resíduos químicos em alimentos e risco de cancro: uma análise crítica

“Introdução

Possíveis riscos de cancro decorrentes de resíduos de pesticidas nos alimentos têm sido muito discutidos e debatidos com afinco na literatura científica, na imprensa popular, na arena política e nos tribunais. Pesquisas de opinião do consumidor indicam que grande parte do público dos EUA acredita que os resíduos de pesticidas nos alimentos são um sério risco de cancro (Opinion Research Corporation, 1990). Em contraste, estudos epidemiológicos indicam que os principais fatores de risco de cancro são o fumo do tabaco, desequilíbrios alimentares, hormonas endógenas e inflamação (por exemplo, infecções crónicas). Outros fatores importantes incluem exposição intensa ao sol, falta de atividade física e consumo excessivo de álcool (Ames et al., 1995). […]

Químicos naturais e sintéticos na comida e sua relação com o cancro

A atual política regulatória para reduzir os riscos de cancro humano baseia-se na ideia de que substâncias químicas que induzem tumores em bioensaios de cancro em roedores (ratinhos brancos de laboratório, sobretudo) são potenciais carcinógenos em humanos. Os produtos químicos selecionados para testes em roedores, no entanto, são principalmente sintéticos (Gold et al., 1997a, b, c, 1998, 1999). O enorme cenário de exposição humana a substâncias químicas naturais não foi sistematicamente examinado. Isso levou a um desequilíbrio nos dados e na percepção sobre possíveis riscos carcinogénicos para os seres humanos devido a exposições químicas. O processo regulatório não leva em conta (1) que as substâncias químicas naturais são maior fatia do bolo de substâncias químicas às quais os seres humanos estão expostos; (2) que a toxicologia de toxinas sintéticas e naturais não é fundamentalmente diferente; (3) que cerca de metade dos produtos químicos testados, sejam naturais ou sintéticos, são cancerígenos quando testados usando protocolos experimentais atuais; (4) que o teste de carcinogenicidade em doses quase tóxicas em roedores não fornece informações suficientemente fidedignas para prever o número de cancro humanos que podem ocorrer com a exposição a doses baixas; e (5) que a elevada frequência do teste na dose máxima tolerada (DMT) pode causar morte celular crónica e consequente substituição celular (um fator de risco para cancro que pode ser limitado a altas doses) e que ignorar esse efeito na avaliação de risco pode exagerar a percepção dos riscos.

Estimamos que cerca de 99,9% das substâncias químicas que os seres humanos ingerem ocorrem naturalmente. As quantidades de resíduos de pesticidas sintéticos nos alimentos vegetais são baixas em comparação com a quantidade de pesticidas naturais produzidos pelas próprias plantas (Ames et al., 1990a, b; Gold et al., 1997a). De todos os pesticidas dietéticos que os americanos comem, 99,99% são naturais: eles são os produtos químicos produzidos pelas plantas para se defenderem contra fungos, insetos e outros predadores animais. Cada planta produz uma matriz diferente de tais produtos químicos (Ames et al., 1990a, b).
[…] Apesar dessa exposição enormemente maior a substâncias químicas naturais, entre os produtos químicos testados em bioensaios a longo prazo, 77% são sintéticos (1050/1372) (Gold e Zeiger, 1997; Gold et al., 1999).

Concentrações de pesticidas naturais em plantas são geralmente encontradas em partes por mil ou milhões, em vez de partes por bilião, que é a concentração usual de resíduos de pesticidas sintéticos. […] É provável que quase todas as frutas e verduras do supermercado contenham químicos naturais que são cancerígenos em roedores (os ratinhos brancos de laboratório) . Embora apenas uma pequena proporção de químicos naturais tenha sido testada quanto à carcinogenicidade, 37 dos 71 que foram testados são carcinógenos em roedores e estão presentes nos alimentos comuns.”

Fonte: https://toxnet.nlm.nih.gov/cpdb/pdfs/handbook.pesticide.toxicology.pdf

Nota : Como em quase tudo, senão em tudo mesmo, também esta dimensão da realidade não é a preto e branco. Restringir a questão e percepção dos riscos carcinogénicos aos pesticidas químicos, naturais ou sintéticos, presentes nos alimentos que consumimos é simplista e deslocado. Em simultâneo ignorar que os produtos alimentares de origem vegetal que nos chegam à mesa estão repletos de pesticidas/químicos naturais com potencial carcinogénico é psicologicamente reconfortante. Lamentavelmente aquele simplismo e este conforto não coincidem com a realidade.

decálogo para lutar contra a vespa velutina

Nota prévia: não pretendo neste post fazer publicidade aos equipamentos e marcas. Pretendo apenas partilhar informação que me parece pertinente.

1.– No começo da primavera as velutinas só buscam o néctar e começam a desenvolver seu ninho, nesta fase elas são praticamente inofensivas para as abelhas, muitas se matam entre elas lutando pelos ninhos.

2 .- Se encontrarmos um ninho primário, não devemos eliminá-lo até que saibamos que as primeiras obreiras já nasceram, será o sinal de que é um ninho definitivo e que vai dar origem em algumas semanas a um ninho secundário.

Um ninho primário é um tesouro, se o eliminarmos antes do tempo outra velutina iniciará seu ninho num lugar desconhecido, se o eliminarmos quando tiver obreiras recém-nascidas ou prestes a nascer, será um ninho secundário a menos.

3.- Há lugares onde as velutinas têm predileção especial para fazer os ninhos primários a cada ano, por exemplo, nos cemitérios, nos nichos, entre a cobertura de vidro que protege a cobertura de granito, esses locais são ideais para eliminar ninhos usando a regra n º 2.

4.- Devemos usar armadilhas tão seletivas quanto possível, para não danificar os insetos nativos, para isso, se usarmos armadilhas do tipo garrafa, elas devem ser feitas corretamente, com um orifício de entrada não superior a 8 mm de diâmetro e com saídas de 4 mm para permitir que os insectos menores saiam.

5.- As armadilhas combinadas SANVE-elétricas não só não matam os insetos nativos, mas estes são usadas como atrativos, uma vez que também fazem parte da alimentação das velutinas. Esta armadilha pode ser usada na primavera para substituir as garrafas, e também no resto da temporada em frente aos alvados.

6.- Durante o verão no apiário existem vespas com dois papéis, algumas procuram proteína e, portanto, caçam abelhas, outras procuram carboidratos (açúcares, néctares, mel). Esse tipo de armadilha atrai ambas.

7.- Devemos reorganizar os apiários para serem mais eficazes contra a vespa.

Uma boa estratégia é colocar as colmeias em agrupamentos, deixando um espaço livre a cada 5 colmeias para inserir harpas elétricas, muito efetivas nos meses de julho, agosto e setembro, quando as velutinas são mais agressivas com as abelhas.

8.- Durante esses meses devemos diminuir o alvado para cerca de 5 mm de altura para evitar que a velutina entre na colmeia.

9.- Devemos também separar cerca de 5 mm a base da colmeia do ninho, o que permite que as abelhas entrem e saiam de todo o perímetro da colmeia e assim possam fugir das velutinas que estão em vôo estático em frente à entrada.

10.- Devemos manter as armadilhas até ao outono até que deixemos de ver a última velutina no apiário.”

fonte: www.sanve.weebly.com

vespa velutina: um adaptador para a entrada das colmeias salva as abelhas da predação

Um apicultor francês, Norbert Mathieu, inventou um adaptador que, fixado às pranchas de vôo das colmeias, permite às abelhas atingirem uma velocidade de vôo mais alta à saída e entrada na colmeia, dificultando o ataque dos vespões asiáticos. Este sistema também tem o efeito de inibir o comportamento de predação da vespa, e abre a possibilidade de as abelhas se defenderem através do comportamento de “pelotagem”.

Nota: não tenho dados pessoais que me permitam confirmar ou infirmar a eficácia do dispositivo.

porquê é tão difícil criar abelhas melhores? parte 1.

“Aqueles que são novos na apicultura perguntam frequentemente por que razão não criamos melhores abelhas. Esta é uma questão lógica porque a reprodução tem sido a resposta para muitos problemas agrícolas. Quando eu digo “procriação”, não quero dizer técnicas modernas de manipulação de genes que nos permitam criar gatos que brilham no escuro, mas o tipo antiquado/tradicional de reprodução em que cruza indivíduos selecionados a fim de amplificar suas melhores características.

Este método tradicional produziu plantas e animais maiores, mais gordos, resistentes a doenças e de maior rendimento, que são a espinha dorsal da agricultura moderna. Com o passar dos anos, obtemos mais leite, cerejas maiores, maçãs mais doces, tomates resistentes à ferrugem, narcisos rosados e cachorros sem pêlos.

Por que não criamos melhores abelhas?
Então por que não criamos melhores abelhas? A resposta é simples: nós já as temos. Criadores conseguiram todos os tipos de maravilhas com abelhas. Eles “construíram” abelhas que são gentis, abelhas que hibernam bem, abelhas com maior produção de mel e até mesmo abelhas que lidam com ácaros varroa. A criação não é o problema.

O problema com as abelhas ocorre depois que as rainhas deixam o criador. Os traços criados em rainhas de abelhas melíferas em programas de criação cuidadosamente controlados desaparecem logo quando as filhas dessas rainhas podem acasalar em campo aberto. Dentro de uma geração ou duas, os descendentes dessas super abelhas estão de volta à estaca zero. A questão é: “Por que isso continua acontecendo?”

Os bloqueios na estrada para manter melhores abelhas
Existem três bloqueios principais na estrada para manter populações bem controladas – haplodiploidia, poliandria e panmixia – além de algumas outras pequenas complicações.

Fig.1. Acasalamento natural de abelhas rainha.

Poliandria
As abelhas são poliândricas. Poliandria significa “muitos homens” e refere-se ao fato de que uma abelha rainha acasala várias vezes com “companheiros” diferentes. Ter muitos companheiros não é incomum por si só, mas uma abelha rainha armazena todo o esperma em seu corpo para o resto de sua vida de postura. Então, quando ela põe seus ovos, os ovos são fertilizados por sémen proveniente de uma variedade de machos. Cada um desses diferentes acoplamentos representa uma subfamília diferente no ninho, no coração da colónia.

As obreiras de qualquer subfamília que têm a mesma mãe e pai são chamados de super-irmãs porque compartilham cerca de 75% de seus genes. As obreiras pertencentes a diferentes sub-famílias têm a mesma mãe, mas pais diferentes. Estas são conhecidas como meias-irmãs e compartilham cerca de 25% de seus genes. Quando as pessoas perguntam: “Por que minhas abelhas são todas de cores diferentes?”, Esta é a resposta: elas representam diferentes subfamílias no mesmo ninho. É mais visível se uma rainha acasalar com os zângãos italianos (amarelo) e carniolanos (preto).

Mas a cor não é a única diferença. Como as subfamílias são descendentes de diferentes zângãos, elas variam de várias maneiras, como a capacidade de invernagem, resistência a doenças, temperamento ou força de forrageamento. Ainda mais importante, as subfamílias tendem a estabilizar uma colónia. Se a rainha teve um acasalamento com um zângão de má qualidade – ou mesmo dois – a descendência deste mau acasalamento é apenas uma pequena proporção da colónia inteira, significando que a colónia pode sobreviver mesmo que alguns indivíduos não o façam.

Panmixia
Além de haplodiploidia e poliandria, as abelhas são famosas por um traço chamado panmixia. Panmixia refere-se ao acasalamento totalmente aleatório, resultando numa mistura completa de genes na população. Áreas de congregação de zângãos – locais onde, como o nome indica, um grande número de zângãos se reunem até que uma rainha virgem chegue – foram projetados com panmixia em mente. Eles garantem uma excelente mistura de genes, porque os zângãos de grandes áreas geográficas encontram-se nestas reuniões e competem pelo direito de acasalar.

Embora a poliandria por si só assegure múltiplos acasalamentos, a panmixia garante que os parceiros não são todos “garotos” locais. Em vez disso, uma área congregacional de zângãos representam uma população diversificada. Panmixia tem uma influência estabilizadora numa população, fornecendo um controlo contra a deriva genética e depressão endogâmica, um termo chique que indica uma redução nas aptidões devido à partilha de muitos dos mesmos genes. Ele fornece um amortecedor contra a tragédia genética, a menos, claro, que você seja um criador tentando selecionar certas características.”

fonte: https://honeybeesuite.com/why-is-it-so-hard-to-breed-better-bees/

Notas:

  • Num post que publicarei em breve irei detalhar o 3º “bloqueio da estrada”, a haplodiploidia. 
  • Neste post ficam apresentados dois dos três mecanismos que dificultam a seleção de abelhas. Pela natureza destes mecanismo vemos facilmente como não passa de ilusão ou marketing despudorado afirmar-se que se está a criar melhores abelhas em programas que de programa só têm o nome. Por ex. dizer-se que se está a criar abelhas mais resistentes/tolerantes à varroa, ou linhas menos enxameadoras quando mais se não faz que uma avaliação “a olho” do comportamento da colónia como um todo ou é ignorância do criador ou, pior, é vender ilusões. Como se as obreiras presentes na colónia fossem todas filhas do mesmo zângão, como se as larvas sujeitas a translarve e de onde vão sair as futuras rainhas fossem todas fecundadas pelo sémen de um único e “bom” zângão. E sabemos que esta “bela história” não adere nem respeita a realidade.

toxicidade crónica: alguns aspectos

Que alternativa para alimentar 7,6 biliões de indivíduos?

Porque 7,6 biliões de seres humanos têm e/ou devem comer todos os dias, e porque muitos (senão todos!) dos alimentos que compõem as nossas dietas apresentam resíduos de químicos, importa saber que o risco de toxicidade crónica está a ser avaliado e regulamentado de acordo com os melhores conhecimentos experimentais e teóricos actualmente disponibilizados por vários ramos da ciência. Isto deve-nos tranquilizar completamente? Não, digo eu, mas simultaneamente, também não alimentarei a fantasia que o risco zero e a exposição zero a resíduos químicos na dieta alimentar é possível. Pergunto-me até quais os custos colaterais, nomeadamente ao nível do ecossistema, se a demanda por risco zero e exposição zero a resíduos químicos obrigasse o sector agrícola a abandonar a utilização de pesticidas de forma intempestiva e sem alternativas suficientemente confiáveis? Por ex. aqui deixei uma análise mais detalhada acerca dos impactos negativos no ecossistema associados à opção orgânica de agricultura com menos químicos de síntese.

As métricas para a definição de limites máximos de resíduos

Vejamos então com algum detalhe como a ciência actual contribui de forma decisiva para que os reguladores tomem as melhores e mais fundadas decisões possíveis acerca destas matérias. Que métricas utiliza a ciência moderna para definir os limites máximos de resíduos químicos nos alimentos e garantir, o melhor possível, que os alimentos que ingerimos todos os dias não nos provocam danos a longo prazo?

“[…] as métricas de toxicidade crónica são baseadas no “Nível Menor de Efeitos Adversos Observável” (LOAEL em inglês) e no “Nível Sem Efeitos Adversos Observáveis” (NOAEL em inglês). Estas métricas são determinadas experimentalmente definidas como a menor dose na qual os efeitos adversos são vistos (LOAEL) ou a dose na qual nenhum efeito adverso é visto (NOAEL). Essas medidas são muito úteis para orientar os regulamentos e as escolhas pessoais para garantir que evitemos efeitos adversos à saúde – seja um aumento do risco de cancro, doenças cardíacas, problemas de desenvolvimento neurológico ou outros efeitos adversos.

Os limites diários definidos por meio de avaliações de agências reguladoras baseiam-se nesses NOAELs ou LOAELs. Essas métricas são estimativas da exposição diária dos seres humanos e que provavelmente não apresentam risco apreciável de efeitos deletérios durante toda a vida. Estes são tipicamente derivados dividindo os NOAELs ou LOAELs por um conjunto de fatores de incerteza.

Exemplos dessas métricas de toxicidade crónica incluem:

  • Dose de referência (RfD, nos EUA) especialmente para pesticidas;
  • Ingestão Diária Aceitável (ADI, na UE) para aditivos alimentares, pesticidas e drogas;
  • Ingestões diárias ou semanais toleráveis (TDI ou TWI) para contaminantes não utilizados intencionalmente;
  • Níveis de ingestão superiores (UL) toleráveis em conexão com informações de ingestão de referência dietética (DRI) para alimentos, minerais e vitaminas;
  • Ingestões de referência (RI) para recomendações diárias de nutrientes na UE.

Fig. 1: Tabela dos ADI de algumas substâncias presentes em alguns alimentos e outros produtos.

Os limites de segurança são definidos com muito cuidado

As ingestões diárias acima desses limites (ADI) não são necessariamente muito perigosas se acontecerem pontualmente . As métricas de toxicidade crónica assumem que o consumo diário ao longo da vida, pelo que a exposição a curto prazo a um nível superior à dose de referência pode ainda ser segura. Por exemplo, a dose de referência para o paracetamol (acetaminofeno) é de 0,093 mg / kg por dia, o que é 100 vezes abaixo da dose terapêutica real de 9,3 mg / kg. Para uso a curto prazo, esta dose mais elevada representa um risco mínimo, porque não será tomada diariamente durante toda a vida.

Conclusões:

Essas métricas de toxicidade são um ponto de partida crítico para nos ajudar a começar a comparar os riscos de diferentes produtos químicos. Estamos continuamente expostos a muitas substâncias, algumas das quais podem representar uma ameaça se encontradas em concentrações muito altas, com muita frequência, ou por meio de uma rota inadequada de exposição (por ex. se aprovadas para uso dérmico, mas não para ingestão oral). Entretanto, muitas destas substâncias são necessárias para nós nas suas quantidades apropriadas e, embora existam muitas outras que não necessitamos, podemos tolerá-las facilmente em doses baixas. É importante lembrar que existem níveis seguros e inseguros de qualquer substância, e que mesmo as classificações reguladoras ‘seguras’ sempre vêm com advertências de probabilidade e contexto (como o tipo de uso).

Embora nenhuma substância possa ser considerada segura sem mais, a mera detecção de uma substância não nos diz que a sua presença pode representar um problema. Para isso, devemos comparar detecções e níveis de exposição com as métricas disponíveis para nos informar se algo realmente representa um risco. Geralmente este trabalho de avaliação e controlo é feito, e bem, pelas agências acima identificadas. Por outro lado, a grande maioria dos produtores segue os protocolos de boas práticas na utilização de pesticidas, o que contribui de forma decisiva para níveis de segurança alimentar elevada, nomeadamente nos países europeus. Apesar disto haverá sempre alguns a colocar em causa esta meta, referindo que as garantias de segurança não são suficientes. Ainda que muitos destes argumentos resultem, na maior parte dos casos, de falta de informação e/ou viés perceptivos e/ou pré-conceitos ideológicos, introduzem uma dialéctica na área, por vezes positiva, e que propicia avanços mais rápidos e profundos.

fonte principal: https://thoughtscapism.com/2018/05/07/measures-of-toxicity/

taxas de mortalidade invernal e número de colónias de abelhas nos EUA não estão correlacionados

Desde 2006, as perdas de inverno de colónias de abelhas maneadas nos Estados Unidos apresentaram uma taxa média de 28,7%, aproximadamente o dobro da taxa histórica de 15,0%. Estas perdas elevadas levantaram preocupações de que as cadeias agrícolas e de abastecimento alimentar sofreriam transtornos à medida que os serviços de polinização se tornassem mais onerosos e menos disponíveis. Apesar das maiores taxas de perdas de inverno, os números de colónias de abelhas dos EUA permaneceram estáveis ou até aumentaram desde 1996. Verifica-se que as taxas de mortalidade não apresentam uma correlação positiva com as evoluções anuais no número de colónias americanas, mas estão positivamente correlacionadas com a taxa de adições de novas colónias. […]

Se recuarmos ao século XX muitos estudos relatam um declínio do número de colónias maneadas de um topo histórico de 5,9 milhões em 1946, para o nível de 2,8 milhões em 2016 (Walsh, 2013; USDA-NASS, 2017a).

Apesar do foco nos problemas recentes de saúde das abelhas, a maior parte deste declínio ocorreu em 1982, antes do ácaro Varroa e dos vários vírus que ele propagaram quando chegaram aos Estados Unidos.

A queda do número de colónia maneadas no período anterior à entrada da varroa provavelmente decorre de mudanças no mercado de mel como adoçante e da maior disponibilidade de mel importado (Muth et al., 2003).

fonte: https://www.ers.usda.gov/webdocs/publications/88117/err-246.pdf?v=0

Algumas notas:

Nota 1: os nossos colegas norte-americanos separam bem estes dois fenómenos: mortalidade de colónias de abelhas e declínio no número de colónias de abelhas. E verificam que estes dois fenómenos não estão correlacionados. Apesar de uma taxa de mortalidade anormalmente alta na última década, não se assiste ao declínio no número de colónias de abelhas. A razão parece estar na forte motivação que os apicultores têm para repor ou até aumentar, ano após ano, com novos efectivos as perdas ocorridas ao longo do ano, em especial as ocorridas durante a invernagem.

Nota 2: as estatísticas da realidade norte-americana mostram que o declínio no número de colónias maneadas aconteceu na década de 80, antes da entrada do varroa nos EUA, ocorrido em meados da década de 90. O declínio da década de 80 está provavelmente associado às mudanças no mercado do mel, nomeadamente a concorrência dos adoçantes,  e maior disponibilidade de mel importado.

Nota 3: parece-me legítimo concluir que o declínio de colónias nos EUA, da década de 40 do século XX até à primeira década do século XXI, teve por base aspectos de ordem económica e de rentabilidade do sector.

Algumas questões:

  • Em Portugal os números oficiais indicam um incremento no número de colónias substancial na última década, tendo atingido um pico histórico nos dois últimos anos. Será este aumento real, ou a falta de inspecção das autoridades aos apiários tem permitido declarações de existências inflacionadas?
  • Tem-se verificado no sector uma crescente profissionalização. O sector profissional em Portugal detém um pouco mais de metade do efectivo apícola, contudo o  número de apicultores profissionais não ultrapassa os 10% do número total de apicultores. A profissionalização crescente do sector traz novas oportunidades mas também riscos novos. A profissionalização crescente se é desejável deixa no entanto o sector mais expostos às dinâmicas económicas do mercado do mel, como a concorrência de outros adoçantes e a maior disponibilidade de mel importado, muito dele com preços impossíveis de concorrer. Será que o futuro que se advinha será suficientemente motivante para que uma boa parte dos apicultores profissionais, que detêm mais de 50% do efectivo nacional, continuem a manter ou até aumentar o número do seu efectivo apícola?
  • Nos EUA, na última década não se tem assistido a um declínio do número de colónias de abelhas. Esta realidade só se consegue compreender completamente se analisarmos os aspectos económicos envolventes. Mais de metade das colónias de abelhas nos EUA são deslocadas para os amendoais californianos para prestarem serviços de polinização. Estes serviços, que duram apenas algumas semanas, rendem aos apicultores profissionais ou semi-profissionais um rendimento que lhes permite pagar as suas despesas anuais com a actividade. Mas o ano não está terminado, muito longe disso. Terminado este serviço nos amendoais californianos a grande maioria dos apicultores deslocam as suas colmeias para outros estados para a produção de mel, para a produção de núcleos e pacotes de abelhas, ou para outros serviços de polinização. Todos os apicultores norte-americanos que prestam estes serviços de polinização têm uma boa rentabilidade e sobretudo têm segurança e uma perspectiva de futuro tranquilizadora — sabem que no ano seguinte haverá um novo serviço de polinização a prestar e justamente pago — que os anima e motiva a manter o seu efectivo de colónias estável, ou até a aumentá-lo um pouco mais. Em Portugal as perspectivas de futuro são animadoras, previsíveis e tranquilizadoras para quem vive das abelhas? Será carregar demais no botão do pessimismo se referir que não? Se quero conhecer o futuro devo olhar para o passado. O que vejo olhando para trás: velutina a espalhar-se de forma rápida e descontrolada por todo o país; condições climatéricas cada vez mais duras e imprevisíveis; mercado do mel desregulado e artificialmente manipulado, impróprio para cardíacos; custos de produção cada vez mais elevados; sector sem apoios sérios por parte do estado; normas e leis desajustadas da realidade; fronteiras escancaradas à transumância desregrada dos vizinhos do lado; …

E fico-me por aqui porque o post já vai longo e tenho que ir tratar da “vidinha”.

Desejo a todos os leitores e amigos um Feliz Natal! Bem-hajam por se manterem do lado de lá, que muito me anima e motiva para a escrita do lado de cá.

relevância de reservas de mel multifloral para a saúde das colónias de abelhas

Sumário:

Colónias de abelhas oferecem um excelente ambiente para o desenvolvimento de patógenos microbianos. Os agentes bacterianos mais mortais e virulentos, que causam morte das colónias, são as bactérias que causam loque americana e a loque europeia. Além da defesa imunológica inata, as abelhas desenvolveram defesas comportamentais para combater infecções. O forrageamento de compostos de plantas antimicrobianas desempenha um papel fundamental para esse comportamento de “imunidade social”. Os metabólitos secundários das plantas no néctar floral são conhecidos pelos seus efeitos antimicrobianos. No entanto, estes compostos são altamente específicos da planta, e os efeitos na saúde das abelhas dependerão da origem floral do mel produzido. Como as abelhas obreiras alimentam também as larvas e outros membros da colónia, o mel é o principal candidato a agente de auto-medicação em colónias de abelhas para prevenir ou diminuir infecções. Aqui, nós testamos oito linhagens de bactérias de loque americana e loque europeia e a atividade inibitória no seu crescimento em três tipos de mel. Usando um ensaio de crescimento celular, verificámos que todos os méis têm alta atividade inibitória do crescimento das diversas bactérias e que dois méis monoflorais parecem ser específicos na inibição de apenas algumas estirpes de bactérias. A especificidade dos méis monoflorais e o forte potencial antimicrobiano do mel multifloral sugerem que a diversidade de méis presentes nas reservas de mel de uma colónia pode ser altamente benéfica para a sua “imunidade social” contra o conjunto altamente diversificado de patógenos encontrados na natureza. Essa diversidade ecológica pode, portanto, operar de forma semelhante aos efeitos bem conhecidos da variação genética do hospedeiro na corrida “às armas” entre hospedeiro e parasita.”

Aspectos de detalhe

“Durante a estação floral, as forrageiras colectam sequencialmente um conjunto de néctares florais, que são armazenados nos favos de mel. A seletividade da fonte de alimento da colónia em termos de néctar, como comportamento de decisão seletivo por abelhas forrageiras, é um processo de seleção natural entre fontes alternativas de néctar, incluindo eficácia e comunicação (Seeley et al., 1991). Assim, as forrageiras podem escolher entre uma mistura complexa de diferentes néctares, porque as reservas de mel se sobreporão à disponibilidade de flores que muda sazonalmente. […] Como o mel é o nutriente central para o desenvolvimento de larvas, a diversidade nas reservas de mel pode servir como uma “farmácia injetável” ricamente abastecida contra uma ampla variedade de doenças. Durante os primeiros 2 dias após a eclosão do ovo, a dieta larval consiste principalmente de componentes secretados pelas glândulas hipofaríngeas das abelhas, presumivelmente misturadas com mel. No entanto, a partir do terceiro dia, o mel e o pólen são adicionados à dieta e alimentadas diretamente às larvas das obreiras (Winston, 1987). Assim, as abelhas nutrizes estão na posição central da teia alimentar intracolonial e podem fornecer um mecanismo para promover o estado de saúde da colónia, alimentando seletivamente méis específicos em resposta a infecções específicas. Na verdade, as abelhas nutrizes têm demonstrado escolher o mel de acordo com seu próprio estado de saúde (Gherman et al. 2014). […] Além disso, as abelhas mostraram um forrageio selectivo entre resinas específicas, mesmo discriminando plantas resinosas estreitamente relacionadas (Wilson et al. 2013). Os autores concluíram que as abelhas podem fazer escolhas discretas entre as espécies de plantas de resina, confirmando ainda mais a comportamento seletivo entre os recursos específicos de promoção da saúde, independentemente da sua disponibilidade.[…]

Se as reservas de mel multifloral facilitarem a saúde das colónias, isso não seria apenas uma conquista evolutiva importante das colónias de abelhas, mas também teria profundas consequências para as práticas de apicultura. Os apicultores podem aproveitar os fluxos específicos de mel para proteger suas colónias contra doenças específicas. Além disso, os apicultores devem estar cientes de que a produção exclusiva de méis monoflorais pode ter consequências negativas para a saúde das colónias. Além disso, a alimentação de açúcar como fonte exclusiva de alimento durante o inverno pode aumentar a propensão da colónia para ser infectada por patógenos. Em conclusão, a biodiversidade floral de fontes de néctar para a colónia terá implicação direta para a saúde da colónia, com importância semelhante à diversidade genética da abelha.”

fonte: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ece3.1252

Notas:

  • já se sabe há algum tempo que as dietas monoflorais provocam danos ao nível individual e ao nível da colónia de abelhas. Se estou certo as explicações enfatizava sobretudo a monodieta de pólen. Estes e outros estudos ajudam a identificar e compreender melhor e de forma mais abrangente os aspectos subjacentes a este fenómeno;
  • reforço que os autores mencionam que o açúcar como fonte exclusiva de alimento durante o inverno pode fragilizar as defesas da colónia.

os efeitos sinérgicos e os efeitos cumulativos dos resíduos de pesticidas nos alimentos são de nos preocupar?

“Não há dúvida de que os pesticidas podem ser tóxicos para as pessoas, e a exposição dos trabalhadores rurais que os aplicam é um problema sério. Mas os seus níveis nos alimentos são muito baixos, e o USDA e a Agência de Proteção Ambiental (juntamente com muitos toxicologistas com quem conversei ao longo dos anos) dizem que não deveríamos preocupar-nos com eles.

Nem todos acreditam nestas avaliações, e os céticos frequentemente apontam para o fato de que as agências governamentais não fazem o tipo de teste que pode prever o perigo potencial do risco de longo prazo dos resíduos de baixo nível ou da mistura de vários produtos químicos.

Existem duas maneiras pelas quais uma mistura de pesticidas pode ser perigosa. A primeira é se eles têm efeitos sinérgicos – isto é, o resultado dos dois ou mais produtos químicos juntos é diferente (e pior) do que os resultados de cada um individualmente. O segundo é cumulativo, os efeitos a longo prazo da exposição a doses baixas ao longo do tempo.

Falei com David Eastmond, toxicologista da Universidade da Califórnia em Riverside. “Temos visto efeitos sinérgicos”, disse-me ele, “mas eles são incomuns a raros, e acontecem em altas doses.” Um relatório de 2008 fez a mesma avaliação, assim como a professora da Universidade de Copenhague, Nina Cedergreen, que publicou um artigo recente sobre o assunto. 

A EPA exige testes para exposição crónica, e leva em conta a exposição que obtemos a produtos químicos com modos de ação semelhantes, mas é, obviamente, impossível testar todas as combinações. Cedergreen escreveu-me um e-mail afirmando que o desenredamento dos efeitos de pesticidas em humanos é “muito difícil”, mas que eles o fizeram. Ela co-escreveu um artigo, publicado em janeiro, que concluía que o risco cumulativo para o adulto dinamarquês médio pela exposição a resíduos de pesticidas era igual ao de beber um copo de vinho a cada três meses. Eu gostaria que alguém fizesse a mesma avaliação para os americanos, mas isso nos dá uma ideia da baixa magnitude do risco.

É certamente possível que os níveis de resíduos de pesticidas sejam altos o suficiente para representar uma ameaça à saúde. Mas em países desenvolvidos, onde estas coisas são reguladas e monitoradas, é improvável. Não só os pais americanos não se devem preocupar se alimentam os filhos com frutas e legumes de agricultura convencional ou orgânica, mas também devemos tentar levá-los a comer o maior número possível.

“A questão dos resíduos é muito emocional”, diz Nate Lewis, agricultor orgânico e diretor de política agrícola da Organic Trade Association. “É um esforço fútil tentar convencer um consumidor de que eles estão errados sobre suas escolhas.” Embora os agricultores, orgânicos e convencionais, estejam usando pesticidas em conformidade com o rótulo e cultivando alimentos seguros, ele diz: “Se o consumidor quiser para escolher algo para evitar [resíduos], eles devem ser capazes de fazer essa escolha, certa ou errada ”.

Ele continua: “Não gosto da narrativa de que o orgânico é livre de pesticidas. Não é. Também usam coisas que são tóxicas ao meio ambiente.” Lewis passou mais de uma década como inspetor e agricultor orgânico e acrescenta:“ Eu vi que os agricultores orgânicos são muito criteriosos no uso de pesticidas. Seu objetivo é escolher a abordagem menos tóxica possível para reduzir o impacto ambiental e os pesticidas são o último recurso. ”Vinte e cinco pesticidas sintéticos são aprovados para uso orgânico (em comparação com mais de 900 em agricultura convencional) e a toxicidade de todos os pesticidas utilizados são revistos pelo National Organic Standards Board.

Quanto ao risco para a saúde, “é fundamental que você pare de dizer que o orgânico vai ser mais saudável para você”, diz ele. “Nós não sabemos isso.”

fonte: https://www.washingtonpost.com/lifestyle/food/the-truth-about-organic-produce-and-pesticides/2018/05/18/8294296e-5940-11e8-858f-12becb4d6067_story.html?noredirect=on&utm_term=.b05e97013197

dicas para encontrar a abelha rainha

Fig.1 : Rainha (Queen); Abelha (Worker); Zângão (Drone)

Começando pelas características únicas da rainha:

  • a. Mais comprida que as abelhas;
  • b. Mais delgada que os zângãos;
  • c. O seu tórax é mais proeminente e visível que o das abelhas;
  • d. As suas asas não se estendem até ao final do abdómen;
  • e. As suas pernas são mais compridas ou do “tipo aranha”.

Quando os objectivos a atingir com o maneio tornam inevitável encontrar a rainha em alguma das minhas colónias tenho por hábito seguir estes procedimentos:

  • abro a colmeia muito suavemente;
  • não utilizo fumo;
  • tiro o quadro mais lateral e do lado quente da da colmeia para ter espaço para deslocar os restantes quadros dentro da mesma; 
  • identifico o primeiro quadro com ovos e/ou larvas e/ou alvéolos vazios mas luzidios pela fina camada de propolis que os prepara para a ovoposição da rainha;
  • chego este quadro para o lado e antes de o levantar dou um rápido vislumbre (cerca de 10 segundos) ao quadro seguinte sem o tirar do lugar. Com alguma frequência a rainha está neste quadro seguinte, e consigo descortiná-la com alguma facilidade dado o seu tórax  mais saliente/proeminente.  Se neste quadro não vislumbrar a rainha levanto o quadro com criação que antes tinha chegado para o lado;
  • neste quadro procuro a rainha varrendo cada face do mesmo com o olhar por cerca de 30 segundos;
  • em regra a rainha é o indivíduo mais calmo na face do quadro e aquele que não procura ingerir mel. Estes aspectos comportamentais distintivos, para além dos morfológicos referidos em cima, ajuda-nos a reparar no que é diferente do resto e neste caso será muito provavelmente a rainha;
  • se não a encontrar neste quadro passo ao adjacente e repito o procedimento;
  • se não encontrar a rainha nos 2 ou 3 quadros existentes com ovos/criação aberta/alvéolos volto a colocar os quadros na mesma posição e fecho a colmeia;
  • se os objectivos não me permitirem aguardar pelo dia seguinte volto a repetir estes procedimentos 15-30 minutos depois.

Com estes procedimentos encontro 80%-90% das rainhas nos primeiros 2 a 4 minutos. Devo acrescentar que a grande maioria das rainhas que tenho não estão marcadas.

Este maneio pressupõe duas atitudes básicas:

  • aceitar que é necessário atenção concentrada, suavidade e algum tempo (cerca de 1 minuto por cada um dos 2 ou 3 quadros com as características referidas atrás)  para encontrar um indivíduo no meio de alguns milhares de indivíduos semelhantes;
  • acreditar que se não vislumbrámos a rainha durante 1 minuto de observação atenta daquele quadro devemos procurá-la no seguinte. Como as rainhas preferem a sombra não devemos demorar demasiado tempo antes de avançar para o quadro seguinte, de forma a evitar que ela se esconda no canto mais escuro da colmeia.

Uma nota a terminar: se a colmeia tiver ninho e sobreninho começo por observar a caixa que aparenta ter mais abelhas. O sobreninho coloco-o sempre sobre um tampo/telhado invertido para evitar o mais possível o esmagamento de abelhas e sobretudo da rainha.