terapias, como por ex. a vacinação de insectos contra determinadas doenças, não era objecto de estudo. Contudo como disse Bob Dylan “os tempos estão a mudar” e cada vez surgem mais evidências que também os insectos constroem a componente adquirida dos seu sistema imunitário. Esta mudança de paradigma científico abre o campo a mais investigação fundamental, ao mesmo tempo que abre avenidas à investigação aplicada, como o caso da investigação na criação de vacinas para determinados insectos que nos são benéficos, e naturalmente estou a pensar aqui nas abelhas.

Descobertas recentes forneceram evidências para a existência
de imunidade adquirida não vertebrada. […] Isto é
oposto ao paradigma de que apenas os vertebrados manifestam
as duas formas de mecanismo imunológico; […] Nós pensamos que ambas as formas de imunidade são
similarmente antigos, e co-evoluíram em resposta a
estilo de vida, compensações custo-benefício e simbiose versus
parasitismo. No entanto, diferentes espécies construíram
diferentes soluções imunológicas que não são necessariamente
geneticamente relacionados, mas têm uma função geral semelhante
permitindo que os indivíduos aprendam com a experiência dos seus próprios sistemas imunológicos; a sobrevivência da espécie depende da
experiência imune adquirida dos seus indivíduos.” (in http://www.weizmann.ac.il/immunology/NirFriedman/sites/immunology.NirFriedman/files/uploads/rimer_cohen_friedman_-_2014_-_do_all_creatures_possess_an_acquired_immune_system_of_some_sort.pdf)

  • A investigação aplicada ao caso das abelhas

Como já publiquei anteriormente, alguma investigação específica, está a analisar os mecanismos de transmissão de informação adquirida pelo SI da abelha rainha à sua descendência. Os resultados para já são promissores e o caminho está a fazer-se.

O sistema imunológico dos insetos pode reconhecer patógenos específicos e estimular a imunidade da prole. A alta especificidade da imunização transgeracional pode ser alcançada quando as fêmeas dos insetos transferem elicitores imunes para o desenvolvimento de oócitos. O mecanismo molecular por trás dessa transferência tem sido um mistério. Aqui, nós estabelecemos que a proteína vitelogenina presente na gema do ovo dos insectos é o portador de elicitores imunológicos. Utilizando a abelha, Apis mellifera, demonstramos com microscopia e [?] que a vitelogenina se liga a bactérias, tanto a larva de Paenibacillus – a bactéria gram-positiva causadora da doença Loque americana – quanto a Escherichia coli que representa bactérias gram-negativas. […] Estas experiências identificam a vitelogenina,  amplamente presente nas espécies ovíparas, como o portador de sinais imunológicos. Este trabalho revela uma explicação molecular para a imunidade transgeracional em insetos e um papel anteriormente desconhecido para a vitelogenina.” (in  https://journals.plos.org/plospathogens/article?id=10.1371/journal.ppat.1005015)

Os autores deste último artigo estão a trabalhar na vacina contra a loque americana. Espero que cheguem a bons resultados e que estes bons resultados animem e iluminem o caminho a outros. A vacinação é uma ferramenta tremendamente eficaz na luta contra patógenos em espécies que se organizam em sociedades colectivas com um largo número de indivíduos a partilharem o mesmo espaço, como é o caso das abelhas melíferas com que trabalhamos.

 

 

pms: parasitic mite syndrome (síndrome de parasitação pelo ácaro varroa)

Fig. 1: Ácaros Varroa alimentando-se da criação não selada.

PMS ou Parasitic Mite Syndrome é uma condição que faz com que uma colónia de abelhas enfraqueça e eventualmente morra. Ainda não foi detectado um patógeno que cause os sintomas que surgem com este síndrome. No entanto, existem sempre ácaros varroa presentes com este síndrome. Os sintomas na criação são semelhantes a outras doenças, mas as larvas não formam um filamento com o teste do palito. Colónias com PMS apresentam larvas brancas semi-devoradas pelas abelhas obreiras. As larvas podem aparecer afundadas e distorcidas nas paredes laterais do alvéolo. As pupas surgem  semi-devoradas e um bom número  são removidas do alvéolo. A maioria dos sintomas apresentados provém do trabalho efectuado pelas abelhas com funções higiénicas que tentam remover as larvas e pupas infestadas pelo ácaro varroa. Às vezes as larvas apresentam uma cor mais escura e isso é atribuído à decomposição ou acção de bactérias secundárias.

Fig. 2: Quando se começa a ver pupas com a cabeça devorada (em vários alvéolos), isso é um sinal de que os níveis do ácaro estão altos.

Sintomas:
• Padrão de criação irregular, ácaros varroa presentes nas abelhas adultas.
• Os ácaros muitas vezes podem ser vistos deslocando-se sobre os opérculos da criação selada.
• Os ácaros também podem ser encontrados sobre as larvas (geralmente as larvas apresentam-se distorcidas ou semi-devoradas).
• Número relativamente baixo de abelhas adultas (dependente do tempo decorrido com PMS).
• Grandes colónias apresentam estes sinais agravadas por altos níveis de varroa e frequentemente mostram um aumento da agressividade, falta de ovos e de larvas (devido a condições inadequadas para o seu desenvolvimento), mestreiros de substituição podem estar presentes, abelhas rastejando na entrada da colmeia e/ou abelhas com asas deformadas).

• Nenhum odor presente até as larvas semi-devoradas começarem a mudar de cor e decompor-se.

Fig. 3: Criação exibindo sinais de PMS. Este é um indicador de que a colónia não tem muito mais tempo de vida, a menos que a varroa seja controlada imediatamente. 

Fig. 4: Pupa semi-devorada, larva distorcida e um ácaro varroa escondido no fundo de um alvéolo.

Fig. 5: Tarde demais – esta colónia já entrou em colapso –  abelhas dispersas, ácaros e qualquer estirpe de vírus que matou a colónia podem ser transportadas para outras colmeias dentro do alcance do voo. É esta dispersão que recompensa o monstro (PMS) por causar a morte de uma colónia no final da temporada.

Fig. 6:  É assim que se apresenta o PMS quando a população da colónia diminui. Não vereremos muitos ácaros presentes nesta fase do PMS; também haverá muito pouca criação presente na colónia. A população será pequena e poderemos ver várias mestreiros de substituição.
Nesta fase, o PMS é muito similar à Loque Europeia, exceto que as larvas têm diferentes idades e não há uniformidade nos sintomas apresentados pela criação aberta.

Fontes

https://beeinformed.org/2013/10/15/parasitic-mite-syndrome-pms/

http://scientificbeekeeping.com/the-varroa-problem-part-17c/

Nota: Síndrome (do grego “syndromé”, cujo significado é “reunião”) é um termo bastante utilizado em Medicina e Psicologia para caracterizar o conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada patologia ou condição. (fonte: https://www.significados.com.br/sindrome/)