No mundo actual o comércio global é uma realidade. Uma parte dos produtos produzidos em Portugal são vendidos nos quatro cantos do mundo. Estas portas abertas para a exportação dos nossos produtos tem como contrapartida Portugal (ou melhor a UE) ter de adoptar uma política recíproca: manter as portas abertas às importações de produtos dos mais diversos pontos do mundo.
No que respeita ao mel estas mesmas regras também se aplicam. Se exportamos uma parte da nossa produção, também importamos mel de outros países, em particular do maior produtor mundial, a China. Sobre as certezas e suspeitas em relação à qualidade do “mel” chinês já escrevi por aqui várias vezes. Sobre o impacto da concorrência destrutiva deste produto, a que alguns chamam mel, também já por aqui escrevi. O que me traz agora aqui é um aspecto correlacionado: como manter um sector profissional à tona de água se o mercado de mel a granel mantiver este ano a mesma tendência baixista que se verificou no ano passado?
Para responder a esta questão muitos de nós focam aspectos como a necessidade de se rotular o mel de forma mais transparente, como sempre se fez em Itália, por ex.; a necessidade de concentrar a produção em cooperativas eficientes e com mercados que escoem a valores justos as 5 a 10 mil toneladas/ano que se produzem em Portugal; a necessidade de fiscalizar mais e melhor as 200 mil toneladas/ano de mel importado pela UE com instrumentos e técnicas capazes de identificar as fraudes cada vez mais sofisticadas; a necessidade de campanhas de sensibilização para promover o consumo de mel nacional, de forma a convencer os consumidores que tem ganhos em comprar mel a 10 €/kg, quando na mesma prateleira encontra outros produtos também chamados mel a 5 €/kg. Relativamente a estas propostas só um idiota se lhes oporia. Claro que são medidas justas e necessárias. Desde 2011 que venho escrevendo em público sobre a maior parte delas. Deixo no entanto uma questão: se elas forem aplicadas já amanhã, coisa em que só um sonhador em delírio acredita, estará cada um de nós, apicultor profissional, em condições de esperar que as mesmas produzam efeitos e se reflictam no dinheiro que precisamos ter nos bolsos para honrar os nossos compromissos de hoje?
Apêndice: neste link podemos ver algumas infografias elucidativas do mercado de mel europeu e mundial: http://www.europarl.europa.eu/news/en/headlines/economy/20180222STO98435/key-facts-about-europe-s-honey-market-infographic