o valor económico e ambiental das abelhas para a comunidade

As atividades de polinização das abelhas valem 143 vezes mais do que o valor do mel e da cera que as abelha produzem (18,9 mil milhões vs. 140 milhões). Frutas e nozes, sementes e fibras, produtos derivados de sementes que requerem polinização por abelhas e uma parte das mercadorias indiretamente dependentes da polinização por abelhas estão listados com seus valores no boletim do USDA” fonte: Bulletin of the Entomological Society of America, Volume 29, Issue 4, Winter 1983, Pages 50–51 

Sem os polinizadores, mais de 39 culturas diferentes sofreriam um declínio na produção. Sem eles e para atender à procura, a agricultura moderna teria de utilizar práticas mais intensivas e ambientalemente menos sustentáveis. Provavelmente, mais terras seriam necessárias para atender aos níveis atuais de procura. Cultivar essas maiores massas terrestres também resultaria em mais emissões com o aumento da operação com tratores e outras máquinas. E, ao expandir a pegada física das fazendas, o habitat selvagem corre o risco de ser deslocado ou interrompido/fragmentado. Estes pequenos insetos desempenham um grande papel na ajuda ao crescimento da agricultura moderna , utilizando menos recursos naturais.” fonte: https://modernag.org/biodiversity/beeconomy-economic-value-pollination/

Os produtos de origem animal […] carne bovina, suína, aves, cordeiros e laticínios são derivados de uma maneira ou de outra de leguminosas polinizadas por insetos, como alfafa, trevo, lespedeza e trevo.[…] as leguminosas polinizadas por insetos têm a capacidade de coletar o nitrogênio da atmosfera, armazená-lo nas raízes e, finalmente, contribui para enriquecer o solo de outras plantas. Sem esse efeito benéfico, os solos não fertilizados por estes minerais processados rapidamente se esgotariam e se tornariam economicamente improdutivos. […] Gates (1917) alertou o agricultor de que “ele pode fertilizar e cultivar o solo, podar, afinar e pulverizar as árvores; numa palavra, ele pode fazer todas as coisas que a prática moderna defende, mas sem seus agentes polinizadores, entre as quais se destacam as abelhas melíferas, para transferir o pólen dos estames para o pistilo das flores, sua colheita pode falhar. […] O valor da polinização na geração seguinte de culturas também é frequentemente ignorado. O valor da semente híbrida não é refletido até a geração subsequente. O vigor ao brotar e emergir do solo geralmente é um fator vital na sobrevivência precoce da planta. Outras respostas ao vigor híbrido incluem rapidez no desenvolvimento, saúde das plantas e maior produção de frutas ou sementes. […] O valor da polinização por insectos, o único tipo de polinização sobre o qual o homem pode exercer muita influência, não se limita às culturas cultivadas. Bohart (1952) apontou que o efeito mais drástico decorrente da ausência de insectos polinizadores estaria em áreas não cultivadas, onde, como resultado, a maioria das plantas silvestres que fazem a retenção e enriquecimento de solo desapareceria. […] As culturas dependentes da polinização por insetos foram avaliadas por Levin (1967) em US $ mil milhões, com uma produção adicional beneficiada pela polinização por abelhas avaliada em aproximadamente US $ 6 mil milhões. O mel e a cera de abelha produzidos foram avaliados em cerca de US $ 45 milhões. Por outras palavras, as colónias de abelhas valem aproximadamente 100 vezes mais para a comunidade do que para o apicultor.” fonte: https://www.ars.usda.gov/ARSUserFiles/20220500/OnlinePollinationHandbook.pdf

um grande debate em conservação: por que vale a pena proteger a natureza?

“Uma pergunta muito básica que ecologistas e conservacionistas ponderam há mais de um século: por que devemos proteger a natureza?

Alguns conservacionistas sustentam há muito tempo que devemos proteger a natureza porque ela é valiosa em si mesma. Num influente ensaio de 1985 intitulado “O que é Biologia da Conservação?” o biólogo Michael Soulé argumentou que a biodiversidade “tem valor intrínseco, independentemente do seu valor instrumental …”. Ou seja, devemos proteger ecossistemas ameaçados, porque é a coisa ética a fazer.

Mais recentemente, alguns ecologistas criticaram essa abordagem. Veja, por exemplo, o ensaio de 2012 de Peter Kareiva e Michelle Marvier, que argumenta que apenas argumentos éticos não foram capazes de conter a crescente onda de desmatamento e extinções. Se os conservacionistas querem progredir melhor, precisam apelar com mais força ao interesse próprio da humanidade. Noutras palavras, devemos nos concentrar mais na conservação da natureza, porque é útil para nós [o valor instrumental].

Uma possibilidade é colocar o foco nos “serviços ecossistémicos” que a natureza fornece – o facto de que as abelhas polinizam nossas colheitas, ou as áreas húmidas ajudam a conter inundações, ou os recifes de coral ajudam a sustentar a pesca. Colocando um valor em dólares [ou euros] nesses serviços, podemos defender com mais força a conservação.

Então, como se encaixam as abelhas neste debate? Por um lado, não há dúvida de que estes argumentos económicos para a conservação são poderosos. O presidente Obama interessou-se pessoalmente pela situação das abelhas – e, no seu plano de ajuda aos polinizadores, destacou o facto de que eles fornecem bilhões de dólares em serviços agrícolas. Sem dúvida, isso foi uma grande motivação.” fonte: https://www.vox.com/2015/7/6/8900605/bees-pollination-ecosystem-services

Ligando as pontas de um fluxo: a polinização é um dos dezassete serviços vitais que o ecossistema global presta à comunidade humana. Estar num ranking tão restrito é muito elucidativo da importância da mesma para todos nós. Está bem estabelecido também que as abelhas melíferas domesticadas têm um papel de destaque neste serviço. O problema é que as abelhas melíferas estão muito ameaçadas, e são os apicultores que vão mitigando e controlando, como podem, os perigos que as cercam. E cada vez mais este desafio de manter as abelhas vivas, saudáveis e produtivas exige dos apicultores maior conhecimento, maior comprometimento, maiores gastos. Sendo este o actual e difícil cenário, a UE deve colocar as necessárias ferramentas económico-financeiras se deseja séria e verdadeiramente sustentar a apicultura, para poder preservar as abelhas, e assim assegurar a polinização, um serviço ecossistémico de vital importância para toda a comunidade.

as ameaças aos serviços de polinização, os números, a pergunta, a resposta

“Os insectos polinizadores de culturas e plantas selvagens estão ameaçados globalmente e seu declínio ou perda pode ter profundas consequências económicas e ambientais. Aqui, argumentamos que várias pressões antropogénicas – incluindo a intensificação do uso da terra, as mudanças climáticas e a disseminação de espécies e doenças exóticas – são as principais responsáveis ​​pelo declínio dos insectos-polinizadores. Mostramos que uma interação complexa entre pressões (por exemplo, falta de fontes de alimentos, doenças e pesticidas) e processos biológicos (por exemplo, dispersão e interações entre espécies) em várias escalas (dos genes aos ecossistemas) está na origem do declínio geral das populações de insectos polinizadores. Serão necessárias pesquisas interdisciplinares sobre a natureza e os impactos dessas interações para preservar a segurança alimentar humana e a função do ecossistema. Destacamos áreas-chave que requerem foco na pesquisa e delineamos algumas etapas práticas para aliviar as pressões sobre os polinizadores e os serviços de polinização que eles prestam às plantas silvestres e agrícolas.” fonte: https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1890/120126

A UE atribuiu ao sector apícola europeu, e para o triénio 2020-2022, um total de 120 milhões de euros, ou seja 40 milhões de euros por ano a distribuir pelos 28 estados-membros. Por outro lado, o relatório adotado pela Comissão da Agricultura da UE estima que os polinizadores, onde se destacam as abelhas melíferas, produzem uma mais valia económica de 14 mil e 200 milhões de euros por ano. Cálculos simples permitem concluir que as abelhas e outros polinizadores produzem mais-valias 355 vezes superiores ao valor do apoio que recebem.

Terei alguma dúvida que este apoio de 40 milhões/ano mais não é que uma encenação de apoio da UE, para ficar bem na fotografia? Não, não tenho!

serviços ecossistémicos: uma visão da UE, uma constatação e duas perguntas

Fico muito agradado que no próximo Fórum Nacional de Apicultura, que irá decorrer em Viseu nos próximos dias 22, 23 e 24 de Novembro, os serviços ecossistémicos seja um tema do programa do mesmo. A este propósito apresento em baixo a visão que a Comissão Europeia já apresentava em 2009 acerca da necessidade de uma maior consciencialização sobre o valor económico dos bens e serviços do ecossistema entre os tomadores de decisão e o público em geral.

  • Os ecossistemas sustentam toda a vida e atividades humanas. Os bens e serviços que eles fornecem são vitais para a manutenção do bem-estar e para o futuro desenvolvimento económico e social.
  • Os benefícios que os ecossistemas oferecem incluem comida, água, madeira, purificação do ar, formação do solo e polinização.
  • Mas as atividades humanas estão destruindo a biodiversidade e alterando a capacidade dos ecossistemas saudáveis ​​de fornecer essa ampla gama de bens e serviços.
  • No passado, as sociedades frequentemente não levavam em conta a importância dos ecossistemas. Eles eram frequentemente vistos como propriedade pública e, consequentemente, subvalorizados.
  • Os cientistas prevêem que um aumento da população mundial para 8 mil milhões em 2030 pode levar a uma escassez dramática de alimentos, água e energia.
  • A perda de serviços dos ecossistemas naturais exigirá alternativas caras. Investir em nosso capital natural economizará dinheiro a longo prazo e é importante para nosso bem-estar e sobrevivência a longo prazo.
  • É necessária uma maior consciencialização sobre o valor económico dos bens e serviços do ecossistema entre os tomadores de decisão e o público em geral. Se deixarmos de agir agora para impedir o declínio, a humanidade pagará um preço alto no futuro.

fonte: https://ec.europa.eu/environment/nature/info/pubs/docs/ecosystem.pdf

A minha constatação e depois as minhas perguntas:

  • em todo o mundo, pelo menos 75% das culturas alimentares dependem, de alguma forma, da polinização. A produção agrícola dependente de animais polinizadores aumentou 300% durante os últimos 50 anos. Só a produção de cereais e frutas, que depende diretamente da polinização entre 5% a 8%, representa cerca de 213 a 523 mil milhões de euros.
  • será que em 10 anos, de 2009 a 2019, os decisores europeus interiorizaram devidamente o valor económico dos serviços do ecossistema, em particular o da polinização? Se sim onde estão os apoios justos, tendo em conta as mais-valias alcançadas com a polinização, para a conservação e protecção dos polinizadores e do sector apícola europeu? — sector que passa por uma crise de sustentabilidade económica, que não me lembro de ver nos dez anos que levo como apicultor profissional, e que tanto precisa dessa mão amiga e ecológica da UE.
À esquerda uma banca com produtos “feitos” pelas abelhas e outros polinizadores. À direita uma banca que ilustra a pobreza que seria não termos abelhas para polinizarem as nossas hortas, pomares e demais espaços silvestres.

apimondia 2019: pesticidas, um tema em destaque

Não me surpreende que um dos temas privilegiado e mais discutido na Apimondia, este ano realizada no Canadá, seja o impacto dos pesticidas utilizados na agricultura sobre as colónias de abelhas melíferas. E não me surpreende por 4 razões sobretudo:

— é uma temática que tem sido alvo de numerosos estudos de natureza científica e a Apimondia é um dos palcos mais importante e natural para a apresentação destes estudos;

— estamos numa encruzilhada a este respeito, entre produtos e práticas ditas mais amigas das abelhas mas com impactos negativos na rentabilidade dos agricultores, segundo alguns, e a manutenção com melhorias muito gradualistas e lentas de algumas práticas culturais, sem rupturas e interdições radicais, mas que não salvaguardam as abelhas melíferas e outros polinizadores segundo outros, entre os quais muitos apicultores;

— porque sendo o Canadá, país com enormíssimas extensões de monocultura de canola, entre outras, onde se aplicam pesticidas da mais variada natureza, fará todo o sentido para os organizadores canadianos trazerem este tema para cima da mesa;

— porque, nesta área de estudo em particular, os resultados não são concludentes e não apresentam a convergência necessária para que suportem inequivocamente e com garantia decisões políticas, sejam num ou noutro sentido, decisões essas que podem ter impactos financeiros enormes e que os políticos não desejam tomar de ânimo leve.

Vejamos em baixo o que escreve P.B., um participante regular e respeitado no Bee-L, acerca de uma recente investigação apresentada na Apimondia, a decorrer nestes dias em Montreal no Canadá, sobre o impacto nas abelhas melíferas dos pesticidas utilizados pelo sector Agro-Industrial numa região dos EUA.

“O presente estudo descreve a exposição potencial a substâncias químicas no território de forrageamento de colónias de abelhas localizadas numa zona agrícola no sul dos Estados Unidos. Os locais de estudo foram selecionados para representar a diversidade da agricultura do Sul, bem como áreas com pouca ou nenhuma agricultura.

Dado que os pesticidas agrícolas eram aplicados rotineiramente em grande parte da paisagem ao redor do apiário, esperávamos que as abelhas fossem expostas a eles enquanto procuravam alimento nomeadamente através do néctar ou pólen contaminado ao redor das colmeias. Amostras de cera de abelha, pão de abelha, mel e abelhas foram pesquisadas quanto a 174 pesticidas agrícolas comuns e seus metabolitos. Desses, apenas 26 compostos foram detectados durante o estudo de dois anos:

um desfoliante, um regulador de crescimento de insectos, cinco herbicidas, seis fungicidas, seis inseticidas nunca utilizados na apicultura e cinco insecticidas / acaricidas e seus metabolitos, utilizados na apicultura e para diversos outros fins agrícolas, além de dois acaricidas usados ​​exclusivamente pelos apicultores para controlar o Varroa.

No geral, considerando o uso generalizado de pesticidas na paisagem ao redor do apiário no local da Alta Agro-indústria, as amostras de abelhas continham muito pouca contaminação.

No mel amostrado no local Alta Agro-indústria, os únicos contaminantes detectados foram flubendiamida (em 2014) e DMPF (2,4-dimetilfenil formamida) (em 2015). Isso concorda com Rissato et al. e Alburaki et al., que também consideraram as concentrações de pesticidas no mel muito baixas ou indetectáveis.

Isso é provável porque muitos pesticidas sintéticos são lipofílicos e se acumulam rapidamente na cera de abelha, mas não são especialmente solúveis no mel. Além disso, muitos insecticidas aplicados foliarmente actuam por contato e é improvável que estejam presentes no néctar coletado pelas abelhas.

Não foram detectados resíduos de pesticidas em amostras de abelhas adultas em 2014, nos locais de alta e baixa densidade agrícola. No entanto, como as abelhas adultas têm vida curta no verão, nossa amostragem limitada no final da temporada pode não ter detectado aplicações feitas anteriormente. Da mesma forma, em 2015, apenas produtos aplicados por apicultores foram detectados nas amostras de abelhas adultas.

[…]

Não surgem na lista de compostos encontrados os insecticidas da família dos neonicotinóides, que têm recebido uma atenção especial pelo seu papel suspeito no declínio de população de abelhas.

Apesar do amplo uso desses produtos químicos, apicultores amadores e profissionais continuam a manter colónias produtivas de abelhas em áreas com práticas agrícolas intensivas. Além disso, foi demonstrado que a produtividade das colónias aumenta com a proximidade das terras cultivadas, e as pesquisas também mostraram que as culturas em massa podem beneficiar abelhas silvestres e abelhas melíferas maneadas pelo homem, apesar de outros riscos decorrentes das práticas agrícolas e do maneio da terra.”

a dose faz o veneno… mas não é nisso que o cidadão comum acredita!!

Para qualquer molécula que ingerimos/somos expostos, natural ou sintética, ser capaz de exercer um efeito positivo ou negativo sobre nós, ela deve ligar-se a uma molécula receptora existente no nosso organismo. Este efeito positivo ou negativo está totalmente dependente da dose e está praticamente ausente quando as doses são muito pequenas. A exposição a uma determinada molécula pode ser mensurável, e apesar disso não ter quaisquer efeitos mensuráveis sobre nós, positivos ou negativos. Por exemplo, frequentemente somos expostos à apitoxina (um químico natural, e que pode ser letal como sabemos) e essa exposição não resultar em nada de negativo para nós, porque as doses eram baixas.

Muitas dessas preocupações sobre os pretensos efeitos nocivos de doses muito pequenas de químicos são erradamente transferidos pelo cidadão comum a partir de casos conhecidos de aplicação de doses maiores, como se essas substâncias ainda pudessem exercer magicamente os efeitos negativos de doses muito superiores.

Bearth et al 2019, “O conhecimento dos leigos sobre a toxicologia e seus princípios” entrevistou 4934 pessoas em oito países europeus, ou mais de 600 em cada: Suíça (CH), Áustria (AT), França (FR), Alemanha (GE), Itália (IT), Polónia (PL), Suécia (SE) e Reino Unido (UK).

A dose faz o veneno. Mas não é nisso que o cidadão comum acredita!! Cerca de 5000 cidadão europeus foram questionados sobre a veracidade de algumas afirmações acerca da exposição a químicos. Por exemplo à afirmação “Uma dose pequena de uma substância química presente num produto de consumo não é necessariamente perigoso.”, afirmação verdadeira, só 23% dos inquiridos responderam correctamente. Outro exemplo, à afirmação “Ser exposto a uma substância química sintética é sempre perigoso, independentemente do nível de exposição.”, afirmação falsa, 91% dos inquiridos acharam que era uma afirmação verdadeira.

Um caso em torno dos disruptores endócrinos. A droga dietilestilbestrol foi utilizada contra o aborto e os sintomas da menopausa entre 1940-1970. Mais tarde, descobriu-se que o tratamento aumentava as taxas de vários efeitos adversos, incluindo cancro, e seu uso foi drasticamente limitado. Esta preocupação perfeitamente justificada acerca dos efeitos adversos em grandes doses, no entanto, agora é comumente aplicada em quase toda parte onde a palavra “disruptor endócrino” aparece. O composto plástico, bisfenol A, encontrado em muitos materiais de embalagens, em níveis 25.000 vezes menores do que a dosagem terapêutica de dietilestilbestrol (numa relação de 6 para 150 mil microgramas/dia), é tratado também como uma ameaça química de igual calibre para os nossos receptores endócrinos.

fonte: https://thoughtscapism.com/2019/06/12/chemical-exposures-the-good-the-bad-and-the-tiny/

o pagamento dos serviços ecossistémicos: uma mudança radical no pensamento ambiental

“Como professor de ecologia, sei muito bem que não faltam problemas ambientais para nos manter acordados à noite – alterações climáticas, disseminação de doenças/pragas, zonas mortas no Golfo do México, pesca em colapso, extinção em massa e cem outras coisas que são o habitual repertório dos profetas do alarmismo ambientalista.

O que nos permite dormir é o conhecimento de que os programas ambientais estão realmente progredindo na solução desses problemas. E há um conceito – chamado serviços ecossistémicos – que está por trás da solução de praticamente todos os desafios ambientais que enfrentamos. Se este milénio for lembrado por qualquer coisa ambiental, ele será lembrado por uma mudança radical no pensamento ambiental centrado em torno do conceito de serviços ecossistémicos.

Mas o que é um serviço ecossistémico? E podemos usar princípios científicos para avaliar e projetar projetos ambientais que geram pagamentos dos serviços ecossistémicos que eles fornecem?

Manguezais e zonas húmidas fornecem ajuda para controlar a erosão e filtrar o ar e a água. Serviços vitais, mas quanto valem financeiramente?

A definição mais simples para um serviço ecossistémico é qualquer coisa que a natureza faça por nós que melhore nosso bem-estar. De fato, algumas pessoas chamam esses serviços de “naturais” ou “serviços da natureza”.

Tal definição ajuda, mas qual é o “serviço” num “serviço ecossistémico”?

Usamos muitos serviços em nossas vidas diárias: e-mail, eletricidade, internet, telefone, televisão a cabo, serviços financeiros, serviços de saúde, serviços governamentais, principalmente na forma de impostos para água, saneamento, polícia, militares e educação. Na verdade, o dinheiro do meu ordenado vai para pessoas de vários lugares que são essencialmente provedores de serviços.

Os serviços ecossistémicos são exatamente isso, menos a parte das pessoas. Em vez disso, eles são fornecidos por plantas, animais e microorganismos que compõem os ecossistemas. São os milhões de espécies na Terra, em florestas, pastagens, desertos, relvados , recifes de corais, tundra ártica, zonas húmidas e muito mais, que nos fornecem ar respirável, água potável, solos férteis, pesca produtiva, madeira, e um clima mais equilibrado.

Eles também fornecem a vida selvagem que eu amo ver, produtos medicinais, carne para muitas pessoas ao redor do mundo e para quem a caça é o principal meio para obter proteína, polinização por abelhas, contenção da propagação de doenças, protegem as margens costeiras dos impactos das ondas, impedem a erosão do solo, produzem solo, decompõem resíduos, e centenas de milhares de muitos outros serviços que tornam nosso mundo habitável.

Há uma grande diferença entre serviços prestados pela natureza e antropogénicos, ou fornecidos por humanos: não pagamos à natureza um centavo pelos seus serviços. E se o fizermos?

Muitas pessoas sentem que o nosso ambiente está indo para o inferno porque nós não pagamos por isso, então nós realmente não temos qualquer incentivo financeiro tangível para sermos criativos ou eficientes no nosso uso dos serviços da natureza e não temos qualquer desincentivo por destruir a natureza.

O governo da Costa Rica paga aos proprietários de terras para que não cortem as florestas, que fornecem serviços ambientais (ar e água limpos) e benefícios económicos diretos via turismo.

[…] Quando você pensa sobre isso, se os projetos de Pagamento dos Serviços Ecossistémicos estão rapidamente se tornando a maneira dominante para o nosso ambiente ser gerido, então todos nós estamos confiando a eles coisas que valorizamos quase mais do que qualquer outra coisa – um mundo saudável para nós e nossos filhos. É também um mundo rico em espécies e mais resistente aos caprichos de um planeta às vezes aleatório e caótico que pode provocar tornados, tsunamis, secas, incêndios e pode mesmo ser atingido pela queda de um asteróide ocasional.

Todos nós podemos dormir um pouco à noite por causa do fantástico trabalho de projetos Pagamento dos Serviços Ecossistémicos em todo o mundo. Mas podemos dormir um pouco melhor agora, sabendo que eles estão se unindo para melhor proteger os serviços que a natureza nos proporciona.”

Autor: Shahid Naeem Shahid Naeem
Diretor do Science, Earth Institute Center for Environmental Sustainability , Universidade de Columbia, EUA.

fonte: https://theconversation.com/bringing-scientific-rigor-to-ecosystem-services-38817

alguns remédios “orgânicos” para controle de ervas daninhas não são tão seguros quanto parecem

“Você pode aprender muito na Internet. Aqui está um pouco da sabedoria em jardinagem que aprendi ultimamente sobre como controlar ervas daninhas com soluções supostamente orgânicas:

• Para matar ervas daninhas, use uma mistura de sabão, sal e vinagre […]

Temos a tendência de nos sentirmos confortáveis com os produtos caseiros. Mas é bom ser cauteloso mesmo com remédios caseiros supostamente seguros.

O sabão aparece constantemente como uma cura milagrosa nas páginas do Facebook dedicadas à jardinagem. Existe alguma lógica por trás da mistura. O sabão ajuda a mistura a espalhar-se nas folhas. O sal pode ser tóxico para as plantas. E o vinagre tem sido usado para combater ervas daninhas, embora geralmente o vinagre para horticultura tenha cerca de quatro vezes o ácido acético do vinagre que usamos na cozinha. Com 20% de ácido acético, o vinagre para horticultura é perigoso o suficiente para que os utilizadores devam usar mangas compridas, luvas e óculos para se protegerem de queimaduras e respingos.

Esta mistura é um herbicida de contacto que funciona secando as folhas da planta. Como o Roundup, a mistura não faz distinção entre plantas boas e ruins, então, se você decidir usá-lo, observe bem onde o pulveriza.

Como a água quente, esta mistura geralmente mata apenas pequenas ervas daninhas. Embora os resultados com ervas daninhas maiores pareçam boas no início, as ervas daninhas perenes e grandes ervas daninhas provavelmente se recuperarão. […]

Também não há nada orgânico na mistura. Todos os três ingredientes principais são produtos químicos, e um cientista que escreveu sobre o assunto argumenta que os níveis de toxicidade no vinagre e no sal podem ser altos (pode ler sua análise aqui: weedcontrol-freaks.com/2014/06/salt-vinegar-and-glyphosate/). […]

Então, o que é que um jardineiro que procura soluções orgânicas deve fazer? Sempre há o bom poder muscular, aplicado a cada duas semanas, auxiliado por sacholas e colheres de jardinagem e um ancinho rígido que podem remover muitas ervas daninhas.

As soluções mágicas geralmente não são tão boas quanto parecem e, às vezes, podem causar danos consideráveis. Faça sua pesquisa antes de usar qualquer produto químico – caseiro ou não – no jardim.

Mary Jane Smetanka é escritora freelancer mestre de jardinagem em Minneapolis.”

fonte: http://www.startribune.com/some-organic-weed-control-remedies-aren-t-as-safe-as-they-sound/323254201/

o ddt e a batata ou a revisão do que julgamos saber

“O DDT e outros pesticidas iniciais similares foram alvo de grande preocupação devido à sua lipofilia e persistência incomuns, embora não haja evidência epidemiológica convincente de perigo carcinogénico para os seres humanos (Key e Reeves, 1994) e embora os pesticidas naturais também possam bioacumular. Num estudo recente, no qual o DDT foi ministrado na alimentação de macacos rhesus e cynomolgus ao longo de 11 anos, o DDT não foi avaliado como carcinogénico (Takayama et al., 1999; Thorgeirsson et al., 1994) […]

O DDT é muitas vezes visto como o pesticida sintético tipicamente perigoso porque se concentra no tecido adiposo e persiste durante anos. O DDT foi o primeiro pesticida sintético; erradicou a malária em muitas partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos, e foi eficaz contra muitos vetores de doenças, como mosquitos, moscas tsé-tsé, piolhos, carrapatos e pulgas. O DDT também foi letal para muitas pragas e aumentou significativamente a oferta e reduziu o custo de alimentos frescos e nutritivos, tornando-os acessíveis a mais pessoas. Um relatório de 1970 da Academia Nacional de Ciências concluiu: “Em pouco mais de duas décadas, o DDT evitou 500 milhões de mortes devido à malária, que de outro modo teriam sido inevitáveis” (National Academy of Sciences, 1970).

O DDT é incomum em relação à bioconcentração e, por causa de seus constituintes de cloro, leva mais tempo para se degradar na natureza do que a maioria dos produtos químicos; no entanto, estas são propriedades de relativamente poucas substâncias químicas sintéticas. Além disso, milhares de produtos químicos clorados são produzidos na natureza (Gribble, 1996). Os pesticidas naturais também podem se bioconcentrar se forem lipossolúveis. As batatas, por exemplo, contêm naturalmente as neurotoxinas solanina e chaconina lipossolúveis (Ames et al., 1990a; Gold et al., 1997a), que podem ser detectadas na corrente sanguínea de todos os comedores de batata. Níveis elevados dessas neurotoxinas de batata mostraram causar defeitos congénitos em roedores (Ames et al., 1990b).”

fonte: https://toxnet.nlm.nih.gov/cpdb/pdfs/handbook.pesticide.toxicology.pdf

a importância das abelhas: alguns números e reflexões

“84% das espécies vegetais e 75% da produção alimentar na Europa dependem da polinização das abelhas. O relatório adotado pela Comissão da Agricultura estima que elas produzem uma mais valia económica de 14 mil e 200 milhões de euros por ano.

Considerando que a Europa alberga aproximadamente 10% da diversidade mundial de abelhas; que, segundo o Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agropecuária, a mortalidade das abelhas custaria 150 biliões de euros, o equivalente a 10% do valor de mercado dos alimentos, demonstram a necessidade de proteger estes insetos polinizadores.

Considerando que, em 2014, a Comissão atribuiu aos programas apícolas nacionais, em benefício exclusivo da apicultura, 32 milhões de euros por ano, um número que, em 2016, aumentou para 36 milhões de euros, mas ainda está longe de ser suficiente (representa apenas 0,0003% do orçamento da PAC).”

fonte: http://www.europarl.europa.eu/doceo/document/TA-8-2018-0057_ES.html?redirect

A apicultura recebe anualmente 0,0003% do orçamento da PAC (36 milhões),… e as abelhas produzem uma mais valia de 14 mil e 200 milhões de euros por ano na produção europeia de alimentos.

Reflexão: sabendo tudo isto… o bom decisor político deverá querer proteger este activo (as abelhas e o sector apícola), independentemente das conjunturas do momento, independentemente de o número do efectivo estar a aumentar ou a diminuir, independentemente do mercado dos produtos apícolas estar em alta ou em baixa, independentemente do sector estar bem ou mal organizado … as abelhas e outros polinizadores são um bem em si mesmas independentemente das conjunturas. Um bom decisor político não esperará que um sector com esta importância entre em crise para lhe acorrer. Este sector deverá estar sempre protegido. Um bom decisor político deverá conhecer a informação técnico-científica, consensual, isenta e objectiva para decidir a distribuição dos dinheiros públicos, mesmo que a rua esteja silenciosa. Há coisas que o bom decisor político deve fazer mesmo sem barulho nas ruas, mesmo sem alarido mediático. Um bom decisor político deverá decidir num horizonte de médio e longo prazo tendo em vista a sustentabilidade e preservação dos factores basilares do ecossistema, dos quais as abelhas e outros polinizadores fazem parte. Deve ter a coragem de fazer opções que têm um âmbito e uma projecção muito para além dos ciclos eleitorais.

Se o sector apícola português está a passar por uma crise o mau decisor político virá provavelmente dizer que os dados de que dispunha não lhe permitia antecipar a crise. Dirá que o números de existências estavam a subir, que o sector aparentava estar saudável e a crescer. Dirá que os apoios directos por colmeia, os apoios às perdas invernais e o acesso a gasóleo verde por parte dos agentes profissionais do sector não se justificavam.

O que ouvi no último fórum nacional de apicultura, em Castelo Branco, foi um representante do GPP focado e satisfeito com o aumento do efectivo apícola nos últimos anos. Ouvi o mesmo representante utilizar estas estatísticas, tão satisfacientes para ele e outros, mas provavelmente erradas, para justificar a ausência de apoios directos aos apicultores.

Não ouvi os representantes da FNAP e da CAP presentes na mesa sublinhar que entre os 36 milhões que a UE atribui ao sector e os 14 mil e 200 milhões de mais valias que o sector apícola aporta aos restantes sectores económicos estão muitos zeros de diferença. Não ouvi aos representantes da FNAP e da CAP salientar que para além de justiça elementar se trata de uma medida de inteligência económica apoiar mais seriamente este sector.