quantificando o valor dos serviços ecossistémicos: um estudo de caso sobre a polinização de abelhas no Reino Unido

O argumento mais forte para o apoio estatal ao sector apícola (como se faz por ex. em Espanha e França) já existe, é objectivo, consensual claro e estrutural: os polinizadores em geral, e as abelhas melíferas em particular, desempenham um papel crítico na sustentabilidade da produção de inúmeros produtos da nossa dieta alimentar diária. O declínio do número de colónias de abelhas melíferas na Europa, resultante da fraca sustentabilidade económica das operações apícolas, colocará em causa a qualidade e a acessibilidade dos consumidores a uma vasta gama de produtos alimentares que hoje estão nas suas mesas. O cerne da actuação dos decisores políticos/formuladores de políticas é gerir um orçamento e decidir quais as áreas a apoiar com dinheiros públicos. Muitas das vezes essas decisões são condicionadas pela percepção que estes decisores têm do acordo maior ou menor das populações votantes relativamente à canalização de parcelas de dinheiros públicos para as áreas “a”, “b”, “c” ou “d”. Na minha opinião, no caso do apoio a áreas críticas para o bem-estar das populações os argumentos científicos consensuais deveriam ser suficientes, como é o de manter e fazer crescer no futuro a população de polinizadores. Mas sabemos bem que as prioridades da agenda política são determinadas muitas das vezes pelas percepções dos ganhos de votantes e clientelas políticas, isto é, a percepção que têm da popularidade das medidas mais do que pela justeza e necessidade das mesmas. Na mente dos decisores políticos está frequentemente presente o cálculo de como se traduzirá em ganhos de votantes se e quando determinados montantes do erário público forem canalizados para áreas da economia que podem suscitar alguma estranheza em algumas camadas populacionais, como o caso vertente dos polinizadores. Para tranquilizar e serenar os decisores políticos que a aplicação de dinheiros públicos e/ou privados na protecção dos polinizadores era não só aceite como bem vista, foi feito no Reino Unido um inquérito que visava determinar a vontade e o montante que os súbditos de Sua Majestade estavam dispostos a aplicar na protecção dos polinizadores. Em baixo apresento o sumário:

Existe a preocupação de que os insetos polinizadores, como as abelhas, estejam atualmente diminuindo em grande número e que estão sob séria ameaça com as mudanças ambientais, como a perda de habitat e alterações climáticas; o uso de pesticidas na agricultura intensiva e doenças emergentes. Este artigo tem como objetivo avaliar quanto apoio público haveria na prevenção de declínios maiores e manter o atual número de colónias de abelhas no Reino Unido. O método de avaliação contingente (MAC) foi utilizado para obter a disposição de pagar (DDP) uma política eventual de proteção aos polinizadores. Os entrevistados foram questionados se eles teriam disposição de pagar e apoiar tal política e quanto eles se dispunham a pagar? Os resultados mostram que a média de DDP para apoiar a política de proteção de abelhas foi de £ 1,37 / semana / domicílio. Com base em 24,9 milhões de lares no Reino Unido, isso equivale a £ 1,77 bilhões por ano. Esse valor total pode mostrar a importância de manter o serviço global de polinização para os formuladores de políticas. Nós comparamos este total com estimativas obtidas usando uma avaliação simples de mercado da polinização para o Reino Unido.

fonte: https://www.researchgate.net/publication/228737531_QUANTIFYING_THE_VALUE_OF_ECOSYSTEM_SERVICES_A_CASE_STUDY_OF_HONEYBEE_POLLINATION_IN_THE_UK

Concluo reafirmando que certas áreas devem ser apoiadas, indpendentemente da opinião pública, da pressão mediática, da maior ou menor vitalidade do sector, da maior ou menor organização do mesmo, porque o conhecimento científico assim o obriga. A somar a isto, e neste caso em concreto, os dados obtidos dão sustento à ideia que os cidadãos do Reino Unido não vêm o apoio à actividade apícola como mal-aplicado, muito pelo contrário. Em resumo e para levar para casa, é uma medida não só necessária mas também popular.

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